DESTROÇOS DE AVIÃO QUE CAIU NOS ALPES SUÍÇOS EM 1968 SÃO ENCONTRADOS, OU FALANDO DO AQUECIMENTO GLOBAL 

Em 30 de junho de 1968, um pequeno avião modelo Piper Cherokee se chocou contra uma montanha nas proximidades da geleira Aletsch, no Alpes suíços. A bordo viajavam três pessoas, todas da cidade de Zurich. Equipes de resgate conseguiram encontrar os corpos poucos dias depois, mas os destroços do avião não foram encontrados. 

Na última quinta-feira, dia 4 de junho, a polícia suíça emitiu um comunicado informando que os destroços do avião foram encontrados por um guia de montanha. O comunicado também informou que, assim que possível, começarão os trabalhos de recuperação dos destroços e, depois de mais de 50 anos, as causas do acidente poderão ser finalmente determinadas. 

O lado curioso dessa notícia – esses destroços só apareceram agora por causa do aquecimento global e da perda de massa pela geleira alpina, um fenômeno que está se repetindo em geleiras de montanhas por todo o mundo. A perda de todo esse grande volume de gelo representa uma grande ameaça inúmeros rios que surgem a partir do derretimento das neves dessas geleiras. 

Os Alpes são a maior cadeia de montanhas da Europa Ocidental. Além da Suíça, país que tem sua imagem associada diretamente aos Alpes, essas montanhas também abrangem terras da França, Principado de Mônaco, Itália, Alemanha, Áustria, Liechtenstein, Eslovênia e Hungria. Essa posição geográfica transforma as montanhas alpinas em uma verdadeira “caixa d’água” do continente.   

Um exemplo de rio ameaçado é o Reno, uma das mais importantes vias navegáveis da Europa. Com quase 1,3 mil quilômetros de extensão, desde as suas nascentes nos Alpes Suíços até sua foz no Mar do Norte nas proximidades de Rotterdam, o rio Reno é uma rota vital para a economia da Suíça, Áustria, Alemanha, Liechtenstein, França e Holanda.    

As águas que formam as duas principais nascentes do Reno, os rios Hinterrhein e Vordebrhein, vem do derretimento de geleiras nos Alpes suíços. Nos últimos 25 anos, essas geleiras já perderam mais de 1/4 de suas massas em consequência do aquecimento global. Caso o ritmo do derretimento dessas geleiras se mantenha, em menos de um século não restará um único cubo de gelo nas montanhas e o rio Reno perderá uma parte considerável dos seus caudais.   

Além das geleiras que formam as nascentes do rio Reno, os Alpes abrigam outras geleiras formadoras de outros importantes afluentes de rios do continente como o Ródano, o Danúbio e o Pó. Em toda a extensão dos Alpes, geleiras estão perdendo grandes massas de gelo, o que está trazendo enormes preocupações para centenas de milhões de pessoas.  

Ao longo da última década, os efeitos do aquecimento global fizeram com que as geleiras no topo das montanhas dos alpes Suíços perdessem aproximadamente 1/5 de sua massa de gelo. Somente no ano de 2018, os glaciares alpinos do país perderam 2,5% do seu volume, resultado da combinação de uma baixa precipitação de neve e de altas temperaturas.   

Um exemplo do drama das geleiras suíças pode ser observado no cume da Montanha Weissfluhjoch, que se encontra a 2.400 metros de altitude. Nesse local está instalado o Instituto Suíço para o Estudo da Neve e Avalanches. Ao longo do mesmo ano de 2018, não houve nenhuma nevasca com precipitação superior a 1 cm. De acordo com os registros da instituição, essa foi a primeira vez que não ocorreram fortes nevascas na montanha desde o início dos registros há mais de 80 anos.   

Para quem está acostumado com um clima tropical como o do Brasil, esse tipo de informação talvez não signifique nada muito diferente de dias menos frios no inverno suíço. As geleiras das montanhas alpinas, entretanto, são importantes fontes de água para as planícies baixas do resto do país e muitas regiões da Europa. O derretimento gradual dos glaciares nas montanhas alimenta toda uma rede de pequenos córregos e riachos, que por sua vez são afluentes de grandes rios.    

Outro importante rio europeu que está sofrendo a “olhos vistos” por causa da perda de gelo nos Alpes é o rio Pó, o maior e mais importante da Itália. O rio está literalmente secando e colocando em risco toda a região que abriga o mais importante celeiro agrícola do país. O rio Pó nasce a partir da junção das águas de inúmeros pequenos rios que surgem do derretimento de geleiras nos Alpes italianos junto à fronteira da França e percorre cerca de 652 km no sentido Leste até desaguar no Mar Adriático ao Sul da famosa cidade de Veneza. 

As águas dos rios que formam a bacia hidrográfica do rio Pó também são fundamentais para o abastecimento das populações de centenas de cidades. Inúmeras localidades já decretaram o racionamento e proibiram o uso em atividades não essenciais. Em várias cidades do Piemonte o abastecimento está sendo feito através de caminhões pipa, algo que lembra muito a rotina de cidades do nosso Semiárido Nordestino.  

As geleiras dos Alpes não estão sozinhas nessa triste e dramática sina – o mesmo problema está afetando glaciares nos Andes da América do Sul, nas Montanhas Himalaias na Ásia, nas Montanhas Rochosas da América do Norte, entre muitas outras. 

Apesar do derretimento do gelo colocar a mostra inúmeros artefatos do passado, como os destroços do avião acidentado, construções e peças arqueológicas, e até múmias congeladas como Ötzi (pesquise nesse link), as ameaças para inúmeros rios são verdadeiramente preocupantes. 

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