
Na última postagem falamos de um estudo, feito por uma empresa especializada no monitoramento ambiental de empresas do setor de energia, que mostrou as enormes emissões de metano do Turcomenistão na atmosfera nos últimos 20 anos.
Essas emissões estão ligadas a forte exploração de gás natural no país. O metano é um importante gás de efeito estufa, juntamente com outros como o dióxido de carbono (CO2), o Óxido Nitroso (N2O) e o Hexafluoreto de Enxofre (SF6). A grande ironia é que o gás natural é um dos combustíveis fósseis que menos causam problemas ambientais.
O efeito estufa é processo natural do planeta que permite a retenção de parte do calor recebido a partir da radiação solar, o que minimiza as fortes oscilações da temperatura global que seriam esperadas entre o dia e a noite. O aumento das emissões de gases de efeito estufa nos últimos duzentos anos alterou esse mecanismo natural fazendo com que o planeta retenha mais calor do que o necessário.
O principal resultado dessa mudança é que o planeta está vivendo um aumento contínuo das temperaturas. Um grande exemplo é o que está acontecendo com as águas do Oceano Índico – medições sistemáticas da temperatura das águas, o que vem sendo feito sistematicamente desde 1880, mostram que houve um aumento da temperatura média em 0,7º C.
Isso pode parecer pouca coisa à primeira vista, porém, essa diferença de temperatura já foi suficiente para alterar a velocidade de correntes marítimas e o regime de ventos. Regiões do Leste e do Sul da África estão sofrendo com a falta de chuvas; as Chuvas de Monção do Sul e Sudeste Asiático estão ficando cada vez mais irregulares.
Os mais importantes países do mundo vêm, já há vários anos, buscando alternativas para conter o aumento das temperaturas globais e todo o conjunto de alterações climáticas que “vem a reboque”. Um grande exemplo foi o Acordo de Paris de 2015, que foi assinado por 195 países com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global abaixo dos 2º C até o final deste século.
Essa verdadeira “corrida atrás do prejuízo”, entretanto, parece que começou muito tarde e já existem fortes evidências mostrando que grande parte do clima planetário sofrerá fortes mudanças nas próximas décadas.
Um estudo recente que foi publicado na revista Earth’s Future mostrou de forma bastante objetiva o caminho das mudanças nos padrões de temperatura e de precipitações em todo o mundo.
Sob a liderança do pesquisador climático George Mason, o estudo demonstrou que uma área entre 38% e 40% da superfície terrestre mudará seu padrão climático até o final deste século. Quando as projeções se valem de modelos climáticos mais sensíveis, a área afetada pode subir para 50%.
Os modelos climáticos usados tradicionalmente pelos pesquisadores se baseiam nas cinco zonas climáticas sugeridas pelos estudos de Köppen-Geiger e onde são considerados fatores como temperatura, precipitação e estações do ano. Esse modelo resulta em cinco zonas climáticas: tropical, árida, temperada, continental e polar.
De acordo com os modelos desenvolvidos pelo estudo, as regiões de clima tropical devem passar dos atuais 23% para 25% da área terrestre global, enquanto as zonas áridas devem aumentar de 31% para 34%. Essas mudanças poderão afetar a produção de alimentos e mudar a distribuição geográfica de zoonoses como a dengue.
Os continentes que enfrentarão as maiores mudanças serão a América do Norte e a Europa, onde as áreas afetadas por mudanças no zoneamento climático poderão afetar, respectivamente, 66% e 89% dos seus territórios. Um exemplo é o que já acontece nas regiões de clima polar, que representavam 8% do território global entre 1901 e 1930, e que hoje correspondem a apenas 6,5%.
De acordo com o estudo “desde o início do século 20, a Terra já experimentou 14,77% de sua área terrestre mudando sua classificação climática, com as mudanças mais extensas observadas na América do Norte, Europa e Oceania”.
Esse estudo vem reforçar a percepção que todos já temos de mudanças nos padrões climáticos em todo o mundo. Acompanhando os noticiários diários somos informados de fortes ondas de calor na Europa e na América do Norte, de seca extrema na região do Chifre da África ou ainda de chuvas torrenciais no Paquistão.
Na esteira dessas anomalias climáticas acompanhamos toda uma série de prejuízos econômicos e sociais, com dezenas de milhares de pessoas sendo desalojadas de suas casas e terras ancestrais. A delicada “máquina planetária” se mostra irremediavelmente comprometida.
A maior parte dos estragos já causados pelas mudanças climáticas até o momento parecem ser irreversíveis – o que resta a humanidade é a busca por mecanismos que permitam amenizar os impactos das mudanças ambientais da melhor maneira possível. Melhor ainda – limitar ao máximo o aumento da temperatura global poderá nos ajudar a não piorar ainda mais as coisas.
Como esse é o único mundo que temos, não teremos para onde fugir no curto e médio prazo. Num futuro distante, talvez…