
O Brasil, a Bolívia e o Peru estão no topo da lista nada lisonjeira dos campeões mundiais em desmatamentos. Em comum, esses países compartilham a Floresta Amazônica, bioma que sofre agressões por todos os lados. Nas últimas postagens falamos dos problemas da floresta na Colômbia – hoje vamos falar um pouco da situação do bioma no Peru.
O trecho peruano da Floresta Amazônica ocupa uma área de mais de 782 mil km2, o que corresponde a mais de 60% da superfície total do país vizinho. Depois do Brasil, o Peru é o país com a maior extensão da Amazônia em seu território. E os problemas ambientais por lá também não são nada pequenos.
De acordo com informações da Global Forest Watch, um aplicativo de código aberto para monitorar florestas globais quase em tempo real, a Floresta Amazônica perdeu 3,1% de sua área no Peru entre 2002 e 2020. Desapareceram 2,16 milhões de hectares de floresta primária úmida nesse período.
Essa grande perda de cobertura florestal está ligada a alguns problemas bastante conhecidos aqui no Brasil: desmatamentos para a abertura de campos agrícolas e para a formação de pastagens para o gado; exploração ilegal de madeiras e mineração – destaque aqui para os garimpos ilegais de ouro. Também existem problemas típicos dos países andinos da região – a plantação da coca e a produção e o refino da cocaína a exemplo do que ocorre na Colômbia.
Em 2020, contrariando todas as expectativas por causa das restrições impostas pela epidemia da Covid-19, os desmatamentos cresceram no Peru. Foram mais de 203 mil hectares de perdas em cobertura florestal na Amazônia peruana em 2020, a maior registrada em 20 anos. Essa perda foi cerca de 55 mil hectares maior do que o registrado em 2019 e 177 mil hectares além do que foi registrado em 2014.
Entre as razões para esse aumento nos desmatamentos, a principal suspeita recai sobre o grande desemprego que foi gerado pela pandemia da Covid-19 e a rígida quarentena imposta à população do país. Muitos peruanos acabaram voltando para as suas cidades e vilas de origem, onde passaram a se dedicar a atividades agropecuárias de subsistência. Isso teria gerado uma forte pressão para a derrubada de trechos de matas para a abertura de áreas para a agricultura e a criação de animais.
A pandemia também levou muitos funcionários públicos ao afastamento de suas funções, o que acabou se refletindo em um número menor de fiscais em campo – como diz o velho ditado: “quando o gato saí de férias, os ratos fazem a festa”. Foi exatamente isso o que parece ter acontecido na Amazônia peruana. O que preocupa os especialistas é que as autoridades do país ainda não apresentaram um plano para conter esse crescimento nos desmatamentos.
De acordo com um estudo publicado pelo MAAP – Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina, na sigla em inglês, essa perda anual de florestas no Peru equivale a uma liberação de 12,5 milhões de toneladas métricas de carbono na atmosfera, algo equivalente às emissões de 10 milhões de automóveis. Se for considerado o período entre 2003 e 2020, são mais de 100 milhões de toneladas métricas de carbono ou o equivalente às emissões de 80 milhões de automóveis.
Conforme tratamos em inúmeras postagens recentes, um dos maiores problemas climáticos do nosso planeta são as emissões de gases de Efeito Estufa, o que é uma das principais causa do aquecimento global. Dentro desse contexto, a preservação e o replantio de florestas é uma prioridade absoluta em todo o mundo.
Árvores em crescimento absorvem grandes quantidades de carbono da atmosfera, ajudando a minimizar os problemas atmosféricos que induzem ao aquecimento global. Infelizmente, o que se vê é um aumento cada vez maior da derrubada de florestas em todo o mundo. De acordo com dados da ONU – Organização das Nações Unidas, foram perdidos mais de 420 milhões de hectares em áreas florestais em todo o mundo desde 1990, especialmente para a prática da agricultura.
Além do Brasil e de países amazônicos vizinhos, essas grandes perdas de florestas também incluem a República Democrática do Congo e a Indonésia. Apesar de ocuparem regiões bastante distintas no globo terrestre, existe um elo em comum entre os desmatamentos em muitos desses países – a derrubada de florestas nativas para a formação de plantações de palma da Guiné, árvore que produz um coco de onde se extrai o valioso azeite de dendê.
O óleo de palma ou azeite de dendê responde por cerca de 35% de todos os óleos de origem vegetal produzidos no mundo, gerando negócios da ordem de US$ 40 bilhões a cada ano. Esse óleo está presente em uma série de alimentos industrializados onde se incluem margarinas, sorvetes, biscoitos, barras de cereais, chocolates, pães, bolos, doces, entre outros. Produtos químicos derivados do azeite de dendê são encontrados em detergentes, sabonetes, velas, cremes faciais e batons, entre muitos outros.
Uma das aplicações mais recentes do azeite de dendê é o seu uso como biocombustível em motores a diesel. A abertura de campos agrícolas para o plantio de dendezeiros responde por cerca de 0,4% dos desmatamentos mundiais. Ou seja, o biocombustível renovável feito a partir dos frutos do dendezeiro é um dos grandes responsáveis pela destruição de florestas equatoriais e tropicais em todo o mundo.
No Peru, a produção de azeite de dendê vem crescendo aceleradamente nos últimos anos. De acordo com uma estimativa feita pelo Governo do Peru em 2013, o país possuí um total de 1,4 milhões de hectares de terras adequadas para o cultivo da palma da Guiné no trecho local da Amazônia. Muitas dessas terras já foram desmatadas e transformadas em plantações dessa palmeira. Uma das regiões mais afetadas é Loreto.
Uma das grandes ironias da devastação de florestas no Peru para a formação de plantações de palma da Guiné é que existe um programa de estimulo patrocinado pelo UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, na sigla em inglês. Esse programa estimula pequenos fazendeiros que plantam coca, a matéria prima da cocaína, a se transformarem em produtores de azeite de dendê, um produto que em tese seria sustentável.
De acordo com executivos de grandes empresas do Peru que se dedicam a essa atividade, existe demanda de consumo mundial desse óleo que justificam a implantação de mais de 230 mil hectares de plantações de palma da Guiné no país. É claro que a maioria dessas áreas estão previstas para a região da Amazônia peruana.
Para encerrar – países da União Europeia estão entre os maiores consumidores mundiais de azeite de dendê, produto que é usado, entre outros fins, na produção de biodiesel, um combustível sustentável. Entenderam a ironia?
Enquanto isso, a Floresta Amazônica vai virando fumaça…
[…] existe extração ilegal de madeira, garimpos e plantações de coca. Porém, merece destaque o crescimento das plantações de palma da Guiné no país. Essa árvore, só para relembrar, produz um coco rico em óleo, de onde se extrai o famoso azeite […]
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[…] o que aconteceu. Em muitos países e regiões mais pobres, como foi o caso citado numa das postagens sobre a Floresta Amazônica no Peru, muitos desempregados voltaram às suas cidades de origem e passaram a derrubar e queimar matas […]
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