A IMPORTÂNCIA DA VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA NA AMAZÔNIA 

Em 2016, o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, divulgou um interessante estudo sobre as áreas com vegetação secundária na Amazônia. Esse tipo de vegetação cresce em áreas que foram desmatadas, ou seja – são áreas onde a floresta está se regenerando naturalmente.  

As imagens captadas pelo satélite LANDSAT-TM, que cobrem toda a região da Amazônia Legal, identificaram 17 milhões de hectares de vegetação secundária, cerca de 70% a mais do que o verificado em 2004, quando foram identificados 10 milhões de hectares. Um outro estudo indica que, em 2014, as áreas com vegetação secundária ocupavam mais de 173 mil km² da Amazônia, uma área pouco maior que o Estado do Acre e que não é nada desprezível. Ou seja – sem essa vegetação secundária, os números dos desmatamentos seriam ainda piores.

Esses números talvez não façam muito sentido para os leitores, mas eles indicam que ¼ de todas as áreas desmatadas na Floresta Amazônica ao longo da história apresentam, em maior ou menor grau, algum indício de regeneração. Apesar de serem pouco divulgados, esses são dados animadores em meio a uma enxurrada de notícias sobre queimadas e destruição da maior floresta equatorial do mundo. 

A regeneração é um processo natural das florestas. Sempre que um trecho da mata é suprimido – seja para aproveitamento da madeira ou por uma queimada, os solos desse local passam a ser, literalmente, bombardeados com sementes das árvores e de outras plantas da região de entorno. Essas sementes germinam e começa uma corrida desesperada pela luz do sol. Em maior ou menor tempo, esse trecho começa a apresentar sinais de regeneração. 

Essas áreas passam a formar as florestas secundárias, o que num numa definição técnica, “é uma floresta em regeneração, na paisagem ela compõe um conjunto de sociedades vegetais, em diversos estágios sucessionais, que tendem a alcançar uma comunidade mais complexa, diversa e estável, sendo um meio de renovação das florestas tropicais”. 

As espécies que crescem inicialmente, e que são chamadas de plantas pioneiras, são normalmente as gramíneas, pequenos arbustos e leguminosas. De crescimento rápido e pouco exigentes quanto à qualidade do solo, essa vegetação dá início a um processo de acumulação de biomassa. Conforme já comentamos em postagens anteriores, os solos da Amazônia são extremamente pobres em nutrientes e também apresentam acidez alta. A fertilidade da Floresta Amazônica vem de uma grossa camada de húmus gerado pela própria floresta. 

O tempo de regeneração, que pode durar séculos, depende do grau de degradação existente. Em regiões que foram transformadas em pastagens para o gado, onde os solos foram expostos às fortes chuvas da região, a acumulação da biomassa é bem mais lenta quando comparada a áreas onde foi praticada a agricultura familiar e houve uma devastação menor. 

A agricultura tradicional da Amazônia utiliza a coivara ou derrubada-queima da mata. O agricultor desmata um trecho da floresta, deixando os troncos e galhos jogados sobre o solo. Quando chega o período da seca, esses restos de vegetação são queimados, onde o fogo faz ao mesmo tempo a limpeza da área e a fertilização do solo com as cinzas da queima das madeiras. 

Essas áreas podem ser utilizadas por períodos de no máximo 3 ou 4 anos, quando os solos perdem a fertilidade e são abandonados. Os agricultores buscam uma nova área para o plantio. Essa área abandonada entra em um ciclo de regeneração, ou seja, de formação de uma vegetação secundária. Estudos da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, já identificaram florestas secundárias no Nordeste do Pará com mais de 200 anos de regeneração. 

A vegetação secundária possui uma enorme importância ambiental. De forma bastante resumida, elas possibilitam a recomposição da paisagem e o crescimento florestal absorve grandes quantidades de carbono da atmosfera, o que é fundamental em tempos de aquecimento global. Essa vegetação conecta trechos isolados de mata, permitindo o fluxo de espécies animais, que por sua vez são dispersores de semente e frutos, preservando a biodiversidade. 

Florestas também são essenciais para o ciclo hidrológico – as raízes das árvores facilitam a infiltração da água das chuvas nos solos, o que ajuda na recarga de lençóis e aquíferos subterrâneos. A evapotranspiração das árvores libera grandes volumes de vapor de água na atmosfera, um elemento fundamental para a formação de nuvens e de chuvas. Não menos importante, o crescimento das florestas secundárias gera um acúmulo cada vez maior de biomassa sobre os solos – quanto maior a floresta, maior o volume de biomassa. 

Essas áreas regeneradas, de acordo com a opinião da maioria dos pesquisadores, apresentam características diferentes das matas do entorno. Sementes de plantas mais “oportunistas” e com características de crescimento mais rápido, tendem a ocupar a maior parte de áreas desmatadas. Isso vai resultar em uma mata com poucas espécies num primeiro momento. Pouco a pouco, num processo de décadas ou séculos, espécies de crescimento mais lento vão conquistar seus espaços nessa “nova” floresta. 

Em 2010, eu visitei uma grande área com vegetação secundária no Estado de Rondônia. De acordo com um pesquisador local que me acompanhava, essa mata tinha na época cerca de 30 anos de regeneração. A mata quente, abafada e densa parecia exatamente o que já havia visto em outros locais da Floresta Amazônica. Porém, com um olhar mais atento, podia-se perceber claramente que existia uma certa padronização no tamanho e no formato dos troncos das árvores, um sinal claro da existência de um número pequeno de espécies naquela área. 

Esses processos naturais de regeneração de trechos de matas podem ser acelerados com a ajuda humana, onde mudas de diversas espécies de maior interesse comercial podem ser plantadas. Falamos aqui das castanheiras, cacaueiros, cupuaçu, açaí, entre outras espécies frutíferas e madeireiras, que permitirão o uso agroflorestal sustentável dessas áreas

Esse tipo de regeneração vem sendo chamada de Restauração Ecológica, onde claramente não se tenta copiar ou restaurar o ecossistema em seu estado natural, mas sim recuperar a estabilidade, funcionalidade e a integridade da área para que ela se torne sustentável. Famílias que vivem nessas áreas poderão retirar seu sustento da floresta sem precisar destruir a mata, o que é um grande avanço na preservação da Floresta Amazônica. 

A Amazônia é gigantesca e ainda precisaremos estudar muito até que consigamos entender a maior parte do seu funcionamento e da sua dinâmica natural. Esse grande crescimento das florestas secundárias, que aliás mal era percebido pelas autoridades, é só um sinal da nossa ignorância sobre o bioma. 

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