UMA “TEMPESTADE PERFEITA” ATINGIU A EUROPA

De acordo com um estudo do EDO – Observatório Europeu da Seca, divulgado no dia 22 de agosto, quase metade do território da UE – União Europeia, está sofrendo com a falta de chuvas. Até o dia 10 de agosto, 47% do território da UE apresentava risco de seca e17% estava em estado de alerta com risco para a vegetação e as colheitas. 

Grande parte da Europa vem sofrendo com fortes ondas de calor, com temperaturas batendo sucessivos recordes. Em 19 de julho, conforme apresentamos em postagem aqui no blog, os termômetros próximos ao Aeroporto de Heathrow, em Londres, marcaram 40,2° C, Temperaturas semelhantes foram atingidas em diversos países do continente. 

Com altas temperaturas e poucas chuvas, importantes rios do continente estão apresentando níveis baixíssimos. Um desses caso é o rio Reno, um dos mais importantes corpos d`água da Europa – o rio está apresentando metade do nível que seria esperado para essa época do ano. 

Com aproximadamente 1,3 mil km de extensão, o Reno é uma das mais importantes hidrovias da Europa, fundamental para países como a Suíça, Áustria, Alemanha, Liechtenstein, França e Holanda. A navegação de grandes barcaças de carga está comprometida e o transporte de cargas vitais para a economia dos diferentes países servidos pela hidrovia está ameaçado, especialmente na Alemanha.   

Os baixos níveis dos rios também começam a afetar o abastecimento de cidades e populações. Somente na França, são mais de 100 cidades com reservatórios de água praticamente secos e dependendo da água transportada por caminhões-pipa, uma cena rara em território francês, mas comum em regiões do Semiárido Nordestino aqui no Brasil. 

A falta de água também já está impactando na produção agrícola e pecuária de muitas regiões. O abastecimento de populações e a dessedentação de animais tem sido priorizados, o que tem levado muitos produtores rurais a abandonar a irrigação de suas culturas – a quebra de safras de muitas culturas é esperada. 

Em algumas regiões, como é o caso de terras altas nos Alpes, as fontes de água superficiais já se esgotaram. Só para relembrar, as fontes de água em regiões montanhosas surgem do derretimento da neve e do gelo acumulados durante o inverno. Já há vários anos que se vem observando uma redução da precipitação de neve em vários trechos dos Alpes, o que acaba resultando em uma menor disponibilidade de águas superficiais. 

Nos Alpes franceses, citando um exemplo, muitos pecuaristas estão sendo obrigados a buscar água para a dessedentação dos animais nas planícies baixas usando caminhões-pipa. Além de encarecer substancialmente a produção de leite e carne, essa dificuldade extra vai levar a uma redução da produtividade. 

Além de todos as dificuldades criadas por problemas climáticos, os europeus sofrem também com uma crise energética e com dificuldades para a importação de grãos do Leste Europeu. Conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, esses problemas são o resultado do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. 

Falando resumidamente, os dois países são grandes produtores de grãos e outros alimentos, produtos que tradicionalmente eram exportados para os países da Comunidade Europeia. Citando um único exemplo – Rússia e Ucrânia respondem juntas por cerca de um terço da produção mundial de trigo. Com o início do conflito, tanto a produção quanto as exportações de grande parte desses grãos foram comprometidas. 

Ainda falando da produção de alimentos, o conflito também afetou parte do fornecimento mundial de fertilizantes. A Rússia e sua aliada Bielorrússia são grandes produtoras de fertilizantes, produtos que deixaram de ser exportados para os países da Comunidade Europeia devido a uma série de sanções econômicas impostas aos russos. 

Mas essa ainda não é a questão mais grave – a Rússia vinha fornecendo parte substancial do gás natural usado por muitos países, especialmente a Alemanha. Em represália às sanções econômicas que foram impostas aos russos, o fornecimento de gás natural passou a ser sistematicamente reduzido, o que desencadeou numa crise energética sem precedentes. 

Devido a todo um conjunto de políticas ambientais implementadas ao longo das últimas décadas na Comunidade Europeia, centrais termelétricas movidas a carvão mineral passaram a ser sistematicamente substituídas por unidades alimentadas com gás natural. Essas políticas, inclusive, levaram à desativação gradual de muitas plantas de geração nucleares. 

Essa crise energética foi potencializada por um aumento da demanda internacional por petróleo e carvão mineral num momento de recuperação econômica pós-pandemia da Covid-19. Relembrando, a maioria dos países enfrentou um ciclo de desaceleração econômica a partir de 2020, devido as políticas de restrição de circulação de pessoas. A partir do final de 2021, com a retomada forte de muitas economias, houve um forte aumento da demanda por combustíveis, o que resultou num forte aumento dos preços internacionais. 

Resumindo a situação caótica em que se encontra a Comunidade Europeia – tempo quente e muito seco em muitos países, falta de água para atividades agropecuárias e para o abastecimento de populações em algumas regiões, problemas que também se refletem em dificuldades para o transporte hidroviário. Crise energética e, possivelmente, dificuldades para a produção e abastecimento de alimentos no médio prazo. 

Desde o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, quando a economia e a infraestrutura de muitos países acabaram completamente arruinadas pelo conflito, que os europeus não enfrentavam uma combinação tão grande e complexa de problemas em tantas áreas diferentes. 

E, diferente de nós brasileiros “terceiro mundistas” acostumados a enfrentar problemas desse tipo, esses europeus passaram as últimas décadas usufruindo de um bem-estar social generalizado e estão tendo enormes dificuldades para enfrentar todas essas adversidades. 

Desejamos boa sorte a todos e que consigam enfrentar essa “tempestade” da melhor maneira possível! 

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