
No último dia 17 de setembro, na cidade de Arinos em Minas Gerais, foi lançado em cerimônia oficial o Projeto Pró-Águas Urucuia. Essa iniciativa faz parte do Programa Águas Brasileiras, sobre o qual falamos em uma postagem anterior, e objetiva atender um total de 14 cidades nos Estados de Goiás e Minas Gerais.
De acordo com as informações divulgadas, o Projeto Pró-Urucuia vai receber investimentos de R$ 105 milhões e terá um prazo de execução de 5 anos. A meta do Projeto é o plantio de 4,5 milhões de mudas de árvores nativas do bioma Cerrado em áreas degradadas da bacia hidrográfica.
O rio Urucuia tem aproximadamente 400 km de extensão e é um dos principais afluentes da margem esquerda do rio São Francisco. O nome tem origem indígena e significa algo como água vermelha. Uma provável explicação é o fato das águas do rio, que normalmente são limpas, ficarem avermelhadas pelo carreamento de argila nos meses de chuva.
As nascentes do rio Urucuia ficam numa localidade conhecida como Raizama ou Lagoa dos Morões em Goiás, entrando logo depois no território mineiro a altura do município de Buritis. A bacia hidrográfica do rio Urucuia ganhou fama nacional e mundial a partir da obra de Guimarães Rosa – a região é cenário, entre outras, da obra Grande Sertão: Veredas.
A bacia hidrográfica do rio Urucuia, da mesma forma que ocorre com a maioria dos tributários do rio São Francisco, vem sofrendo com o intenso processo de devastação da cobertura florestal no Cerrado diante do avanço das frentes agrícolas. Como já comentamos em outras postagens, as raízes da vegetação nativa do Cerrado são fundamentais para a infiltração da água das chuvas nos solos e recarga dos aquíferos e lençóis subterrâneos de água.
Os sistemas radiculares (ou as raízes) da vegetação nativa do Cerrado são gigantescos quando comparados ao de árvores de outros biomas. Isso foi uma adaptação evolutiva às características dos solos da região que apresentam reservas subterrâneas de água muito profundas. Quando essa vegetação nativa é cortada e substituída por campos de soja, de milho ou pastagens, o processo de recarga dos aquíferos deixa de funcionar – essas plantas tem raízes muito curtas e as águas das chuvas não conseguem infiltrar adequadamente nos solos.
A devastação ambiental no Cerrado, e também em áreas da Caatinga Nordestina, se reflete diretamente na redução dos caudais de uma infinidade de rios tributários do rio São Francisco, que definha a olhos vistos. Quando a foz do rio foi avistada pela primeira vez em 1501, os tripulantes da expedição exploratória portuguesa comandada por América Vespúcio observaram que as águas doces do rio São Francisco chegavam a 4 km da costa, tamanha a força dos seus caudais.
Hoje, a mesma foz do rio sofre com a forte intrusão de águas do Oceano Atlântico, que transformaram a maior parte do baixo curso do rio em um mar de águas salobras. Isso é o resultado de séculos de degradação ambiental em toda a sua bacia hidrográfica.
O rio São Francisco nasce nas encostas da Serra da Canastra, na região Leste de Minas e segue por mais de 2.800 km até encontrar sua foz no Oceano Atlântico na divisa dos Estados de Sergipe e Alagoas. Ao longo desse grande percurso o rio recebe contribuições de um total de 168 afluentes – 90 na margem direita e 78 na margem esquerda, com destaque para alguns rios importantes como o Rio das Velhas, Abaeté, Paracatu, Jequitai, Rio Verde Grande, Carinhanha, Pajeú, Salitre, Corrente, Pará e Urucuia.
No total, as águas da bacia hidrográfica do Rio São Francisco servem 521 municípios em 6 Estados da Federação: Goiás, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, além do Distrito Federal. Recentemente, com o início da operação de alguns ramais do Sistema de Transposição do rio São Francisco, essas águas também estão chegando ao Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
E aqui vem uma informação chave para entender a importância do projeto de revitalização do rio Urucuia: apesar de ter apenas 37% da sua bacia hidrográfica em terras mineiras, o Velho Chico recebe 75% de toda as suas águas de rios tributários do Estado de Minas Gerais. Muitos desses rios, como é o caso do Urucuia, tem suas nascentes no Planalto Central em Goiás, Tocantins e Distrito Federal.
Quem leu a nossa última postagem vai se lembrar que na Fazenda Bulcão, que ocupa uma área de 709 hectares no município de Aimorés no Leste de Minas Gerais, um projeto de recuperação ambiental encabeçado pelo fotógrafo Sebastião Salgado já plantou cerca de 2 milhões de mudas de árvores.
Em termos comparativos, falar de se plantar 4,5 milhões de mudas de árvores na bacia hidrográfica do rio Urucuia parece ser insignificante, o que é a mais pura verdade. Porém, conforme comentamos em postagem anterior, a iniciativa merece aplausos, especialmente pelo fato de combinar esforços dos Governos Federal, Estadual e municipal, além de contar com a participação da iniciativa privada.
Sem qualquer tipo de coloração partidária ou preferência por esse ou aquele político, essa é uma iniciativa que precisa ser copiada e multiplicada. Cada árvore plantada vai significar alguns litros de água a mais nos rios da bacia hidrográfica. Quanto mais árvores forem plantadas, mais água os rios terão para nos oferecer.
Em tempos de forte seca – aliás, vivemos a maior estiagem no Brasil Central nos últimos 91 anos, e de sérios riscos para a geração de energia elétrica no país, iniciativas como a desse projeto são muito bem-vindas. Então, “vida longa e próspera” ao rio Urucuia.
[…] O PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO URUCUIA […]
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