A inauguração de um novo trecho das obras do Projeto de Transposição das águas do rio São Francisco, no Estado do Ceará, reacendeu o debate sobre a importância de suas águas para um grande pedaço do território brasileiro. Chamado por muitos de rio da integração nacional, o importante São Francisco sofre com todo o tipo de agressões ambientais já há muitas décadas e não tem mais o vigor de outrora.
Desmatamentos em antigas áreas de domínio de vegetação de Cerrado, projetos de mineração, lançamento de grandes volumes de esgotos residenciais e industriais, descarte de lixo e outros resíduos – essas são as agressões mais frequentes sofridas pelo rio São Francisco. Entre outras graves consequências, essas agressões vêm resultando numa redução contínua dos caudais do rio.
Além de sua importância como manancial de abastecimento de água, o rio São Francisco abriga um importante conjunto de centrais hidrelétricas, fundamentais para o abastecimento da Região Nordeste há várias décadas. Em diversos momentos nos últimos anos, a redução drástica dos volumes de água armazenado nos reservatórios da calha do São Francisco ameaçou a geração de eletricidade em várias dessas centrais, o que acendeu novas “luzes de alerta” ao longo do rio.
O primeiro aproveitamento do potencial hidrelétrico do rio São Francisco foi a Usina Hidrelétrica de Angiquinho, inaugurada em 1913 (vide foto). Essa pequena usina hidrelétrica foi o resultado dos esforços de Delmiro Gouveia (1863-1917), um empresário e empreendedor cearense, que enxergou o potencial da Cachoeira de Paulo Afonso no rio São Francisco e não poupou esforços para a construção da primeira usina hidrelétrica do Nordeste.
A Usina Hidrelétrica de Angiquinho contava com três turbinas – uma de 175 kVa, uma segunda de 450 kVa e a terceira com 625 kVa. A energia gerada na unidade era transportada por uma rede elétrica a uma distância de 24 km até as fábricas de Delmiro Gouveia na cidade de Pedras, no interior do Estado de Alagoas. Nessa época, só havia algum abastecimento de energia elétrica nas principais capitais do Nordeste, com geração a partir de centrais termelétricas a carvão ou via queima de óleos combustíveis.
Em 1921, durante o Governo do Presidente Epitácio Pessoa, foram realizados os primeiros levantamentos técnicos e topográficos da Cachoeira de Paulo Afonso e do rio São Francisco com vistas ao futuro aproveitamento para a geração hidrelétrica. Foi em meados da década de 1940, durante o Governo Getúlio Vargas, que foi criada a CHESF – Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco, e foram iniciados os esforços para a construção das usinas hidrelétricas em Paulo Afonso.
A primeira obra concluída pela CHESF na região na década de 1940, foi uma usina hidrelétrica piloto, com uma potência total de 2 MW, que tinha como objetivo fornecer energia elétrica para o futuro canteiro de obras. A Usina Hidrelétrica Paulo Afonso I teve suas obras iniciadas em 1949 e concluídas em 1954, com 3 grupos geradores e uma potência total de 180 MW. Foram construídos na época um total de 860 km de linhas de transmissão, dotadas de estações intermediárias em Angelim, em Pernambuco, e Itaparica, no Estado da Bahia, que passaram a levar a energia elétrica produzida em Paulo Afonso para as cidades de Recife e Salvador.
Um detalhe histórico relevante da construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso foram as críticas de políticos e jornalistas das Regiões Sul e Sudeste, que afirmavam “que o Nordeste não oferecia demanda para tanta energia elétrica e que era um grande desperdício de recursos os investimentos na região”. A história mostrou que essas críticas eram infundadas e as águas do São Francisco ainda veriam a construção de outros grandes projetos de geração hidrelétrica voltados para a Região Nordeste.
Entre os anos de 1963 e 1968 foi construída a segunda unidade, a Usina Hidrelétrica Paulo Afonso II, que acrescentou mais 480 MW ao sistema, através de 6 grupos geradores. Entre 1969 e 1970 foram concluídas as obras de Paulo Afonso III, com 4 grupos geradores e potência instalada total de 864 MW. Em 1979, foi concluída a Usina Hidrelétrica Paulo Afonso IV. Essa unidade foi construída dentro de uma caverna, com extensão total de 210 metros, 24 metros de largura e 55 metros de altura, onde foi instalada uma unidade geradora com potência total de 410 MW.
Em 1971, começou a ser construída a Usina Hidrelétrica de Moxotó, localizada a cerca de 3 km a montante da Cachoeira de Paulo Afonso. Essa usina, que foi inaugurada em 1975, está localizada no município de Delmiro Gouveia, já no Estado de Alagoas. Sua barragem formou um reservatório com uma área de aproximadamente 100 km² e sua potência instalada pode atingir até 440 MW. Em 1983, o nome da Usina foi alterado para Apolônio Sales.
Juntas, as Usinas Hidrelétricas Paulo Afonso I, II, III e IV e Moxotó, geram uma potência total de 4,2 mil MW, colocando o Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso na terceira posição entre as unidades de geração hidrelétrica do Brasil, ficando atrás apenas de Belo Monte, com mais de 11 mil MW, e de Tucuruí, com uma potência de 8 mil MW. A gigantesca Usina Hidrelétrica de Itaipu, com uma potência total de 14 mil MW, não entra nessa lista por se tratar de um empreendimento binacional.
Um outro capítulo importante do aproveitamento do potencial hidrelétrico do rio São Francisco foi a construção da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, que começou a ser construída em 1973, num trecho do rio São Francisco a 40 km a jusante das cidades de Juazeiro, no Estado da Bahia, e de Petrolina, em Pernambuco. A Usina foi projetada para gerar 1.050 MW de energia elétrica a partir de 6 unidades geradoras com potência unitária de 175.050 KW. A barragem teria um comprimento total de 12,5 km, com uma altura máxima de 41 metros. A usina entrou em operação em 1979.
O lago formado a partir da construção da barragem de Sobradinho possui uma capacidade de armazenamento total de 34 bilhões de metros cúbicos de água, com um espelho d’água máximo de 4.214 km². Um dos maiores impactos da formação do Lago de sobradinho foi o deslocamento forçado de aproximadamente 12 mil famílias das áreas que seriam inundadas. Um marco desse drama é a música Sobradinho, de Sá, Guarabyra e Zé Rodrix.
Mais ao Sul, dentro do território de Minas Gerais, o destaque é a Usina Hidrelétrica de Três Marias, que teve suas obras iniciadas em 1957, há mesma época da construção de Brasília, e foi concluída em 1961. Essa Usina Hidrelétrica contava com uma capacidade inicial de geração de 65 MW e com linhas de transmissão de 300 mil Volts para o sistema elétrico da região Central de Minas Gerais e de 138 mil Volts para a região Norte do Estado, para a região de Patos e Patrocínio e, eventualmente, interligando com a linha de transmissão de Peixotos a Araxá. A potência instalada da Hidrelétrica foi sendo ampliada, atingindo uma capacidade total de 396 MW.
Os últimos aproveitamentos energéticos das águas do rio São Francisco foram as Usinas Hidrelétricas Luiz Gonzaga e Xingó. A Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, que já foi chamada de Usina Hidrelétrica Itaparica, foi concluída em 1988 e fica localizada no município de Petrolândia, em Pernambuco, a 312 km da foz do rio São Francisco e a cerca de 50 km a montante (correnteza acima) do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso. A barragem da represa da Usina atinge uma altura de 105 metros e suas águas movimentam 6 grupos geradores, que atingem uma potência total de cerca de 1,48 mil MW. Além de gerar energia elétrica, a Usina Luiz Gonzaga também atua na regularização das vazões do rio São Francisco que seguem na direção do complexo de Paulo Afonso.
A Usina Hidrelétrica de Xingó, localizada entre os Estados de Alagoas e de Sergipe a cerca de 65 km a jusante da Cachoeira de Paulo Afonso, foi idealizada de forma a se aproveitar dessa extensa formação geológica para a inserção de seu lago. A potência instalada atual da hidrelétrica de Xingó totaliza 3.162 MW, o que a coloca na lista das maiores unidades geradoras do Brasil.
A usina possui 6 grupos geradores e possui a previsão para a instalação de mais 4 grupos. A hidrelétrica é operada pela CHESF e seu primeiro grupo gerador iniciou suas operações em 1994. Xingó é responsável por cerca de 30% da energia elétrica gerada na Região Nordeste e já foi considerada uma das mais modernas e eficientes usinas hidrelétricas do mundo.
Resumidamente, esse é o quadro geral das centrais hidrelétricas instaladas na calha do São Francisco, o que nos dá uma ideia da sua grande importância regional, uma importância que vai muito além do abastecimento de água para as populações locais.
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