PAÍSES DO SUDESTE ASIÁTICO ESTÃO COMEÇANDO A COIBIR AS IMPORTAÇÕES DE RESÍDUOS PLÁSTICOS

Contêineres com lixo nas Filipinas

O plástico é um material barato, facilmente moldável e colorido com a adição de corantes, o que possibilita a criação de peças bonitas, leves, ergonômicas e com acabamentos perfeitos. Máquinas injetoras de plástico conseguem produzir milhares de peças plásticas a partir de um único molde. Peças plásticas também podem ser produzidas através de processos de laminação, extrusão, moldagem a vácuo e em diversos outros processos de usinagem. Embalagens plásticas são inodoras, estéreis e permitem um fechamento hermético de alta qualidade.  

Peças e componentes plásticos são dominantes em produtos eletrodomésticos, eletrônicos e em brinquedos. Vem se tornando cada vez mais comuns em automóveis, bicicletas, motocicletas, navios, aviões, móveis, produtos e insumos hospitalares. Na construção civil ocupa cada vez mais espaços como isolante de fios elétricos e de telefonia, em tubos e conexões para eletricidade, água e esgotos, janelas, caixas de força entre outros produtos e componentes. O mundo em que nós vivemos é mais “plástico” a cada dia e, como uma consequência natural, esse é o resíduo doméstico dominante

Existe, porém, uma palavra que raramente é mencionada pelos fabricantes, mas que faz toda a diferença: o plástico comum é, virtualmente, indestrutível, o que cria todo o tipo de problemas com os resíduos a base de polímeros plásticos. Aterros sanitários, lixões, rios e oceanos estão sendo inundados com quantidades cada vez maiores de resíduos plásticos, o que vem transformando esse produto num dos maiores resíduos poluidores do planeta

De acordo com informações do WWF – Fundo Mundial para a Natureza na sigla em inglês, uma das maiores organizações ambientais do mundo, a produção anual de plásticos é da ordem de 300 milhões de toneladas – outras fontes falam de 100 milhões de toneladas. O que fazer para descartar tamanha quantidade de resíduos é um desafio diário para cidades e países de todo o mundo. Parte substancial desses resíduos são descartados de forma inadequada – calcula-se que um volume entre 8 e 13 milhões de toneladas de plásticos acabem chegando aos oceanos, o que tem causado enormes dificuldades para as criaturas marinhas. 

Países do chamado Primeiro Mundo, preocupados em manter  o que restou dos seus ambientes naturais, descobriram uma forma “genial” para se livrar de grandes volumes de resíduos plásticos – as exportações para países pobres do chamada Terceiro Mundo, onde esses materiais poderiam ser separados, classificados e revendidos para a reciclagem. Além de resolver seus problemas ambientais, essas nações estavam contribuindo assim para a geração de “trabalho e renda” entre as populações mais carentes do mundo. 

De uma forma muito resumida, foi dessa forma que países como a China, Vietnã, Filipinas, Malásia, Indonésia, Bangladesh, Índia, Gana e muitos outros, se transformaram em grandes “importadores de resíduos plásticos produzidos em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e de toda a Europa. 

De acordo com reportagem do jornal The Guardian, somente os Estados Unidos exportam em média 68 mil contêineres com resíduos plásticos a cada ano. Até 2018, a China era a maior receptora e recicladora dos resíduos plásticos norte-americanos. Uma mudança na legislação do país, entretanto, passou a proibir esse tipo de comércio. A partir de então, países vizinhos como o Vietnã e o Laos passaram a receber quantidades maiores de resíduos para compensar o “fechamento” das importações da China.  

Outros tradicionais “importadores”, como Bangladesh, Índia, Filipinas e Malásia, passaram a ser cooptados pelas nações ricas para aumentarem suas importações, compensando o fechamento do “mercado” chinês. Algumas dessas nações, entretanto, passaram a criar barreiras para a importação desses resíduos. 

Surge aqui uma pergunta: se as “exportações” de resíduos plásticos são um bom negócio para o meio ambiente das nações ricas e gera emprego e renda em nações paupérrimas do Terceiro Mundo, por que é que alguns dos países “importadores” começaram a proibir essas importações? 

A resposta não é muito difícil – até 70% dos resíduos exportados pelas nações ricas estão contaminados por restos de comida, resíduos de óleo e graxa, produtos químicos dos mais diferentes tipos, entre outros tipos de contaminantes. Esses resíduos “sujos” não podem ser reciclados e acabam sendo transformados em resíduos sólidos locais, que precisarão ser encaminhados para aterros e lixões nos países recicladores. A reciclagem vira um péssimo negócio para os países importadores

Um outro problema grave da reciclagem é a intensiva exploração de mão de obra, inclusive infantil. Sem opções, é comum que mulheres que têm filhos pequenos acabem levando as crianças para os locais de trabalho (muitas vezes, essas pessoas já moram no próprio local de trabalho). Como o trabalho é penoso e pouco rentável (normalmente, se ganha por produção), as crianças acabam ajudando na seleção e classificação dos resíduos. Também não é nada incomum que crianças maiores deixem de frequentar a escola para ajudar os pais nesses trabalhos. 

Em maio de 2019, o Governo da Malásia anunciou medidas que visam coíbir a importação de resíduos plásticos para reciclagem no país. O Governo das Filipinas já havia tomado uma decisão semelhante poucas semanas antes. E mais – centenas de contêineres repletos com milhares de toneladas de resíduos foram devolvidos ao Canadá, providência que também foi tomada pelas Filipinas. De acordo com dados de 2016, a Malásia importou cerca de 870 mil toneladas de resíduos plásticos, um volume três vezes maior do que o total de 2015. Em 2019, esse volume superou as 7 milhões de toneladas.

No caso das Filipinas, os problemas começaram com a identificação de sucessivas remessas de contêineres carregados com lixo eletrônico e doméstico também de origem canadense. As guias de importação informavam se tratar de resíduos plásticos para reciclagem. Em maio de 2019, o Governo das Filipinas devolveu 69 contêineres com uma carga total de 1.500 toneladas de lixo para o Canadá, além de baixar uma série de decretos para aumentar a fiscalização e restringir gradualmente a entrada desses resíduos no país.  

Em países extremamente pobres como Bangladesh, infelizmente, essa realidade está muito longe de acabar. Cerca de 30% da população do país sobrevive com apenas US$ 1.00 per capita ao dia, um valor considerado como limite da pobreza extrema, e, com mão de obra abundante e extremamente barata, há espaço de sobra para a “indústria da reciclagem” prosperar.  

Um dos produtos de destaque de Bangladesh são os flocos de garrafas Pet – o país exportou em 2018 cerca de 20 mil toneladas desse resíduo, produzidos em mais de “três mil fábricas espalhadas pelo país asiático”. Os negócios renderam US$ 15 milhões e, segundo os empresários do setor, a taxa de crescimento nas vendas é de 20% ao ano 

Ou seja – enquanto existirem miseráveis aos milhões nas nações do Terceiro Mundo, populações dos países ricos não precisarão se preocupar com a destinação final dos seus resíduos sólidos. Felizmente, as coisas estão começando a mudar bem devagar em alguns países. 

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