O descarte irregular de resíduos sólidos não é apenas um problema local das cidades brasileiras – é um fenômeno mundial, especialmente de países pobres e em desenvolvimento econômico. Sociedades tradicionais e milenares, acostumadas com um padrão de consumo voltado para as necessidades mais fundamentais – alimentação, vestimenta e moradia, repentinamente entraram na economia de um mundo globalizado e passaram a consumir bebidas e alimentos industrializados; eletrodomésticos e eletroeletrônicos; roupas e sapatos ocidentais (especialmente os tênis esportivos); embalagens plásticas de todos os tipos e toda uma gama de novos resíduos, desconhecidos até então nestas sociedades. O resultado – o surgimento de lixões improvisados para receber estes rejeitos recém chegados e, de quebra, esses povos passaram a arcar com todos os problemas associados aos lixões.
Um acidente noticiado no último fim de semana nos dá conta do tamanho do problema: um deslizamento em um lixão na cidade de Adis Abeba, capital da Etiópia, provocou a morte de pelo menos 15 pessoas e dezenas estão desaparecidas. Autoridades locais estimam que 150 pessoas trabalhavam no local buscando materiais recicláveis. A “mineração de recicláveis”, atividade que conhecemos tão bem aqui em nossas terras, está se tornando uma atividade em escala mundial (pelo menos no lado pobre do mundo).
Aqui no Brasil convivemos com um crescimento discreto do volume de resíduos sólidos desde a década de 1960, quando o plástico entrou em definitivo na vida das famílias brasileiras. Nos últimos anos esse crescimento acelerou e, hoje em dia, cada brasileiro gera um pouco mais de 1 kg de lixo a cada – nossos problemas com o descarte irregular de resíduos sólidos, que não eram poucos, cresceram na mesma proporção.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, sobre a qual estamos publicando sucessivos posts, foi criada com o intuito de redefinir os conceitos e classificação dos resíduos sólidos, tendo como principais metas a redução dos resíduos encaminhados para o descarte em aterros sanitários, a eliminação dos chamados lixões e uma reorganização completa dos serviços de limpeza, coleta e destinação dos resíduos. A redução da quantidade dos resíduos passa sistematicamente pela redução na produção, a reutilização de produtos e materiais e, por fim pela reciclagem de materiais – somente os resíduos que não se enquadrarem em qualquer destas classificações é que deverão ser encaminhados para o descarte. Apesar de parecerem simples, estas medidas pressupõem uma série de ações de educação ambiental junto às populações das cidades, uma vez que a separação dos resíduos deverá ser feita ainda nas residências e os materiais recicláveis deverão ser colocadas para a coleta em embalagens separadas – plásticos; papeis; vidros; latas/metais e lixo úmido/orgânico. O sistema de coleta também precisa ser reorganizado, com caminhões dotados de câmaras para cada tipo de resíduo e com a criação de áreas de transbordo para a descarga e separação dos materiais recicláveis. Por fim, os municípios deverão adquirir e licenciar áreas para a instalação de aterros sanitários que atendam as normas técnicas e ambientais, além de reestruturar as equipes de funcionários públicos que cuidam da gestão deste importante serviço urbano.
Mesmo que você, caro leitor, seja um leigo no assunto, perceberá muito rápido que a Política Nacional de Resíduos Sólidos é muito mais complexa do que se imagina e que terá como resultados (pelo menos é que se espera) um profunda modificação do comportamento da população em relação aos resíduos sólidos domiciliares e também implicará em uma série de mudanças estruturais e gerenciais nas administrações municipais, responsáveis que são pela limpeza pública, coleta e destinação final dos resíduos sólidos.
Caso você viva no mesmo país que eu vivo, o Brasil, terra do “jeitinho, do improviso, das coisas feitas pela metade e das leis “que não pegam”, sabe que será uma tarefa hercúlea fazer essa Política funcionar. Enquanto discutimos tudo isso e tentamos fazer todo um conjunto de engrenagens do sistema girar, muita gente, por puro comodismo, vai continuar jogando o seu “lixo” em terrenos baldios – todos sabemos que leis não garantem a mudança do comportamento das pessoas.
No próximo post vamos começar a falar dos famosos Aterros Sanitários e a sua importância. Até lá!
[…] questões que grande parte de nossas cidades ainda não conseguiram equacionar. Existem perto de 3 mil grandes lixões por todo o país, onde resíduos sólidos de todo os tipos, incluindo-se resíduos perigosos como os […]
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[…] o que cria todo o tipo de problemas com os resíduos a base de polímeros plásticos. Aterros sanitários, lixões, rios e oceanos estão sendo inundados com quantidades cada vez maiores de resíduos plásticos, o […]
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[…] Começamos a falar desse problema indiretamente na última postagem, quando tratamos dos graves problemas na disposição dos resíduos sólidos produzidos pelas cidades da Rússia. Sem contar com uma sólida política de gerenciamento dos resíduos domiciliares, as Prefeituras das cidades do país, inclusive da capital Moscou, se limitam a recolher os materiais de porta em porta, para simplesmente os depositarem em lixões a céu aberto em terrenos nas regiões mais periféricas. […]
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[…] lixões e “aterros” usados para o descarte dos resíduos gerados pelas populações das cidades também têm uma […]
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[…] gerados pelas cidades, que vão da falta de tratamento dos esgotos domésticos à geração de resíduos sólidos de todos os tipos. Sem uma destinação final adequada, muitos desses resíduos acabam nas ruas e […]
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[…] conta entram os resíduos sólidos despejados precariamente pelas Prefeituras nos lixões, onde parte acaba sendo carreada pelas chuvas para as calhas dos rios. Também precisamos citar os […]
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[…] agrícolas a vandalismos. Um problema que gostaria de salientar são os incêndios iniciados em lixões e áreas clandestinas de descarte de resíduos, que acabam se propagando para matas e fragmentos florestais próximos, causando uma série de […]
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