COP 30 – CRÔNICA DE UMA TRAGÉDIA EXAUSTIVAMENTE ANUNCIADA 

A cúpula climática COP 30 foi mergulhada no caos na quinta-feira, após um incêndio destruir um salão de conferências em Belém, no Brasil, forçando a evacuação do local.” 

Com essa frase melancólica, o The Telegraph, um tradicional jornal da Grã-Bretanha, abriu uma extensa reportagem falando dos problemas enfrentados pelos participantes da COP 30, a reunião da cúpula climática da ONU – Organização das Nações Unidas, evento que foi vendido ao mundo como um “divisor de águas” para as questões do clima e das mudanças climáticas. 

Imagens de grandes labaredas de fogo consumindo as paredes de lona de parte das instalações construídas especialmente para o evento e de centenas de autoridades dos países participantes, delegados, jornalistas e público em geral evacuando o local correram o mundo, aumentando o constrangimento da organização. 

Desde o anúncio da escolha da cidade de Belém, no Estado do Pará, para sediar a cúpula climática, pessoas de bom senso e com algum conhecimento das precárias condições da infraestrutura da cidade amazônica começaram a levantar potenciais problemas. 

Localizada na região da foz do rio Amazonas, Belém concentra uma população de 2,5 milhões de habitantes em sua Região Metropolitana, sendo 1,3 milhão o número de moradores da capital paraense, o que coloca a cidade na 14ª posição entre as maiores cidades do Brasil. 

Os números grandiosos escondem problemas sociais dramáticos – de acordo com dados do Censo 2022, 55% dos moradores da cidade vivem nas chamadas “habitações subnormais”, o que trocado para a linguagem popular são as chamadas favelas. Aliás, Belém é a cidade mais “favelizada” do Brasil. 

E os dados negativos não param por aí – Belém ocupa a 8ª pior posição no Ranking do Saneamento 2025 do Instituto Trata Brasil, estudo que avalia o saneamento básico nas 100 maiores cidades do país. Um dos destaques aqui é a coleta dos esgotos da população, serviço que atende apenas 19,3% das residências. 

É claro que esses problemas socioambientais, por si só, não representariam nenhum impedimento para a realização da cúpula climática da ONU na cidade – o que vem sendo criticado há muito tempo foram as escolhas das obras preparatórias que seriam realizadas na cidade.  

Ao invés de se usar o evento para alavancar todo um conjunto de obras para começar a resolver muitos dos grandes problemas, autoridades e organizadores optaram por fazer uma grande “maquiagem” numa região da área central da cidade ou, como dizemos aqui no meu bairro, fazer obras para “inglês ver”. 

Uma das principais obras feitas para ficar como um legado da COP 30 na cidade foi o Parque da Cidade, um complexo de áreas verdes e de equipamentos culturais com área de 500 mil metros quadrados na região do Bairro da Sacramenta. A obra consumiu quase R$ 1 bilhão, sendo classificada como a maior obra urbana realizada em Belém nos últimos cem anos. 

Moradores de grandes centros urbanos, onde eu me incluo, adoram áreas verdes e não se cansam de falar sobre sua importância para a qualidade de vida. Entretanto, questionamos a prioridade para um gasto dessa magnitude numa cidade com problemas sociais e ambientais crônicos. 

Um detalhe dessa obra, que tratamos em uma postagem anterior, foi o uso de “árvores artificiais”, estruturas metálicas onde foram penduradas plantas arbustivas e trepadeiras de rápido crescimento. A desculpa para a inusitada criação – não haveria tempo hábil para o plantio e o crescimento de árvores, uma grande ironia para uma cidade localizada em meio a maior floresta equatorial do mundo, a Floresta Amazônica. 

Falando nela, não podemos deixar de falar da polêmica avenida de pouco mais de 12 km que foi construída para facilitar a ligação entre o Aeroporto de Belém e o bairro onde estão as instalações da COP. A obra, de grande importância para a mobilidade da população da cidade, provocou a derrubada de milhares de árvores de um fragmento urbano da Floresta Amazônica. Ou seja, a organização derrubou árvores aos montes para facilitar o acesso a um evento criado para proteger a floresta da destruição. 

Além desses problemas estruturais, os participantes do evento tiveram de enfrentar todo um rosário de provações: malha aérea problemática, falta e altos custos de locais de hospedagem, comida cara, sistemas de ar-condicionado subdimensionados, enchentes, goteiras, quedas de energia, invasão das instalações por manifestantes e indígenas, baixa adesão de líderes mundiais, entre muitos outros problemas. 

Para contornar parte desses problemas, a organização locou dois grandes transatlânticos de cruzeiro para oferecer acomodações para os participantes, a um custo de módicos R$ 500 milhões. Também foi necessário dar um reforço na rede elétrica local para garantir o fornecimento de energia para o evento – foram instalados 150 geradores com motores a diesel. Dezenas de milhares de litros de combustíveis fósseis foram queimados para manter esses sistemas em operação durante a cúpula climática.

Estimativas falam de gastos da ordem de R$ 5 bilhões (provavelmente foi muito mais) para realizar um evento mal organizado, cheio de improvisos e que não deverá ajudar muito na salvação do planeta. 

Para “fechar com chave de ouro” esse festival de vergonha alheia, artistas que foram contratados para realizar a deplorável “passeata dos bichos”, um dos eventos mais icônicos da conferência, realizaram um grande protesto na frente das instalações da COP 30. Sua reivindicação – cobrar o pagamento dos cachês artísticos combinados com a organização do evento.

Como brasileiro e estudioso da área ambiental, me sinto envergonhado por ter testemunhado esse festival de improvisos e desmandos num evento internacional de tamanha repercussão. Isso só reforça uma percepção supostamente e erroneamente atribuída a Charles de Gaule, ex-presidente da França, mas que faz muito sentido – “o Brasil não é um país sério”.

UM OUTRO LADO DA GUERRA NA UCRÂNIA: A CRISE HÍDRICA EM DONETSK 

Donetsk, capital do Oblast (região administrativa) de mesmo nome, é a quinta maior cidade da Ucrânia. De acordo com dados do censo de 2001, o último grande estudo populacional da Ucrânia, a cidade tem pouco mais de 900 mil habitantes e cerca de 2 milhões de habitantes vivem nos limites de sua área metropolitana. 

Localizado no sudeste da Ucrânia, o Oblast de Donetsk é sede de um importante polo industrial, além de concentrar importantes áreas de mineração. Cerca de 40% da população local é de origem russa. Sob a justificativa de perseguição étnica desse grupo pelos ucranianos, o Kremlin invadiu e anexou tanto o Oblast de Donetsk quanto outros vizinhos, fato que desencadeou a guerra entre a Rússia e a Ucrânia a partir de 2022. 

Notícias de ataques e contra-ataques espetaculares de lado a lado vem ocupando as manchetes dos noticiários e redes sociais. De acordo com estimativas de organismos internacionais, a Rússia já sofreu 950 mil baixas, sendo 250 mil mortos. A Ucrânia teve até o momento 400 mil baixas, sendo estimados entre 60 mil e 100 mil o número de mortos.  

Além de militares, as baixas envolvem milhares de civis mortos ou feridos, dezenas de milhares de deslocados e centenas de bilhões de dólares de perdas econômicas. Como acontece em toda guerra, as tragédias humanas, econômicas e ambientais se somam e são sempre enormes para todos os lados envolvidos. 

Por detrás dos ataques de altíssima precisão de mísseis e drones, ou dos avanços e conquistas territoriais dos batalhões de infantaria, existe uma face do conflito que quase nunca é mostrada – a tragédia humana das populações de cidades que se encontram no fogo cruzado dos exércitos. A crise hídrica vivida pelos moradores de Donetsk é um bom exemplo. 

Ao longo da década de 1950, quando a então República Socialista Soviética da Ucrânia vivia um período de forte crescimento econômico e o Oblast de Donetsk se destacava, foi construído o canal Sivask-Donetsk-Donbas, um sistema de transposição entre bacias hidrográficas com cerca de 135 km. Esse sistema garantiria o abastecimento de água para a população por mais de 70 anos. 

Com o início do conflito em 2022, os volumes de água que efetivamente chegavam até a cidade de Donetsk e região começaram a ser reduzidos sistematicamente. Ações de artilharia dos dois exércitos atingiram estações de bombeamento do sistema e danificaram trechos do canal. Redes de energia elétrica que alimentam os sistemas de bombeamento passaram a sofrer frequentes interrupções e não há segurança para os trabalhos de equipes de reparos. 

Além desses problemas técnicos, existe um outro agravante – as nascentes dos rios que alimentam o sistema ficam dentro de território da Ucrânia. O país vítima da invasão militar da Rússia não demonstra o menor interesse em dar manutenção num sistema de abastecimento de água que vai beneficiar o inimigo. E a população civil das áreas invadidas é quem mais sofre. 

Nas regiões centrais da cidade, segundo o testemunho de moradores ouvidos por repórteres, as torneiras recebem água uma vez a cada três dias. Além da baixíssima pressão nos canos, o que impede que a água supere o segundo andar dos prédios, a qualidade do líquido é péssima. 

Em regiões periféricas de Donetsk e nas cidades vizinhas da região metropolitana, a situação é ainda pior – as torneiras chegam a ficar até doze dias sem receber uma única gota de água. O abastecimento só não colapsou ainda por que as autoridades russas passaram a deslocar caminhões pipa, o que vem garantindo, com muito esforço e paciência dos moradores, alguns poucos litros de água a cada dia. 

Ações mais elementares do dia a dia como tomar banho, escovar os dentes, lavar as mãos ou até mesmo higienizar alimentos tornarem-se luxos para a maioria dos locais. Doenças gastrointestinais, associadas diretamente a falta de higiene, aumentam exponencialmente. 

Logo após a tomada do Oblast de Donetsk e diante dos iminentes problemas para o abastecimento de água da população, as autoridades russas iniciaram a construção emergencial de um sistema de tubulações para o transporte de água a partir do rio Don, um dos maiores do sul da Rússia. 

Com cerca de 190 km de extensão, esse sistema foi vendido como a “tábua de salvação” para inúmeras cidades do Oblast como Donetsk e Mariupol. Desgraçadamente, a construtora que “ganhou” a concorrência se envolveu em toda uma rede de desvios de dinheiro e pagamentos de subornos. Calcula-se que um volume equivalente a US$ 930 milhões “desapareceu” durante as obras e água nunca chegou em volume suficiente para atender as necessidades das populações. 

A crise hídrica não está afetando apenas a população civil local – os esforços militares dos russos na região também estão sendo impactados. Um exemplo são os acampamentos montados para abrigar as tropas, que estão sendo instalados em locais próximos de fontes de água e distantes dos fronts de combate. 

A baixa disponibilidade de água também está afetando o trabalho dos soldados. Entre inúmeros problemas, trabalhos físicos pesados como a escavação de trincheiras estão limitados a períodos de uma a duas horas por dia. Serviços mais complexos de manutenção de veículos e equipamentos militares só podem ser feitos em oficinas distantes dos fronts

Soldados treinados para combater inimigos no campo de batalha agora também precisam lutar contra a sede. Notícias de rebeliões contra as péssimas condições das tropas têm crescido. 

E nada do que já está caótico não pode piorar ainda mais – a chegada iminente do rigoroso inverno poderá complicar ainda mais qualquer perspectiva de manutenção ou de reconstrução do sistema de abastecimento de água na cidade de Donetsk ou qualquer outra da região. 

A pergunta que fica: quem vai vencer a guerra na região: os ucranianos, os russos ou a seca? 

A CRISE HÍDRICA NO IRÃ OU, LEMBRANDO DO LAGO ÚRMIA 

Nas últimas décadas o Irã investiu pesado na construção da imagem de superpotência militar do Oriente Médio. Além de fortes investimentos em homens e equipamentos bélicos para as suas forças militares tradicionais, o país passou a se esforçar muito para dominar o ciclo da energia (e porque não dizer das armas) nucleares. 

Nos últimos meses essa escalada armamentista desaguou numa guerra aberta contra o Estado de Israel, conflito que só entrou num compasso de espera após uma vigorosa e desproporcional intervenção dos Estados Unidos – os norte-americanos lançaram cargas pesadíssimas de bombas sobre diversas instalações nucleares do país, levando a uma “pausa forçada’” nas agressões. 

O discurso belicoso das autoridades iranianas, que dominava as redes sociais e canais de notícias, subitamente foi mudado nas últimas semanas – do ufanismo de uma gloriosa vitória contra os “sionistas”, o país passou a falar de um iminente colapso dos sistemas de abastecimento de água nos próximos meses. 

Os mais importantes reservatórios de água do Irã estão com níveis baixíssimos e, caso não cheguem as chuvas, a população do país poderá ficar sem água dentro de poucas semanas. Essa situação é o resultado de uma forte seca que já dura cinco anos e da falta de uma gestão adequada dos recursos hídricos do país. 

Em algumas regiões do Irã as temperaturas têm ultrapassado a marca de 50º C nas últimas semanas – na cidade de Shabankareh, localizada próxima da fronteira com o Iraque, os termômetros atingiram a inacreditável marca de 52,8º C. Na capital do país – Teerã, as temperaturas frequentemente vêm superando os 40º C. O volume de chuvas em grande parte do país caiu 50% nos últimos anos. 

Com aproximadamente 1,65 milhão de km², o território do Irã é formado em grande parte por regiões áridas e semiáridas. Desde a antiguidade, os iranianos vêm travando uma luta contra a escassez de recursos hídricos. Um exemplo são o qanats, tuneis subterrâneos para o transporte de água. Em tempos modernos, o país investiu pesado na construção de represas – já eram 647 grandes reservatórios de armazenamento de água em 2018. 

Um exemplo é a Barragem de Latyan na região de Teerã, projetada para armazenar até 95 milhões de metros cúbicos de água. Atualmente, o complexo está com um volume armazenado de apenas 9 milhões de metros cúbicos, o que mostra o tamanho do problema. Não basta simplesmente ter água – é preciso gerenciar o consumo cuidadosamente.

As fontes subterrâneas não estão em condições melhores. Estudos indicam que o nível do lençol freático em Teerã baixou 12 metros nos últimos vinte anos, um problema que se reverte no afundamento do nível do solo em vários bairros da cidade. Estudos geológicos mais complexos mostram um quadro ainda mais catastrófico. 

Os solos do Irã guardavam desde tempos imemoriais um volume equivalente a 500 bilhões de metros cúbicos de água. Desse volume, um total de 200 bilhões de metros cúbicos já foram explorados e a maior parte do volume restante é formado por águas salobras, inadequadas para o consumo humano e agricultura. 

O maior consumidor de água no país é a agricultura, que consome entre 70% e 90% da água disponível, nada muito distante da média mundial (no Brasil, o volume corresponde a 70% do consumo global). O problema é o desperdício de água devido ao uso de sistemas e técnicas de irrigação obsoletos, onde volumes de até 70% são perdidos para a evaporação. Alguns cálculos indicam que cerca de 50 bilhões de metros cúbicos de água são desperdiçados pela agricultura iraniana a cada ano. 

Outro problema dessa complexa engrenagem é o alto consumo per capita pela população. Em alguns bairros de Teerã, citando um único exemplo, o consumo diário dos moradores chega aos 400 litros. Esse volume é quase três vezes maior que o consumo médio de um paulistano e quatro vezes maior do que o que é recomendado pela OMS – Organização Mundial da Saúde. 

A má gestão dos recursos hídricos no Irã não é um problema recente. Um exemplo do descaso com o problema é mostrado pelo caso do Lago Úrmia, localizado na província do Azerbaijão (não confundir com o país vizinho), no nordeste do Irã. 

O Úrmia já foi o maior lago de águas salgadas do Oriente Médio, com um espelho d’água que chegava a 6 mil km². Localizado no centro de uma grande depressão cercada por cadeias de montanhas, o lago é alimentado principalmente pela água de degelo de glaciares. A bacia hidrográfica, que é do tipo endorreica (sem saída para o mar) tem aproximadamente 52 mil km². 

Assim como aconteceu com outros lagos do mundo, projetos de agricultura irrigada passaram a consumir a maior parte das águas de rios que corriam na direção do Lago Úrmia. Conclusão – em 2013, o espelho d’água estava reduzido a meros 500 km². Para piorar a situação, o sal acumulado no fundo do lago passou a ficar exposto ao vento e foi espalhado por grandes áreas vizinhas, comprometendo a fertilidade dos solos. 

Após o caos instalado, as autoridades iranianas resolveram se mexer e diversas medidas foram tomadas para reduzir o consumo de água pelos agricultores locais. Dados de 2020 mostram que o lago está se recuperando gradualmente – o espelho d’água atingiu a marca de 3,1 mil km². 

Infelizmente, o zelo tardio que passou a ser dedicado ao Lago Úrmia passou longe da imensa maioria das fontes de água do Irã. O esgotamento das fontes de água é iminente e não existe um plano “B” a vista. 

A pergunta é – o que fazer para abastecer uma população de mais de 90 milhões de habitantes do país daqui para a frente? 

DESCOBERTA: LAGARTA DE MARIPOSA PODE DEGRADAR E COMER PLÁSTICOS 

Mudanças climáticas estão acontecendo por todos os cantos do mundo e podem ser percebidas, em maior ou menor grau, por cidadãos comuns. 

Cito como exemplo minha cidade – São Paulo. Até o final da década de 1970, as tardes paulistanas testemunhavam a garoa, uma chuva com finíssimas gotas de água. Esse singular fenômeno climático não só foi desaparecendo gradualmente como as temperaturas médias na cidade foram aumentando. 

Esse tipo de mudança no clima vem ocorrendo naturalmente ao longo dos mais de 4 bilhões de anos da história do nosso planeta. Agora, existem sérias dúvidas sobre a participação ou culpa das atividades humanas nas atuais mudanças climáticas. 

Os problemas mudam de perspectiva quando Governos passam a acreditar que podem tomar medidas para conter ou reverter as mudanças climáticas. Criam legislações, programas políticos, fundos de investimentos verdes, entre inúmeras outras ações, sempre com resultados questionáveis. 

Pessoalmente, não acredito na eficácia de ações governamentais no combate às “ditas” mudanças climáticas e defendo que a ciência é quem poderá fornecer resultados comprovadamente assertivos. Vejam esse exemplo: 

Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, demonstrou que as lagartas da mariposa Galleria mellonella, também chamada de traça-da-cera ou traça-da-colmeia, podem se alimentar de plásticos – especialmente o polietileno, um dos tipos mais produzidos no mundo. 

A poluição de solos e águas – principalmente dos oceanos, por resíduos de plásticos é um dos maiores problemas ambientais dos nossos tempos. A produção anual de sacolinhas plásticas de polietileno do tipo usado por lojas e supermercados, somente para citar um exemplo, é calculada em 1 trilhão de unidades. Grande parte desse volume acaba sendo descartado de forma inadequada no meio ambiente.

Experimentos conduzidos durante a pesquisa mostraram que essas lagartas podem quebrar as ligações químicas do plástico durante o processo digestivo. Esse processo é semelhante ao realizado por essas lagartas ao comerem a cera das colmeias de abelhas, um dos seus alimentos prediletos. 

De acordo com as observações dos pesquisadores, a saliva das lagartas possui enzimas que podem oxidar o plástico, introduzindo moléculas de oxigênio nas ligações das cadeias do material e quebrando-as em moléculas menores. 

Também existem evidências da presença de uma flora bacteriana especial no intestino das larvas que, em conjunto com as enzimas da saliva, desempenha um importante papel na digestão do plástico. Pesquisas para desvendar esse complexo mecanismo prosseguem e poderão levar a importantes descobertas de novas tecnologias para a degradação de resíduos plásticos. 

Um detalhe importante desse mecanismo biológico – lagartas “engordadas” a partir do consumo de plásticos podem ser usadas para alimentar peixes criados em cativeiro, sem qualquer prejuízo para a saúde dos animais. O potencial econômico criado por essa particularidade poderá incentivar o surgimento de “fazendas” de criação de lagartas comedoras de plástico e de produção de peixes em cativeiro. 

Quando a ciência e o lucro financeiro dão as mãos, as chances de sucesso da iniciativa crescem exponencialmente. Já as iniciativas governamentais, por mais bem intencionadas que sejam, raramente podem garantir sucesso financeiro, desestimulando as iniciativas. 

Torçamos pela ciência e que outras soluções desse tipo sejam descobertas! 

ESTUDO REVELA: 41% DAS CRIANÇAS NORTE-AMERICANAS ACREDITAM QUE O BACON É DE ORIGEM VEGETAL 

O título da postagem pode até parecer brincadeira, mas não é. 

De acordo com um estudo publicado no Journal of Envionmental Psycology, 41% das crianças dos Estados Unidos acreditam que o bacon, mais conhecido entre nós brasileiros como toucinho, vem de uma planta. E as “surpresas” não param por aí – as crianças também acham que as batatas fritas são de origem animal. 

No rol dos alimentos de “origem” vegetal, as crianças incluíram também as salsichas, os queijos e os nuggets de frango. Grande parte das crianças pesquisadas também afirmou que vacas, porcos e frangos não são comestíveis. 

O estudo, conduzido por uma equipe de psicólogos, reuniu 176 crianças do Sudeste dos Estados Unidos, com idades entre 4 e 7 anos. Nas conversas com as crianças, os pesquisadores buscaram apontar a origem de alimentos populares como pipoca, queijo, ovos, camarão, amêndoas, batata frita e bacon. 

Alguns dos resultados: 47% das crianças acreditavam que as populares batatas fritas vem dos animais; 44% apontaram os queijos como de origem vegetal e 38% acreditavam que os nuggets de frango são feitos com folhas e legumes. 

Além do bacon, 40% das crianças também pensavam que as salsichas vinham de plantas. Com relação ao consumo de carnes de origem animal, 77% afirmaram que as vacas não podem ser consumidas – 73% e 65%, respectivamente, disseram o mesmo em relação aos porcos e frangos. 

Uma informação surpreendente – 1% das crianças ouvidas afirmou que a areia pode ser considerada um alimento. Apesar da amostragem ser muito pequena, o estudo abre importantes questionamentos sobre a educação ambiental que está sendo oferecida a essas crianças. 

A intensa urbanização que a grande maioria dos países e povos experimentou nas últimas décadas, afastou a maioria das pessoas do contato direto com o meio natural. O contato que muitos desses “urbanóides” têm com animais se resume às interações com pets – cachorros, gatos e peixinhos dourados, entre outros. 

No quesito flora, a grande maioria dos contatos fica reduzida aos jardins domésticos e parques urbanos como o Ibirapuera, um dos mais famosos aqui da cidade de São Paulo. Alguns poucos têm um contato um pouco mais profundo com a natureza quando viajam para algum sítio e/ou cidade interiorana. 

Dentro desse cenário, não é de se estranhar a falta de intimidade das crianças com a origem dos alimentos consumidos no dia a dia. Eu consigo imaginar facilmente a resposta de uma criança dessas ao questionamento sobre a origem de algum alimento de origem animal – “do balcão de congelados do supermercado”. 

Fugindo um pouco de análises superficiais ou até mesmo “engraçadinhas” das respostas dadas pelas crianças envolvidas nesse estudo, é preciso analisar com mais profundidade o que pode estar envolvido na questão. Pessoalmente, fico preocupado com os “discursos” ambientalistas que proliferam por todos os lados. 

Animais como vacas e ovelhas, que desde a origem da humanidade, sempre foram fontes importantes de alimentos como carne e leite, e matérias primas como couro e lã, de repente passaram a ser descritos como fontes ambulantes de GEE – gases de Efeito Estufa, como o metano, liberado em grandes quantidades por arrotos e flatulências desses animais. 

Para a produção de grãos, frutas, legumes e outros alimentos de origem vegetal, grandes áreas de matas são suprimidas para a formação de solos agrícolas. Grandes quantidades de fertilizantes e pesticidas também precisam ser utilizadas para garantir a alta produtividade. 

Os discursos costumam ser reforçadas pela valorização da produção orgânica de alimentos, onde não se usam fertilizantes químicos e pesticidas, com grande integração às áreas florestais do entorno. Alimentos de origem animal como as carnes são desestimulados. 

Será que essa visão “cor de rosa” (ou extremamente esverdeada) da produção dos alimentos no mundo não está sendo reprocessada e amalgamada pelos pais nas suas conversas com os filhos? Ou será que esses pais simplesmente não conversam sobre o assunto com seus filhos? 

Essa questão, embrionária neste momento, precisa ser ampliada e discutida com bastante seriedade. A população mundial já superou a marca de 8 bilhões de habitantes e alimentar adequadamente (e diariamente) toda essa gente não é brincadeira.  

Dentro de, no máximo, vinte anos, essas crianças já estarão no mercado de trabalho, votando em seus representantes políticos e começando a formar suas próprias famílias. Ou seja, vão decidir sobre a educação de seus próprios filhos e os destinos dos seus países. 

A base dos seus conhecimentos – em especial a educação ambiental, deve começar a ser pavimentada hoje. 

A ASCENSÃO E A QUEDA DOS PARDAIS 

O pardal (Passer domesticus) é uma das aves mais disseminadas e comuns do mundo. De acordo com estudos científicos, a família Passeridae, que inclui diversas espécies de pardais, é originária do Leste da África e dali se disseminou por todo o Norte da África, Eurásia e Oriente Médio. As aves foram introduzidas propositalmente em outras regiões do mundo como as Américas e a Austrália. 

A história dos pardais aqui no Brasil é bastante curiosa. As aves foram introduzidas na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX para combater uma grande infestação de mosquitos Aedes aegypti. Naquele momento, a antiga Capital Federal do Brasil enfrentava uma série de doenças como febre amarela, que é transmitida pelo mosquito Aedes, além de varíola, peste bubônica, malária, tifo e tuberculose. O responsável pela importação e soltura dos pardais na cidade foi o então Prefeito Pereira Passos.  

Francisco Franco Pereira Passos (1836-1913), prefeito indicado da cidade do Rio de Janeiro entre 1902 e 1906, iniciou uma série de obras que tinham como objetivo a modernização da cidade. Inspirado nas reformas urbanas da cidade de Paris décadas antes, Pereira Passos desapropriou grandes áreas para a construção de largas avenidas e praças, iniciou a modernização da área do porto da cidade e a construção do Teatro Municipal, do Museu Nacional de Belas Artes e da Biblioteca Nacional.   

Consta que muitos cortiços foram demolidos e que os moradores se refugiaram nos morros, dando origem a algumas das mais famosas favelas cariocas. Parte importante do legado de Pereira Passos foram os trabalhos na área de saneamento básico e de higienização da cidade, cuja coordenação foi confiada ao médico sanitarista Oswaldo Cruz, empossado como diretor do Serviço de Saúde.  

Muitas das ações de Oswaldo Cruz não foram muito bem recebidas pela população, levando ao episódio que ficou conhecido como a Revolta da Vacina de 1904. Os agentes de saúde entravam nas residências, muitas vezes a força, buscando focos de mosquitos e de ratos, o que não era totalmente compreendido pela população. Quando o governo tornou obrigatória a vacinação contra a varíola, a população tomou as ruas e entrou em confronto com as forças de segurança.  

Uma das ações polemicas do período foi a importação de 200 pardais de Portugal em 1903. Alguns cientistas haviam afirmado ao Prefeito Pereira Passos que essas aves eram vorazes comedoras de insetos e que, uma vez introduzidas na cidade do Rio de Janeiro, atuariam como um agente biológico natural para o controle da população de mosquitos. As aves foram soltas no Campo de Santana, em cerimônia com pompa e muito protocolo. 

O estratagema criado por Pereira Passos, é claro, não chegou nem perto dos resultados que eram esperados. Os pardais não conseguiram acabar com a infestação de mosquitos na cidade do Rio de Janeiro e ainda se transformaram em uma perigosa espécie invasora no país. 

O pardal é uma ave robusta e rústica, acostumada a enfrentar os invernos rigorosos da Europa e da Ásia. Na competição natural contra os pássaros nativos, o pardal não encontrou competição à sua altura e acabou se espalhando com facilidade por todo o país. Cambacicas, corruíras, sanhaços, sabiás, bem-te-vis, tico-ticos e outras espécies de pássaros de menor porte da Mata Atlântica foram facilmente derrotados.   

Com o passar dos anos, as aves começaram a migrar para outros biomas, inclusive para a Região Amazônica e países vizinhos, ocupando nichos ecológicos de outras espécies de aves. Pouco a pouco, os pardais passaram a fazer parte da paisagem de cidades por todo o Brasil. É impossível calcular o tamanho do estrago causado ao meio natural pela introdução dos pardais em nossas terras. 

O mundo deu muitas voltas e, de alguns anos para cá, os pardais passaram a experimentar do seu próprio veneno – inúmeras espécies de aves que antes ocupavam espaços em áreas rurais do país passaram a migrar para as cidades, roubando os espaços conquistados pelos pardais ao longo de um século. E, muito pior, esse fenômeno está se repetindo em diversas regiões do mundo. 

Um estudo do Instituto de Biodiversidade e Biologia Evolutiva de Valência, na Espanha, apontou algumas das causas para esse “súbito” desaparecimento dos pardais. Destacam-se: perda de locais para nidificação, má qualidade da alimentação, choque com vidraças, ruído e poluição e, especialmente, a redução das áreas verdes nas cidades. Dentro do campo especulativo, muita gente associa esse desaparecimento às mudanças climáticas.

Um outro estudo, do Imperial College de Londres, buscou entender o fenômeno da migração de outras espécies de aves desde áreas rurais para os centros urbanos. Segundo os pesquisadores, a produção agrícola mecanizada reduziu enormemente a perda de grãos, uma das principais fontes de alimento das aves; defensivos agrícolas, por sua vez, reduziram as populações de insetos, sua principal fonte de proteínas. 

A chegada desses grandes contingentes de “imigrantes rurais” passou a pressionar e a ocupar os espaços que haviam sido conquistados pelos pardais. Cito um exemplo: aqui nas minhas vizinhanças, na Zona Sul da cidade de São Paulo, tenho visto com frequência cada vez maior outras espécies como maritacas, gaviões e sanhaços, citando só algumas aves, e cada vez menos pardais. 

Pobres pardais: de ave invasora bem-sucedida a indigente expulso das cidades. Mais uma ascensão e queda de um “império” para os anais da história. 

O AUMENTO DO CONSUMO DE ENERGIA E OS RISCOS PARA AS REDES ELÉTRICAS EM TODO O MUNDO, OU A CULPA É DA IA – INTELIGÊNCIA ARTIFICAL 

No início da tarde do último dia 12 de maio, um incêndio atingiu a subestação de energia elétrica de Maida Valey, na Zona Oeste da cidade de Londres. O problema foi rapidamente identificado pela central de controle do sistema elétrico da região, que numa manobra precisa redirecionou os circuitos da rede elétrica. Ao mesmo tempo, equipes de bombeiros chegaram ao local e controlaram um incêndio nos cabos elétricos da subestação. 

Como resultado do incêndio, diversas linhas da rede do sistema de metrô de Londres ficaram paralisadas por alguns minutos, o que acabou criando um verdadeiro caos na rede de transportes da cidade. Foram necessárias várias horas para normalizar todo o sistema. 

Esse incidente trouxe à tona os imensos problemas vividos poucas semanas antes pela Espanha e Portugal, países atingidos por um enorme apagão da rede elétrica. Algumas regiões desses países chegaram a ficar dois às escuras até que todo o fornecimento de energia elétrica fosse completamente restaurado. 

Os dois casos expõem um dos grandes desafios de nossos tempos – o consumo de energia não para de crescer e a infraestrutura dos sistemas de geração e distribuição de energia elétrica estão obsoletos. 

A situação fica mais complicada quando incluímos na conta uma mudança forçada das fontes de geração de energia elétrica, especialmente na Europa. Devido a restrições ambientais, grande parte dos países europeus passaram a desativar as confiáveis centrais de geração termelétrica a carvão e passaram a investir em fontes renováveis de geração como a solar e a eólica. 

Outra fonte importante, as centrais nucleares, também passaram a sofrer pressão por parte de grupos ambientalistas e políticos. A Alemanha, maior economia da Europa, desativou em abril de 2023 as suas últimas três usinas nucleares ainda em operação. Na Espanha, duas usinas nucleares estão em processo de descomissionamento. 

No caso da Espanha, a maior parte da geração de energia elétrica vem de fontes limpas – 59% de centrais fotovoltaicas (placas solares) e 11% de redes eólicas (ventos). O restante da geração é complementado por fontes de energia hidroelétrica, termelétricas – especialmente de centrais que queimam gás natural, e centrais nucleares remanescentes. 

Apesar de aparentar ter uma matriz energética limpa e renovável, a rede elétrica da Espanha demonstrou ser extremamente vulnerável a falhas sistêmicas graves, como ficou explícito no recente apagão. De acordo com diversos especialistas, a principal vulnerabilidade da rede elétrica da Espanha é o grande percentual de fontes de geração renovável. 

De acordo com os especialistas, geradores eólicos e solares geram corrente contínua, a mesma encontrada nas baterias. A rede elétrica utiliza corrente alternada para a distribuição de energia elétrica, o que exige o uso de equipamentos eletrônicos conhecidos como inversores. Esses equipamentos transformam a corrente contínua em corrente alternada. 

Os inversores utilizam circuitos de proteção que são bastante sensíveis a oscilações nos sistemas geradores. Uma vez que uma falha for detectada, os circuitos de proteção desligam automaticamente. Aparentemente, foi isso o que aconteceu na Espanha e que levou ao desligamento de grande parte da rede elétrica do país e de Portugal. 

Sistemas de geração de energia elétrica em centrais hidrelétricas, termelétricas e nucleares possuem uma inércia mecânica muito grande e são menos suscetíveis a falhas. Uma turbina de uma hidrelétrica, por exemplo, vai continuar girando por força da inércia por um longo tempo após o fechamento do fluxo de água. 

Mais grave que os problemas de infraestrutura, o consumo de energia elétrica está crescendo em todo o mundo, especialmente por causa do uso cada vez maior de centrais de processamento de dados e servidores de dados. Um dos grandes vilões desses tempos modernos é o uso cada vez maior dos sistemas de IA – Inteligência Artificial. Especialistas estimam que esses sistemas vão incrementar o consumo de energia elétrica em 165% até 2030. 

Nos Estados Unidos, os data centers consumiam cerca de 3% da energia elétrica disponível em 2022. De acordo com as projeções, esse consumo vai chegar a 8% da energia elétrica disponível em 2030. Serão necessários investimentos em infraestrutura de geração e distribuição de energia elétrica da ordem de US$ 50 bilhões, somente para suprir essa demanda. 

Na Europa, a demanda por energia elétrica deverá aumentar entre 40% e 50% até 2033. Atualmente, a Europa concentra 15% dos data centers do mundo e será necessário um investimento conjunto de 1,65 trilhão de Euros em geração e distribuição de energia elétrica para atender o aumento da demanda. 

De acordo com estudos da instituição financeira Goldman Sachs, os data centers vão consumir cerca de 122 GW de energia elétrica em 2030. Para efeito de comparação, isso equivale ao volume de energia elétrica gerado por 8 usinas hidrelétricas do porte de Itaipu. 

Aqui entra um grande complicador – os data centers funcionam 24 horas por dia. Sistemas baseados em placas fotovoltaicas dependem da energia do sol que, como todos sabem, só está “disponível” durante metade do dia. A energia do sol também é fundamental para a formação das correntes de vento que movem as pás dos geradores eólicos – à noite, o vento tende a enfraquecer. 

Parece que a humanidade chegou numa encruzilhada: ou se investe em novas fontes de geração de energia elétrica – limpas e renováveis e/ou fósseis e nucleares, ou o mundo digital vai começar a ruir dentro de poucos anos. 

Ficar parado discutindo o futuro será um desastre! 

A DESTRUIÇÃO DE FLORESTAS NATIVAS NA… ROMÊNIA

A IKEA, empresa multinacional sueca que, desde 2008, é considerada a maior fabricante de móveis de madeira do mundo, foi colocada no banco dos réus após a divulgação de um relatório do Greenpeace, uma das maiores organizações ambientalistas do mundo. A acusação: produção e venda de móveis fabricados com madeiras extraídas ilegalmente de florestas nativas na Romênia. 

Com uma rede de mais de 460 lojas em 59 países, a IKEA ganhou fama mundial pela criação e produção de móveis com design minimalista e funcional, aliando beleza e praticidade. Além de móveis, as lojas também vendem artigos de decoração, eletrodomésticos, utensílios domésticos e acessórios para o lar, além de alimentos. 

Um dos diferenciais criados pela IKEA foi a venda de móveis em kits, onde a montagem fica por conta do comprador. O conceito tinha como objetivo baratear o preço de venda e reduzir o consumo de materiais de embalagem. Graças a isso, a empresa foi uma das primeiras a ser associada ao conceito de “amiga da natureza”. 

O relatório do Greenpeace caiu como uma bomba no colo da empresa. 

A Romênia produz cerca de 40 milhões de metros cúbicos de madeira a cada ano. Segundo estudos do Greenpeace, metade desse volume tem origem na exploração ilegal de florestas nativas, especialmente da região dos Montes Cárpatos.  

Segundo o Greenpeace, sete fornecedores da IKEA são compradores usuais de parte dessa madeira ilegal. A organização conseguiu rastrear mais de 30 produtos produzidos por essas empresas até 13 lojas da IKEA em países como a França, Alemanha e Inglaterra. 

A IKEA, como é do seu direito, vem se defendendo das acusações e reafirmando seus compromissos com a sustentabilidade ambiental e uso de madeira certificada e de origem em áreas de reflorestamento. A empresa também afirma possuir 2.800 km² de floretas próprias, sendo que 500 km² dessas florestas ficam na Romênia. Entretanto, ficou numa situação no mínimo embaraçosa depois dos móveis terem sido encontrados em suas lojas. 

Os Montes Cárpatos formam uma cordilheira com cerca de 1.500 km de comprimento, que se estende entre a Europa Central e o Leste Europeu, incluindo áreas na República Checa, Eslováquia, Polônia, Romênia e Ucrânia. Suas montanhas e vales abrigam os maiores fragmentos de floresta nativa da Europa e importantes populações da fauna silvestre como ursos-pardos, lobos, camurças e linces. 

A área total dos Montes Cárpatos é de 209 mil km², sendo que 53% dessa área fica na Romênia, o que coloca o país no centro dos problemas de exploração ilegal de madeira na Europa. A questão é agravada pela ineficiente estrutura burocrática do Governo local herdada dos tempos do comunismo. Segundo afirmações do Greenpeace, funcionários públicos responsáveis pela fiscalização da atividade e pela gestão das áreas de preservação ambiental são, muitas vezes, facilmente corrompíveis pelos madeireiros. 

Uma das regiões romenas onde o problema é mais grave é a Transilvânia, região localizada no centro do país e que ganhou fama em todo o mundo através das histórias de vampiros como o conde Drácula, imortalizado no livro de Bram Stoker. A região é em grande parte de difícil acesso e tem uma população bastante rarefeita, o que facilita as atividades ilegais. 

As florestas dos Montes Cárpatos abrigam um terço de todas as espécies vegetais da Europa e escondem alguns dos últimos refúgios para a fauna silvestre do continente. Um dos símbolos da região são os ursos-pardos romenos (Ursus arctos), uma subespécie que pode atingir até, 2,2 metros de altura e pesar de 100 a 350 kg. 

As florestas da Romênia abrigam cerca de 60% da população total de ursos-pardos da Europa. A população de ursos romenos é estimada entre 4.350 e 6.000 animais, sendo encontrados principalmente em regiões de montanha com vegetação espessa. Os ursos são animais onívoros que dependem de florestas saudáveis e ricas em alimentos como ervas, cogumelos, frutas e animais selvagens para caça. 

A destruição sistemática e silenciosa de grandes áreas dessa importante região florestal é desastrosa em todos os sentidos. Além de ameaçar alguns dos últimos refúgios para a vida selvagem da Europa, a exploração ilegal de madeira no Cárpatos também dá a sua contribuição para uma das pautas preferidas dos ambientalistas – sobretudo europeus: a destruição das florestas e seus impactos no clima global. 

A Floresta Amazônica, que fica num outro continente do outro lado do Oceano Atlântico, é presença marcante nos discursos dos ambientalistas europeus. Entretanto, as florestas dos Montes Cárpatos, que ficam a pouco mais de 1.500 km dos principais centros políticos da Europa Ocidental, acabam ficando num segundo plano bem distante. 

O recente caso da IKEA e de seus móveis fabricados com madeira extraída ilegalmente dentro da Europa, é um exemplo claro de que muito do discurso ambiental é mais ideológico do que uma preocupação simples e sincera com a preservação da vida no nosso planeta. 

A ANTÁRTIDA SURPREENDE E A CAPA DE GELO VOLTA A CRESCER

Notícias tratando do aquecimento global, da destruição e queima das florestas tropicais, do aumento do nível do oceano e do derretimento da capa de gelo do Ártico e da Antártida são repetidas praticamente todos os dias nas redes sociais e nos noticiários. O mundo estaria vivendo uma crise climática sem precedentes e o futuro da humanidade estaria em risco. 

Problemas ambientais, é claro, estão por todos os lados e não podemos enterrar a cabeça na areia como um avestruz para fingir que não estamos vendo nada. Entretanto, como sempre costumamos repetir aqui nas nossas postagens, ainda não existe certeza científica sobre a origem de muitos dos problemas ambientais que estamos testemunhando. 

Uma notícia recente sobre o aumento da capa de gelo da Antártida vem corroborar o grau de incerteza sobre as origens de muitos desses males. 

De acordo com dados do NSIDC – Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos, a taxa de perda de gelo marinho da Antártida durante os meses quentes da primavera, que se estendem de novembro a dezembro, diminuiu para níveis abaixo da média dos últimos anos. 

Entre os anos de 2021 e 2023, a capa de gelo da Antártida ganhou cerca de 108 gigatoneladas de massa por ano, um aumento recorde. No final de 2024, a extensão do gelo marinho no continente gelado chegou a 7,3 milhões de km², uma área muito próxima da média observada entre 1981 e 2010. 

Os pesquisadores ainda não têm certeza do que causou essa recuperação impressionante da extensão do gelo marinho na Antártida ou se estamos falando de uma mudança temporária ou definitiva. O que é certo é que ainda precisamos aprender muito sobre o clima da terra e seus ciclos ao longo do tempo. 

Nos últimos 40 anos, a velocidade do derretimento do manto ou capa de gelo da Antártida aumentou em cerca de 6 vezes. Estudos vinham mostrando que a Antártida perdeu cerca de três trilhões de toneladas de gelo nos últimos 20 anos. Além da incidência direta do calor do sol, esse derretimento também vem sendo provocado pelas águas mais quentes dos oceanos, que derretem e desestabilizam as bordas das plataformas de gelo flutuante. 

Entre outros males, o aumento das temperaturas do planeta tem provocado o derretimento de grandes massas de gelo no Ártico, na Antártida (ou Antártica, que muitos especialistas afirmam ser a melhor grafia) e em geleiras localizadas em altas montanhas. A consequência direta de tudo isso é um aumento gradual do nível dos oceanos – 1,4 centímetro de aumento entre 1979 e 2017. Isso pode parecer pouco, mas já pode estar causando muitos estragos pelo mundo afora.   

Se essa tendência se mantiver, o aumento do nível dos oceanos até o ano de 2100 chegará a cerca de 15 centímetros. A partir de então, o derretimento do gelo da Antártida poderá representar um aumento de 5 milímetros por ano no nível dos oceanos. Mantido esse cenário, o nível dos oceanos poderá aumentar cerca de 1,5 metro até o ano 2300, um cenário nada animador para as futuras gerações.   

Para mostrar o quão preocupantes são as questões ligadas ao derretimento da capa de gelo da Antártida e do aumento do nível dos oceanos, vejamos os impactos que estão sendo previstos para um dos países mais pobres do mundo – Bangladesh. O país, que já fez parte do território da Índia, tem cerca de 148 mil km² e conta com uma população de 171 milhões de habitantes (dados de 2023).  

Cerca de 90% das terras de Bangladesh têm uma altitude máxima de 10 metros em relação ao nível do mar. Para piorar, o território bangladês recebe todas as águas do trecho final de duas grandes bacias hidrográficas – dos rios Ganges e Brahmaputra. Durante o período das Chuvas da Monção, metade do território de Bangladesh já fica inundado. Com um aumento do nível das águas do Golfo de Bengala, haverá uma tendência de crescimento das terras inundáveis.   

De acordo com estudos realizados pela Diretoria de Gestão de Mudança Climática e Risco de Desastres do Banco Asiático de Desenvolvimento, um eventual “aumento do nível do mar poderia inundar periodicamente 14% da superfície de Dhaka, e as zonas mais próximas a Sundarbans (um dos maiores conjuntos de manguezais do mundo) terão pior sorte”.  

Os estudos também mostram que uma área de 47 mil km² próxima da costa do país ficará sujeita aos impactos de fortes tempestades, ciclones e aumento da salinidade. Nessa região vive cerca de 40 milhões de pessoas ou o equivalente a 25% de toda a população de Bangladesh.   

E não precisamos falar apenas de um país no outro lado do mundo – olhemos para o nosso próprio “quintal” aqui no Brasil. A maior parte de nossa população e grande parte de nossas cidades estão em regiões na costa do país ou muito próximas. 

Em muitas cidades litorâneas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, o avanço do mar contra o calçadão das praiais é inquestionável. Em postagens aqui do blog já mostramos vários casos como o da Praia da Macumba, na cidade do Rio de Janeiro, e de Santos e Peruíbe no litoral paulista. 

Para populações que já convivem com esses problemas, uma notícia como essa traz um pouco de otimismo, mesmo que temporário. Entretanto, ressaltamos que mais estudos sobre o tema devem ser levados a cabo e os esforços para conter as emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa, um dos principais causadores do aumento das temperaturas globais, devem ser mantidos. 

O aumento da capa de gelo da Antártica deu um “refresco” nos problemas ambientais, mas é bom não se acostumar com a ideia e prudente continuar perseguindo soluções de longo prazo. 

RIOS DOS ESTADOS UNIDOS ESTÃO SENDO INVADIDOS PELO PEIXE CABEÇA-DE-COBRA ASIÁTICO 

Em nossa última postagem falamos da caótica introdução do pirarucu, uma espécie de peixe típica da Bacia Amazônica, em rios de Estados como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Um peixe carnívoro e de grande porte como o pirarucu poderá destruir inúmeras espécies nativas desses rios. 

Lamentavelmente, esse não é um problema exclusivo de rios brasileiros. Por todos os recantos do mundo existem casos da introdução – acidental ou proposital, de espécies exóticas, com graves prejuízos para o meio ambiente aquático. 

Um caso que está chamando a atenção nos meios de comunicação é o do peixe cabeça-de-cobra, uma espécie originária da Ásia e que está invadindo diversos rios nos Estados Unidos. O primeiro caso registrado em um rio norte-americano foi em 2002. Desde então, o peixe vem se espalhando por diversos Estados, como Virginia, Maryland, Pennsylvania, Nova York e, particularmente no Missouri.   

Conhecido popularmente como “northern snakehead”, o peixe pertence ao gênero Channa, com 50 espécies diferentes descritas pela ciência. A distribuição geográfica das espécies se estende do Iraque ao extremo Leste da China, em partes da Sibéria, Noroeste da Índia e Sudeste Asiático. Em seu ambiente natural, o peixe não causa nenhum problema e sua carne é bastante apreciada pelas populações.

O peixe cabeça-de-cobra pode chegar a um comprimento de até um metro, sendo bastante apreciado por aquaristas. Aliás, a principal hipótese das autoridades ambientais norte-americanas é que a invasão dos rios pelos peixes se deveu ao descarte acidental ou proposital por aquaristas. 

Uma característica interessante do peixe cabeça-de-cobra é a presença de um órgão labirinto que permite ao animal respirar ar por alguns minutos. Isto permite que o peixe “ande” por terra em busca de poças ou corpos de água com melhores condições ambientais. 

Carnívoro voraz como os nossos pirarucus, o peixe cabeça-de-cobra se alimenta de peixes menores, anfíbios, vermes, crustáceos, répteis e até pequenos roedores, causando enormes impactos nas populações nativas dos rios. E muito pior – esses animais não têm predadores naturais no país, o que leva a um crescimento populacional sem controle. 

O Missouri é o Estado mais preocupado com a invasão dos peixes cabeça-de-cobra – seu território é cortado pelo grandioso rio Missouri, o maior rio dos Estados Unidos e maior afluente do rio Mississipi. Juntos, esses rios formam a maior bacia hidrográfica da América do Norte – a Mississipi-Missouri, com área de 3,2 milhões de km², onde se incluem outros grandes rios como o Ohio, Illinois, Arkansas e o Atchafalaya. A área dessa bacia hidrográfica abrange 31 Estados norte-americanos e duas províncias do Canadá. 

Além da imensa área geográfica afetada, o peixe invasor é muito parecido com o bowfin ou peixe-cabeça-de-arco, uma espécie nativa dos Estados Unidos e que pode ser confundida com o cabeça-de-cobra. Em caso de captura da espécie invasora, as autoridades ambientais pedem que os animais sejam mortos, preferencialmente com decaptação e remoção dos órgãos. Em caso de dúvida na identificação, os serviços ambientais estão disponibilizando uma série de canais de comunicação. 

A chegada dos peixes cabeça-de-cobra às águas dos rios da bacia hidrográfica Mississipi-Missouri só vem aumentar os problemas ambientais já criados pelas carpas asiáticas, uma espécie exótica que vem se espalhando pelas águas destes rios desde a década de 1990. 

A carpa comum (Cyprinus carpio) é originária de lagos e rios da Ásia, especialmente da região da Eurásia Central. A espécie, que pode atingir um comprimento de até 1,2 metro e um peso de 50 kg, sempre foi utilizada para a alimentação humana. Desde a antiguidade, as carpas foram introduzidas em rios e lagos de toda a Ásia e Europa, tornando-se uma das espécies invasoras mais difundidas em todo o mundo – calcula-se que a espécie esteja presente atualmente em mais de 80 países.   

No início da década de 1970, algumas fazendas de criação de peixes localizadas nas margens do rio Mississipi, no Sul dos Estados Unidos, passaram a importar carpas asiáticas, com o objetivo de controlar infestações de algas e moluscos nos tanques de criação dos peixes. Segundo as informações que foram repassadas aos aquacultores por especialistas em controle biológico, essas carpas eram peixes vorazes e com um apetite insaciável, podendo consumir diariamente até 40% do seu próprio peso em alimentos. 

Os problemas começaram no início da década de 1990, quando a bacia hidrográfica do rio Mississipi passou a enfrentar sucessivas cheias acima da média histórica, especialmente em regiões próximas do Delta do Mississipi. No seu trecho final, o rio Mississipi se abre num grande delta, que se estende por cerca de 400 km de largura e ocupa uma área total de 75 mil km².   

Várias dessas fazendas foram atingidas e as carpas asiáticas acabaram sendo arrastadas dos tanques na direção da calha do rio Mississipi. Extremamente fortes e adaptáveis, as carpas passaram a colonizar as águas do rio. A exceção dos jacarés-norte-americanos (Alligator mississippiensis), as carpas asiáticas não possuem predadores naturais na bacia hidrográfica e acabaram avançando vorazmente contra as espécies nativas, alterando totalmente a biodiversidade do ecossistema. 

Um país que já enfrentava os imensos problemas ambientais criados pela invasão dos seus rios pelas carpas asiáticas, agora está tendo de lutar numa segunda frente conta os peixes cabeça-de-cobra. 

E as notícias não são nada animadoras para os norte-americanos – a história mostrou que, quando um habitat é tomado por uma espécie exótica, existe muito pouco a se fazer senão tentar controlar o tamanho das populações invasoras.