
De alguns anos para cá, a Floresta Amazônica passou a ocupar uma posição central nas discussões ambientais. A preservação da maior floresta equatorial do mundo e também a mais preservadas (cerca de 85% de sua área ainda mantem as condições naturais originais) virou um mantra dos ecologistas mundo a fora.
Entre os muitos exageros nos discursos dos grupos ambientalistas, de famosos e de autoridades, aparece com enorme frequência a afirmação que a Amazônia é o pulmão do mundo. Apesar de toda a importância do bioma na regulação do clima mundial, a grande floresta está longe de ser o pulmão do mundo, papel cumprido com enorme competência pelos oceanos.
Os oceanos e mares cobrem 71% da superfície do planeta Terra, o que corresponde a cerca de 362 milhões de km², onde encontramos aproximadamente 1,3 bilhão de km³ de água. Nesse mundo de águas encontramos a maior “floresta” do mundo, formada pelas mais diferentes espécies de algas e microalgas. Essas plantas geram perto de 54% do oxigênio liberado na atmosfera do planeta. Se existe algum pulmão no planeta, esses são encontrados nos oceanos.
Desde meados do século XX, quando o consumo de plásticos começou a crescer em escala exponencial, os oceanos e mares foram se transformando numa espécie de lixeira do mundo. Pecas plásticas de todos os tipos, especialmente embalagens de alimentos e de bebidas, passaram a ser arrastados pelas chuvas primeiro para as calhas dos rios e depois chegavam aos oceanos.
De acordo com estudos da organização ambientalista WWF – World Wildlife Fund, cerca de 10 milhões de toneladas de resíduos de plástico chegam aos oceanos todos os anos. Esse volume corresponde a 1/10 de toda a produção de plástico do mundo.
Estudos do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, indicam que existem atualmente 18 mil fragmentos visíveis de plásticos flutuando em cada quilômetro de mar – é indeterminada a quantidade de resíduos que está submersa nos oceanos. As sacolas plásticas, como as de supermercados tão presentes em nosso dia a dia, representam até 27% desse lixo flutuante dos oceanos, segundo algumas medições já feitas.
Em uma postagem publicada no final de 2016 aqui no blog, falamos de uma gigantesca ilha flutuante formada por resíduos de plástico no Oceano Pacífico. Segundo cálculos de oceanógrafos feitos há época, essa “ilha” ocupava uma de área de cerca de 1.000 km², com uma massa de 4 milhões de toneladas de resíduos. Esse é apenas um exemplo da grandiosidade do problema.
Além de todos os danos causados para a fauna marinha – animais como as tartarugas, citando um exemplo, comem sacolas plásticas imaginando serem lulas, esses resíduos de plástico prejudicam o ciclo de vida das algas e microalgas, organismos que precisam receber luz solar para sobreviver. Somado a outros problemas como os resíduos flutuantes de óleo nas águas, essa poluição está destruindo gradativamente parte importante da produção de oxigênio do planeta.
Entre todos os tipos de resíduos plásticos encontrados nos oceanos, as embalagens do tipo PET, usadas no envase de refrigerantes, sucos e água mineral, são as mais comuns. Em 2010, navegando num rio escondido no meio da Floresta Amazônica, encontrei uma dessas embalagens flutuando no meio da correnteza. Se no meio de uma mata densa e longe de tudo encontramos esse tipo de resíduo, dá para imaginar a quantidade dessas embalagens que chegam aos mares e oceanos todos os anos.
Há poucos dias atrás, assistindo uma reportagem da BBC News, fiquei sabendo que a Coca-Cola Company, uma das maiores e mais famosas empresas mundiais, foi apontada como a maior empresa poluidora por plástico do mundo, um título péssimo para os negócios da empresa.
Até umas poucas décadas atrás, quem é um pouco mais velho vai se lembrar, a maior parte dos produtos da empresa era vendido em garrafas de vidro. Essas garrafas eram recolhidas e levadas de volta para a empresa, onde eram lavadas, esterilizadas e colocadas mais uma vez na linha de produção. Garrafas quebradas ou muito desgastadas eram enviadas para reprocessamento nas fábricas de vidro.
Esse tipo de operação, conhecida atualmente como logística reversa, acabava encarecendo a produção e reduzindo a margem de lucro do fabricante. Em um determinado momento, os dirigentes da empresa descobriram que o uso de embalagens plásticas descartáveis era muito mais rentável e as tradicionais garrafas de vidro foram abandonadas.
A estratégia foi muito bem sucedida quando analisamos o lucro da empresa – todos os custos envolvidos com o recolhimento e reprocessamento das garrafas sumiu das planilhas de custos. Porém, o imenso volume de embalagens descartadas, pouco a pouco passou a se voltar contra a imagem da empresa.
De acordo com a citada reportagem da BBC News, a empresa colocou no mercado cerca de 156 bilhões de embalagens plásticas apenas nos últimos três anos. Depois de consumida a bebida, essas embalagens eram descartadas e levadas para aterros sanitários e lixões. Muitas acabaram simplesmente abandonadas em vias públicas e arrastadas pelas enxurradas na direção de córregos, rios e, por fim, chegando aos oceanos.
Os executivos da empresa, que sempre se mostraram verdadeiros mestres na arte do marketing, rapidamente encontraram uma saída para o problema – eles criaram o programa Mundo Sem Resíduos. A empresa assumiu o compromisso público de recolher e dar uma destinação adequada as embalagens vazias. Entretanto, como nada é perfeito, o programa da Coca-Cola tinha uma cláusula em letras bem miúdas – as garrafas são recicláveis apenas onde existe infraestrutura.
Com fábricas em dezenas de países e com centenas de milhares de pontos de venda em todo o mundo, é evidente que o número de localidades sem infraestrutura para a reciclagem das garrafas plásticas era enorme. E assim, dezenas de milhões de embalagens continuaram a ser descartadas sem maiores cuidados, grande parte delas chegando às águas dos oceanos.
Para tentar resolver esse impasse, a empresa criou programas para o estímulo da coleta de embalagens. Em muitos locais, a Coca-Cola passou a pagar US$ 1.00 para cada kg de garrafas PET recolhidas. Além de não resolver o problema, essa política passou a estimular o trabalho infantil – muitas crianças deixam de ir a escola e passam o dia, muitas vezes ao lado dos pais, recolhendo embalagens da bebida em aterros sanitários.
Uma estratégia relativamente recente que a marca passou a adotar são as embalagens reutilizáveis. Essas novas embalagens são feitas com um plástico mais grosso que, segundo a empresa, poder ser reutilizado até 25 vezes. Sempre que o cliente entrega uma embalagem vazia num ponto de venda, ele ganha um desconto na compra de um novo refrigerante da marca. Essa estratégia está sendo usada em países como o Brasil e a África do Sul, apresentando bons resultados.
Se uma empresa grande e poderosa como a Coca-Cola não consegue lidar com o imenso volume de resíduos plásticos dos seus produtos, imaginem então a enorme quantidade de problemas enfrentados por um sem número de empresas que fabricam alimentos, sucos, produtos de limpeza, remédios e outros produtos que usam plástico em suas embalagens.
Soma-se a isso outras tantas empresas que produzem brinquedos, utilidades domésticas, peças para veículos e tantos outros produtos feitos a base de plásticos. Todos esses produtos tem um final de ciclo de vida, que normalmente os levará para um aterro sanitário ou descarte em um terreno baldio ou rua, faltando muito pouco para caírem num curso d’água e atingirem as águas dos oceanos em algum momento.
Muito se fala da emissão de gases de efeito estufa e do aumento das temperaturas do planeta. A poluição das águas dos oceanos por resíduos plásticos também é muito grave e urgente!
[…] veiculada pela BBC News, noticiário da televisão pública da Inglaterra, ficamos sabendo que a produção da Coca-Cola, um dos refrigerantes mais populares do mundo, foi responsável pelo descarte de 156 bilhões de […]
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