ESTUDO REVELA: 41% DAS CRIANÇAS NORTE-AMERICANAS ACREDITAM QUE O BACON É DE ORIGEM VEGETAL 

O título da postagem pode até parecer brincadeira, mas não é. 

De acordo com um estudo publicado no Journal of Envionmental Psycology, 41% das crianças dos Estados Unidos acreditam que o bacon, mais conhecido entre nós brasileiros como toucinho, vem de uma planta. E as “surpresas” não param por aí – as crianças também acham que as batatas fritas são de origem animal. 

No rol dos alimentos de “origem” vegetal, as crianças incluíram também as salsichas, os queijos e os nuggets de frango. Grande parte das crianças pesquisadas também afirmou que vacas, porcos e frangos não são comestíveis. 

O estudo, conduzido por uma equipe de psicólogos, reuniu 176 crianças do Sudeste dos Estados Unidos, com idades entre 4 e 7 anos. Nas conversas com as crianças, os pesquisadores buscaram apontar a origem de alimentos populares como pipoca, queijo, ovos, camarão, amêndoas, batata frita e bacon. 

Alguns dos resultados: 47% das crianças acreditavam que as populares batatas fritas vem dos animais; 44% apontaram os queijos como de origem vegetal e 38% acreditavam que os nuggets de frango são feitos com folhas e legumes. 

Além do bacon, 40% das crianças também pensavam que as salsichas vinham de plantas. Com relação ao consumo de carnes de origem animal, 77% afirmaram que as vacas não podem ser consumidas – 73% e 65%, respectivamente, disseram o mesmo em relação aos porcos e frangos. 

Uma informação surpreendente – 1% das crianças ouvidas afirmou que a areia pode ser considerada um alimento. Apesar da amostragem ser muito pequena, o estudo abre importantes questionamentos sobre a educação ambiental que está sendo oferecida a essas crianças. 

A intensa urbanização que a grande maioria dos países e povos experimentou nas últimas décadas, afastou a maioria das pessoas do contato direto com o meio natural. O contato que muitos desses “urbanóides” têm com animais se resume às interações com pets – cachorros, gatos e peixinhos dourados, entre outros. 

No quesito flora, a grande maioria dos contatos fica reduzida aos jardins domésticos e parques urbanos como o Ibirapuera, um dos mais famosos aqui da cidade de São Paulo. Alguns poucos têm um contato um pouco mais profundo com a natureza quando viajam para algum sítio e/ou cidade interiorana. 

Dentro desse cenário, não é de se estranhar a falta de intimidade das crianças com a origem dos alimentos consumidos no dia a dia. Eu consigo imaginar facilmente a resposta de uma criança dessas ao questionamento sobre a origem de algum alimento de origem animal – “do balcão de congelados do supermercado”. 

Fugindo um pouco de análises superficiais ou até mesmo “engraçadinhas” das respostas dadas pelas crianças envolvidas nesse estudo, é preciso analisar com mais profundidade o que pode estar envolvido na questão. Pessoalmente, fico preocupado com os “discursos” ambientalistas que proliferam por todos os lados. 

Animais como vacas e ovelhas, que desde a origem da humanidade, sempre foram fontes importantes de alimentos como carne e leite, e matérias primas como couro e lã, de repente passaram a ser descritos como fontes ambulantes de GEE – gases de Efeito Estufa, como o metano, liberado em grandes quantidades por arrotos e flatulências desses animais. 

Para a produção de grãos, frutas, legumes e outros alimentos de origem vegetal, grandes áreas de matas são suprimidas para a formação de solos agrícolas. Grandes quantidades de fertilizantes e pesticidas também precisam ser utilizadas para garantir a alta produtividade. 

Os discursos costumam ser reforçadas pela valorização da produção orgânica de alimentos, onde não se usam fertilizantes químicos e pesticidas, com grande integração às áreas florestais do entorno. Alimentos de origem animal como as carnes são desestimulados. 

Será que essa visão “cor de rosa” (ou extremamente esverdeada) da produção dos alimentos no mundo não está sendo reprocessada e amalgamada pelos pais nas suas conversas com os filhos? Ou será que esses pais simplesmente não conversam sobre o assunto com seus filhos? 

Essa questão, embrionária neste momento, precisa ser ampliada e discutida com bastante seriedade. A população mundial já superou a marca de 8 bilhões de habitantes e alimentar adequadamente (e diariamente) toda essa gente não é brincadeira.  

Dentro de, no máximo, vinte anos, essas crianças já estarão no mercado de trabalho, votando em seus representantes políticos e começando a formar suas próprias famílias. Ou seja, vão decidir sobre a educação de seus próprios filhos e os destinos dos seus países. 

A base dos seus conhecimentos – em especial a educação ambiental, deve começar a ser pavimentada hoje. 

A ASCENSÃO E A QUEDA DOS PARDAIS 

O pardal (Passer domesticus) é uma das aves mais disseminadas e comuns do mundo. De acordo com estudos científicos, a família Passeridae, que inclui diversas espécies de pardais, é originária do Leste da África e dali se disseminou por todo o Norte da África, Eurásia e Oriente Médio. As aves foram introduzidas propositalmente em outras regiões do mundo como as Américas e a Austrália. 

A história dos pardais aqui no Brasil é bastante curiosa. As aves foram introduzidas na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX para combater uma grande infestação de mosquitos Aedes aegypti. Naquele momento, a antiga Capital Federal do Brasil enfrentava uma série de doenças como febre amarela, que é transmitida pelo mosquito Aedes, além de varíola, peste bubônica, malária, tifo e tuberculose. O responsável pela importação e soltura dos pardais na cidade foi o então Prefeito Pereira Passos.  

Francisco Franco Pereira Passos (1836-1913), prefeito indicado da cidade do Rio de Janeiro entre 1902 e 1906, iniciou uma série de obras que tinham como objetivo a modernização da cidade. Inspirado nas reformas urbanas da cidade de Paris décadas antes, Pereira Passos desapropriou grandes áreas para a construção de largas avenidas e praças, iniciou a modernização da área do porto da cidade e a construção do Teatro Municipal, do Museu Nacional de Belas Artes e da Biblioteca Nacional.   

Consta que muitos cortiços foram demolidos e que os moradores se refugiaram nos morros, dando origem a algumas das mais famosas favelas cariocas. Parte importante do legado de Pereira Passos foram os trabalhos na área de saneamento básico e de higienização da cidade, cuja coordenação foi confiada ao médico sanitarista Oswaldo Cruz, empossado como diretor do Serviço de Saúde.  

Muitas das ações de Oswaldo Cruz não foram muito bem recebidas pela população, levando ao episódio que ficou conhecido como a Revolta da Vacina de 1904. Os agentes de saúde entravam nas residências, muitas vezes a força, buscando focos de mosquitos e de ratos, o que não era totalmente compreendido pela população. Quando o governo tornou obrigatória a vacinação contra a varíola, a população tomou as ruas e entrou em confronto com as forças de segurança.  

Uma das ações polemicas do período foi a importação de 200 pardais de Portugal em 1903. Alguns cientistas haviam afirmado ao Prefeito Pereira Passos que essas aves eram vorazes comedoras de insetos e que, uma vez introduzidas na cidade do Rio de Janeiro, atuariam como um agente biológico natural para o controle da população de mosquitos. As aves foram soltas no Campo de Santana, em cerimônia com pompa e muito protocolo. 

O estratagema criado por Pereira Passos, é claro, não chegou nem perto dos resultados que eram esperados. Os pardais não conseguiram acabar com a infestação de mosquitos na cidade do Rio de Janeiro e ainda se transformaram em uma perigosa espécie invasora no país. 

O pardal é uma ave robusta e rústica, acostumada a enfrentar os invernos rigorosos da Europa e da Ásia. Na competição natural contra os pássaros nativos, o pardal não encontrou competição à sua altura e acabou se espalhando com facilidade por todo o país. Cambacicas, corruíras, sanhaços, sabiás, bem-te-vis, tico-ticos e outras espécies de pássaros de menor porte da Mata Atlântica foram facilmente derrotados.   

Com o passar dos anos, as aves começaram a migrar para outros biomas, inclusive para a Região Amazônica e países vizinhos, ocupando nichos ecológicos de outras espécies de aves. Pouco a pouco, os pardais passaram a fazer parte da paisagem de cidades por todo o Brasil. É impossível calcular o tamanho do estrago causado ao meio natural pela introdução dos pardais em nossas terras. 

O mundo deu muitas voltas e, de alguns anos para cá, os pardais passaram a experimentar do seu próprio veneno – inúmeras espécies de aves que antes ocupavam espaços em áreas rurais do país passaram a migrar para as cidades, roubando os espaços conquistados pelos pardais ao longo de um século. E, muito pior, esse fenômeno está se repetindo em diversas regiões do mundo. 

Um estudo do Instituto de Biodiversidade e Biologia Evolutiva de Valência, na Espanha, apontou algumas das causas para esse “súbito” desaparecimento dos pardais. Destacam-se: perda de locais para nidificação, má qualidade da alimentação, choque com vidraças, ruído e poluição e, especialmente, a redução das áreas verdes nas cidades. Dentro do campo especulativo, muita gente associa esse desaparecimento às mudanças climáticas.

Um outro estudo, do Imperial College de Londres, buscou entender o fenômeno da migração de outras espécies de aves desde áreas rurais para os centros urbanos. Segundo os pesquisadores, a produção agrícola mecanizada reduziu enormemente a perda de grãos, uma das principais fontes de alimento das aves; defensivos agrícolas, por sua vez, reduziram as populações de insetos, sua principal fonte de proteínas. 

A chegada desses grandes contingentes de “imigrantes rurais” passou a pressionar e a ocupar os espaços que haviam sido conquistados pelos pardais. Cito um exemplo: aqui nas minhas vizinhanças, na Zona Sul da cidade de São Paulo, tenho visto com frequência cada vez maior outras espécies como maritacas, gaviões e sanhaços, citando só algumas aves, e cada vez menos pardais. 

Pobres pardais: de ave invasora bem-sucedida a indigente expulso das cidades. Mais uma ascensão e queda de um “império” para os anais da história. 

O AUMENTO DO CONSUMO DE ENERGIA E OS RISCOS PARA AS REDES ELÉTRICAS EM TODO O MUNDO, OU A CULPA É DA IA – INTELIGÊNCIA ARTIFICAL 

No início da tarde do último dia 12 de maio, um incêndio atingiu a subestação de energia elétrica de Maida Valey, na Zona Oeste da cidade de Londres. O problema foi rapidamente identificado pela central de controle do sistema elétrico da região, que numa manobra precisa redirecionou os circuitos da rede elétrica. Ao mesmo tempo, equipes de bombeiros chegaram ao local e controlaram um incêndio nos cabos elétricos da subestação. 

Como resultado do incêndio, diversas linhas da rede do sistema de metrô de Londres ficaram paralisadas por alguns minutos, o que acabou criando um verdadeiro caos na rede de transportes da cidade. Foram necessárias várias horas para normalizar todo o sistema. 

Esse incidente trouxe à tona os imensos problemas vividos poucas semanas antes pela Espanha e Portugal, países atingidos por um enorme apagão da rede elétrica. Algumas regiões desses países chegaram a ficar dois às escuras até que todo o fornecimento de energia elétrica fosse completamente restaurado. 

Os dois casos expõem um dos grandes desafios de nossos tempos – o consumo de energia não para de crescer e a infraestrutura dos sistemas de geração e distribuição de energia elétrica estão obsoletos. 

A situação fica mais complicada quando incluímos na conta uma mudança forçada das fontes de geração de energia elétrica, especialmente na Europa. Devido a restrições ambientais, grande parte dos países europeus passaram a desativar as confiáveis centrais de geração termelétrica a carvão e passaram a investir em fontes renováveis de geração como a solar e a eólica. 

Outra fonte importante, as centrais nucleares, também passaram a sofrer pressão por parte de grupos ambientalistas e políticos. A Alemanha, maior economia da Europa, desativou em abril de 2023 as suas últimas três usinas nucleares ainda em operação. Na Espanha, duas usinas nucleares estão em processo de descomissionamento. 

No caso da Espanha, a maior parte da geração de energia elétrica vem de fontes limpas – 59% de centrais fotovoltaicas (placas solares) e 11% de redes eólicas (ventos). O restante da geração é complementado por fontes de energia hidroelétrica, termelétricas – especialmente de centrais que queimam gás natural, e centrais nucleares remanescentes. 

Apesar de aparentar ter uma matriz energética limpa e renovável, a rede elétrica da Espanha demonstrou ser extremamente vulnerável a falhas sistêmicas graves, como ficou explícito no recente apagão. De acordo com diversos especialistas, a principal vulnerabilidade da rede elétrica da Espanha é o grande percentual de fontes de geração renovável. 

De acordo com os especialistas, geradores eólicos e solares geram corrente contínua, a mesma encontrada nas baterias. A rede elétrica utiliza corrente alternada para a distribuição de energia elétrica, o que exige o uso de equipamentos eletrônicos conhecidos como inversores. Esses equipamentos transformam a corrente contínua em corrente alternada. 

Os inversores utilizam circuitos de proteção que são bastante sensíveis a oscilações nos sistemas geradores. Uma vez que uma falha for detectada, os circuitos de proteção desligam automaticamente. Aparentemente, foi isso o que aconteceu na Espanha e que levou ao desligamento de grande parte da rede elétrica do país e de Portugal. 

Sistemas de geração de energia elétrica em centrais hidrelétricas, termelétricas e nucleares possuem uma inércia mecânica muito grande e são menos suscetíveis a falhas. Uma turbina de uma hidrelétrica, por exemplo, vai continuar girando por força da inércia por um longo tempo após o fechamento do fluxo de água. 

Mais grave que os problemas de infraestrutura, o consumo de energia elétrica está crescendo em todo o mundo, especialmente por causa do uso cada vez maior de centrais de processamento de dados e servidores de dados. Um dos grandes vilões desses tempos modernos é o uso cada vez maior dos sistemas de IA – Inteligência Artificial. Especialistas estimam que esses sistemas vão incrementar o consumo de energia elétrica em 165% até 2030. 

Nos Estados Unidos, os data centers consumiam cerca de 3% da energia elétrica disponível em 2022. De acordo com as projeções, esse consumo vai chegar a 8% da energia elétrica disponível em 2030. Serão necessários investimentos em infraestrutura de geração e distribuição de energia elétrica da ordem de US$ 50 bilhões, somente para suprir essa demanda. 

Na Europa, a demanda por energia elétrica deverá aumentar entre 40% e 50% até 2033. Atualmente, a Europa concentra 15% dos data centers do mundo e será necessário um investimento conjunto de 1,65 trilhão de Euros em geração e distribuição de energia elétrica para atender o aumento da demanda. 

De acordo com estudos da instituição financeira Goldman Sachs, os data centers vão consumir cerca de 122 GW de energia elétrica em 2030. Para efeito de comparação, isso equivale ao volume de energia elétrica gerado por 8 usinas hidrelétricas do porte de Itaipu. 

Aqui entra um grande complicador – os data centers funcionam 24 horas por dia. Sistemas baseados em placas fotovoltaicas dependem da energia do sol que, como todos sabem, só está “disponível” durante metade do dia. A energia do sol também é fundamental para a formação das correntes de vento que movem as pás dos geradores eólicos – à noite, o vento tende a enfraquecer. 

Parece que a humanidade chegou numa encruzilhada: ou se investe em novas fontes de geração de energia elétrica – limpas e renováveis e/ou fósseis e nucleares, ou o mundo digital vai começar a ruir dentro de poucos anos. 

Ficar parado discutindo o futuro será um desastre! 

A DESTRUIÇÃO DE FLORESTAS NATIVAS NA… ROMÊNIA

A IKEA, empresa multinacional sueca que, desde 2008, é considerada a maior fabricante de móveis de madeira do mundo, foi colocada no banco dos réus após a divulgação de um relatório do Greenpeace, uma das maiores organizações ambientalistas do mundo. A acusação: produção e venda de móveis fabricados com madeiras extraídas ilegalmente de florestas nativas na Romênia. 

Com uma rede de mais de 460 lojas em 59 países, a IKEA ganhou fama mundial pela criação e produção de móveis com design minimalista e funcional, aliando beleza e praticidade. Além de móveis, as lojas também vendem artigos de decoração, eletrodomésticos, utensílios domésticos e acessórios para o lar, além de alimentos. 

Um dos diferenciais criados pela IKEA foi a venda de móveis em kits, onde a montagem fica por conta do comprador. O conceito tinha como objetivo baratear o preço de venda e reduzir o consumo de materiais de embalagem. Graças a isso, a empresa foi uma das primeiras a ser associada ao conceito de “amiga da natureza”. 

O relatório do Greenpeace caiu como uma bomba no colo da empresa. 

A Romênia produz cerca de 40 milhões de metros cúbicos de madeira a cada ano. Segundo estudos do Greenpeace, metade desse volume tem origem na exploração ilegal de florestas nativas, especialmente da região dos Montes Cárpatos.  

Segundo o Greenpeace, sete fornecedores da IKEA são compradores usuais de parte dessa madeira ilegal. A organização conseguiu rastrear mais de 30 produtos produzidos por essas empresas até 13 lojas da IKEA em países como a França, Alemanha e Inglaterra. 

A IKEA, como é do seu direito, vem se defendendo das acusações e reafirmando seus compromissos com a sustentabilidade ambiental e uso de madeira certificada e de origem em áreas de reflorestamento. A empresa também afirma possuir 2.800 km² de floretas próprias, sendo que 500 km² dessas florestas ficam na Romênia. Entretanto, ficou numa situação no mínimo embaraçosa depois dos móveis terem sido encontrados em suas lojas. 

Os Montes Cárpatos formam uma cordilheira com cerca de 1.500 km de comprimento, que se estende entre a Europa Central e o Leste Europeu, incluindo áreas na República Checa, Eslováquia, Polônia, Romênia e Ucrânia. Suas montanhas e vales abrigam os maiores fragmentos de floresta nativa da Europa e importantes populações da fauna silvestre como ursos-pardos, lobos, camurças e linces. 

A área total dos Montes Cárpatos é de 209 mil km², sendo que 53% dessa área fica na Romênia, o que coloca o país no centro dos problemas de exploração ilegal de madeira na Europa. A questão é agravada pela ineficiente estrutura burocrática do Governo local herdada dos tempos do comunismo. Segundo afirmações do Greenpeace, funcionários públicos responsáveis pela fiscalização da atividade e pela gestão das áreas de preservação ambiental são, muitas vezes, facilmente corrompíveis pelos madeireiros. 

Uma das regiões romenas onde o problema é mais grave é a Transilvânia, região localizada no centro do país e que ganhou fama em todo o mundo através das histórias de vampiros como o conde Drácula, imortalizado no livro de Bram Stoker. A região é em grande parte de difícil acesso e tem uma população bastante rarefeita, o que facilita as atividades ilegais. 

As florestas dos Montes Cárpatos abrigam um terço de todas as espécies vegetais da Europa e escondem alguns dos últimos refúgios para a fauna silvestre do continente. Um dos símbolos da região são os ursos-pardos romenos (Ursus arctos), uma subespécie que pode atingir até, 2,2 metros de altura e pesar de 100 a 350 kg. 

As florestas da Romênia abrigam cerca de 60% da população total de ursos-pardos da Europa. A população de ursos romenos é estimada entre 4.350 e 6.000 animais, sendo encontrados principalmente em regiões de montanha com vegetação espessa. Os ursos são animais onívoros que dependem de florestas saudáveis e ricas em alimentos como ervas, cogumelos, frutas e animais selvagens para caça. 

A destruição sistemática e silenciosa de grandes áreas dessa importante região florestal é desastrosa em todos os sentidos. Além de ameaçar alguns dos últimos refúgios para a vida selvagem da Europa, a exploração ilegal de madeira no Cárpatos também dá a sua contribuição para uma das pautas preferidas dos ambientalistas – sobretudo europeus: a destruição das florestas e seus impactos no clima global. 

A Floresta Amazônica, que fica num outro continente do outro lado do Oceano Atlântico, é presença marcante nos discursos dos ambientalistas europeus. Entretanto, as florestas dos Montes Cárpatos, que ficam a pouco mais de 1.500 km dos principais centros políticos da Europa Ocidental, acabam ficando num segundo plano bem distante. 

O recente caso da IKEA e de seus móveis fabricados com madeira extraída ilegalmente dentro da Europa, é um exemplo claro de que muito do discurso ambiental é mais ideológico do que uma preocupação simples e sincera com a preservação da vida no nosso planeta. 

A ANTÁRTIDA SURPREENDE E A CAPA DE GELO VOLTA A CRESCER

Notícias tratando do aquecimento global, da destruição e queima das florestas tropicais, do aumento do nível do oceano e do derretimento da capa de gelo do Ártico e da Antártida são repetidas praticamente todos os dias nas redes sociais e nos noticiários. O mundo estaria vivendo uma crise climática sem precedentes e o futuro da humanidade estaria em risco. 

Problemas ambientais, é claro, estão por todos os lados e não podemos enterrar a cabeça na areia como um avestruz para fingir que não estamos vendo nada. Entretanto, como sempre costumamos repetir aqui nas nossas postagens, ainda não existe certeza científica sobre a origem de muitos dos problemas ambientais que estamos testemunhando. 

Uma notícia recente sobre o aumento da capa de gelo da Antártida vem corroborar o grau de incerteza sobre as origens de muitos desses males. 

De acordo com dados do NSIDC – Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos, a taxa de perda de gelo marinho da Antártida durante os meses quentes da primavera, que se estendem de novembro a dezembro, diminuiu para níveis abaixo da média dos últimos anos. 

Entre os anos de 2021 e 2023, a capa de gelo da Antártida ganhou cerca de 108 gigatoneladas de massa por ano, um aumento recorde. No final de 2024, a extensão do gelo marinho no continente gelado chegou a 7,3 milhões de km², uma área muito próxima da média observada entre 1981 e 2010. 

Os pesquisadores ainda não têm certeza do que causou essa recuperação impressionante da extensão do gelo marinho na Antártida ou se estamos falando de uma mudança temporária ou definitiva. O que é certo é que ainda precisamos aprender muito sobre o clima da terra e seus ciclos ao longo do tempo. 

Nos últimos 40 anos, a velocidade do derretimento do manto ou capa de gelo da Antártida aumentou em cerca de 6 vezes. Estudos vinham mostrando que a Antártida perdeu cerca de três trilhões de toneladas de gelo nos últimos 20 anos. Além da incidência direta do calor do sol, esse derretimento também vem sendo provocado pelas águas mais quentes dos oceanos, que derretem e desestabilizam as bordas das plataformas de gelo flutuante. 

Entre outros males, o aumento das temperaturas do planeta tem provocado o derretimento de grandes massas de gelo no Ártico, na Antártida (ou Antártica, que muitos especialistas afirmam ser a melhor grafia) e em geleiras localizadas em altas montanhas. A consequência direta de tudo isso é um aumento gradual do nível dos oceanos – 1,4 centímetro de aumento entre 1979 e 2017. Isso pode parecer pouco, mas já pode estar causando muitos estragos pelo mundo afora.   

Se essa tendência se mantiver, o aumento do nível dos oceanos até o ano de 2100 chegará a cerca de 15 centímetros. A partir de então, o derretimento do gelo da Antártida poderá representar um aumento de 5 milímetros por ano no nível dos oceanos. Mantido esse cenário, o nível dos oceanos poderá aumentar cerca de 1,5 metro até o ano 2300, um cenário nada animador para as futuras gerações.   

Para mostrar o quão preocupantes são as questões ligadas ao derretimento da capa de gelo da Antártida e do aumento do nível dos oceanos, vejamos os impactos que estão sendo previstos para um dos países mais pobres do mundo – Bangladesh. O país, que já fez parte do território da Índia, tem cerca de 148 mil km² e conta com uma população de 171 milhões de habitantes (dados de 2023).  

Cerca de 90% das terras de Bangladesh têm uma altitude máxima de 10 metros em relação ao nível do mar. Para piorar, o território bangladês recebe todas as águas do trecho final de duas grandes bacias hidrográficas – dos rios Ganges e Brahmaputra. Durante o período das Chuvas da Monção, metade do território de Bangladesh já fica inundado. Com um aumento do nível das águas do Golfo de Bengala, haverá uma tendência de crescimento das terras inundáveis.   

De acordo com estudos realizados pela Diretoria de Gestão de Mudança Climática e Risco de Desastres do Banco Asiático de Desenvolvimento, um eventual “aumento do nível do mar poderia inundar periodicamente 14% da superfície de Dhaka, e as zonas mais próximas a Sundarbans (um dos maiores conjuntos de manguezais do mundo) terão pior sorte”.  

Os estudos também mostram que uma área de 47 mil km² próxima da costa do país ficará sujeita aos impactos de fortes tempestades, ciclones e aumento da salinidade. Nessa região vive cerca de 40 milhões de pessoas ou o equivalente a 25% de toda a população de Bangladesh.   

E não precisamos falar apenas de um país no outro lado do mundo – olhemos para o nosso próprio “quintal” aqui no Brasil. A maior parte de nossa população e grande parte de nossas cidades estão em regiões na costa do país ou muito próximas. 

Em muitas cidades litorâneas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, o avanço do mar contra o calçadão das praiais é inquestionável. Em postagens aqui do blog já mostramos vários casos como o da Praia da Macumba, na cidade do Rio de Janeiro, e de Santos e Peruíbe no litoral paulista. 

Para populações que já convivem com esses problemas, uma notícia como essa traz um pouco de otimismo, mesmo que temporário. Entretanto, ressaltamos que mais estudos sobre o tema devem ser levados a cabo e os esforços para conter as emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa, um dos principais causadores do aumento das temperaturas globais, devem ser mantidos. 

O aumento da capa de gelo da Antártica deu um “refresco” nos problemas ambientais, mas é bom não se acostumar com a ideia e prudente continuar perseguindo soluções de longo prazo. 

RIOS DOS ESTADOS UNIDOS ESTÃO SENDO INVADIDOS PELO PEIXE CABEÇA-DE-COBRA ASIÁTICO 

Em nossa última postagem falamos da caótica introdução do pirarucu, uma espécie de peixe típica da Bacia Amazônica, em rios de Estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Um peixe carnívoro e de grande porte como o pirarucu poderá destruir inúmeras espécies nativas desses rios. 

Lamentavelmente, esse não é um problema exclusivo de rios brasileiros. Por todos os recantos do mundo existem casos da introdução – acidental ou proposital, de espécies exóticas, com graves prejuízos para o meio ambiente aquático. 

Um caso que está chamando a atenção nos meios de comunicação é o do peixe cabeça-de-cobra, uma espécie originária da Ásia e que está invadindo diversos rios nos Estados Unidos. O primeiro caso registrado em um rio norte-americano foi em 2002. Desde então, o peixe vem se espalhando por diversos Estados, como Virginia, Maryland, Pennsylvania, Nova York e, particularmente no Missouri.   

Conhecido popularmente como “northern snakehead”, o peixe pertence ao gênero Channa, com 50 espécies diferentes descritas pela ciência. A distribuição geográfica das espécies se estende do Iraque ao extremo Leste da China, em partes da Sibéria, Noroeste da Índia e Sudeste Asiático. Em seu ambiente natural, o peixe não causa nenhum problema e sua carne é bastante apreciada pelas populações.

O peixe cabeça-de-cobra pode chegar a um comprimento de até um metro, sendo bastante apreciado por aquaristas. Aliás, a principal hipótese das autoridades ambientais norte-americanas é que a invasão dos rios pelos peixes se deveu ao descarte acidental ou proposital por aquaristas. 

Uma característica interessante do peixe cabeça-de-cobra é a presença de um órgão labirinto que permite ao animal respirar ar por alguns minutos. Isto permite que o peixe “ande” por terra em busca de poças ou corpos de água com melhores condições ambientais. 

Carnívoro voraz como os nossos pirarucus, o peixe cabeça-de-cobra se alimenta de peixes menores, anfíbios, vermes, crustáceos, répteis e até pequenos roedores, causando enormes impactos nas populações nativas dos rios. E muito pior – esses animais não têm predadores naturais no país, o que leva a um crescimento populacional sem controle. 

O Missouri é o Estado mais preocupado com a invasão dos peixes cabeça-de-cobra – seu território é cortado pelo grandioso rio Missouri, o maior rio dos Estados Unidos e maior afluente do rio Mississipi. Juntos, esses rios formam a maior bacia hidrográfica da América do Norte – a Mississipi-Missouri, com área de 3,2 milhões de km², onde se incluem outros grandes rios como o Ohio, Illinois, Arkansas e o Atchafalaya. A área dessa bacia hidrográfica abrange 31 Estados norte-americanos e duas províncias do Canadá. 

Além da imensa área geográfica afetada, o peixe invasor é muito parecido com o bowfin ou peixe-cabeça-de-arco, uma espécie nativa dos Estados Unidos e que pode ser confundida com o cabeça-de-cobra. Em caso de captura da espécie invasora, as autoridades ambientais pedem que os animais sejam mortos, preferencialmente com decaptação e remoção dos órgãos. Em caso de dúvida na identificação, os serviços ambientais estão disponibilizando uma série de canais de comunicação. 

A chegada dos peixes cabeça-de-cobra às águas dos rios da bacia hidrográfica Mississipi-Missouri só vem aumentar os problemas ambientais já criados pelas carpas asiáticas, uma espécie exótica que vem se espalhando pelas águas destes rios desde a década de 1990. 

A carpa comum (Cyprinus carpio) é originária de lagos e rios da Ásia, especialmente da região da Eurásia Central. A espécie, que pode atingir um comprimento de até 1,2 metro e um peso de 50 kg, sempre foi utilizada para a alimentação humana. Desde a antiguidade, as carpas foram introduzidas em rios e lagos de toda a Ásia e Europa, tornando-se uma das espécies invasoras mais difundidas em todo o mundo – calcula-se que a espécie esteja presente atualmente em mais de 80 países.   

No início da década de 1970, algumas fazendas de criação de peixes localizadas nas margens do rio Mississipi, no Sul dos Estados Unidos, passaram a importar carpas asiáticas, com o objetivo de controlar infestações de algas e moluscos nos tanques de criação dos peixes. Segundo as informações que foram repassadas aos aquacultores por especialistas em controle biológico, essas carpas eram peixes vorazes e com um apetite insaciável, podendo consumir diariamente até 40% do seu próprio peso em alimentos. 

Os problemas começaram no início da década de 1990, quando a bacia hidrográfica do rio Mississipi passou a enfrentar sucessivas cheias acima da média histórica, especialmente em regiões próximas do Delta do Mississipi. No seu trecho final, o rio Mississipi se abre num grande delta, que se estende por cerca de 400 km de largura e ocupa uma área total de 75 mil km².   

Várias dessas fazendas foram atingidas e as carpas asiáticas acabaram sendo arrastadas dos tanques na direção da calha do rio Mississipi. Extremamente fortes e adaptáveis, as carpas passaram a colonizar as águas do rio. A exceção dos jacarés-norte-americanos (Alligator mississippiensis), as carpas asiáticas não possuem predadores naturais na bacia hidrográfica e acabaram avançando vorazmente contra as espécies nativas, alterando totalmente a biodiversidade do ecossistema. 

Um país que já enfrentava os imensos problemas ambientais criados pela invasão dos seus rios pelas carpas asiáticas, agora está tendo de lutar numa segunda frente conta os peixes cabeça-de-cobra. 

E as notícias não são nada animadoras para os norte-americanos – a história mostrou que, quando um habitat é tomado por uma espécie exótica, existe muito pouco a se fazer senão tentar controlar o tamanho das populações invasoras. 

OS PIRARUCUS DO RIO TIETÊ

Começo confessando que o título da postagem é sensacionalista – os pirarucus ainda não chegaram ao rio Tietê, mas já estão vivendo em águas bem próximas. 

Pirarucus, espécie típica da Bacia Amazônica, estão sendo pescados com uma frequência cada vez maior no Rio Grande, importante corpo d’água que divide os Estados de São Paulo e Minas Gerais. 

A distância entre a foz do Rio Tietê no Rio Paraná e a confluência dos Rios Grande e Paranaíba, ponto onde começa o Rio Paraná, é de menos de 150 km. Logo, será apenas uma questão de tempo para que o título da postagem reflita a realidade. 

Vamos entender qual é a verdade que está por trás dessa história. 

O pirarucu (Arapaima gigas), também conhecido como arapaima ou peixe pirosca, é o maior peixe de escamas dos rios brasileiros e um dos maiores do mundo, podendo atingir até 3,5 metros de comprimento e um peso de até 250 kg. O animal é um grande predador onívoro dos rios da Bacia Amazônica, se alimentando de peixes, caramujos, crustáceos, anfíbios, cágados e cobras, entre outros, de uma enorme lista de presas. Quando jovem, o pirarucu se alimenta basicamente de plâncton, plantas e animais microscópicos que vivem livres nas águas dos rios, passando depois a comer pequenos peixes. O peixe pode viver até 18 anos.  

A espécie possui uma grande cabeça achatada, com mandíbulas salientes e um grande corpo cilíndrico. Uma das características físicas mais interessantes do pirarucu é o fato da espécie possuir dois sistemas respiratórios. Como ocorre com a imensa maioria dos peixes, o pirarucu possui um sistema de brânquias para respiração aquática – esse órgão consegue extrair o oxigênio dissolvido na água.  

Também possui uma bexiga natatória modificada, que funciona como um pulmão e que permite que o pirarucu também realize a respiração aérea, uma característica chamada na biologia de “respiração acessória”. Esse mecanismo de respiração extra é fundamental nos períodos da seca, quando os rios Amazônicos têm seus níveis dramaticamente reduzidos e peixes com as proporções do pirarucu ficam sujeitos a riscos de encalhe ou aprisionamento em poças d’água. 

Uma forma comum de se encontrar pirarucus a venda na região Amazônica é na forma de “mantas” salgadas, similares ao bacalhau. Aliás, o pirarucu é conhecido como o “bacalhau da Amazônia”. Ao contrário do que muitos podem imaginar, a alcunha não se deve ao formato das peças de peixe salgadas, mas sim a uma grande “esperteza” de padres Jesuítas que, durante décadas a fio nos tempos do Brasil Colônia, processavam os pirarucus em suas fazendas espalhadas por toda a Floresta Amazônica e exportavam os peixes para Portugal, onde as peças eram vendidas ao público como um “legítimo” bacalhau. 

Essa espécie de peixe amazônico vem sendo encontrado com frequência cada vez maior em rios dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, além de rios do Pantanal em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A foto que ilustra essa postagem mostra a alegria de um grupo que capturou um pirarucu num rio da Bahia. Essa “migração” não tem nada de natural – pessoas estão soltando alevinos e filhotes de pirarucus nos rios desses Estados. 

Para qualquer pescador, amador ou profissional, pescar um peixe do tamanho de um pirarucu é um feito em tanto. Aliás, os grandes pirarucus costumam ser pescados com o uso de arpões na Amazônia. A alegria dos pescadores, entretanto, é trágica para a fauna nativa de um rio – todos os peixes menores, moluscos, crustáceos, anfíbios e répteis se transformam em caça para um predador carnívoro do porte do pirarucu. 

Os impactos ambientais criados pela introdução dessa espécie exótica em um corpo d’água pode ser exemplificado pela invasão das águas do Lago Vitória, na África, por peixes da espécie perca-do-nilo. A perca é um predador de topo na cadeia alimentar, que pode superar os 250 kg de peso e atingir um comprimento de até 2 metros. A espécie é nativa da bacia do médio e baixo Rio Nilo. 

As percas foram introduzidas no Lago Vitória em meados da década de 1950, com o objetivo de garantir a produtividade da atividade pesqueira, que a época estava em franca decadência. Apesar do verdadeiro desastre ambiental que seria deflagrado pela introdução dessa espécie exótica no Lago Vitória, as populações locais acabaram fortemente impactadas pela exploração desse novo recurso pesqueiro.  

A carne da perca-do-Nilo era muito mais rica em gordura que a grande maioria dos peixes nativos, sendo, portanto, muito mais valorizada comercialmente. Rapidamente, milhares de pescadores tradicionais passaram a se dedicar à pesca comercial das percas. 

Entretanto, o sucesso comercial dessa nova espécie teve um alto custo ambiental. Seguindo o princípio da conservação da matéria, que diz de maneira bem simplificada que “nada se cria, nada se perde – tudo se transforma”, a produção de grandes quantidades de uma espécie de peixe requer, no mínimo, que uma quantidade equivalente de alimentos tenha sido introduzida na equação, ou seja, nas águas do lago.  

Apesar de grande, o Lago Vitória tem recursos naturais finitos, o que estabelece limites para o suporte de vida das populações de peixes. Além de predar todas as espécies de peixes nativos do Lago, as percas-do-Nilo passaram a se valer do canibalismo para suprir parte das suas necessidades calóricas, onde os espécimes maiores passaram a devorar os espécimes menores. Essa competição por fontes de alimentos está levando a antiga diversidade de espécies do Lago Vitória ao colapso. Vale lembrar que a única espécie que preda a perca-do-Nilo são os humanos. 

A tragédia ambiental do Lago Vitória tem tudo para se repetir nos rios que estão sendo invadidos pelos pirarucus. Não se espantem ao notarem que tucunarés, tilápias, corvinas, piranhas, pacús, porquinhos, bagres, tabaranas, traíras e lambaris, entre muitas outras espécies de peixes comuns em rios brasileiros, comecem a desaparecer de rios e mercados de alguns Estados, e pirarucus frescos comecem a aparecer nas bancas. 

Esse será apenas mais um capítulo da história da introdução de espécies exóticas em um outro habitat. 

UMA ONDA COM 17,6 METROS DE ALTURA NA COSTA DO CANADÁ – A MAIOR JÁ DOCUMENTADA 

Uma notícia que ganhou as manchetes das redes sociais e da mídia tradicional nos últimos dias: 

No dia 17 de novembro de 2020, uma onda com altura descomunal atingiu uma bóia de ondas Coast Scout de 0,9 metro instalada e operada pela MarineLabs, uma startup canadense especializada em estudos oceânicos. 

A bóia, que foi instalada em uma área com 45 metros de profundidade e a 7 km da costa de Ucluelet, na ilha de Vancouver – Costa Oeste do Canadá, registrou que a altura da onda atingiu a marca de 17,6 metros. Estudos posteriores, publicados na revista científica Scientific Reports, confirmaram que essa foi a maior onda de vento já documentada. 

Apesar da altura muito acima do normal, a estrutura do relevo marinho permitiu a dissipação da maior parte da energia da onda e os estragos na orla da cidade de Ucluelet foram mínimos. 

Essa não foi a maior onda a ser observada. Em 2022, uma onda com altura estimada em 26 metros foi observada na praia do Norte, em Nazaré – Portugal. Em 2025, uma onda com cerca de 20 metros de altura atingiu Coast Tree na Praia de Pebble – Califórnia. 

Apesar das alturas impressionantes, essas duas regiões são famosas pela ocorrência de ondas gigantes em algumas épocas do ano. Nazaré, inclusive, é famosa por esses eventos e é um verdadeiro santuário para os surfistas mais radicais. 

Esse não é o caso da onda gigante de Vancouver. De acordo com os cientistas, a ocorrência de uma onda com essas características naquela localidade é extremamente rara. Na verdade, a probabilidade é de apenas uma ocorrência a cada 1.300 anos. 

Ondas gigantes são definidas pelos cientistas como aquelas que tem aproximadamente o dobro das maiores ondas que se formam numa região. A onda de Vancouver atingiu uma altura quase três vezes maior que a média das maiores ondas registradas na região. 

De acordo com o físico Johannes Gemmrich, cientista da Universidade de Vitória e responsável pelo estudo das ondas gigantes de Vancouver, essa altura três vezes maior que o padrão do mar no momento do impacto é que foi o diferencial do evento. 

E tem mais – o cientista também afirmou que as mudanças climáticas que estão ocorrendo em todo o planeta poderão resultar em aumento da frequência deste tipo de onda. Inclusive, já existem estudos que indicam que isto poderá acontecer ao longo das próximas décadas e em diversas regiões da Terra. 

Medições de satélite de longo prazo de um estudo realizado por pesquisadores australianos e holandeses e que foi publicado em 2022, mostrou que mudanças no clima sobre os oceanos estão alterando os padrões das correntes de vento e, consequentemente, alterando o padrão das ondas. 

Só como exemplo, podemos citar o caso do Oceano Índico, um dos mais afetados pelas mudanças climáticas. De acordo com medições da temperatura superficial das águas, medições essas que vem sendo feitas sistematicamente desde 1880, a temperatura média das águas aumentou quase um grau centígrado. Como resultado, as correntes oceânicas, os ventos e as ondas estão mudando.

Uma das consequências mais visíveis são mudanças no clima do Leste e do Sul da África, onde a frequência e a intensidade das secas aumentaram. No Subcontinente Indiano e em partes do Sudeste Asiático, as importantes Chuvas da Monção já não têm mais a previsibilidade de antes. 

Uma das conclusões desse estudo mostra que 59% das costas oceânicas do nosso planeta apresentarão um aumento nas condições extremas de ondas até o ano de 2100. As regiões mais afetadas são as que estão localizadas nas latitudes mais altas nos Hemisférios Norte e Sul. 

No Extremo Sul da América do Sul e no Oceano Antártico, o aumento da frequência das ondas altas foi estimado em 20%. Na costa Oeste da Nova Zelândia e na Tasmânia, esse aumento foi estimado entre 10 e 15%. No Norte do Oceano Pacífico e na Península de Kamchattka, os valores também se situam entre 10% e 15%. 

Como fica bem fácil de perceber, a ocorrência da onda gigante em Vancouver não é um caso isolado – há uma forte possibilidade de ser parte de um problema bem maior, problema esse que poderá afetar populações costeiras, a pesca, a extração de petróleo nos oceanos e a navegação, entre outras áreas. 

Mares turbulentos à vista! 

A NOVA “GUERRA” DA CAXEMIRA: ÍNDIA E PAQUISTÃO AFIANDO AS GARRAS

Quem acompanha os noticiários sabe que as, já tensas, relações entre a Índia e o Paquistão galgaram um novo patamar nos últimos dias. No último dia 22 de abril, um ataque terrorista deixou 26 mortos na região turística de Pahalgam, estado indiano de Jammu e Caxemira, região mais conhecida como Caxemira. A polícia local prendeu três suspeitos, sendo que dois deles são paquistaneses. 

Índia e Paquistão disputam a ferro e fogo a posse da região da Caxemira. Atentados e ataques promovidos por grupos ligados e/ou financiados pelo Paquistão são frequentes na região. A disputa já deflagrou três guerras entre os dois países: em 1947-1948, 1965 e 1999, esse último conhecido como conflito de Kargil. Esse novo incidente já colocou os exércitos em alerta e já está ocorrendo um deslocamento maciço de tropas e equipamentos para o front.   

A Caxemira é uma região montanhosa localizada ao Norte do subcontinente indiano, que vem sendo disputada pela Índia e Paquistão desde o fim da colonização britânica em 1947. Muito mais do que a posse de uma grande extensão territorial, essa região da Cordilheira do Himalaia concentra grandes geleiras nas montanhas que alimentam as nascentes do rio Indo, o maior e mais importante rio do Paquistão. 

O rio Indo (ou Indus) tem suas nascentes nas montanhas himalaias e percorre cerca de 3.180 km até atingir sua foz no Oceano Índico. O Indo é o maior e mais importante rio do Paquistão, um país com uma população de 200 milhões de habitantes. Suas águas respondem pela irrigação e nutrição de 90% das culturas agrícolas do país. Sem as águas do rio Indo, grande parte do Paquistão se transformaria em um deserto árido – o restante do país já é hoje uma sucessão de terrenos áridos e semiáridos. 

Em resumo: a disputa entre os dois países é pela posse e uso das águas, uma das mais elementares questões de meio ambiente. Quem dominar essas águas, dominará o poder político e econômico da região. 

Durante os 200 anos de duração da administração inglesa na região, os territórios hoje ocupados pela Índia, Paquistão e Bangladesh formavam, artificialmente, um único país, onde as respectivas populações se toleravam – a população da Índia era majoritariamente hindu; os territórios do atual Paquistão e de Bangladesh tinham uma maioria muçulmana. Sempre ocorreram conflitos religiosos entre as populações dessas diferentes religiões, porém, sob o domínio britânico, havia um claro esforço para se atingir uma convivência “pacífica”.  

Após a independência da Índia em 1947 e o acirramento entre os diferentes grupos religiosos, o território do subcontinente indiano acabou dividido e os muçulmanos assumiram o controle da região do atual Paquistão e de Bangladesh; os hindus se concentraram nas regiões Central e Sul.  

De acordo com um tratado assinado entre os dois grupos nessa época, a população da região da Caxemira deveria votar em um plebiscito, escolhendo a qual dos lados deveria se juntar neste processo. Com perto de 80% da sua população sendo muçulmana, era natural que o resultado da votação fosse favorável à anexação da Caxemira ao Paquistão. A Índia, porém, alegou razões históricas e acabou anexando a maior parte região da Caxemira ao seu território e não permitiu a realização do plebiscito.

De acordo com cânticos e poemas encontrados nos Vedas, conjunto de livros sagrados dos antigos hindus, existia um grande rio, o Ghaggar-Hakra, cujo vale atravessava uma região desértica entre os territórios atuais da Índia e do Paquistão. As águas desse mítico rio alimentavam e nutriam as populações de centenas de cidades. Em determinado momento, a ira dos deuses fez esse rio secar, levando ao súbito desaparecimento de todas essas cidades e populações.  

Desde 1861, arqueólogos vêm trabalhando nesse vale e comprovando que nem tudo é lenda – entre os anos 2.600 e 1.900 a.C., floresceu nessa região a Civilização do Vale do Indus. Ruínas de mais de 1.050 cidades e vilas já foram encontradas e 96 sítios já foram escavados – a mais impressionante dessas cidades é conhecida pelo nome de Mohenjodaro (ou Mohenjo-Daro).   

Estudos arqueológicos, geológicos e meteorológicos recentes comprovaram que já existiu um grande rio na região, que corria através de um vale “paralelo” ao do atual rio Indus, desde os terrenos altos do sopé das montanhas himalaias até um delta no Oceano Índico. Supõe-se que um grande terremoto, ocorrido há 4 mil anos, alterou a inclinação dos terrenos e desviou a maior parte das suas águas na direção do rio Ganges. Mudanças climáticas regionais, desmatamentos e sobrepastoreio de campos também são consideradas entre as causas do desaparecimento do rio.  

É essa mistura de mitologia com fatos históricos comprovadamente reais que tira o sono de muitos paquistaneses. Essa mais recente crise entre os dois países, donos de poderosos exércitos e de arsenais nucleares, poderá descambar para um conflito regional de consequências imprevisíveis. 

Em 1960, a Índia e o Paquistão assinaram um acordo, o Tratado das Águas do rio Indus, o que acalmou muitos ânimos. As desconfianças, porém, continuaram: recentemente, a Índia construiu a Usina Hidrelétrica de Baglihar na região, acendendo uma luz de alerta no Paquistão e acirrando o tom das provocações entre os dois países.   

Um sinal que mostra a que nível a tensão entre os dois países chegou: o Governo da Índia ordenou o fechamento das comportas da barragem de Baglihar poucos dias atrás… 

Os próximos dias serão decisivos. Que Allah e todos os milhares de deuses do panteão indiano iluminem os líderes dos dois países e que se encontre um meio termo aceitável pelas partes!