
Com aproximadamente 4.880 km de extensão, o rio Paraná é considerado o oitavo maior rio do Mundo e sua bacia hidrográfica, que por convenção recebe o nome do rio da Prata (o último rio da bacia), é a segunda maior da América do Sul, só ficando atrás da gigantesca bacia do rio Amazonas. Seus principais afluentes também são rios de porte considerável: Paranaíba, Grande, Tietê, Paranapanema, Iguaçu, Paraguai, Salado, Pilcomayo e Bernejo, entre outros..
Os importantes rios Uruguai e Negro despejam suas águas diretamente na região do delta do rio Paraná. As águas de todos esses grandes rios e de uma infinidade de rios menores se juntam para formar o grandioso rio da Prata, um verdadeiro ““mar” de águas doces entre a Argentina e o Uruguai. A área total ocupada pela bacia hidrográfica do rio da Prata é de 2,5 milhões de km².
Um sistema hidrográfico tão grande e tão complexo é, normalmente, cheio de contrastes – e é justamente isso que está acontecendo nesse momento em diferentes trechos do rio Paraná. Vamos entender o que está acontecendo:
No alto rio Paraná, onde encontramos a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, as consequências da redução dos volumes das chuvas nas bacias hidrográficas dos rios Paranaíba e Grande são bem visíveis. Conforme já comentamos na postagem anterior, esses dois rios se juntam no ponto em que se encontram as divisas dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, e formam o rio Paraná.
As bacias hidrográficas do rio Grande e do Paranaíba tiveram uma temporada com chuvas abaixo da média, o que está se refletindo em baixos níveis nas calhas dos rios e, especialmente, nos inúmeros reservatórios de usinas hidrelétricas. Esses baixos estoques de água colocam em risco parte da geração de energia elétrica no país, um problema que colocou todas as autoridades do setor em alerta.
O reservatório da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, que fica no rio Paraná a pouco mais de 80 km do ponto de confluência dos rios Grande e Paranaíba, é um exemplo de como andam os caudais na região. De acordo com informações do ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico, do dia 19 de maio, o nível do reservatório está em 48,23% de sua capacidade máxima. No início do mês de janeiro, auge do período das chuvas, o nível era de apenas 50,45%, o que mostra a situação crítica dos caudais do rio.
Cerca de 800 km a jusante (correnteza abaixo), o grande lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu vive uma situação bastante diferente. Com a chegada do período chuvoso nas Regiões Sul e Sudeste, grandes volumes de água passaram a chegar ao reservatório e reverteram completamente a situação. O nível das águas, que em novembro de 2020 estava na cota de 216 metros, subiu vigorosamente e atingiu o nível de 220 metros, considerado o volume normal, no final de fevereiro.
A Usina Hidrelétrica de Itaipu, ou simplesmente Itaipu Binacional, é a maior usina hidrelétrica do Brasil e uma das maiores geradoras de energia elétrica do mundo. O empreendimento é responsável pelo fornecimento de mais de 75% da energia elétrica consumida no Paraguai (algumas fontes falam de 90%) e de cerca de 17% do consumo no Brasil. Itaipu conta com um total de 20 grupos geradores, com uma capacidade total instalada de 14.000 MW. Foram gastas mais de 50 mil horas para realizar totalmente este mega empreendimento, com um custo, a valores há época, de US$ 16 bilhões.
Já no baixo curso do rio Paraná, na Argentina, a situação de momento é simplesmente caótica. A forte seca que atingiu o Norte da Argentina, partes do Paraguai e da Bolívia, além da Região Centro-Oeste do Brasil, resultou numa fortíssima redução nos caudais que chegam nesse trecho do rio. O rio Paraguai, que é um dos maiores tributários do baixo curso do rio Paraná, está com níveis extremamente baixos. Na região de Cáceres, no Estado de Mato Grosso, o nível do rio Paraguai está na cota de 2 metros – em anos normais, o nível do rio estaria com cerca de 3,8 metros nessa época do ano.
Na região de Rosário, um importante polo exportador de soja e sede de algumas das maiores fábricas de esmagamento de soja do mundo, o nível do rio Paraná nos últimos dias tem sido de apenas 90 centímetros, o que vem prejudicando, e muito, os embarques de cargas.
O canal de navegação existente no rio, que é mantido através de serviços contínuos de dragagem, está com apenas 10 metros de profundidade – por razões de segurança para a navegação, o ideal seria uma profundidade próxima dos 15 metros. De acordo com as autoridades locais, esse é o mais baixo nível do rio Paraná na região de Rosário em 50 anos. O Governo da Argentina renovou emergencialmente o contrato com a empresa responsável pelos serviços de dragagem, uma multinacional de origem belga, o que provocou fortes críticas da oposição e da imprensa.
A Argentina é o maior exportador mundial de farelo de soja e o terceiro maior exportador de milho, além de um grande exportador de soja (já chegou a ser o terceiro maior exportador, mas andou perdendo posições). A hidrovia do rio Paraná é o principal canal de escoamento dessa produção e os baixos níveis das águas nesse momento de início das exportações da safra é uma péssima notícia para um país que passa por uma fortíssima recessão econômica.
De acordo com informações da Câmara de Atividades Portuárias e Marítimas, os navios estão sendo carregados com um volume menor de carga – entre 5,5 e 7 mil toneladas a menos, como medida preventiva para evitar que as embarcações encalhem. Em condições normais, a hidrovia do rio Paraná permite o tráfego de grandes cargueiros marítimos da classe Panamax (tamanho padrão para passagem pelo Canal do Panamá até pouco tempo atrás), o que permite o transporte dos grãos e do farelo diretamente para os países clientes da Argentina ao redor do mundo sem a necessidade de transbordo para navios maiores.
A expectativa dos produtores argentinos é a colheita de uma safra de 45 milhões de toneladas de soja e de 50 milhões de toneladas de milho na atual safra. Até o início de maio, cerca de 35% da soja e 20% do milho já haviam sido colhidos. O setor agrícola é um dos principais motores da economia argentina e a principal fonte de receitas em moeda estrangeira do país.
Sem poder contar plenamente com a navegação fluvial, os produtores correm o risco de ter de desembolsar valores entre US$ 250 e 300 milhões em fretes rodoviários para transportar a produção até portos mais ao Sul, onde as condições do rio estão melhores para a navegação.
Com a chegada do inverno no Hemisfério Sul no próximo mês de junho, terá início o período mais seco do ano na Região Centro-Sul do Brasil e no país vizinho. A situação crítica em que se encontra o rio Paraná em seu baixo curso, infelizmente, tenderá a ficar ainda mais complicada nos próximos meses – as fortes chuvas só devem voltar no final deste ano.
Além de enfrentar uma persistente recessão econômica há mais de três anos, a Argentina vem sendo fortemente atingida por medidas de restrição de circulação de seus cidadãos por causa da pandemia da Covid-19. Como se não bastassem todos esses problemas, medidas populistas do Governo estão criando ainda mais problemas para a economia do país. Os baixos níveis no rio Paraná e as dificuldades para as exportações de grãos e farelo de soja são apenas mais alguns pregos no “caixão” da já combalida economia do país…
Um mesmo rio, porém, com cenários locais completamente diferentes.
[…] OS GRANDES CONTRASTE… em A DERROCADA DA AGROPECUÁRIA NA… […]
CurtirCurtir
[…] baixos caudais nos rios Grande e Paranaíba são refletidos diretamente no reservatório da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, o primeiro grande aproveitamento das águas do rio Paraná. Os dados do ONS indicam que o nível […]
CurtirCurtir
[…] ao território brasileiro – o Paraná é o rio mais importante da Argentina e o país vizinho está sofrendo com os baixos níveis das águas. A hidrovia do rio Paraná é um dos principais canais para o escoamento da produção agrícola do […]
CurtirCurtir
[…] médio e baixo curso do rio Paraná em território da Argentina a situação está ficando caótica. A hidrovia que opera nesses trechos do rio é fundamental para […]
CurtirCurtir
[…] Essa situação se repete há cerca de 3 anos. Há pouco mais de um ano, inclusive, publicamos uma postagem aqui no blog falando da seca no trecho argentino do rio Paraná e dos transtornos para o escoamento da safra […]
CurtirCurtir