RECORDE DE CHUVA E DE TRÂNSITO NA CIDADE DE SÃO PAULO 

Hoje foi mais que uma tarde típica de verão na cidade de São Paulo. 

Em pouco mais de três horas a cidade recebeu um volume de chuvas equivalente a dez dias. As consequências não tardaram a aparecer – de acordo com informações da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego, autarquia que tenta colocar um pouco de ordem no trânsito caótico dessas horas, foi batido o recorde de engarrafamentos do ano. 

Foram 431 km de vias paradas às 17h30 desta terça-feira, dia 07 de fevereiro. De acordo com o boletim da CET divulgado às 16h30, foram contabilizados 34 pontos de alagamentos nas ruas e avenidas da cidade, sendo 22 intransitáveis e 12 transitáveis. Haja paciência. 

Um site de notícias comparou o tamanho do caos de hoje ao que foi vivido pelos paulistanos em 9 de dezembro do ano passado, quando a nossa Seleção enfrentou a Croácia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2022. Naquele dia foram 485 km de engarrafamento devido ao excesso de carros na rua. 

Na hora da chuva eu estava trabalhando na Região dos Jardins, um conjunto de bairros de alto nível aqui da cidade. Eu terminei meu trabalho por volta das 16 horas, momento em que ainda chovia, porém, já com uma intensidade reduzida. 

Para quem não conhece essa região, 8 em cada 10 milionários da cidade mora por lá. O preço do metro quadrado construído dos imóveis supera fácil o valor de R$ 20 mil, um dos mais caros do Brasil. Morar por lá não fica muito distante do padrão de uma 5ª Avenue em Nova York ou de uma Champs Élysées de Paris. 

Pois bem – eu fiquei assustado com a quantidade de água acumulada nas calçadas, sendo que passei em alguns pontos onde a lâmina chegava perto dos 20 cm. No meu bairro, que é paupérrimo quando comparado aos Jardins e fica perto da periferia (ou subúrbio) da cidade, as ruas não empoçam desse jeito. 

O “conjunto da obra”, que afeta tanto os milionários quanto as camadas mais pobres da população paulistana e da maioria das cidades brasileiras, é resultado da falta de preparo de nossas cidades para os momentos de chuva forte. Nunca é demais repetir que vivemos em um país de climas predominantemente tropical e equatorial. Temporadas de chuvas fortes sempre fizeram parte de nossas paisagens. 

E, nessas horas, sempre temos a certeza que a nossa infraestrutura urbana não está preparada para suportar grandes volumes de água caindo do céu em um curto espaço de tempo. Também é importante lembrar que falta uma manutenção mais frequente naquilo que já existe. 

Em minha aventura de pouco mais de 15 minutos de caminhada até a estação do trem (que, aliás, estava trafegando em velocidade bastante reduzida), pude perceber claramente que a maioria das “bocas-de-lobo” (nome que nós paulistanos damos aos pontos de drenagem de águas pluviais que ficam no meio-fio ou sarjeta das ruas) estavam entupidas. 

Para quem nunca viu um desses dispositivos abertos, ele possui uma caixa de desarenação que serve para acumular areia, pedras e lixo arrastados pelas enxurradas. Essa caixa precisa ser limpa regularmente, especialmente antes da chegada do período de chuva, de modo a estar totalmente funcional na hora dos temporais. 

Se está faltando uma limpeza adequada das bocas-de-lobo dos Jardins, pensei cá com “meus botões”, fico imaginando a situação do resto da “matilha” nos bairros mais pobres da cidade. Conforme falei em uma das primeiras postagens aqui do blog em 2016, esses dispositivos são o “bê-á-bá” dos sistemas de drenagem de águas pluviais – se o básico não funciona, o que esperar de dispositivos mais complexos? 

A Rede de Drenagem de Águas Pluviais, o nome técnico dado ao conjunto desses dispositivos, utiliza toda a “infraestrutura natural” do relevo de uma região para escoar os excedentes de água que são precipitados nos dias de chuva. Falo aqui dos canais de córregos, ribeirões, rios e lagoas.  

Além dos meios naturais, as cidades precisam investir em canais artificiais de drenagem – sarjetas nas ruas, bueiros, grelhas, tubulações subterrâneas de grande porte, piscinões, bacias de detenção abertas, solos permeáveis, áreas verdes, entre outros dispositivos. Quando uma cidade teve seus canais naturais destruídos devido ao crescimento da mancha urbana ou não investiu na construção de sistemas artificiais, temos as enchentes

Quando assistimos um telejornal na TV e ouvimos o apresentador/apresentadora falar que choveu o equivalente a 20 mm, por exemplo, isso quer dizer que o volume de chuva que caiu sobre uma área com um metro quadrado formou uma lâmina de água com 20 mm de altura (ao longo do tempo de duração da chuva). Trocando em miúdos, isso indica que caiu um volume de 200 litros de água a cada metro quadrado da cidade. 

Se o terreno da sua casa possui 250 metros quadrados, por exemplo, ele recebeu um volume de água de 50 mil litros nessa chuva. Essa mesma chuva caiu sobre os imóveis dos seus vizinhos, sobre as ruas e avenidas, prédios públicos, praças e demais logradouros da sua cidade. Somando-se tudo, chega-se bem fácil a dezenas de milhões de litros de água em poucas horas. 

Caso a drenagem das águas pluviais da sua cidade não estiver devidamente dimensionada ou seus dispositivos não estão funcionando corretamente, com certeza a população sofrerá as consequências na forma de enchentes, alagamentos, deslizamentos de encostas, entre outras tragédias. 

Desgraçadamente, o descaso com a drenagem das águas pluviais é uma espécie de regra aqui em nosso país. Raras são as cidades que estão preparadas para suportar de maneira adequada um grande volume de chuva sem apresentar maiores problemas. 

Além de danos materiais, que bem ou mal sempre podem ser resolvidos com o tempo, esses temporais costumam matar pessoas. Até onde eu pude ver nos noticiários, a forte enxurrada formada pela chuva dessa tarde arrastou um morador em Osasco, cidade vizinha a São Paulo. Com certeza, teremos notícias de outras vítimas fatais nas próximas horas. 

Entra verão, sai verão e as coisas não mudam… 

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