Em 1879, após a invenção da lâmpada elétrica por Thomas Edison, a eletricidade se transformou em um “produto” altamente comercializável e nas últimas décadas do século XIX, seu uso virou uma espécie de febre nas grandes capitais mundiais. Surgiam em todas as grandes cidades da América do Norte, Europa e Ásia sistemas de iluminação pública com lâmpadas elétricas, bondes e máquinas elétricas nas grandes fábricas, além do abastecimento de residências e estabelecimentos comerciais de todos os tamanhos.
A jovem República Federativa do Brasil, que naqueles anos passava por todo um conjunto de mudanças sociais, políticas e econômicas, não poderia ficar para trás nesta corrida. Em 1901, após a inauguração da Usina Hidrelétrica de Santana de Paranaíba, a modesta cidade de São Paulo passou a contar com todas a modernidade e o conforto da eletricidade, um evento que seria determinante para a consolidação do processo de industrialização e desenvolvimento de toda a Região Metropolitana.
A cidade do Rio de Janeiro, Capital Federal e metrópole mais importante do Brasil com 800 mil habitantes na época, não pouparia esforços para implantar também sua infraestrutura de geração e distribuição da energia elétrica. A primeira experiência da cidade do Rio de Janeiro com a eletricidade remontava a uma pioneira linha de bondes elétricos inaugurada em 1891, que ligava a região do Largo do Machado ao bairro do Flamengo – os altos custos para a aquisição do carvão mineral usado na geração termoelétrica da eletricidade e a falta de capitais levaram a empresa à falência pouco tempo depois e os bondes voltaram a ser puxados por burros.
Em 1895, a empresa belga SAG – Société Anonyme du Gaz, obteve a primeira concessão para exploração da eletricidade na iluminação pública, mas a distribuição da energia elétrica produzida a partir de usinas térmicas a carvão só terá seu início em escala comercial nos primeiros anos do século XX pela CBEE – Companhia Brasileira de Energia Elétrica, criada pelos empresários Cândido Graffrée e Eduardo Palassim Guinle. Na mesma época, se instala no Rio de Janeiro uma concorrente de peso – a empresa canadense de energia elétrica Light and Power Company, que já operava na cidade de São Paulo desde 1899.
Desde de sua chegada ao Brasil, a Light já vislumbrava o mercado de geração e distribuição de eletricidade no Rio de Janeiro e, desde 1903, já realizava estudos técnicos para a implantação de usinas hidrelétricas no Estado. Após obter a concessão para operar no Rio de Janeiro em 1905, a Light iniciou a construção da Represa de Ribeirão das Lajes (vide foto) e da Usina de Fontes, inauguradas em 1908.
Até a década de 1950, a Light realizou diversas obras visando aumentar sua capacidade geradora, inaugurando novos reservatórios, usinas e, especialmente, estações de bombeamento que captavam água da bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul que, após a passagem por diversos grupos geradores de eletricidade, eram lançadas na bacia do Rio Guandu (60% das águas deste rio são retiradas da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul). Graças à todas essas obras de engenharia, a vazão do Rio Guandu passou dos históricos 25 m³/s para até 160 m³/s, um volume de água que passaria a ser fundamental para o abastecimento da cidade do Rio de Janeiro e municípios da Baixada Fluminense.
Relembrando um comentário feito em minha última postagem, a cidade do Rio de Janeiro e região sempre enfrentaram problemas de abastecimento de água e, graças aos investimentos feitos para a geração de energia elétrica, finalmente a região passaria a contar com água em volume suficiente para o abastecimento da sua população.
Infelizmente, como acontece com a maioria dos cursos d’água do país, não foram tomadas medidas que garantissem a preservação da qualidade ambiental das águas da bacia hidrográfica do Rio Guandu: as cidades cresceram sem planejamento e implantação de infraestrutura de coleta e tratamento dos esgotos; matas ciliares foram destruídas sistematicamente para a ampliação de áreas agrícolas e de pastagens; resíduos químicos de fertilizantes e defensivos agrícolas em volumes cada vez maiores continuaram a ser carreados pelas chuvas na direção da calha dos rios.
Resíduos sólidos de todos os tipos, descartados sem controle pelas cidades, eram arrastados pelas chuvas e entulhavam cada vez mais os rios; a extração de areia para uso na construção civil avançou sem controle por extensas áreas nas margens dos rios de toda a bacia hidrográfica, especialmente no município de Seropédica – o promissor rio Guandu, gradativamente, passou a ser um dos rios mais poluídos do país (algumas publicações afirmam que o rio já está no topo da lista). Calcula-se que a bacia hidrográfica do Rio Guandu receba aproximadamente 4 bilhões de litros de esgotos todos os dias.
Rios altamente poluídos e com altas cargas de esgotos domésticos, industriais e resíduos sólidos não são novidade nas grandes cidades brasileiras – o Tietê, principal rio que atravessa a Região Metropolitana de São Paulo, é um exemplo deste descaso ambiental. Porém, há uma grande diferença em relação ao rio Guandu: a Região Metropolitana de São Paulo possui outras fontes de abastecimento de água e não precisa captar as águas poluídas do rio Tietê (um dos sistemas de abastecimento de São Paulo, o Alto Tietê, utiliza águas do rio a montante da Região Metropolitana).
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro, ao contrário, depende das águas do rio Guandu para o seu abastecimento: 85% das águas usadas pela cidade do Rio de Janeiro e 70% dos volumes utilizados para o abastecimento de municípios da Baixada Fluminense vêm deste manancial, sem dispor de fácil acesso a outras fontes de abastecimento de água.
No nosso próximo post vamos falar do desafio diário para o tratamento e potabilização das águas do rio Guandu, tarefa que consome centenas de toneladas de produtos químicos.
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