UMA TEMPESTADE SOBRE O RIO DE JANEIRO 

Na nossa última postagem sobre a chuva recorde do ano na cidade de São Paulo e de suas consequências no trânsito. Foram cerca de 3 horas de chuva forte, o despejou um volume de chuvas equivalente ao que era esperado para 10 dias. 

O dia também foi bastante complicado no Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do país. Em 4 horas de chuva intensa caiu um volume de água equivalente a 70% do que era esperado para todo o mês. Em alguns bairros da Zona Norte o volume de chuvas ultrapassou todo o volume esperado para o mês de fevereiro. 

Ambas as cidades, conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, não estão preparadas para conviver com grandes episódios de chuva intensa. No Rio de Janeiro, entretanto, a topografia acidentada intensifica ainda mais os problemas. 

De acordo com informações do CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastre Naturais, a cidade recebeu um volume de chuvas da ordem de 130 mm – na região de Vicente de Carvalho, a precipitação foi de 140 mm. São Paulo recebeu no mesmo período cerca de 100 mm de chuva (de acordo com uma medição que eu mesmo fiz na região dos Jardins). 

Até o final da madrugada dessa quarta-feira, dia 8 de fevereiro, o Centro de Operações Rio registrava 117 bolsões de água acumulada nas vias da cidade, 20 pontos críticos de alagamento, 113 sirenes de alerta acionadas nas comunidades (de um total de 162) e também 4 quedas de árvores. Uma menina de 2 anos morreu após o desabamento de uma casa na Tijuca. 

Como sempre costuma ocorrer nessas situações, o sistema de transporte da cidade entrou em colapso, prejudicando a volta para a casa de centenas de milhares de cariocas. Entre as principais ocorrências: 

  • A circulação do VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, foi interrompida nas linhas 1,2 e 3; 
  • Também foram interrompidas a circulação de trens nos ramais Belford Roxo, Saracuruna, Santa Cruz e Japeri; 
  • A linha 42 do BRT, sistema de transporte coletivo da cidade, que faz a rota Madureira-Galeão, teve parte do seu roteiro reduzido e só chegava até a Penha. Os serviços nas linhas 46, Alvorada-Penha, e do serviço eventual 6, Alvorada-Penha, ficaram irregulares; 
  • Importantes vias da cidade como a Avenida Niemayer, Estrada de Furnas e Avenida Edson Passos ficaram interditadas. 

Em diversos bairros da cidade como Saúde, Méier, Tijuca, Catete, Penha, Jardim Botânico e Gávea, entre outros, as fortes chuvas provocaram enchentes localizadas, o que obrigou motoristas a estacionar sobre as calçadas ou procurar locais mais elevados até as águas baixarem. 

Assim como ocorre em São Paulo e outras grandes cidades brasileiras, o Rio de Janeiro não possui um sistema de drenagem de águas pluviais adequado às suas necessidades. A topografia acidentada da cidade, com muitos morros e montanhas, amplifica o tamanho do problema – a água das chuvas ganha força e velocidade ao descer as encostas, fazendo com que canais recebam enormes volumes de água em muito pouco e transbordem. 

A ocupação desordenada das encostas de morros na cidade ganhou força no final do século XIX, quando grandes contingentes de escravos libertos buscaram essas áreas para morar. Com a ocupação vieram os desmatamentos e a impermeabilização gradual dos solos. Qualquer chuva mais forte cria enxurradas violentas morro abaixo e enchentes as áreas mais baixas da cidade. 

Um exemplo desse tipo de degradação é a que encontramos na região do Canal do Mangue, no bairro da Tijuca. O local sofreu com a forte ocupação urbana a partir da década de 1950, especialmente nas áreas de encostas. De acordo com a Prefeitura existem 17 “comunidades” na região, que é campeã no quesito enchentes. 

De acordo com o Censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, perto de 22% da população da cidade do Rio de Janeiro vive em “comunidades”. São 763 “comunidades” no total, onde vivem cerca de 1,4 milhão de pessoas, o que nos dá uma ideia dos problemas de ocupação de áreas inadequadas e sujeitas a alagamentos. 

Além da ocupação de encostas de morros, muitas dessas “comunidades” ocuparam terrenos baixos em antigas regiões de mangues e de margens de rios e canais. Entre outros problemas, esse tipo de ocupação bloqueia o fluxo das águas nos momentos de chuva forte, causando enchentes localizadas por toda a cidade. 

Essas ocupações também dificultam o acesso aos canais nas operações de limpeza e desassoreamento que deveriam ser realizadas com periodicidade pela Prefeitura. Para complicar ainda mais a situação, esses canais costumam receber grandes volumes de resíduos sólidos lançados pela população, indo desde de entulho e resíduos da construção civil até lixo doméstico. 

Sem encontrar caminhos para seguir na direção da Baía da Guanabara, as águas das chuvas vão se acumulando por todos os cantos da cidade e causando enormes transtornos na vida de centenas de milhares de pessoas. 

Além de necessitar de fabulosos volumes de recursos financeiros para resolver seus problemas de drenagem de águas pluviais, a cidade do Rio de Janeiro também precisará investir paralelamente na construção de moradias populares para a remoção dessas “comunidades” localizadas em áreas críticas em encostas de morros e em baixadas. 

Num segundo momento, será preciso investir pesado no reflorestamento das encostas de morros e em outras áreas que foram ocupadas de maneira irregular ao longo de, pelo menos, um século. São problemas demais a serem resolvidos para recursos financeiros de menos. 

Enquanto isso não acontecer – o que todos sabemos que é bastante improvável, continuaremos a ver a repetição das catástrofes geradas pelas chuvas em terras cariocas e fluminenses verão após verão… 

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