Desde o final de 2020, a NOAA – Administração Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos, na sigla em inglês, vem observando uma redução de 1,2° C na temperatura das águas superficiais de uma extensa faixa do Oceano Pacífico. Conforme já comentamos em postagens anteriores, isso indica a ocorrência do fenômeno climático La Ninã. Segundo as projeções da NOAA, será o terceiro La Niña mais intenso dos últimos 20 anos.
O fenômeno provoca uma série de mudanças nos padrões climáticos de todo o mundo. Aqui no Brasil, a presença de La Niña está causando fortes tempestades e chuvas acima da média em algumas regiões como no Pantanal Mato-Grossense. Em outras regiões, porém, está acontecendo justamente o contrário – as chuvas estão abaixo da média. Para completar o quadro, o inverno de 2020 foi um dos mais secos dos últimos anos – o retorno das chuvas em muitos lugares atrasou em cerca de 15 dias.
Existem grandes chandes dos efeitos de La Niña serem sentidos até a metade deste ano. No quadro geral, se esperam chuvas acima da média nas regiões Norte e Nordeste. Na região Sul haverá tendências para estiagens regionalizadas a partir de fevereiro. Na maior parte das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, a tendência será de chuvas entre a média e abaixo da média, e, numa extensa faixa entre o Oeste do Estado de São Paulo e o Mato Grosso do Sul, a tendência será de chuvas abaixo da média.
Esse panorama climático traz uma série de preocupações para o sistema de geração de energia elétrica do país. Cerca de 90% da energia elétrica gerada no Brasil vem de usinas hidrelétricas que estão concentradas nas Regiões Sudeste/Centro-Oeste, as mais atingidas pela seca. Essas duas regiões respondem por 70% da geração hidrelétrica do país. Em dezembro, o nível dos reservatórios de água nessas regiões estava em 17,72% da sua capacidade.
De acordo com a última atualização do ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico, publicada em 06 de fevereiro, o nível dos reservatórios nessas duas regiões atingiu a preocupante marca de 23,64%. Essa situação crítica dos reservatórios não é nova e decorre de vários anos de volumes acumulados de água abaixo da média.
A Região Sul do país foi onde os reservatórios apresentaram as melhores taxas de recuperação: de um nível de 18,25% em dezembro, os reservatórios já atingiram a marca de 61,77% na última medição. Nas Regiões Nordeste e Norte, os reservatórios estão com níveis de 52,02% e 30,59% das capacidades máximas, respectivamente.
No início do mês de dezembro, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, colocou o abastecimento de energia elétrica do país na chamada Bandeira Vermelha, e autorizou a cobrança de uma tarifa extra na conta de energia dos consumidores. Em janeiro, diante das perspectivas de melhora da situação, houve um recuo do órgão e passou a valer a Bandeira Amarela. Essas medidas têm como principal objetivo encarecer o custo da energia, de modo a forçar os consumidores a gastarem menos eletricidade no seu dia a dia.
Entre outras medidas emergenciais, o CMSE – Comitê de Monitoramento do Sistema Elétrico, já havia autorizado desde outubro o acionamento das poluentes usinas termelétricas a carvão e a gás, além de contratar a importação de energia elétrica da Argentina e do Uruguai. Quanto maior a disponibilidade de energia elétrica gerada a partir de outras fontes, maior a economia de água nos reservatórios brasileiros.
Ainda não existe consenso entre as autoridades do setor sobre os riscos de um racionamento de energia elétrica no país. Ainda estamos dentro do período das chuvas e existe a esperança da recomposição dos estoques de água em muitos reservatórios a exemplo do que aconteceu na região Sul.
Ao longo de 2020, a pandemia da Covid-19 e as diversas medidas de restrição à circulação da população ajudaram a “esfriar” as atividades econômicas do país, reduzindo assim o consumo de energia elétrica. As preocupações agora se voltam para 2021, quando existem boas expectativas para a volta do crescimento econômico e do natural aumento da demanda por energia elétrica.
De acordo com informações do ONS, o parque gerador de energia elétrica do Brasil tinha, no último mês de novembro, uma capacidade total instalada de 165 mil MW. As estimativas indicam um aumento de 3% nessa capacidade ao longo de 2021, chegando a uma capacidade de 170 mil MW. Até o ano de 2025, a capacidade geradora do país deverá chegar aos 181 mil MW.
A capacidade geradora “nominal” do país é, segundo a ONS, muito maior que o consumo. Em janeiro deste ano, a carga média de energia foi de 69 mil MW – em janeiro de 2020, antes do início da pandemia, a demanda foi de 70,7 mil MW. Ao longo de todo o ano de 2020, o consumo médio mensal foi de 66,4 mil MW, com o pico de consumo em alguns horários chegando na casa dos 80 mil MW.
Apesar dessa aparente folga entre a capacidade de geração e o consumo, é importante ressaltar que nem toda a capacidade geradora do sistema está disponível 100% do tempo. Existem interrupções de fornecimento devido a problemas nas linhas de transmissão do Sistema Interligado, paradas para manutenção (algumas não previstas) em usinas hidrelétricas, usinas termelétricas que estão desligadas, entre outros problemas.
A capacidade de geração de energia elétrica sincronizada no país na última semana foi de 86 mil MW, um valor que está muito próximo dos picos de consumo e que pode significar riscos à segurança do fornecimento de energia elétrica à população. Manter uma boa margem de segurança nesse momento é fundamental, daí a preocupação em acionar as usinas termelétricas existentes, importar energia de países vizinhos e forçar a população a reduzir o consumo.
A geração de energia elétrica aqui no Brasil a partir de fontes renováveis como a hidrelétrica é um grande exemplo para um mundo onde grande parte da energia provém da queima do carvão mineral. Entretanto, quaisquer alterações nos padrões das chuvas podem resultar em graves riscos para todo o sistema. É importante diversificar as fontes geradores, usando-se principalmente outras fontes renováveis como a energia solar.
O uso da energia solar já responde por cerca de 1 mil MW no Brasil, porém está muito longe de outros países e regiões do mundo. Na Europa, por exemplo, a geração e uso desse tipo de energia já corresponde a valores da ordem de 100 mil MW. As coisas tendem a melhorar muito nos próximos anos – de acordo com projeções da Agência Bloomberg, as contribuições das fontes de energia fotovoltaicas na matriz energética brasileira deverão representar cerca de 32% em 2040.
Enquanto isso, precisaremos cuidar melhor de nossos rios e, principalmente de nossas florestas. A água tem múltiplos usos – além de essencial para a geração de energia elétrica, ela também é fundamental para o abastecimento de populações, agricultura, pecuária e indústrias. La Niña até tem aprontado das suas traquinagens, mas todos nós temos parte na responsabilidade pela situação preocupante de muitos dos nossos reservatórios de água.
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[…] abaixo da média. O problema foi amplificado a partir do final de 2020 devido a incidência do fenômeno climático La Niña, que afetou grandes áreas das Regiões Centro-Oeste e Sudeste, justamente onde se encontram […]
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