
Com uma área total próxima dos 10 milhões de km², o Canadá é o segundo maior país do mundo em extensão territorial, só ficando atrás da gigantesca Rússia. Grande parte do país se encontra dentro do Círculo Polar Ártico, onde o clima inóspito e os solos congelados (permafrost) sempre representaram um enorme desafio para a colonização.
Uma extensa faixa de terras ao Sul – especialmente no Centro-Oeste do país, apresenta um clima temperado e excelentes solos, onde se pratica uma agricultura moderna e de altíssima produtividade. Em 2018, saíram dessa região mais de 20 milhões de toneladas de colza, uma semente rica em óleo; 32 milhões de toneladas de milho; 7 milhões de toneladas de soja; 14 milhões de toneladas de milho; 8,3 milhões de toneladas de cevada; 5,7 milhões de toneladas e batata, entre inúmeras outras culturas. A região também é uma grande produtora de carnes, principalmente de bovinos.
Além de já contar com todo esse potencial, o Canadá é um dos países do mundo que mais poderá se beneficiar com o aquecimento global. Extensas áreas da tundra canadense vêm apresentando um aumento gradual das temperaturas e os solos de permafrost estão derretendo. Essa grande tragédia ambiental, que assusta o mundo todo, poderá se reverter em novas áreas para a produção agrícola e pecuária no Canadá.
Os números grandiosos da agricultura escondem um enorme problema do país – apesar do extenso território e do enorme potencial de suas terras, faltam braços e pernas para movimentar a produção. A população total do Canadá é menor do que a do Estado de São Paulo – são apenas 38 milhões de habitantes. Além de pequena, grande parte dessa população – como aliás acontece em todos os países ricos, se recusa a fazer trabalhos manuais e pesados. A grande fonte de mão de obra para a agricultura do Canadá são os imigrantes, principalmente os temporários.
Até o complicado ano de 2020, quando o mundo foi completamente tomado pela pandemia da Covid-19, dezenas de milhares de trabalhadores temporários, vindos principalmente da América Central e das ilhas do Mar do Caribe, se dirigiam ao Canadá todos os anos para trabalhar na agricultura e na pecuária. Ao longo dos meses mais quentes do ano, esses trabalhadores realizavam a preparação dos solos, o plantio, a colheita e a distribuição de uma infinidade de produtos agrícolas. Quando o rigoroso inverno canadense começava a mostrar suas “garras”, esses trabalhadores voltavam para seus quentes e acolhedores países de origem.
De acordo com informações da agência de notícias Bloomberg, em maio de 2020 já estavam faltando mais de 60 mil trabalhadores estrangeiros na agricultura do Canadá. Assustados com as notícias sobre os índices de mortalidade da Covid-19, muitos dos habituais trabalhadores temporários optaram por ficar em seus países de origem junto com as suas famílias. De lá para cá, com as notícias de novas ondas de contaminação da doença, as coisas só pioraram.
A falta de mão de obra vem sendo sentida principalmente em regiões produtoras de frutas e hortaliças da Colúmbia Britânica e nas vinícolas de Niágara, onde os trabalhos de colheitas são feitos manualmente e demandam muita gente. Nos setores de produção de grãos, onde a colheita é mecanizada, os problemas são bem menores, porém, existem enormes dificuldades nas áreas de estocagem e transporte dos grãos.
A questão é tão séria para a economia do Canadá que até o Primeiro Ministro Justin Trudeau precisou se envolver e anunciou uma série de medidas para estimular a vinda de trabalhadores temporários para o país. Entre as medidas anunciadas foram incluídas facilidades para a entrada no país, renovação automática para os vistos de trabalho e também a liberação de dezenas de milhões de dólares canadenses para cobrir os custos com a quarentena obrigatória dos imigrantes. E, mesmo assim, continuou faltando gente disposta a ir trabalhar no Canadá.
Conforme comentamos em postagens anteriores, a pandemia da Covid-19 teve impactos importantes na produção agropecuária de países em todo o mundo, especialmente nos países onde os trabalhos mais pesados são feitos por imigrantes. As sucessivas campanhas do tipo “fique em casa” e os números de mortes pela doença divulgados diariamente assustaram os trabalhadores. Na Europa, por exemplo, milhares de trabalhadores voltaram para seus países de origem, principalmente no Leste do continente, e se refugiaram junto com seus familiares.
A situação se tornou tão complexa que a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, está temendo a chegada de uma grande onda de fome em muitos países do mundo. Segundo a FAO, 130 milhões de pessoas poderão ser levadas para a pobreza e se somarão aos mais de 690 milhões que já não tem o que comer regularmente. A esse grupo se somam outros 3 bilhões de pessoas em todo o mundo que não ganham o suficiente para manter uma alimentação adequada. Serão consequências muito mais graves que as da epidemia da Covid-19.
O Brasil, que nas últimas décadas vem se transformando num dos grandes produtores de alimentos do mundo, tem se beneficiado muito dessa redução da produção agrícola mundial. A produção de muitos grãos segue em alta e as exportações não param de crescer. Entretanto, se essa situação persistir por muito tempo, esses bons ventos vão parar de soprar e vai começar a faltar dinheiro no mundo para pagar pelas importações desses alimentos.
O gigantesco mercado consumidor da China, que tem mais de 1,4 bilhão de bocas para alimentar e muito dinheiro em caixa, ainda está pressionando o mercado internacional, comprando volumes cada vez maiores de grãos e carnes. A grande questão é – até quando essa situação vai se sustentar.
Tradicionalmente, o mês de maio marca o início do plantio em países de clima temperado do Hemisfério Norte como o Canadá. Com a chegada da primavera e o degelo, os solos estão com bons níveis de umidade e prontos para serem trabalhados e semeados. As árvores já recuperaram suas folhagens e estão cobertas de flores – em breve, toda uma infinidade de frutos vai estar crescendo por todos os lados.
A dúvida que fica – esse ano vai haver mão de obra suficiente para trabalhar nos campos do Canadá ou culturas inteiras vão se perder ou terras deixarão de serem semeadas por falta de mãos para os trabalhos no campo? E nos outros países do mundo? Até quando vão durar os estoques de grãos?
Depois de milhares de anos de muita fome e de grandes dificuldades para a produção agrícola, a humanidade imaginava ter superado tudo isso ao ter atingido um alto grau de mecanização e de alta tecnologia para a produção agrícola. Apesar de ainda persistir em muitas regiões, a fome vinha sendo reduzida gradativamente em todo o mundo. De repente, um vírus aparece e consegue abalar todas as cadeias produtivas nos campos do mundo.
Isso é um sinal claro que ainda temos muito a aprender com a natureza.
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