Nas últimas postagens publicadas aqui no blog, foi possível demonstrar que a situação ambiental na maioria dos países que formam a América Central continental não é das melhores. Atividades agrícolas, mineradoras e também grandes obras de infraestrutura como o Canal do Panamá, destruíram e fragmentaram a outrora exuberante floresta tropical, que se estendia desde os sopés da Cordilheira dos Andes na Colômbia até a Península de Iucatã (ou Yucatán em espanhol) no Sul do México.
A formação dessa importante floresta, com sua complexa vida animal e vegetal, foi o resultado da formação do Istmo do Panamá, uma ponte de terra que ligou as grandes massas de terra da América do Norte e do Sul há mais de 2 milhões de anos atrás. O resultado final foi a formação de um importante corredor biológico que permitiu a migração bidirecional (tanto ao Norte quanto ao Sul) de espécies animais e vegetais dos dois continentes, formando um meio ambiente único. Grande parte desse patrimônio biológico e ambiental, desgraçadamente, já foi perdido.
Felizmente, ainda há o que se comemorar – como exceção à regra, Belize e Costa Rica promoveram uma verdadeira guinada em suas políticas ambientais e vem dando um ótimo exemplo ao mundo em termos de recuperação e/ou conservação de áreas florestais e, melhor de tudo, ainda ganhando dinheiro com o ecoturismo. Hoje falaremos um pouco sobre Belize.
Belize ocupa uma área de 22,9 mil km², o que corresponde à metade do território do Estado do Rio de Janeiro. Com cerca de 400 mil habitantes, é o país com a menor densidade populacional da América Central. Diferentemente dos demais países da região, Belize foi uma colônia da Inglaterra, uma característica que ajudou a mudar a sua trajetória histórica.
O território de Belize se estende entre o Sul da Península de Iucatã e a Guatemala, tendo sido uma parte importante do Império Maia. Os primeiros europeus a desembarcar nesse território eram conquistadores espanhóis, mas foram exploradores ingleses que ocuparam o litoral da região ainda no século XVII. Os ingleses criaram diversas feitorias ao longo do litoral com o objetivo de explorar o campeche ou pau-campeche (Haermatoxylon campechianum), uma árvore que produz uma madeira dura e pesada, de onde se extrai um corante vermelho muito similar ao do nosso pau-brasil (Caesalpinia echinata).
A partir do final do século XVIII, com a invenção de corantes artificiais como as anilinas, o foco da exploração colonial em Belize foi concentrado na extração de madeiras como o mogno e algumas espécies de pinheiro. A agricultura e a pecuária praticadas na região sempre tiveram como objetivo a produção de subsistência para o sustento da pequena população, o serviu como um “freio” para uma devastação em maior escala das áreas florestais.
A faixa costeira de Belize é formada por planícies costeiras planas e pantanosas, com formações florestais densas em alguns pontos. Cerca de metade do território do país é coberto por florestas, com espécies tropicais nos terrenos mais baixos e coníferas nos terrenos mais altos. Pelo menos metade do território de Belize ainda preserva a sua cobertura florestal original – algumas fontes afirmam que esse índice de conservação é superior a 60%.
Com o avanço do movimento ambientalista entre os anos de 1960 e 1970, muitos proprietários de terras do país passaram a criar o que se convencionou chamar de RPPN – Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Devido à origem britânica de muitos desses proprietários, vários grupos ambientalistas da Inglaterra e dos Estados Unidos, além de um grande número de colabores privados, passaram a reverter doações em dinheiro para viabilizar diversas dessas reservas naturais.
Nos últimos anos, essas reservas florestais particulares foram transformadas em importantes destinos turísticos. Existem também áreas onde o principal objetivo foi a conservação de espécies como o Community Baboon Sanctuary, que foi criado em 1985. Esse santuário surgiu a partir de um acordo entre 12 proprietários de terras que buscavam preservar o habitat de uma espécie local de bugio (Alouatta pigra). Atualmente, mais de 2 mil macacos dessa espécie vivem no santuário.
A maior reserva florestal particular de Belize é a Área de Conservação e Manejo do Rio Bravo, que ocupa uma área de 97 mil hectares. Essa área foi criada a partir da contribuição de milhares de cidadãos dos Estados Unidos e Inglaterra, além de contribuições de fundações ligadas a grandes empresas desses países como a Coca-Cola, Fundação MacArthur, Usaid e Massachusetts Audubom Society, entre outras. O slogan usado na coleta de doações foi “adote um acre”. Acre é uma unidade de medida de terras usada em países anglo-saxões que equivale a 4.042 m².
Outra reserva natural importante é a Tapir Mountain Nature Reserve que tem 2.728 hectares. A reserva foi criada em 1975, quando o proprietário doou as terras para o Governo de Belize, que depois arrendou a área aos antigos proprietários sob a condição de um adequado manejo ambiental e desenvolvimento de programas que beneficiassem as comunidades vizinhas.
Os esforços ambientalistas de Belize não param por aí – em 1996 foi criado o PACT – Fundo Fiduciário para a Conservação de Áreas Protegidas, na sigla em inglês. Uma taxa de US$ 3,75 é cobrada junto com a taxa de embarque de cada turista que visita o país. No caso dos navios de cruzeiro com destino e/ou escala em Belize, um imposto de 20% é cobrado no valor das passagens. Todos os recursos arrecadados são revertidos em programas de conservação ambiental.
Uma outra solução encontrada pelo país para garantir a preservação e a boa gestão de áreas naturais foi a delegação da administração de alguns parques nacionais e sítios arqueológicos para organizações não-governamentais. Entre essas organizações se destacam a Monkey Bay Wildlife Society, a Forest and Marine Reserve Association of Caye Caulker, a Friends of Nature e, principalmente, a Belize Audubon Society. Essas organizações contam com milhares de membros colaboradores, que fiscalizam “com lupa” os cuidados dispensados às áreas protegidas.
Esse ano, o Governo local anunciou a proibição total do uso de plásticos descartáveis e de produtos com espuma de poliestireno no país. A nova legislação em vigor regulamenta a importação e a produção de plásticos e espumas através de um rigoroso processo de licenciamento ambiental junto ao Departamento de Meio Ambiente de Belize.
Essas restrições, que vão de sacolas plásticas de supermercados até embalagens de produtos eletrônicos, visam impedir que cenas como as da ilha de plástico da costa de Honduras se repitam no litoral de Belize, que é justamente uma das grandes atrações turísticas do país. De acordo com dados do Banco Mundial, mais de 300 mil toneladas de lixo plástico são produzidas anualmente no Caribe e na América Central, sendo que uma parte considerável desses resíduos é descartada de forma irregular.
De acordo com estatísticas do BTB – Escritório de Turismo de Belize, na sigla em inglês, o país recebeu um total de 503 mil turistas em 2019. Falamos aqui de turistas “5 estrelas” com alto poder aquisitivo e grande consciência em prol da conservação ambiental. O turismo se transformou na principal atividade econômica do país e também em uma importante empregadora da mão de obra local. O ecoturismo e as atividades ligadas à esportes na natureza (canoagem e rafting, trekking, escaladas e mergulho, entre outras) lideram a preferência dos visitantes.
O “uso sustentável” que o pequeno Belize encontrou para suas praias e florestas é um exemplo que precisa ser seguido pelos vizinhos da América Central enquanto ainda dá tempo.
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