Para muita gente, a Amazônia, a maior floresta equatorial do mundo, é um dos últimos lugares intocados do planeta e sua preservação é fundamental para o futuro da humanidade. A Floresta Amazônica é sim fundamental para o controle do clima e das chuvas em grande parte do continente americano, uma função que tem grande repercussão no clima global. Porém, para a decepção de muita gente, ela não é uma floresta intocada: há cerca de 4 mil anos atrás, grande parte da floresta estava sendo queimada para a formação de grandes campos agrícolas, que eram necessários para sustentar grandes populações. E as evidências desse processo de ocupação humana estão por todos os lados, nas chamadas “terras pretas de índio”.
Os solos naturais da Amazônia são dos tipos arenosos e argilosos, muito pobres em nutrientes – a imponência da vegetação da grande floresta pode até passar uma impressão diferente. O segredo da Amazônia está na grossa camada de húmus formado pelo acúmulo de folhas e árvores caídas, e também pela decomposição dos corpos de animais mortos – ou seja, é a própria floresta que gera os nutrientes que sustentam a floresta, numa espécie de “moto perpétuo”. Se uma grande área da floresta for derrubada para a criação de pastagens ou campos agrícolas, em poucos anos essa camada superficial de nutrientes se esgota e a terra se torna improdutiva.
Na década de 1870, exploradores e naturalistas que viajavam por diferentes partes da Amazônia passaram a observar extensas manchas de solo escuro e profundo, de excepcional fertilidade. Com o passar dos anos e com desenvolvimento de novos estudos sobre esses solos escuros, descobriu-se que os teores de carbono nessas áreas eram muito mais altos que os valores médios de outros solos – cerca de 150 gramas de carbono para cada kg de solo, enquanto a média era de 20 a 30 gramas. Esses solos também se destacavam pelos altos teores de fósforo, cálcio, zinco, nitrogênio e manganês, além grandes quantidades de carvão, restos de cerâmica e resíduos de ossos. Esses solos não eram naturais, mas sim criados artificialmente por seres humanos e passaram a ser conhecidos como “terras pretas de índios”.
Nos últimos anos, os solos escuros da Amazônia têm despertado um interesse cada vez maior da comunidade científica e as mais importantes revistas da área no mundo como a Nature e a Science têm publicado diversos artigos sobre esse assunto. Em 2006, citando um exemplo, a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), dedicou um simpósio a esse assunto: Amazonian Dark Earths: New Discoveries (Terras Pretas da Amazônia: Novas Descobertas). Os cientistas querem entender a origem e quais foram os processos usados para a criação de solos de tamanha fertilidade, usados até hoje por comunidades da região para a produção de alimentos.
Até onde os pesquisadores já conseguiram entender, o carbono foi fixado nos solos através da queima de materiais orgânicos na presença de pouco oxigênio. O carbono em alta concentrações melhora a absorção da água, o que facilita a penetração das raízes no solo e gera plantas mais resistentes. As características do carvão encontrado nas terras pretas de índio permitem uma longa retenção do carbono no solo, exatamente o contrário do que deveria acontecer na região Amazônica – essa retenção pode durar centenas ou milhares de anos. Conseguir recriar os mecanismos de criação da terra preta de índio poderá ser uma excepcional alternativa econômica para regiões de solos pobres em todo o mundo, onde as populações locais se esforçam muito para obter poucos frutos da terra.
Para que vocês percebam a importância do tema, os pesquisadores calculam que as terras pretas ocupem entre 1% e 10% de toda a área da Floresta Amazônica. Essas terras foram formadas por índios pré-colombianos, que começaram a desenvolver esse trabalho na mesma época em que os primeiros núcleos maias estavam sendo formados na América Central – talvez até haja uma ligação entre esses grupos. Da mesma forma que há mistérios na origem desses índios, também não se sabe o que aconteceu com eles.
Conforme essas manchas de terra preta foram sendo abandonadas, talvez por causa da migração das populações para outras regiões, a floresta voltou a crescer, encobrindo qualquer vestígio anterior da presença humana – a grossa camada de solo negro enriquecido ficou única testemunha desse passado distante.
A Amazônia é realmente fascinante e ainda nos reserva inúmeras surpresas.
[…] terras negras ou terras pretas de índio, conforme comentamos na última postagem, são manchas de solo com excepcional fertilidade encontradas em toda a região Amazônica. Esses […]
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[…] e de baixa fertilidade. Alguns poucos desses colonos tiveram a sorte de ganhar um lote com “terra preta de índios”, um tipo de solo fértil criado artificialmente por antigas tribos indígenas da […]
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[…] considerada a espécie de planta mais agressiva do mundo. Conforme comentamos em outras postagens, os solos da Amazônia são pobres e extremamente ácidos, se degradando rapidamente após a derrubada da mata. É justamente nesses solos degradados onde […]
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[…] a sobrevivência dessas famílias por um curto período de tempo. Assim como acontece com os solos da Amazônia, os solos da Floresta do Congo têm uma baixa produtividade e, sem a proteção da cobertura […]
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[…] no Extremo Sul. Na Amazônia brasileira, por exemplo, encontramos grandes manchas da chamada “terra preta de índio”, um sinal claro do uso dessa prática em toda a região vários séculos antes da chegada dos […]
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[…] contrário da primeira impressão que todos costumamos ter, os solos amazônicos são pobres e de baixa fertilidade. De acordo com informações da UFPA – Universidade Federal do Pará, 92% dos solos da região […]
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[…] AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL… em AS “TERRAS PRETAS”… […]
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[…] já comentamos em postagens anteriores, a maior parte das terras da Amazônia é formada por solos ácidos e de baixíssima fertilidade. O que dá uma falsa sensação de imensa fertilidade é uma grossa camada de húmus formado pela […]
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[…] BABAÇU: UMA PALMEIRA… em AS “TERRAS PRETAS”… […]
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[…] desses desbravadores acabaram tendo seus sonhos frustrados – grande parte dos solos da Amazônia tem baixa fertilidade e, uma vez desmatados, produzem por apenas 2 ou 3 anos. Quem insistiu em continuar vivendo e […]
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[…] a um processo de acumulação de biomassa. Conforme já comentamos em postagens anteriores, os solos da Amazônia são extremamente pobres em nutrientes e também apresentam acidez alta. A fertilidade da Floresta Amazônica vem de uma grossa camada de […]
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[…] quiçá milhares de anos. A maior parte das terras amazônicas, conforme já apresentamos em postagens aqui no blog, são de baixíssima fertilidade – os indígenas desenvolveram técnicas de queimar restos de […]
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[…] das raras exceções amazônicas no quesito fertilidade de solos são as chamadas “terras pretas de índio”. Esse tipo de solo foi criado artificialmente por antigas populações indígenas que ocuparam a […]
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