
No próximo domingo, dia 7 de agosto, o Presidente eleito da Colômbia – Gustavo Petro, prestará o juramento de posse. Durante os seus discursos de campanha, o então candidato assumiu uma série de compromissos com o meio ambiente, indo desde a suspensão da exploração de petróleo em áreas sensíveis até a expansão do uso de energias renováveis no país.
Uma das missões mais delicadas que aguardam o agora Presidente do país é a contenção dos desmatamentos no trecho local da Floresta Amazônica. De acordo com informações da ONU – Organização das Nações Unidas, a Amazônia colombiana perdeu uma área de mais de 7 mil km² entre 2018 e 2021. Entre as maiores ameaças ao bioma destacam-se o avanço da pecuária e da agricultura, com destaque aqui para o plantio de coca por grupos narcotraficantes.
Conforme já comentamos em inúmeras postagens aqui do blog, o Brasil é, sistematicamente, acusado de destruir, desmatar e queimar grandes trechos da Floresta Amazônica. Descontando-se muitos exageros e questões de ordem ideológica, o bioma sofre mesmo muitas agressões, especialmente na época da seca, o chamado verão amazônico, quando surgem grandes queimadas em áreas periféricas da grande floresta equatorial.
Um “detalhe” que costuma escapar nessas notícias é o fato de 40% da Floresta Amazônica ficar inserida dentro do território de países vizinhos. Além da Colômbia, entram na lista Bolívia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Em cada um desses países, em maior ou menor escala, existem inúmeros problemas ambientais.
O trecho colombiano da Floresta Amazônica ocupa uma área total de mais de 480 mil km², o que corresponde a cerca de 42% do território do país vizinho. Considerando que o bioma Amazônico ocupa uma área com aproximadamente 5,5 milhões de km² (existem estimativas que falam de até 7 milhões de km², cifra que inclui áreas de transição entre biomas), a Colômbia abriga cerca de 9% da Floresta Amazônica.
Na Colômbia, guardadas as devidas proporções, os problemas ambientais são até mais graves do que os que ocorrem no Brasil. Além da expansão das frentes agrícolas convencionais, da exploração madeireira e da criação de pastagens para o gado, o país vem sofrendo já há várias décadas com o domínio de extensas áreas do seu território por grupos revolucionários armados, como é o caso das FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Esses grupos associaram seus objetivos revolucionários com o narcotráfico.
Nos últimos anos, sem nos prendermos a muitos detalhes, o Governo central da Colômbia e vários desses grupos armados chegaram a um acordo de paz, onde se imaginava estabelecer um clima de normalidade em todo o país – o novo Presidente eleito do país, inclusive, é um ex-gerrilheiro, o que mostra que muita coisa mudou na Colômbia.
Infelizmente, nem tudo está sendo um “mar de rosas” no país – inúmeros guerrilheiros “desempregados” passaram a organizar seus próprios grupos de narcotráfico e passaram a controlar pequenos territórios por toda a Amazônia colombiana. Esses grupos organizam desmatamentos e nessas áreas implantam cultivos de coca, planta nativa da Cordilheira dos Andes e da qual se extrai a valiosa cocaína.
O Ministério Público da Colômbia afirma que esses grupos se concentram na região Sul do país e, desde 2016, eles vêm praticando um desmatamento bastante acelerado em extensas áreas da Floresta Amazônica. Segundo informações do IDEAM – Instituto de Hidrología, Meteorología y Estudios Ambientales, da Colômbia, os desmatamentos na Amazônia colombiana vêm crescendo de forma descontrolada nos últimos anos.
As áreas desmatadas são usadas para a introdução de cultivos de coca, para pecuária extensiva e também para a construção de unidades para o refino e processamento das folhas de coca para obtenção da cocaína. De acordo com informações coletados por jornalistas estrangeiros, muitos latifundiários se valem da associação com os narcotraficantes e estão pagando os camponeses para derrubar trechos da floresta para ampliar suas fazendas.
A coca (Erythroxylum coca) é uma planta arbustiva originária de terrenos elevados da Cordilheira dos Andes na Bolívia e no Peru. As folhas da coca possuem substancias com propriedades analgésicas que aplacam a fome e a fadiga. Os indígenas da região conhecem as propriedades da planta desde a antiguidade e tem o hábito de mascar suas folhas.
Até o início da década de 1990, a Colômbia respondia por menos de 15% da produção mundial de folhas de coca. A partir dos primeiros anos da década de 2000, a produção cresceu muito, com o país chegando a concentrar 80% de toda a produção de cocaína do mundo.
De acordo com estimativas do UNIDOC, Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime, a produção de coca na Colômbia emprega mais de 60 mil famílias no país. A produção de cocaína pura é estimada em mais de 1.200 toneladas/ano.
Os cultivos estão concentrados nos departamentos de Norte de Santander, na região Nordeste; Nariño, Putumayo e Cauca, na região Sudoeste; e Antioquia, no Noroeste. A UNIDOC estima que 48% das áreas de cultivo de coca no país esteja concentrada em áreas protegidas dentro da Floresta Amazônica, especialmente em parques nacionais e reservas indígenas.
Este breve resumos mostra um pouco dos desafios ambientais que o novo Governo da Colômbia terá pela frente. Resta saber se os discursos feitos durante a campanha eleitoral serão mesmo levados a sério ou, como bem conhecemos aqui em nosso próprio país, foram apenas promessas vazias para se conseguir ganhar a disputa eleitoral.