NORTE-AMERICANOS JOGAM 40% DOS ALIMENTOS QUE COMPRAM NO LIXO

Em tempos de escassez de alimentos e de grandes preocupações em todo o mundo, os norte-americanos são os campeões mundiais no desperdício per capita de alimentos – cerca de 40% dos alimentos comprados acabam sendo jogados no lixo

Paradoxalmente, 10% da população dos Estados Unidos ou cerca de 35 milhões de pessoas sofrem com a insegurança alimentar, um problema que cresceu bastante após a pandemia da Covid-19. De acordo com o USDA – Secretária de Agricultura dos Estados Unidos, esse número está ligeiramente mais baixo do que foi apurado entre 2019 e 2020. 

Para o Feeding América, a maior organização dedicada ao combate à fome dos Estados Unidos, esses números são muito otimistas – a organização afirma que 54 milhões de norte-americanos, ou 1 em cada 6 pessoas, está sofrendo com a insegurança alimentar no país. 

Entre os problemas o mais comum é o hábito local de colocar mais comida no prato do que o necessário para o tamanho da fome. De acordo com o livro “Os números não mentem”, de Vaclav Smil, que utilizou dados da USDA, um americano médio se serve de 3.600 calorias/dia no prato, mas só consome o equivalente a 2.100 calorias/dia. 

A comida que sobra no prato é simplesmente jogada no lixo. Esse desperdício de comida, para que todos tenham uma ideia do volume, seria suficiente para alimentar mais de 200 milhões de pessoas, ou, simplesmente, toda a população do Brasil. 

Segundo a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, 2,5 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas todos os dias no mundo. Falamos aqui de 931 milhões de toneladas por ano ou mais de três vezes a safra total de alimentos do Brasil em 2022.  

Recentemente, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei de Melhoria da Doação de Alimentos, projeto que já foi sancionado pelo Presidente Joe Biden. Essa nova legislação foi criada para facilitar a doção de alimentos por empresas e organizações. 

Até agora, todas as doações de alimentos só podiam ser feitas através de organizações assistenciais especializadas. Uma escola ou um restaurante, citando exemplos, não poderiam doar qualquer excedente de alimentos diretamente para pessoas ou famílias em situação de insegurança alimentar. 

Caso não existisse uma organização assistencial próxima que recebesse esse excedente de alimentos da escola ou do restaurante e que se encarregasse de repassá-los para os necessitados, esses alimentos seriam jogados diretamente numa lata de lixo, simplesmente pelo receio de desrespeitar a antiga lei. 

Fazendas, supermercados, fabricas de alimentos, cafeterias ou qualquer outra organização que produz qualquer tipo de alimentos, ficava sujeita a mesma limitação. A partir de agora, todas essas empresas poderão criar seus próprios mecanismos para distribuir todos esses excedentes diretamente a quem mais precisa. 

Como todos nós estamos cansados de saber, uma simples legislação não tem o poder de resolver um problema tão grande e complexo num país com as dimensões dos Estados Unidos. Será preciso um grande engajamento de empresários, políticos, catedráticos, líderes religiosos, entre outros. 

Nessa área, nós brasileiros também precisamos fazer o nosso dever de casa. Segundo levantamento da FAO, o Brasil desperdiça um volume próximo a 27 milhões de toneladas de alimentos por ano ou cerca de 10% da produção total. 

Diferentemente do desperdício dos norte-americanos, a maior parte de nossas perdas se dá no transporte e na manipulação nas centrais de abastecimento. Qualquer pessoa que visitar um “fim de feira” aqui no país vai ficar chocado com o volume de alimentos que vão diretamente para o lixo. 

Um exemplo que sempre chama a minha atenção são verduras com alface, rúcula, agrião e almeirão, muito populares aqui nas feiras do país. Essas verduras saem das chácaras e sítios em caixotes de madeira. Assim que chegam nas feiras, uma das primeiras ações do vendedor é retirar as folhas quebradas e machucadas antes de expor os alimentos nas bancas. 

As unidades que ficaram no fundo desses caixotes normalmente chegam tão destruídas até as feiras que nem vale a pena perder tempo retirando as folhas estragadas – o produto vai diretamente para o lixo. 

O mesmo acontece com frutas e legumes – grande parte dos produtos se perdem pela falta de uma embalagem adequada. Aliás, nosso país deixa de exportar milhares de toneladas de frutas todos os anos simplesmente por não ter tradição em embalar adequadamente esses produtos nos locais de produção. 

Não custa lembrar que a agricultura é a maior consumidora de água em qualquer lugar do mundo – em média, algo em torno de 70% dos recursos hídricos de uma região vaão para as atividades agrícolas. Além de água, há gastos com fertilizantes, defensivos agrícolas, mão de obra, transportes, entre outros. 

Ou seja – a perda é muito maior que o volume de alimentos que vai acabar sendo jogado no lixo. Em um planeta com 8 bilhões de bocas para alimentar e com mudanças climáticas criando problemas por todos os lados, já passou da hora de reduzir essas perdas injustificadas de tanta comida. 

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