O Tietê é o maior e mais importante rio paulista.
Quem não conhece o blog e não está acostumado com o jeito às vezes provocativo dos meus textos, pode até achar que essa afirmação é um tanto exagerada. Para a maioria da população da Região Metropolitana de São Paulo e, especialmente, para quem não é do Estado, o rio Tietê, que é mostrado frequentemente nos noticiários, nada mais é do que um enorme canal de esgotos a céu aberto e principal responsável pelas gigantescas enchentes de verão na cidade. Essa percepção é parcialmente verdadeira e corresponde a um trecho do rio com pouco mais de 300 km. Ao atravessar a Região Metropolitana, o rio Tietê recebe imensas quantidades de esgotos in natura e muito lixo, uma poluição que, literalmente, mata o rio.
“Milagrosamente”, no trecho entre a cidade de Barra Bonita e sua foz no rio Paraná, conhecido com Baixo Tietê, o rio volta a ser um curso de águas limpas e muito piscoso, exatamente como no trecho inicial do rio, conhecido como Alto Tietê, entre a nascente em Salesópolis (muitas fontes afirmam que fica em Guararema) e a chegada na Região Metropolitana. O Baixo Tietê é um rio repleto de opções de passeios turísticos e, pasmem – dezenas de cidades do interior de São Paulo usam a água do rio para o seu abastecimento. A natureza realiza alguns milagres, apesar de tudo que a humanidade faz contra ela – no caso dos rios, existem processos naturais de depuração que conseguem resolver até os estragos causados por uma intensa poluição nas águas. Entre a sua nascente na Serra do Mar e a sua foz no rio Paraná, o Tietê percorre mais de 1.200 km dentro do Estado de São Paulo.
Esse é o lado ambiental do rio Tietê, que tratamos frequentemente em postagens aqui no blog. Mas existe um outro lado do rio que é fundamental para a economia de todo o Estado de São Paulo – o potencial de geração de energia hidrelétrica. Vamos falar um pouco sobre isso.
Conforme comentamos em uma postagem anterior, a primeira hidrelétrica a ser instalada no rio Tietê foi a Usina de Parnahyba, inaugurada em 1901 e com uma potência instalada de 2 MW. Pouco mais de 10 anos depois, a empresa Light aumentou a capacidade dessa usina para 12,8 MW. Passados cerca de 50 anos após a conclusão dessa Usina, o Governo do Estado de São Paulo voltou novamente a sua atenção para o Tietê e teve início um processo de construção de 6 usinas hidrelétricas nesse rio.
Iniciada em 1958 e concluída em 1965, a Usina Hidrelétrica de Bariri possui uma barragem com 856 metros de extensão e uma altura máxima de 32,5 metros, possuindo ainda uma ponte sobre a barragem. A Usina conta com 3 conjuntos geradores, com uma capacidade de geração máxima de 136,8 MW. Sua barragem forma um reservatório com 63 km².
A próxima Usina a ser construída foi Ibitinga, que é considerada uma usina hidrelétrica a fio d’água, ou seja, que não possui um reservatório de armazenamento de água muito grande e que depende da vazão do rio para funcionar. Essa Usina começou a operar em 1969, possuindo três unidades geradoras, com potência máxima de 131,49 MW. O reservatório dessa Usina forma um espelho d’água com 114 km².
A Usina Hidrelétrica de Barra Bonita (vide foto) foi inaugurada em 1973, contando com 4 conjuntos geradores e com uma potência total de 140 MW. Essa Usina tem uma barragem com apenas 287 de extensão, que forma um reservatório com 310 km². Um fato interessante dessa Usina é que ela foi construída na divisa entre os municípios de Barra Bonita e Igaraçu do Tietê. Sob a alegação que as unidades geradoras estão localizadas no território de Barra Bonita, somente essa cidade recebe parte do ICMS gerado pela Usina – o município de Igaraçu do Tietê vem lutando há vários anos para receber uma parte deste imposto.
A Usina Hidrelétrica de Promissão teve suas obras civis iniciadas em 1966, tendo a primeira unidade geradora inaugurada em 1975. A usina foi totalmente concluída em 1977. Com 3 grupos geradores e potência instalada de 264 MW, a Usina de Promissão é a segunda maior hidrelétrica do rio Tietê em capacidade de geração. Sua barragem tem uma extensão total de 3,6 km e foram um reservatório com 530 km².
Na sequência, foi a vez da Usina Hidrelétrica de Nova Avanhandava, que foi inaugurada em 1982. Essa usina possui 3 grupos geradores com capacidade de geração de até 347 MW. Sua barragem tem uma extensão total de 2 mil metros, formando um reservatório com 210 km².
Por fim, a mais nova e mais potente usina hidrelétrica do rio Tietê – Três Irmãos, localizada a cerca de 28 da foz do rio Tietê no rio Paraná. A primeira unidade geradora dessa Usina entrou em operação em 1993 e a última em 1999. Os 5 grupos geradores geram até 807,5 MW. O reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Irmãos inunda uma área de 785 km².
Além da importante contribuição econômica para todo o Estado de São Paulo proporcionada pela geração de energia elétrica, as usinas hidrelétricas instaladas ao longo do rio Tietê criaram um “subproduto” extremamente relevante – a Hidrovia do rio Tietê. A navegação através do rio Tietê teve início XVII, quando as primeiras expedições exploratórias dos antigos paulistas passaram a usar o rio para atingir os desconhecidos sertões. Com um curso de difícil navegação e repleto de corredeiras e quedas d’água, o Tietê sempre foi uma benção e um verdadeiro inferno para as antigas populações.
Com a construção de sucessivas barragens ao longo do seu curso, os reservatórios que foram formados encobriram a maior parte desses obstáculos do rio Tietê. Um dos mais temidos obstáculos naturais do rio era o Salto do Avanhandava na região de Penápolis, a aproximadamente 490 km da cidade de São Paulo. Quando se atingia este ponto do rio, os monçoeiros, nome dados aos antigos exploradores, eram obrigados a desembarcar de suas canoas e a descarregar toda a sua carga. Cargas e canoas tinham de ser transportados por terra por um percurso de aproximadamente 700 metros, isso para se vencer um desnível do rio com apenas 12 metros.
Após a conclusão das obras de todo um conjunto de eclusas nas barragens das usinas hidrelétricas, passou a ser possível a navegação de barcaças de cargas por uma extensão total de 800 km nas águas do rio Tietê e em parte do rio Piracicaba. A partir da interligação com o rio Paraná, a extensão total de águas navegáveis chega a 2.400 km. A chamada Hidrovia Tietê-Paraná é uma das mais importantes vias de navegação fluvial do Brasil e permite o transporte de cargas entre os Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás. Perto de 9 milhões de toneladas de cargas circulam anualmente na hidrovia, porém, há potencial para se atingir em poucos anos um volume de 20 milhões de toneladas.
Como demonstrado, o sujo e poluído rio Tietê da Região Metropolitana de São Paulo é na verdade um rio com enorme potencial hidrelétrico e uma excelente via fluvial para o escoamento da produção agrícola e industrial de uma extensa região do país.
Nada mal para um “patinho feio”.
VEJA NOSSO CANAL NO YOUTUBE – CLIQUE AQUI
[…] AS USINAS HIDRELÉTRI… em A JOVEM HIDROVIA TIETÊ-PA… […]
CurtirCurtir
Morava em Jundiaí e conheço o Rio Tietê, na região de Cabreuva e Salto, uma água preta e cheia de espuma, sem vida.
Há 2 anos resido em Buritama, muito perto da UHE Nova Avanhandava, com agua limpa e muitos peixes.
Pode-se dizer que o Tietê é “auto limpante”, mas, até quando?
CurtirCurtido por 1 pessoa
Bom dia, gostaria de reforçar que o Tietê nasce em Salesópolis.
CurtirCurtir
Grato pela informação!
CurtirCurtir
[…] de São Paulo, bastavam alguns ajustes técnicos nas Usinas Hidrelétricas de Jupiá e de Três Irmãos, instalando todos os grupos geradores previstos no projeto, para se gerar a eletricidade prevista […]
CurtirCurtir