MAIS UM VERÃO DE EXTREMOS ESTÁ CHEGANDO AO FIM 

No próximo domingo, dia 20 de março, o verão 2022 vai se encerrar oficialmente. Isso não significa, é claro, que alguma força da natureza vai virar uma chave e o clima vai mudar completamente num passe de mágica. As chuvas e o calor ainda vão continuar por algum tempo, porém, diminuindo sua intensidade gradativamente. 

Colocando a temporada em perspectiva se observa mais uma vez que vivemos uma estação de extremos – excesso de chuvas em algumas regiões, como foram os casos do Sul da Bahia e do Norte de Minas Gerais, e de muito calor e forte seca em outras como visto no Sul do país. Essa é uma tendência que vem se repetindo já há vários anos. 

A temporada das chuvas começou no final do ano passado, quando grande parte do Brasil Central enfrentava a maior seca em mais de 90 anos. Importantes reservatórios de usinas hidrelétricas estavam com níveis críticos, o que ameaçava o abastecimento de energia elétrica do país. As autoridades do setor temiam que o volume das chuvas não seria insuficiente para recuperar os volumes de água no curto prazo. 

As chuvas chegaram timidamente, porém, já a partir de dezembro, foram aumentando em volume e dispersão geográfica. Por volta do dia 13 daquele mês, o Sul da Bahia e o Norte de Minas Gerais passaram a sofrer com fortes chuvas. O responsável pelo fenômeno foi um ciclone extratropical estacionado próximo ao litoral de Santa Catarina. 

Os municípios mais fortemente atingidos pelas chuvas no extremo Sul da Bahia. A lista incluiu Eunápolis, Guaratinga, Itabela, Itanhém, Mucuri, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália, Teixeira de Freitas, Vereda, Jucuruçú, Medeiros Neto, Prado e Itamaraju. Menores estragos ocorreram nas cidades de Mascote, Itacaré, Itabuna, Ilhéus, Canavieiras, Camacan e Belmonte.   

No Norte de Minas Gerais os municípios em situação mais complicada ficam nas regiões dos vales dos rios Jequitinhonha, Mucuri e Doce. De acordo com meteorologistas, essa região não registrava um volume de chuvas tão grande há mais de quarenta anos. O índice pluviométrico registrado neste último domingo, dia 12 de dezembro, atingiu a marca de 186 milímetros, um volume 47% superior à média histórica. 

Aos poucos, essas fortes chuvas passaram a castigar todo o Estado de Minas Gerais, além do Sul de Goiás e Norte de São Paulo. A situação mais dramática naquele momento se viu em represas e barragens de rejeitos de mineração de muitos municípios, onde os altos níveis dos rios ameaçavam o rompimento das estruturas de contenção. 

Um caso marcante foi o da Represa de Três Marias no rio São Francisco. Recebendo enormes volumes de água, o nível da represa passou a subir com grande velocidade, o que colocou a CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais, em alerta. A operadora emitiu um comunicado no dia 11 de janeiro, informando que iria abrir as comportas por razões de segurança. As repercussões políticas foram fortíssimas e a empresa acabou soltando uma nota no mesmo dia afirmando que estava adiando a decisão. 

Enquanto essa região sofria como excesso de chuvas, a maior parte da Região Sul sofria com uma forte onda de calor e com a seca. Uma forte massa de ar quente e seco se formou no centro da Argentina, atingindo depois o Uruguai, o Paraguai e o Sul do Brasil. 

O evento climático inédito começou a se mostrar em 10 de janeiro, dia no qual a cidade de San Antonio Oeste, na Patagônia argentina registrou a temperatura recorde de 42,8º C. Logo depois, toda a Região Metropolitana de Buenos Aires passou a conviver com uma sequência de dias com temperaturas acima dos 40º C. O aumento brusco no consumo de energia elétrica provocou grandes apagões, deixando centenas de milhares de porteños as escuras. 

No Uruguai, as temperaturas ficaram entre 41º e 43º C, agravando uma série de incêndios florestais que consumiam grandes extensões de campos e matas no país. Ao chegar no Rio Grande do Sul, essa onda e calor colocou 216 municípios gaúchos em alerta para o perigo de calor extremo. 

Essas altas temperaturas simplesmente agravaram o grave problema da seca que já vinha assolando o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, especialmente na faixa Oeste desses Estados. De forte tradição agropecuária, toda essa região sofreu fortes prejuízos na sua produção. 

Enquanto o calor e a seca persistiam na Região Sul, as fortes chuvas passaram a assolar o Estado de São Paulo no início de fevereiro. Na Região Metropolitana, especialmente nos municípios de Francisco Morato e de Franco da Rocha, as chuvas provocaram grandes deslizamentos de encostas e provocaram dezenas de vítimas fatais e deixaram centenas de desabrigados. 

Outro exemplo da fúria das chuvas foi o que assistimos na cidade de Petrópolis em meados de fevereiro. De acordo com informações divulgadas pela Defesa Civil, a cidade recebeu um volume de chuvas da ordem de 300 mm ao longo de 6 horas a partir do início da noite do dia 15 de fevereiro. O desmoronamento de encostas de morro deixou mais de 230 mortos e milhares de desabrigados. 

Esse quadro de extremos climáticos em diferentes regiões do país parece que veio para ficar. Esse ano, a principal responsável por todas essas distorções no clima foi La Niña, um fenômeno meteorológico que provoca uma redução da temperatura entre 2° e 3° C nas águas superficiais de uma extensa faixa do Oceano Pacífico, o que causa problemas climáticos em todo o mundo. 

Entretanto, o clima mundial vem apresentando importantes distorções climáticas ao longo dos últimos anos. São eventos de calor e chuvas acima da média em algumas regiões, enquanto outras sofrem com ondas de frio anormais ou com a seca. Todas essas mudanças estão ligadas ao aquecimento global, um aumento gradual das temperaturas do planeta que vem ocorrendo desde os tempos do início da Revolução Industrial no século XVIII. 

Serão necessários grandes investimentos, aqui no Brasil e em todo o mundo, para combater os efeitos de todas essas mudanças climáticas. Isso inclui a construção de reservatórios para o armazenamento de água em regiões mais propensas a novos ciclos de seca, em infraestruturas para a geração de energia elétrica em fontes não hidráulicas como a solar e a eólica, e, principalmente, para a adaptação de nossas cidades para eventos de fortes chuvas, o que, aliás, nunca foi feito antes. 

São novos e complicados tempos que teremos pela frente e precisamos nos adaptar a uma nova realidade ambiental. 

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