“Eu vim para juntar dinheiro, não para lavrar os campos como um simples agricultor!”
A frase que abre esta postagem é de autoria de um jovem fidalgo espanhol de 18 anos, logo após desembarcar na Ilha Hispaniola, nos primeiros anos da conquista da América. Seu nome – Hernán Cortés, que anos mais tarde desembarcaria no México e aprisionaria o rei dos astecas, Montezuma II, líder do mais poderoso império das Américas. Esse era o espírito dos conquistadores ibéricos ao chegar às Américas – encontrar riquezas e voltar o mais rápido possível para suas casas na Europa.
Os espanhóis, nesse aspecto, tiveram muito mais sorte que os portugueses, e encontraram grandes quantidades de ouro e prata logo nas primeiras décadas após o descobrimento. Já os portugueses, só encontrariam ouro em quantidades dignas de nota apenas em 1696, quase duzentos anos após a descoberta do Brasil. O povoamento da bacia hidrográfica do rio da Prata no lado espanhol do Meridiano de Tordesillas, particularmente ao longo dos rios Paraná e Paraguai, só ganhou “fôlego” após a descoberta das grandiosas minas de prata de Potosi, no território atual da Bolívia. Antes disso, só lograram maiores êxitos na região as missões e assentamentos dos missionários Jesuítas. É fundamental analisar as descobertas minerais nos Andes para que se compreenda a importância histórica que os rios passaram a ocupar no povoamento das extensas regiões Platinas:
Em 1526, uma expedição espanhola comandada por Sebastian Caboto encontrou, na região Sul do Brasil, alguns náufragos de uma expedição anterior, sobreviventes de um ataque de índios guaranis. Os expedicionários ouviram desses náufragos alguns relatos de uma suposta “Serra de Prata” nas montanhas, fato que lhes foi confidenciado por alguns índios aprisionados. Os espanhóis se estabeleceram em terra nas proximidades da atual cidade de Santa Fé, na Argentina (cerca de 470 km ao Norte de Buenos Aires, subindo o rio Paraná), onde construíram o forte Sancti Spiritu. Partindo dessa instalação, Caboto e seus homens organizariam diversas expedições que, subindo o curso dos rios Paraná e Paraguai, vasculhariam grandes extensões de terras em busca da lendária Serra, sem conseguir encontrar nada. Sebastian Caboto retornou para a Espanha em 1530 e a história da “Serra de Prata” se espalhou por todo o país, aguçando ainda mais os sonhos de riqueza de muita gente.
Uma nova expedição espanhola chegou ao rio da Prata em 1536, agora sob o comando de Pedro de Mendoza, e fundou uma povoação nas proximidades do delta do rio Paraná – Puerto Real de Nuestra Señora Santa María del Buen Aire, embrião da cidade de Buenos Aires. Sem que se encontrasse ouro, prata ou qualquer outra riqueza na Província, essa povoação acabou relegada a um plano secundário pela Coroa de Espanha. A sorte só começaria a mudar em 1545, quando exploradores espanhóis no Peru descobriram uma montanha, onde os veios de prata afloravam na superfície do solo. Quase que imediatamente, foi fundada uma cidade neste local: a lendária Potosi.
Cerca de 50 anos depois, as minas da região já eram as maiores produtoras de prata do mundo e Potosi foi considerada a cidade mais rica de sua época e a segunda maior do mundo em população – com 150 mil habitantes, só perdia em tamanho para Paris. Milhares de indígenas foram forçados a trabalhar dia e noite nessas minas, sob condições das mais insalubres e sob riscos constantes de acidentes e desabamentos nas gigantescas galerias. Cronistas de época registraram que a prata era tão abundante em Potosi que cada índio extraia, em média, 29 kg do precioso metal por dia. O escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), nos deixou o seguinte registro sobre o triste legado deixado pela mineração da prata em Potosi:
“A vaga memória de seus esplendores, as ruínas de seus templos e palácios, e oito milhões de cadáveres de índios”.
Cálculos modernos estimam que, entre 1545 – o ano da descoberta das minas, e 1825 – quando as reservas do metal se esgotaram, Potosi produziu aproximadamente 31 mil toneladas de prata, o que representaria atualmente algo como US$ 32 bilhões. Foi esse tesouro que garantiu a boa vida de inúmeras gerações de nobres espanhóis. E foi parte dessa prata, escoada através de rios como o Paraguai e Paraná, a responsável pela fundação de importantes cidades nos chamados Países Platinos, onde se destacam: Buenos Aires (que foi refundada em 1580 – vide imagem), Santa Fé e Rosário, na Argentina, Montevideo e Colonia del Sacramento, no Uruguai, além de Assunção no Paraguai.
Inicialmente, o povoamento da região se deu pela preocupação da Coroa de Espanha na defesa do seu território contra a cobiça de nações rivais como a Inglaterra e Portugal. Com o passar do tempo, com o aumento da navegação fluvial, surgiram cidades e povoados com a finalidade de garantir o apoio logístico às expedições que desciam e subiam os rios da região, especialmente o Paraguai e Paraná. Com o crescimento da população de Potosi, toda a região mineradora se transformou num importante mercado consumidor de alimentos, bebidas, roupas e ferramentas, entre outros produtos. E as cidades da província, localizadas na bacia hidrográfica do rio da Prata, se transformaram em importantes produtoras e fornecedoras destes gêneros e produtos.
Surgiram nas margens dos rios fazendas dedicadas a agricultura e a pecuária; também nasceram oficinas de carpinteiros, tanoeiros, ferreiros, tecelões, sapateiros e toda uma gama de artesãos, estimulando cada vez mais o crescimento das populações e a estruturação das cidades. Mesmo com o esgotamento das reservas de prata no início do século XIX, a grande massa populacional em toda a região espanhola da bacia do rio da Prata possibilitou a conformação econômica que vem se desenvolvendo até os nossos dias. E a navegação fluvial através da região, destaque aos rios Paraguai e Paraná, está no centro desse desenvolvimento econômico e integração regional.
A Argentina e o Paraguai respondem atualmente por 84% de toda a infraestrutura portuária da Hidrovia Paraguai-Paraná, o que só reforça a importância da navegação fluvial para esses países. O Paraguai, que é hoje o mais pobre entre os países que formam o Mercosul, ao lado de Brasil, Argentina e Uruguai, possui a terceira maior frota de barcaças fluviais de carga do mundo, só ficando atrás dos Estados Unidos e da China. O país já é o quarto maior produtor e exportador de soja, e está em oitavo lugar na produção e exportação mundial de carne bovina – sem fachada oceânica, o Paraguai tem na Hidrovia Paraguai-Paraná a sua porta de saída para o mundo.
Respeitadas as questões ligadas à preservação ambiental do Pantanal Mato-grossense no trecho brasileiro do rio Paraguai e resolvidas as questões técnicas da interligação do alto e baixo rio Paraná na barragem da Usina Hidrelétrica de Itaipu, a integração cada vez maior do Brasil à Hidrovia Paraguai-Paraná tem tudo para se transformar em mais um importante eixo de integração e de desenvolvimento regional do país. O histórico da navegação nos países vizinhos nessas águas é altamente positivo e nós, brasileiros, só teremos a ganhar com a integração hidroviária.
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