AS PEDREIRAS ABANDONADAS E SEU USO PARA A CRIAÇÃO DE ESPAÇOS DE LAZER E CULTURA

Pedreira do Dib

Na última postagem tratamos dos problemas criados pela extração de areia nas proximidades das áreas urbanas do país. São centenas e mais centenas de cavas que, depois de esgotadas as reservas de sedimentos, são abandonadas sem que os responsáveis pela mineração realizem qualquer trabalho de recuperação ambiental. Essas cavas abandonadas criam inúmeros problemas ambientais, que vão da destruição de rios e cursos d’água ao afogamento de banhistas que buscam alguns momentos de lazer nos lagos formados pelas chuvas e águas do lençol freático. 

A areia é uma matéria prima essencial para a construção civil, onde é usada na preparação de argamassa para o assentamento de tijolos e blocos, chapisco e reboco de paredes, além de entrar na formulação do concreto. É justamente nessa composição que uma outra matéria prima essencial se faz necessária – a brita, pedras trituradas em medidas adequadas, que combinadas com a areia e o cimento, além do uso de barras de ferro e aço. formam o material estrutural mais usado em nosso país – o concreto armado. Outra aplicação das britas ou pedras britadas é a formação do lastro de ruas, avenidas e rodovias, acima do qual será feita a pavimentação. Também são usadas como base para o assentamento de trilhos de ferrovias, na construção de túneis e barragens, entre outras importantes aplicações. 

As britas são o resultado da fragmentação de rochas duras como o granito, gnaisse, basalto e calcário. Grandes formações dessas rochas são desmontadas por meio de explosões, o que reduz o tamanho das rochas. Para ficar no tamanho e no formato adequado para as diversas aplicações na construção civil, as pedras passam por processos de trituração em máquinas, conhecido como britagem, e também por processos de peneiramento. Ao final dos processos são produzidos o pó de brita e as pedras britadas em tamanhos que vão do 0 ao 4, específicos para diversos tipos de aplicações. 

De acordo com dados da ANEPAC – Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados para Construção, o consumo per capita de brita no Brasil corresponde a 1,5 tonelada por habitante a cada ano. Todo esse volume de brita terá como destino a construção de casas e edifícios, além de toda uma gama de obras de infraestrutura. Apesar de toda a sua importância para as nossas sociedades, a exploração e a produção da brita causa uma série de problemas ambientais, muito parecidos com aqueles criados pela exploração da areia. 

As fontes naturais para a exploração de pedras para a produção de brita são os afloramentos rochosos localizadas nas cercanias dos grandes centros urbanos. As empresas produtoras de agregados para a construção sempre buscam locais de fácil acesso para a instalação de suas pedreiras e das unidades de processamento das pedras, buscando assim reduzir os custos de transporte. Na cidade de São Paulo, a famosa Serra da Cantareira abrigou diversas pedreiras, que, por várias décadas, forneceram a brita que ajudou a construir a cidade. Uma dessas pedreiras, desativada há mais de 30 anos, fica localizada no município de Mairiporã e é conhecida como Pedreira do Dib (vide foto). 

Ocupando uma área com mais de 44 mil m², a Pedreira do Dib seguiu um roteiro bastante conhecido por esse tipo de atividade – após décadas de extração e fornecimento de pedras para a construção civil, o local foi subitamente abandonado. As antigas encostas da Serra da Cantareira, que eram cobertas por uma densa vegetação de Mata Atlântica, foram transformadas em áridos paredões de rocha estéril; no centro da área, uma gigantesca cratera com dezenas de metros de profundidade e que acabou transformada em um lago. 

O clima de abandono na Pedreira do Dib começou a mudar quando grupos de escaladores começaram a se aventurar nos paredões, alguns com mais de 100 metros de altura. Atualmente, a Pedreira possui mais de 50 trilhas para escalada, com diferentes graus de dificuldade para alpinistas de todos os níveis. As áreas no entorno da lagoa também atraem inúmeros grupos de visitantes, que passam ali seus momentos de lazer, intercalando banhos na lagoa com a preparação de churrascos. Infraestrutura e segurança, nenhuma.

Outro exemplo de pedreira abandonada, essa dentro do município de São Paulo é a Pedreira do Morro Grande, também conhecida como Anhanguera, localizada na Zona Norte da cidade. O Morro Grande é um pequeno serrote que se desgarrou do macio da Cantareira. Abandonada desde os anos de 1980 após a falência da empresa controladora, essa área foi largada ao “Deus dará” sem que nenhum tipo de recuperação ambiental fosse levado a cabo. Diferente da Pedreira do Dib, há uma remota chance da prefeitura de São Paulo transformar o local em um parque urbano. 

Em todas as regiões do Brasil é comum se encontrar pedreiras e cavas de areia abandonadas, onde profundas lagoas se formaram. As populações que vivem nas proximidades costumam transformar os locais em áreas de lazer improvisadas, onde são comuns os casos de afogamentos. Algumas dessas lagoas, que podem ter profundidades de mais de 40 metros, facilmente podem se transformar em verdadeiras armadilhas para os nadadores. A água parada dessas lagoas também apresenta riscos para a saúde das populações – suas águas podem ser transformadas em criadouros de mosquitos como o perigosa Aedes Aegypti. Muitas vezes, esses locais acabam sendo transformados em áreas de descarte de lixo e de entulhos da construção, problemas que podem levar à contaminação do lençol freático e poluir a água de poços usados pela população.

Felizmente, existem algumas exceções e as áreas abandonadas de algumas pedreiras foram transformadas em áreas de lazer e cultura para as populações. Em Curitiba, temos o exemplo do Parque das Pedreiras, onde a prefeitura da cidade criou o Espaço Cultural Paulo Leminski e a Ópera de Arame. Ainda em Curitiba temos a Universidade Livre do Meio Ambiente. Essa antiga pedreira ficava em uma área isolada da cidade. O projeto de recuperação ambiental implantado na área foi focado na formação de lagos e na integração das instalações da universidade aos diferentes níveis do solo. 

Um outro exemplo, esse bem perto da cidade de São Paulo é o Parque Francisco Rizzo, da cidade de Embu. Na área desta antiga pedreira foram criados viveiros de mudas, um centro de eventos e convenções, um núcleo de educação ambiental, playgrounds, quadras, anfiteatro, além de áreas para a recuperação das matas nativas. Esses exemplos mostram que é possível reutilizar as pedreiras abandonadas com a criação espaços de lazer seguros para a população. Aliás, as próprias empresas que exploraram o local deveriam ser as responsáveis pela criação desses espaços, numa forma de compensação ambiental. 

Fica a proposta.

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