RÚSSIA SUSPENDE O FORNECIMENTO DE GÁS NATURAL PARA A EUROPA 

As temperaturas que já andam altas na Europa subiram mais alguns graus: a Rússia suspendeu o fornecimento de gás natural para o continente europeu por tempo indeterminado.  

A empresa estatal russa Gazprom, que já havia reduzido o volume de gás enviado para a Europa alegando operações de manutenção em seus gasodutos, anunciou que está suspendendo todas as operações no gasoduto Nord Stream. Esse gasoduto forma o principal sistema de transporte de gás para o continente – os russos alegam que detectaram problemas em uma estação de compressão. 

Apesar de todas as explicações sobre eventuais problemas técnicos nos sistemas de gasodutos, a verdade é que o Governo da Rússia está retaliando as nações europeias por causa dos sucessivos embargos econômicos criados após a invasão da Ucrânia por tropas russas. Também se suspeita que essa medida extrema está associada a uma proposta de países da Europa Ocidental e dos Estados Unidos para colocar um teto de preços para o petróleo russo. 

As consequências desse embargo foram imediatas – o custo de geração da energia elétrica em megawatt (MWh), que até a última sexta-feira, dia 2 de setembro, era de 214,60 euros saltou quase 33% e atingiu a marca de 284 euros na cotação de hoje. A depender do desenrolar da situação, esses preços poderão subir ainda mais. 

A notícia também afetou a cotação do euro, que perdeu valor diante do dólar norte-americano. A moeda europeia perdeu 0,61% do seu valor, valendo agora US$ 0,9932 – a mínima do dia chegou a US$ 0,9881. A situação faz aumentar os riscos de uma recessão na Europa, especialmente pelo temor da escassez de gás durante o inverno. 

A Alemanha, um dos países europeus mais dependentes das importações de gás da Rússia, está estudando um pacote de medidas econômicas avaliado em 65 bilhões de euros para tentar conter a alta dos preços da energia para os consumidores locais. Vale lembrar que metade do gás consumido no país, seja para geração de energia elétrica, aquecimento doméstico ou para fins industriais, vem da Rússia. 

O avanço dos chamados partidos políticos verdes em muitos países da Europa nas últimas décadas levou a um aumento gradativo do uso de gás natural para a geração de energia elétrica, com uma redução cada vez maior do uso de fontes de energia fóssil mais poluentes como o carvão mineral. Essas “políticas verdes” ajudaram a consolidar essa dependência do gás natural da Rússia em grande parte da Europa. 

De acordo com informações que haviam sido divulgadas anteriormente pela Gazprom, a paralização das operações nos sistemas de gasodutos se estenderia até o dia 2 de setembro. Entre outros serviços se incluía uma manutenção de uma central de compressão de gás no Norte da Alemanha. 

Na última sexta-feira, entretanto, a Gazprom não retomou as operações do gasoduto Nord Stream, informando apenas que ainda existem problemas técnicos a serem solucionados. Um comunicado foi enviado para a direção da empresa alemã Siemens Energy AG, fabricante das turbinas usadas nos sistemas dos gasodutos, informando que foi detectado um vazamento de óleo nesses equipamentos. 

Em resposta, a Siemens emitiu um comunicado afirmando que problemas desse tipo não justificam o fechamento do gasoduto e a interrupção do fornecimento de gás para a Alemanha. Segundo os alemães, esses vazamentos podem ser selados e as operações poderiam continuar normalmente. Foi criado um verdadeiro impasse. 

Conforme destacamos em uma postagem anterior, a Europa está vivendo uma “tempestade perfeita”. O continente está sofrendo com fortes ondas de calor e seca forte em muitas regiões, problemas que estão prejudicando a produção agrícola e pecuária, o transporte de mercadorias por vias fluviais e o abastecimento de populações em muitas cidades. 

Na França, os baixos níveis dos rios estão afetando também a geração de energia elétrica nas centrais nucleares. Esse tipo de geração gera grandes quantidades de calor e é necessário o uso da água para resfriar os equipamentos. Com os baixos níveis dos rios, os volumes de água quente que podem ser despejados têm de ser reduzidos a fim de não prejudicar a flora e a fauna aquáticas. 

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia também está afetando profundamente a economia da Europa. Além da questão do gás natural, combustível essencial para a geração de energia elétrica, aquecimento doméstico e as mais diferentes aplicações industriais, os países europeus perderam duas importantes fontes de produção e exportação de alimentos. 

A Ucrânia sempre foi um grande celeiro de alimentos, especialmente nos tempos da antiga URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O país é um grande produtor de grãos – principalmente trigo, milho e cevada, de óleo de girassol e de legumes e hortaliças. A Rússia também tem uma produção respeitável. Vale destacar que a Rússia também uma importante produtora e exportadora de fertilizantes. 

Um exemplo que já citamos diversas vezes aqui nas nossas postagens – Ucrânia e Rússia respondem por cerca de 1/3 de toda a produção mundial de trigo, uma commodity essencial nas mesas dos europeus. Sem poder contar com essa fonte de suprimento complementar à sua produção, os países da Europeu estão sofrendo com a escassez e o aumento dos preços de todos os produtos que usam trigo. 

A questão energética, entretanto, é a que causa as maiores preocupações no curto prazo. A partir do mês de novembro, as temperaturas na Europa começam a cair devido a chegada do inverno e a população precisa contar com sistemas de aquecimento em suas residências, sejam eles elétricos, a gás, a carvão ou a óleo combustível – todas essas fontes de energia sofreram pesados aumentos nos seus preços. 

A situação é muito preocupante, para não dizer dramática. 

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