SALTO DO YUCUMÃ: A MAIOR QUEDA D’ÁGUA HORIZONTAL DO MUNDO, OU FALANDO DO RIO URUGUAI

Salto do Uycumã

O Salto do Yucumã (vide foto) no rio Uruguai, localizado entre o município brasileiro de Derrubadas, no Estado do Rio Grande do Sul, e o município argentino de El Sobierbo, na província de Missiones, é considerada a maior queda d’água longitudinal do mundo. Os saltos se estendem ao longo de 1,8 km, com alturas de até 20 metros

O local também recebe os nomes de Tucumã, Grande Salto de Yocomá e também Saltos del Mocon. Todos esses nomes derivam da palavra guarani “moconá”, que significa “que tudo engole”. Apesar de ser muito pouco conhecido no restante do Brasil, o Salto do Yucumã é uma importante atração turística local, que oferece inúmeras opções de lazer para os turistas: travessia com veículos 4 x 4, cavalgadas, caminhadas, canoagem, entre outras atrações. O Yucumã é uma das muitas surpresas do rio Uruguai, o mais importante do extremo Sul do Brasil. 

O rio Uruguai tem aproximadamente 1.770 km desde suas nascentes na Serra Geral, na divisa entre os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Como ocorre com diversos rios brasileiros como o Tietê, Iguaçu e Paraíba do Sul, o rio Uruguai nasce a apenas 65 km do Oceano Atlântico, porém, ao invés de seguir pelo caminho mais fácil até o mar, as águas do rio fluem primeiro no sentido Oeste, em direção ao interior do continente, e, depois, no sentido Sul até desaguar na região do Delta do rio Paraná, onde tem início o  rio da Prata. 

Em seu longo caminho, o rio Uruguai inicialmente marca a fronteira entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Depois, o rio marca a divisa entre o Brasil e a Argentina, e depois a fronteira entre a Argentina e o Uruguai. Na língua guarani antiga, Uruguai é a junção de “uruguá”, o nome de um caracol de água doce, e “y”, que significa rio. O nome acabou sendo usado para definir tanto o rio quanto o país vizinho ao Sul. 

O rio Uruguai teve um importante papel na colonização do extremo Sul do Brasil. Conforme já comentamos em postagens anteriores, o território brasileiro foi dividido entre as Coroas de Portugal e da Espanha pelo Tratado de Tordesillas, assinado em 1494 pelos dois reinos. Pelo Tratado, toda a bacia hidrográfica do rio Uruguai ficava dentro das possessões da Espanha na América do Sul. 

A colonização da região teve início em 1626, quando o padre jesuíta espanhol Roque Gonzalez de Santa Cruz parte de Buenos Aires e sobe o rio Uruguai até atingir o atual território do Rio Grande do Sul para fundar, na atual cidade de São Francisco Xavier, a primeira missão dos Jesuítas. Até o ano de 1634, os Jesuítas fundariam um total de 18 missões no chamado 1° Ciclo Missioneiro no Rio Grande do Sul. Todo esse esforço de catequização dos indígenas, porém, não alcançou os objetivos pensados inicialmente pelos religiosos – os sucessivos ataques dos bandeirantes paulistas aos núcleos religiosos forçaram os Jesuítas a fugir para a margem Oeste do rio Uruguai em 1637. Calcula-se que os paulistas aprisionaram ao todo cerca de 200 mil indígenas, sendo que perto de 60 mil vieram dos assentamentos da região do rio Uruguai

A partir de 1682, os Jesuítas resolveram voltar para suas antigas terras e retomaram seu antigo projeto de catequização dos indígenas. Esse foi o início dos chamados Sete Povos das Missões, um ciclo que começou com a fundação de São Francisco Borja, seguido por São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Miguel Arcanjo. Esse projeto de retomada das reduções Jesuítas no atual extremo Sul do Brasil tinha pleno apoio da Coroa da Espanha, que via com extrema preocupação o avanço e a ocupação das terras por colonos portugueses. 

Em 1690 foi fundado São Lourenço Mártir, seguida por São João Batista e Santo Ângelo Custódio. Esse novo ciclo das reduções dos Jesuítas, porém, não teve uma vida muito longa – em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madrid, que tinha por objetivo resolver as questões fronteiriças entre as suas colônias sul-americanas. Pelo novo Tratado, Portugal cederia a região de Colônia do Sacramento na região Oeste do atual Uruguai em troca da região Oeste do Rio Grande do Sul. A transição não foi das mais pacíficas, uma vez que os padres Jesuítas não queriam abandonar as suas reduções e nem os índios queriam que os padres fossem embora. Sem uma solução amigável, a questão acabou sendo resolvida a bala, em uma série de confrontos armados que ficaram conhecidos como a Guerra Guaranítica

A consolidação final do território do Rio Grande do Sul só ocorreria em meados do século XIX, quando a região se consolidou como grande produtora de gado e de muares, que eram exportados para outras regiões do país. Também merecem destaques as charqueadas, que desde os tempos do Ciclo do Ouro em Minas Gerais, no século XVIII, era abastecida com a carne seca produzida no extremo Sul do país. Também foram fundamentais as sucessivas levas de imigrantes, especialmente açorianos, alemães e italianos, que fundaram inúmeras novas cidades em todo o Rio Grande do Sul, especialmente no Oeste gaúcho, ao longo das margens do rio Uruguai. 

Além de toda a sua importância histórica, o rio Uruguai também sempre demonstrou uma importância ímpar como uma importante fonte de abastecimento de água para cidades, irrigação de plantações, dessedentação animal e fonte de pescados. O primeiro aproveitamento das águas do rio Uruguai para geração de energia elétrica teve início no ano 2000, com a inauguração da Usina Hidrelétrica Itá, a maior do Rio Grande do Sul. Na sequência foram construídas as Usinas Hidrelétricas de Machadinho e Foz do Rio Chapecó. Cerca de Metade da energia elétrica gerada no Rio Grande do Sul vem das águas do rio Uruguai. No baixo curso do rio Uruguai, na divisa entre a Argentina e Uruguai está localizada a Usina Hidrelétrica Binacional de Salto Grande, com potência instalada de 1.890 MW. Falaremos do aproveitamento hidrelétrico do rio Uruguai na próxima postagem

Por hora, gostaria de encerrar falando do projeto de uma usina hidrelétrica que, felizmente, não deu certo. Na década de 1970, durante o ciclo de construção de grandes usinas hidrelétricas por todo o país, foram feitos estudos para a construção de uma hidrelétrica na região do Salto do Yucumã, projeto esse que se tivesse sido levada a cabo, provavelmente teria encoberto todo o conjunto de cachoeiras, a exemplo do Salto das Sete Quedas, encoberto pelas águas do lago de Itaipu, e da Cachoeira do Índio no rio Grande, que foi inundada após o enchimento do lago da hidrelétrica de Água Vermelha. 

Felizmente, os custos ambientais de mais esse desastre envolvendo uma grande cachoeira e a construção de uma usina hidrelétrica foi evitado – esse projeto acabou engavetado. Para preocupação geral, entretanto, ainda há quem continue com a ideia de construir uma represa na região – a usina hidrelétrica Panambi, que segundo consta, não afetaria as cachoeiras. De acordo com as informações disponíveis, uma decisão judicial de 2015 suspendeu os estudos de viabilidade técnica dessa usina, e também de outra, a hidrelétrica de Garabi. 

Como já comentei antes, nada contra a geração da energia a partir de fontes hidráulicas, desde que os devidos estudos e impactos ambientais sejam adequadamente realizados e avaliados, com as devidas compensações ambientais e sociais efetivamente realizadas. O que não dá é ficar assistindo parado a destruição de patrimônios naturais devido a construção de mais uma usina hidrelétrica. Chega! 

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