Na última postagem, mostramos os primeiros anos da soja no Brasil, que começou como uma espécie de cultura marginal nos campos do Rio Grande do Sul e, pouco a pouco, começou a se expandir para outras regiões, até se transformar num dos grãos mais importantes produzidos no Brasil. Na postagem de hoje, vamos mostrar um pouco da expansão do grão para os Estados de Santa Catarina e Paraná.
Um marco da história da soja no Rio Grande do Sul se deu em 1949, quando foram registradas as primeiras exportações do grão. Outra data importante para a cultura no Estado foi 1958, ano em que começou a funcionar a primeira unidade industrial voltada para o processamento da soja. Essa fábrica tinha a capacidade de esmagar cerca de 150 toneladas do grão a cada dia, o que foi mais um estímulo para a produção da soja no Rio Grande do Sul na década de 1960. Mas o grande impulso para a produção da soja veio com a nova política governamental para a expansão da cultura do trigo em terras gaúchas – a soja passou a funcionar como a cultura de sucessão após a colheita do trigo (vide foto).
Essa cultura de sucessão também acabou sendo expandida para Santa Catarina e para o Paraná. No Estado do Paraná, a soja teve seu começo sendo plantada no entre-ruas dos cafezais ainda na década de 1960. Com o processo de erradicação dos cafezais a partir da década de 1970 e com a abertura de novos campos agrícolas, a produção de soja teve grande expansão no Estado, sendo plantada como cultura de sucessão com o trigo e com o milho. Em Santa Catarina, os primeiros registros de soja datam dos primeiros anos da década de 1970. O trigo era a principal cultura agrícola do Estado, tendo sua produção concentrada nos meses de frio – a soja passou a ser uma opção para plantio nos meses de verão, ocupando as terras ociosas. É importante lembrar que nesse período, o Rio Grande do Sul era o grande fornecedor de sementes para os Estados vizinhos e as variedades de soja plantadas tinham praticamente as mesmas características, sendo bastante adaptadas para as características climáticas da região Sul.
Até 1975, todas as variedades de soja plantadas no Brasil, especialmente na região Sul, eram de origem norte-americana, adaptadas para as condições climáticas daquele país e, razoavelmente, adaptáveis para as condições climáticas do Sul brasileiro. Essa pouca adaptabilidade ao clima e aos solos do Brasil se refletia numa baixa produtividade – a produção mal chegava a 20 sacas de 60 kg por hectare (cerca de 1.200 kg/hectare), valor muito abaixo da atual produtividade média brasileira, que supera o valor de 3.100 kg/hectare. Essa baixa produtividade tinha reflexos nos custos de produção, que eram muito altos – o plantio da soja só compensava mesmo como uma cultura de sucessão para os meses de calor, onde os agricultores se aproveitavam dos subsídios governamentais dados para a produção do trigo.
A criação do Centro Nacional de Pesquisa de Soja em 1975, uma unidade da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, viria a mudar o cenário do grão no país. A principal missão desse Centro era a pesquisa e o desenvolvimento de variedades de soja adaptadas às diversas condições de solo e de climas do Brasil, inicialmente focada na região Sul. Outra missão importante desse Centro era o desenvolvimento de técnicas de plantio específicas para as condições brasileiras. Os ganhos em produtividade passaram a viabilizar as plantações, tornando a cultura atrativa do ponto de vista financeiro. Outro aspecto altamente relevante foi a consolidação do complexo da soja a partir da instalação de indústrias produtoras de óleo, rações, de produção de sementes, de fertilizantes e de defensivos agrícolas. Todo esse complexo criou estabilidade para os plantadores do grão, que passaram a ter demanda garantida para o seu produto, estimulando cada vez mais a expansão da cultura, que passou a ocupar espaços no campo cada vez mais importantes ao lado do trigo, do feijão e do milho.
Foi a partir dessa experiência na região Sul do país que a Embrapa deu um verdadeiro salto na criação de novas variedades de soja, atingindo um novo patamar que mudaria para sempre os campos brasileiros: a adaptação da cultura para os climas quentes e para as características dos solos do Cerrado brasileiro. A história da soja e da agricultura, com todos os problemas ambientais que conhecemos, nunca mais seria a mesma – a soja deixaria de ser uma coadjuvante nos campos e passaria a ocupar o papel principal.
Falaremos disso em nossa próxima postagem.
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