QUEM MATA MAIS AVES: AS PÁS DAS TURBINAS EÓLICAS, AS TORRES DE TELEFONIA CELULAR, AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS OU OS GATOS?

Vivemos em um mundo cada vez mais dependente da eletricidade – essa é uma verdade que deixa muito pouco espaço para discussões. Por outro, grande parte das fontes geradoras de energia elétrica se valem da queima de combustíveis fósseis como o carvão mineral e os derivados de petróleo. 

Em tempos de graves problemas criados pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas, a geração e o consumo da energia elétrica acabam sendo colocados no olho do furacão. Os gases de efeito estufa liberados pelas centrais geradoras de energia elétrica são alguns dos maiores vilões do clima mundial. O que fazer? 

As chamadas fontes de energia renováveis, onde se incluem a geração hidrelétrica, a fotovoltaica, a eólica, a queima de biomassa, entre muitas outras, vem crescendo vigorosamente nas últimas décadas e estão suprindo uma boa parte das necessidades de energia elétrica da humanidade. 

Nosso país, que na opinião de muitos críticos (locais e internacionais) é o grande vilão do clima, gera mais de 80% de toda a sua energia elétrica a partir dessas fontes. As centrais hidrelétricas do Brasil respondem por mais de 60% de nossa geração. A geração eólica responde por cerca de 10% e a fotovoltaica por outros 7%. Outra importante fonte de geração de energia elétrica aqui em nosso país é a da queima da biomassa, especialmente do bagaço da cana-de-açúcar. 

Outra contribuição ambiental importante de nosso país para o mundo é o uso em larga escala do etanol ou álcool como combustível de veículos. Desde a década de 1970, quando foi criado o Pró-Álcool – Programa Nacional do Álcool, o uso desse combustível renovável ganhou uma enorme importância no país. Com o lançamento dos motores flex, que funcionam tanto com gasolina quanto etanol, no início da década de 2000, essa importância foi renovada. 

O uso de energias renováveis, entretanto, nem sempre acaba sendo uma unanimidade. Citando o exemplo do Pró-Álcool, não são poucos os que o criticam por ocupar parte importante das terras mais férteis do país com a produção da cana-de-açúcar. Segundo esse grupo, seria muito mais vantajoso usar essas áreas para a produção de grãos como a soja e o milho, commodities que renderiam bilhões de dólares em exportações. 

Uma questão que vem despertando embates acalorados nos últimos anos são as centrais de geração de energia eólica. Muitos críticos se incomodam com a “poluição visual” criada pelas altas torres, instaladas muitas vezes em locais paradisíacos como praias, na plataforma marítima ao longo da costa ou no alto de serras. Além de “feias”, essas turbinas também são consideradas muito barulhentas. 

Outro foco importante das críticas é o grande número de pássaros que morrem ao colidir com as pás em movimento. Aqui se incluem aves migratórias, as quais não tem um registro em sua memória desses obstáculos em suas tradicionais rotas de migração, e principalmente espécies de aves sob risco de extinção. 

De acordo com um estudo feito pelo American Wind Wildlife Institute, as turbinas eólicas instaladas em território norte-americano causam entre 214 e 368 mil mortes de aves todos os anos. Algumas fontes falam de mais de 500 mil pássaros mortos. Essas mortes incluem espécie seriamente ameaçadas de extinção como a águia-careca (Haliaeetus leucocephalus), ave símbolo dos Estados Unidos (vide foto). 

Essa questão é muito importante para os norte-americanos por uma particularidade do país: cerca de 47 milhões de pessoas se dedicam a atividade recreativa de observação de pássaros. Existem centenas de clubes desse tipo no país, uma atividade que emprega mais de 600 mil pessoas e movimenta mais de US$ 100 bilhões a cada ano. 

Os membros dos clubes de observadores de pássaros concentram um grande poder econômico e, consequentemente, também possuem um grande poder político. Muitos senadores e deputados dos Estados Unidos recebem importantes doações desses grupos e, em troca, costumam propor leis cada vez mais rigorosas para a proteção das aves. Uma dessas propostas em discussão prevê pesadas multas para os fazendeiros que arrendam parte de suas terras para a instalação das turbinas eólicas nos casos de morte de aves em risco de extinção em choques com as pás geradoras. 

A morte de animais selvagens em decorrência das atividades humanas é sempre lamentável. Porém, os grupos ambientalistas defensores das fontes alternativas de energia elétrica vêm contra-atacando, com argumentos bastante convincentes. Vejam: 

As pás das turbinas dos geradores eólicos matam muitos pássaros todos os anos, porém, nossos fofos e queridos gatos domésticos causam um estrago muito maior para esses animais. De acordo com estudos de várias organizações, os gatos domésticos causam a morte de 1,4 a 3,7 bilhões de aves nos Estados Unidos a cada ano

Os estragos causados pelos bichanos não se limitam apenas as aves – gatos costumam caçar esquilos, filhotes de mamíferos como gambás e guaxinins, anfíbios, répteis como lagartos e cobras, entre muitos outros animais. Mesmo tendo fartura de comida em suas casas, os gatos saem em seus passeios noturnos, onde seus instintos primitivos de caçador afloram. Aqui é importante lembrar que o declínio de qualquer população animal causa enormes desequilíbrios dentro de um nicho ecológico ou ecossistema.

Alguém teria coragem de propor o envenenamento dos gatos para salvar as populações de pássaros e de outros animais? 

Outro tipo importante de armadilha para as aves são as torres com antenas de sistemas de telefonia celular e outros equipamentos usados em sistemas de telecomunicações. Os estudos indicam que cerca de 7 milhões de aves morrem após colidirem com essas estruturas. Para evitar as mortes dessas aves, as populações precisariam ficar sem seus telefones celulares e acesso à internet. Alguém acha isso possível? 

O dado mais alarmante, porém, vem da National Audubon Society, uma tradicional organização ambientalista não governamental norte-americana. Estudos patrocinados pelo grupo indicam que metade de todas as espécies de aves dos Estados Unidos estão ameaçadas em consequência das mudanças climáticas

E como se combatem as mudanças climáticas? 

Entre outras medidas importantes, com a redução das emissões de gases de efeito estufa gerados pela produção de energia elétrica, o que inclui a instalação de turbinas de geração eólica, as mesmas que matam os passarinhos. 

Essa apresentação, um tanto desconcertante, mostra a complexidade das questões ambientais em nossos dias e confirma que não existem respostas simples para os nossos grandes e urgentes problemas ambientais. 

Reuniões como a COP26 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, são importantíssimas para que se encontrem soluções para o meio ambiente mundial. Essas soluções precisam envolver desde os donos dos gatos até os dirigentes políticos mais poderosos do mundo. Sem a união de todos, as coisas não vão andar… 

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