A cana e o açúcar são velhos conhecidos aqui das páginas do blog. A cana de açúcar (saccharum officinarum) é originária da Índia e resulta da hibridização de diversas espécies nativas do Sudeste asiático, incluindo espécies da própria Índia, da China, Nova Guiné, Filipinas, Malásia entre outras. Foram os indianos que desenvolveram o processo de produção e refino do açúcar, um produto que ganhou o mundo através de inúmeras gerações de mercadores. Ao longo dos séculos a planta foi disseminada pela Ásia Central, Oriente Médio e Norte da África.
A cana de açúcar chegou na Europa pelas mãos dos árabes, que formaram as primeiras plantações no Sul da Espanha no ano de 711 e depois na Sicília em 827. Em terras portuguesas, os registros falam da existência de canaviais na região do Algarve no século XII. A partir do aperfeiçoamento da navegação marítima, a cana de açúcar passou a ser plantada nas ilhas oceânicas recém descobertas por portugueses e espanhóis no Oceano Atlântico.
A cana chegou na Ilha da Madeira em 1426, no Arquipélago dos Açores em 1460, nas Ilhas Canárias em 1490 e em São Tomé e Príncipe em 1493. Essas ilhas se transformaram em importantes centros produtores de açúcar e, depois, em distribuidores de mudas de cana para as colônias do Novo Mundo.
Uma dos mais importantes comercializadoras de açúcar na Europa no século XV era a poderosa família Centurione de Gênova, na Itália. Em 1478, um dos navios dessa família foi enviado para a Ilha da Madeira com a missão de buscar um grande carregamento de açúcar. No comando do navio estava um jovem capitão italiano, que poucos anos mais tarde mudaria os destinos da humanidade – seu nome era Cristóvão Colombo. O jovem capitão acabou indo morar na Ilha da Madeira e trabalhou por vários anos em navios de transporte de açúcar.
Em 1492, Colombo comandaria uma pequena esquadra de naus espanholas numa perigosa viagem em busca de um caminho alternativo para a Índia e acabaria por descobrir a América. Em sua segunda expedição ao Caribe em 1493, Colombo trouxe as primeiras mudas de cana de açúcar, uma cultura que ele já conhecia bem desde os tempos em que viveu na Ilha da Madeira.
Critovão Colombo enviou uma carta em 1494 a Dom Fernando de Aragão e Dona Isabel de Castela, os Reis Católicos da Espanha, informando que havia plantado a cana de açúcar na Ilha Hispaniola e solicitava aos soberanos o envio de mais mudas desde a Ilha da Madeira. Segundo documentos del Archivo de Indias, as canas “medraram tão bem, que, poucos anos depois, já havoravam ali 40 engenhos”.
Em 1511, as primeiras mudas de cana de açúcar foram levadas para a Ilha de Cuba e em 1526 chegaram ao México recém conquistado pelos conquistadores espanhóis. Em poucos anos, praticamente todas as ilhas do Mar do Caribe e feitorias espanholas na América Central continental já possuíam suas plantações de cana de açúcar e engenhos.
Há um detalhe importante aqui – os nobres espanhóis que vinham para o Novo Mundo não estavam preocupados em se dedicar ao trabalho em fazendas. Um exemplo que gosto de citar é Hernan Cortés, o grande conquistador do Império Asteca de Montezuma. Certa feita, Cortés afirmou: “eu vim ao Novo Mundo para juntar dinheiro, não para lavrar a terra como um camponês!”.
Durante muito tempo, os espanhóis ficaram completamente obstinados com as notícias de riquezas na forma de metais preciosos como o ouro e a prata, não se esforçando quase nada para gerar riquezas com a produção de açúcar. Por todos os lados se organizavam expedições que partiriam em busca desses tesouros no continente – um dos principais objetivos era se encontrar a lendária El Dorado, uma cidade feita inteiramente de ouro. Quem efetivamente iniciou a produção de cana e de açúcar em larga escala no Caribe foram os ingleses, franceses e holandeses em suas colônias.
Quando os primeiros espanhóis chegaram ao Novo Mundo, encontraram as Ilhas do Mar do Caribe já povoadas por inúmeras tribos indígenas. Esses nativos foram denominados erroneamente de “índios” por Cristóvão Colombo, que àquela altura imaginava ter conseguido dar a volta ao mundo e chegado na Índia. As principais tribos locais eram os tainos, galibs, igneris e os guanahatabeys, além dos temidos karibs, guerreiros navegadores e canibais que assolavam as principais ilhas e que deram seu nome ao Mar do Caribe. O povoamento das ilhas por essas tribos começou por volta do ano 5 mil a.C.
Segundo historiadores, a exploração dos nativos começou já a partir da segunda expedição de Colombo para o Novo Mundo. Indicado Governador, Colombo passou a cobrar tributos dos indígenas da Ilha Hispaniola – todo taino com idade acima de 14 anos era obrigado a entregar uma porção de ouro a cada 3 meses às autoridades espanholas. Caso não tivesse ouro, o tributo poderia ser pago com 25 kg de algodão.
De acordo relatos do Frei Bartolomé de las Casas, um frade dominicano que se notabilizou como um grande defensor dos indígenas, “quem não pagasse o tributo tinha as mãos cortadas e era deixado a sangrar até morrer”. De las Casas era famoso por exagerar em suas observações e crônicas, o que deixa margens de dúvidas sobre a existência de tais atos.
Como aconteceu em outras partes das Américas, o contato dos europeus com tribos indígenas que estavam vivendo isoladas há milhares de anos nas Ilhas do Caribe resultou em diversos surtos de doenças epidêmicas como a varíola, a gripe, o sarampo e o tifo. Uma outra doença infectocontagiosa que merece destaque é a sífilis. Uma antiga máxima, que não consegui encontrar o autor, afirmava que “a civilização das Américas trouxe a sifilização dos índios”. Estudos médicos recentes colocam em dúvida o sentido da contaminação da sífilis e afirmam que a doença pode ter sido trazida das Américas para a Europa.
Esse conjunto de enfermidades atingiu em cheio as populações locais – em apenas 30 anos, entre oitenta e noventa por cento dos indígenas tainos da Ilha Hispaniola morreram vítimas dessas doenças e epidemias. Esse índice de mortalidade se repetiu entre todas as populações indígenas das ilhas caribenhas e do trecho continental da América Central. A solução encontrada por todas as nações colonialistas da região foi a importação de escravos africanos para suprir as carências de mão de obra nas plantações de cana de açúcar.
Um dos principais centros produtores de açúcar do Mar do Caribe foi o Haiti, uma colônia da França que surgiu a partir de um acordo de cessão da parte ocidental da Ilha Hispaniola pela Coroa da Espanha em 1697. Ao longo de todo o século XVIII, o Haiti foi a colônia francesa mais próspera das Américas. Além do açúcar, o Haiti ganhou fama mundial com a produção do rum, uma bebida típica do Caribe destilada do melaço da cana de açúcar.
Uma das marcas de rum haitiano mais famosas entre os marinheiros há época – Aux Cayes (No Cais), soava com o som “Oh Key” para os ouvidos dos marinheiros ingleses e esses palavras passaram a representar uma coisa “muito boa ou perfeita”. Alguns linguistas afirmam que essa pode ser a origem de OK, considerada uma das palavras mais usadas em todo o mundo.
Dois outros importantes centros produtores de açúcar e de rum no Mar do Caribe foram a Jamaica e Cuba. Até 1655, a Jamaica pertencia à Espanha e era chamada de Ilha Santiago, quando então passou ao domínio dos britânicos e passou a ser conhecida como Jamaica. A Ilha de Cuba, que por um curto período chegou a ser dominada pelos ingleses, voltou para o controle dos espanhóis em 1761 e também se consolidou como um importante centro produtor de açúcar.
O avanço da produção do açúcar nas Ilhas do Mar do Caribe, associada à facilidade e menores custos de transporte para a Europa, pouco a pouco foram criando uma pesada concorrência com outros centros produtores como o Brasil, a grande colônia portuguesa, que por muito tempo dominou esse mercado e que já em meados do século XVIII perdeu completamente a competitividade.
A produção do açúcar e do rum, a cultura e os ritmos trazidos pelos escravos africanos e, principalmente, a enorme desigualdade social, se transformariam em marcas registradas dos povos e países do Caribe, males que se perpetuam até os nossos dias.
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[…] grandes interesses comerciais da época, essas ilhas foram transformadas em grandes plantações de cana de açúcar, tabaco, cacau e especiarias, além de fornecer madeira e outros materiais. Esse uso das terras […]
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[…] do século XVIII. Além da falta de braços nos canaviais, cresceu muito a concorrência com os engenhos de açúcar holandeses e ingleses na região do Caribe. O golpe final nesta indústria virá com a transferência da capital da Colônia da cidade de […]
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[…] As primeiras mudas de cana de açúcar chegaram na Ilha da Madeira em 1425. Em 1460, foram plantados os primeiros canaviais nos Açores e em 1493, nas Ilhas de São Tomé e Príncipe. A partir de meados do século XV, o açúcar português produzido nas ilhas oceânicas do Atlântico já era um sucesso nos mercados em diversos países europeus. Em 1490, já existiam mais de cem embarcações dedicadas exclusivamente ao transporte desse açúcar para a Europa. Entre os capitães dessas embarcações, houve um jovem que mudaria os destinos da humanidade em 1492 – o genovês Cristóvão Colombo. […]
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[…] gradativamente pelo crescimento de um sem número de engenhos franceses, ingleses e holandeses nas ilhas do Mar do Caribe e em países da América Central Continental. Com uma estrutura produtiva mais eficiente e contando […]
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[…] mão de obra para as minas de ouro da Região das Geraes e a sofrer forte concorrência com os engenhos de açúcar da região do Mar do Caribe, isso sem citar os graves problemas de esgotamento dos […]
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[…] em direção aos sertões do Brasil na busca do ouro quanto pela concorrência dos engenhos de açúcar holandeses, franceses e ingleses na região do Caribe. O golpe final nesta indústria virá com a transferência da capital da Colônia […]
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[…] e canaviais haviam ocupado a maior parte das ilhas do Mar do Caribe e terras vizinhas, desde a Geórgia, no Sul dos Estados Unidos, até a Guiana Francesa, na América […]
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[…] que já vinha sofrendo com a forte concorrência dos engenhos de cana de açúcar da região do Mar do Caribe e América Central. A mineração também iniciou o processo de destruição da Mata Atlântica no interior do país. […]
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[…] XVI e XVII, o Brasil foi o maior produtor mundial de açúcar. Esse posto foi perdido para as ilhas e países da região do Mar do Caribe, onde a produção de açúcar começou a crescer vigorosamente e acabou suplantando a brasileira. […]
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[…] o contato entre polinésios e povos sul-americanos séculos antes da chegada das expedições de Cristóvão Colombo, João Vaz Corte Real e Pedro Álvares […]
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