OS SISTEMAS DE DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUA EM DUBAI

dubai

Além do Estado de Israel, sobre o qual falamos na última postagem, uma outra região do Oriente Médio onde o uso da água dessalinizada é cada vez mais imprescindível é no Golfo Pérsico. Ao contrário dos solos de Israel, onde apenas uma parte é formada por terrenos desérticos, nos emirados do Golfo Pérsico isso é regra. Um grande exemplo da importância da água dessalinizada para o abastecimento de  populações é encontrado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. 

Dubai ou Cidade de Dubai, como é normalmente conhecida, fica na costa Sul do Golfo Pérsico e é considerado o mais populoso dos sete Emirados Unidos, com 2,3 milhões de habitantes. A fama de Dubai cresceu muito nas últimas décadas graças à extrema ostentação de riqueza – os gigantescos arranha-céus da cidade, as avenidas largas, os automóveis luxuosos e os “jatinhos” particulares de seus moradores mais ilustres, têm acirrado a inveja e a cobiça pelo mundo afora. Tudo o que há de bom e de melhor você encontra em Dubai, inclusive água em abundância, o que para um país desértico é simplesmente um luxo. A suntuosidade dessa “ilha da fantasia” atrai perto de 5 milhões de turistas ao Emirado a cada ano.

A usina de dessalinização de água do Emirado, a Jebel Ali, produz cerca de 2,1 bilhões de  litros de água potável a cada dia, um volume suficiente para abastecer três vezes a sua população. E os números não param por aí: utilizando o vapor quente liberado durante os processos de dessalinização da água, turbinas geram perto de 8 mil MW de energia elétrica, com capacidade para abastecer mais de 1,5 milhão de habitantes. Como fonte primária de energia para se produzir tanta água e energia elétrica, o país conta com suas reservas abundantes de petróleo e gás natural. 

A gigantesca planta industrial de Jabel Ali é dividida em diversas unidades menores de dessalinização de água e geração de energia elétrica. Essas unidades foram construídas gradativamente, acompanhando o desenvolvimento tecnológico. É por essa razão que se encontram dentro da planta unidades que utilizam tanto o processo de dessalinização da água do mar por osmose reversa quanto pelos processos convencionais de destilação térmica, onde a água do mar é aquecida até evaporar, sendo depois resfriada numa torre. Essa água destilada recebe a aplicação de diversos produtos químicos como o cloreto de cálcio, endurecedores e suportes de ácidos como forma de se controlar a qualidade da água que será distribuída para a população.

Com tanta “fartura” de água, a Cidade de Dubai foi transformada numa das mais verdejantes da região. Andando pelas ruas, avenidas e até mesmo pelas estradas, qualquer turista fica absolutamente fascinado pela quantidade de gramados, canteiros, praças e parques, onde árvores, plantas e flores de todas as variedades e cores se mostram com todo o seu esplendor, ignorando a secura do ar e as altíssimas temperaturas locais. Toda essa beleza, porém, cobra um preço alto – são gastos mais de 250 milhões de litros de água diariamente para regar todas essas plantas. No Emirado chove, em média, apenas quatro vezes por ano e sem os sistemas e as tubulações de irrigação, toda essa beleza “natural” se perderia em alguns poucos dias. 

Uma outra fonte de alto consumo de água são os sistemas de ar-condicionado usados nas casas, prédios, lojas, estabelecimentos comerciais e até mesmo nos pontos de ônibus da cidade, uma comodidade imprescindível para se suportar o calor e a secura do ar do deserto. Esses sistemas utilizam grandes volumes de água para resfriar e umidificar o ar. Um exemplo desse alto consumo é o edifício Burj Khalifa Bin Zayid, que já foi conhecido como Burj Dubai. Ainda detentor do título de arranha-céu mais alto já construído, o edifício foi concluído em 2004 e conta com 168 andares, com uma altura total de 828 metros. Os sistemas de ar-condicionado do edifício consomem diariamente um volume de água equivalente a vinte piscinas olímpicas

Falando em piscinas, elas são dezenas de milhares por todos os cantos da cidade, e se juntam a um sem número de espelhos d’água construídos ao redor das moderníssimas construções e arranha-céus. Vale ressaltar que há uma verdadeira disputa entre os proprietários de imóveis para ver quem é que possui a maior e mais extravagante piscina da cidade. Grandes espelhos d’água, com cascatas e fontes de todos os tipos, perdem milhões de litros de água a cada dia, que evaporam sob o calor escaldante do deserto – todas essas perdas são respostas religiosamente todos os dias. Quem mora em Dubai não se incomoda nenhum um pouco com o valor da sua conta de água. 

Como se sabe, na área dos recursos hídricos assim como na vida, não há “almoço grátis” para ninguém. Toda essa pressão ambiental para a produção de tamanho volume de água trás consequências, e muitas, para o meio ambiente local. Comecemos falando das emissões de gases de efeito estufa pelo Emirado, que apesar de muito pequeno, polui como país grande. A quantidade de gás natural e de derivados de petróleo usados para a geração de energia térmica para a dessalinização da água é enorme e não existem florestas na região para capturar todo esse volume de carbono emitido – essas emissões ficam por conta do resto da população do mundo. 

Outro problema grave das usinas de dessalinização são os volumes de águas residuárias produzidas, que são despejadas diretamente nas águas do Golfo Pérsico. São aproximadamente 480 mil m³ a cada dia. De acordo com estudos científicos realizados na região, o índice de salinidade nas águas do mar aumentou de 32 mil para 47 mil ppm (partes por milhão) em apenas 30 anos. Além de provocar esse aumento na salinização, essas águas residuárias apresentam altas temperaturas quando são despejadas no mar, algo que provoca uma série de problemas para a fauna e flora marinha local.

Um dos ecossistemas locais que mais tem sofrido com os impactos provocados pelos resíduos dessas águas residuárias são os manguezais do Golfo Pérsico. Aqui vale lembrar que o Emirado de Dubai não está sozinho no uso de águas dessalinizadas – os demais Emirados e a Arábia Saudita também contam com outras inúmeras plantas de dessalinização da água do mar e seus despejos de águas residuárias também são gigantescos. Os manguezais, como deve ser do conhecimento de todos, são importantes locais para a reprodução de peixes e crustáceos marinhos – qualquer tipo de alteração em suas características afeta enormemente toda a cadeia de vida marinha de uma região

Apesar de toda a sua importância dentro de um planeta com reservas de água potável cada vez mais escassas, a produção e a utilização da água dessalinizada cobram um preço alto do meio ambiente. Da mesma forma que qualquer outra fonte de água disponível, a água dessalinizada precisa ser usada com muito critério, consciência ambiental e sem desperdícios. 

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