ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: OS SOLOS POBRES DA FLORESTA AMAZÔNICA 

A tão falada e defendida Floresta Amazônica ocupa uma área total entre 5,5 e 6,7 milhões de km² a depender da fonte consultada. Essa floresta ocupa extensas áreas no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. A Floresta Amazônica está contida na Bacia Amazônica, um mundo de águas que ocupa uma área de mais de 7 milhões de km². 

No Brasil, a Floresta Amazônica ocupa uma área com aproximadamente 4,5 milhões de km², abrangendo todo o território da Região Norte do País, o Norte de Mato Grosso e pequenas faixas dos Estados do Tocantins e do Maranhão. Existe ainda a chamada Amazônia Legal, uma região criada com o objetivo de desenvolver economicamente a região e que ocupa uma área total de 5,2 milhões de km². 

Todos os números relacionados a Amazônia são sempre superlativos – tamanho dos territórios, extensões dos rios, volumes de chuvas, diversidade de biomas e de espécies animais e vegetais, entre muitos outros. Existe um item, entretanto, onde a Amazônia decepciona até o mais entusiasta dos ecologistas – a fertilidade dos solos. 

Apesar de toda a sua opulência de maior floresta equatorial ou tropical do mundo, o bioma Amazônico está assentado sobre solos de baixíssima fertilidade. De acordo com informações da UFPA – Universidade Federal do Pará, 92% dos solos da Região Amazônica apresentam uma baixa fertilidade natural, enquanto que apenas 8% são de elevada fertilidade.. 

Os solos naturais da Amazônia são dos tipos arenosos e argilosos, muito pobres em nutrientes – a imponência da vegetação da grande floresta pode até passar uma impressão diferente. Um dos segredos dos solos da Amazônia é a grossa camada de húmus formado pelo acúmulo de folhas e árvores caídas, e também pela decomposição dos corpos de animais mortos. Ou seja, é a própria floresta que gera grande parte dos nutrientes que sustentam a floresta, numa espécie de “moto perpétuo”.  

Outra importante fonte de nutrientes para a manutenção da vida vegetal são os sedimentos minerais que são carreados pelas águas dos rios. Uma das principais fontes desses sedimentos são as montanhas da Cordilheira dos Andes, onde minerais importantes como o fósforo e o potássio, nutrientes essenciais para as plantas, são encontrados. Importantes rios formadores da Bacia Amazônica nascem na Cordilheira dos Andes. 

O Deserto do Saara, localizado no Norte da África, por mais improvável que possa parecer, também contribui a seu próprio modo para a nutrição da Floresta Amazônica. Os fortes ventos alísios que sopram no sentido Leste-Oeste carregam grandes quantidades de areia e sedimentos finos através do Oceano Atlântico e parte acaba caindo sobre a Floresta Amazônica. 

De acordo com estudos feitos em 2019, pelo Goddard Space Flight Center, instituição ligada à NASA – Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, na sigla em inglês, cerca de 27 milhões de toneladas de areia do Deserto do Saara são carregadas pelos ventos para a Amazônia a cada ano. Essa areia transporta um volume com cerca de 22 mil toneladas de fósforo. 

A manutenção dessa curiosa fertilidade, entretanto, depende da preservação da cobertura vegetal da floresta. Sempre que uma grande área da floresta é derrubada para a implantação de campos agrícolas ou formação de pastagens para o gado, essa camada fértil criada pelo acúmulo de húmus e sedimentos minerais passa a ficar exposta às fortes chuvas da região. As águas passam a “lavar” os solos, que gradualmente perdem a sua camada fértil. 

De acordo com estimativas do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, cerca de ¼ da área total desmatada na Amazônia, algo equivalente a 165 mil km², está abandonada ou subutilizada. E uma das principais razões desse abandono é justamente a perda acentuada de fertilidade dos solos para usos agrícolas. Ou seja – desmatar o bioma acaba sendo um péssimo negócio para todos. 

Uma das raras exceções amazônicas no quesito fertilidade de solos são as chamadas “terras pretas de índio”. Esse tipo de solo foi criado artificialmente por antigas populações indígenas que ocuparam a região Amazônica num passado distante – algumas estimativas remetem a 4 mil anos atrás. 

Na década de 1870, exploradores e naturalistas que viajavam por diferentes partes da Amazônia passaram a observar extensas manchas de solo escuro e profundo, de excepcional fertilidade. Com o passar dos anos e com desenvolvimento de novos estudos sobre esses solos escuros, descobriu-se que os teores de carbono nessas áreas eram muito mais altos que os valores médios de outros solos – cerca de 150 gramas de carbono para cada kg de solo, enquanto a média era de 20 a 30 gramas. 

Esses solos também se destacavam pelos altos teores de fósforo, cálcio, zinco, nitrogênio e manganês, além grandes quantidades de carvão, restos de cerâmica e resíduos de ossos. As técnicas que foram usadas por esses indígenas para a formação desse tipo de solo ainda são desconhecidas e vem sendo estudadas há muitos anos por especialistas de todo o mundo. 

Até onde os pesquisadores já conseguiram entender, o carbono foi fixado nos solos através da queima de materiais orgânicos na presença de pouco oxigênio. O carbono em alta concentrações melhora a absorção da água, o que facilita a penetração das raízes no solo e gera plantas mais resistentes. As características do carvão encontrado nas “terras pretas de índio” permitem uma longa retenção do carbono no solo, exatamente o contrário do que deveria acontecer na região Amazônica – essa retenção pode durar centenas ou milhares de anos.  

Estudos arqueológicos recentes indicam que a Floresta Amazônica foi densamente povoada no passado. Estimativas indicam populações entre 6 e 8 milhões de pessoas viviam na região e dependiam dessas terras pretas para a produção de alimentos. Não se sabe ao certo o que levou ao desaparecimento de toda essa gente, mas, o que é certo é que as terras abandonadas voltaram a ficar cobertas pela vegetação da floresta. 

Os pesquisadores calculam que essas terras pretas ocupam algo entre 1% e 10% de toda a área da Floresta Amazônica. A recriação dos mecanismos de formação dessas terras pretas poderá resultar numa excepcional alternativa econômica para regiões de solos pobres em todo o mundo, onde as populações locais se esforçam muito para obter poucos frutos da terra. 

Com solos extremamente pobres e/ou com manchas de alta fertilidade, a Floresta Amazônica é toda cheia de mistérios e de limites ambientais. É preciso estudar muito para que aprendamos a explorá-la da forma mais sustentável possível. 

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