O Parque do Ibirapuera é a mais famosa área verde da cidade de São Paulo, apesar de estar muito longe de ser a maior – o Parque Anhanguera, na Zona Norte da cidade, tem 9,5 milhões de m² e ocupa a primeira posição nesse ranking. Com menos de 2 km² de superfície, o Parque do Ibirapuera concentra matas, lagos, museus, planetário e muitas trilhas e pistas para pedestres e ciclistas. A área conhecida como Marquise do Ibirapuera, é um tradicional ponto de encontro de várias “tribos” urbanas. Com mais de 14 milhões de visitantes/ano, o Parque do Ibirapuera é o mais visitado e fotografado da América Latina.
Esse grande orgulho paulistano surgiu em consequência de um verdadeiro “desastre” ambiental: os antigos terrenos alagadiços do Ibirapuera forneceram, durante décadas, parte da areia usada na construção civil da cidade. Na década de 1950, a Prefeitura da cidade resolveu transformar a região num parque urbano e grandes lagos foram incluídos no projeto, aproveitando assim as grandes crateras que foram deixadas pelas cavas de areia. Outros exemplos de cavas de areia dentro da cidade de São Paulo que puderam ser “reaproveitadas” são a Raia Olímpica da USP – Universidade de São Paulo, na Zona Oeste, e o Parque Cidade de Toronto, na Zona Noroeste.
Infelizmente, casos onde antigas áreas de extração de areia foram reaproveitadas para outros usos são uma exceção. Normalmente, os chamados “areeiros” exploram os depósitos desse sedimento até o esgotamento, abandonando os solos devastados e as cavas inundadas à sua própria sorte (vide foto), sem realizar nenhum processo de recuperação ambiental, conforme está previsto na legislação ambiental.
A areia é um tipo de sedimento formado por partículas de rochas degradadas, com tamanho entre 0,06 e 2 mm, encontrado principalmente em margens de rios, áreas alagáveis e em praias. É uma matéria prima essencial para a construção civil, onde é usada para preparação de massa para assentamento de tijolos e blocos, para o chapisco e reboco de paredes, além da preparação do concreto. Somente as chamadas “areias de rios” são recomendadas para uso na construção civil – a areia de praia costuma conter grandes quantidades de carbonato de cálcio, um mineral solúvel em água e que, se usado, vai proporcionar elementos construtivos de baixa resistência; o sal presente na areia de praia também atua como um corrosivo das ferragens usadas na armadura do concreto, reduzindo a sua durabilidade.
Um exemplo dos problemas criados pelo uso de areia de praia na construção civil foi o desabamento do edifício Palace II, no Rio de Janeiro, em 1998. Entre outros problemas de projeto e de construção, a perícia realizada nos escombros encontrou vestígios de areia de praia em partes do concreto usado na obra. Um primeiro desabamento, ocorrido no dia 22 de fevereiro, destruiu 44 apartamentos, matando 8 pessoas. Cinco dias depois houve um segundo desabamento, onde mais 22 apartamentos foram destruídos. No dia 28 de fevereiro, por razões de segurança, a estrutura remanescente do edifício foi implodida.
A extração de areia para a construção civil é um problema recorrente em todo o Brasil – todas as cidades precisam dessa matéria prima. O país consome perto de 500 milhões de toneladas de areia a cada ano. Grande parte das cavas é feita de maneira clandestina, sem contar com um projeto de licenciamento ambiental. Um estudo feito pelo Ministério Público de São Paulo em 2014 nos dá uma ideia do tamanho desse problema: 93% das cavas de extração de areia no Vale do Rio Paraíba, região no Leste do Estado, apresentavam irregularidades, especialmente quando aos limites da área de exploração. O Vale do Paraíba fornece a maior parte da areia consumida nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e de Campinas.
Os problemas da extração da areia começam com a remoção da mata das margens dos rios, matas essas que funcionam como uma barreira contra a entrada de sedimentos e lixo na calha do rio, protegendo a qualidade das águas. Essa vegetação marginal também tem um importante papel ecológico para as espécies que vivem nas águas dos rios – elas ajudam a formar pequenas lagoas e áreas de remanso, protegidas da correnteza, onde as espécies aquáticas – peixes, anfíbios, répteis e até mesmo aves, se reproduzem. As espécies se valem, conforme sua própria fisiologia, das raízes submersas, das áreas de solo protegidas pela vegetação e dos altos galhos dos arbustos e das árvores.
A destruição das matas e a escavação das áreas nas margens altera completamente o ciclo de vida destas espécies e, pior, o assoreamento que é provocado na calha do rio, entre outros gravíssimos problemas, soterra as comunidades bênticas ou bentônicas do fundo rio – nestas comunidades vivem plantas, vermes, moluscos e crustáceos de tamanhos variados (a maioria muito pequena e microscópica). Essas criaturas formam a base da cadeia alimentar (também chamada de cadeia trófica) do rio e sustentam todas as formas de vida superiores – inclusive a dos seres humanos (especialmente os ribeirinhos) que se alimentam com os peixes pescados no rio.
Outro problema das cavas abandonadas é a formação de lagoas devido ao acúmulo da água das chuvas ou pela drenagem de água do lençol freático. Essas lagoas acabam sendo transformadas em “áreas de lazer” pelas comunidades que vivem nas suas proximidades. Todos os anos, centenas de pessoas, especialmente jovens e adolescentes, morrem afogados ao nadar nessas lagoas, locais que costumam ter dezenas de metros de profundidade. A precariedade ou, simplesmente, a falta de opções de lazer nessas comunidades transforma essas lagoas em atrações irresistíveis nos dias quentes de verão.
A extração de areia é a atividade de mineração que está mais próxima de todos nós e um ótimo exemplo dos impactos negativos da mineração no meio ambiente. É preciso que as autoridades fiscalizem de perto essas atividades e que exijam o cumprimento da legislação ambiental, especialmente no que tange à recuperação das áreas degradadas após o esgotamento das reservas. Outro ponto a ser trabalhado é a reciclagem da areia a partir do aproveitamento da grande quantidade de entulhos gerados pela construção civil.
As fontes de água, como vimos, são as grandes vítimas da exploração descontrolada da areia – são inúmeros os rios que já tiveram as suas calhas assoreadas e destruídas devido a extração descontrolada de areia. Sem dispor de fontes de água para o abastecimento das populações, não faz muito sentido se gastar recursos, energia e matérias primas construindo mais casas e prédios nas cidades…
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[…] de mineração, como nos casos de Mariana e de Brumadinho, ou locais, como em casos de cavas de mineração de areia e em olarias. Entre esses extremos, encontramos toda uma gama consequências negativas para o meio […]
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[…] Areia e cascalho, dois aglomerados largamente utilizados na construção civil, são os sedimentos de origem mineral encontrados em maiores quantidades nos leitos de córregos, riachos e rios urbanos. A disseminação desses sedimentos nos ambientes urbanos já começa durante o transporte desde as fontes de produção até os canteiros de obras. As cargas são acondicionadas de maneira improvisada nos caminhões, que saem espalhando pedras e areia pelo caminho. […]
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[…] grande exemplo é a extração da areia, um dos insumos mais importantes da construção civil. No Brasil, o consumo anual de areia gira em […]
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[…] de São Paulo, esse consumo é de 70 milhões de toneladas ao ano. Durante muito tempo, a calha e as várzeas de rios como o Tietê, Tamanduateí, Pinheiros e de muitos ribeirões foram as principais fontes para extração da areia usada nas construções das cidades da Região […]
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[…] problemas do rio de Contas na atualidade é a extração de areia de suas águas e margens. A areia é um dos mais importantes materiais de construção usados em nosso país e essencial para a produção do concreto estrutural, blocos, peças […]
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