
Nas últimas postagens apresentamos alguns dos rios da Mata Atlântica que desaguam no litoral do Estado da Bahia e os seus muitos problemas ambientais. Até aqui já falamos dos rios Jequitinhonha, Mucuri e Pardo, que tem suas nascentes no Semiárido Mineiro, e também do rio Cachoeira, que tem suas nascentes na região baiana de Vitória da Conquista.
Seguindo a programação, vamos falar nas postagens seguintes sobre os rios de Contas e Paraguaçu, dois dos mais importantes rios da faixa Leste da Bahia. Esses corpos d’água têm suas nascentes na Chapada Diamantina, uma das mais impressionantes formações geológicas do Brasil e que merece uma apresentação prévia.
A Chapada Diamantina está localizada na região Central do Estado da Bahia e se destaca pelo seu tamanho, ocupando uma área de mais de 41,7 mil km². Para efeito de comparação, o Estado do Rio de Janeiro tem uma área total pouca coisa maior, com cerca de 43 mil km². A região da Chapada Diamantina compreende um total de 24 municípios baianos, onde vive uma população de mais de 570 mil habitantes.
As chapadas são formações naturais encontradas em todas as regiões do território brasileiro e se caracterizam por formar uma área elevada nos terrenos, geralmente de grandes dimensões, onde o topo é plano. Esse tipo de formação também é chamado de altiplano e planalto. Exemplos são a Chapada dos Guimarães, no Estado do Mato Grosso, a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e a Chapada do Araripe, na divisa dos Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
As chapadas geralmente se localizam em pontos onde diferentes biomas se encontram, o que as transforma em importantes locais de refúgio para a biodiversidade, e também pela presença de inúmeros afloramentos de água e nascentes de rios. A Chapada Diamantina se encontra no limite entre a Mata Atlântica e o Semiárido Nordestino, além de apresentar fragmentos de vegetação do Cerrado.
A região onde se encontra a Chapada Diamantina já foi, num passado geológico bastante remoto, uma grande bacia sedimentar e o fundo de um mar raso. Os terrenos da região sofreram um lento e contínuo processo de soerguimento (elevação), devido à movimentação das placas tectônicas. Os processos de erosão dos solos e de intemperismo moldaram as faces atuais do relevo, num trabalho que levou milhões de anos.
Os solos e as formações da região são ricos em rochas sedimentares, calcárias e de aglomerados minerais, rochas que facilitam a infiltração e a formação de grandes depósitos subterrâneos de água. Um exemplo de rocha sedimentar é o arenito, uma rocha que se forma a partir de depósitos de areia. Cada metro cúbico de arenito pode armazenar até 400 litros de água, o que nos dá uma ideia da capacidade de armazenamento de água nas grandes formações da Chapada Diamantina.
A Chapada Diamantina se estende no sentido Norte-Sul, formando um divisor de águas entre as bacias hidrográficas do rio São Francisco e do Atlântico Nordeste, onde se incluem os importantes rios Paraguaçu e de Contas. As principais nascentes desses rios estão localizadas na formação e surgem a partir da junção das águas de inúmeros pequenos afloramentos nas paredes rochosas e nos cumes dos morros, que se juntam com as águas de incontáveis cachoeiras e de piscinas naturais transparentes.
Esses recursos hídricos são fundamentais para uma extensa região da faixa Leste e Sul do Estado – as águas do rio Paraguaçu, citando um único exemplo, são usadas no abastecimento da cidade de Salvador, a capital e maior cidade da Bahia, com uma população estimada em 3,9 milhões de habitantes (2020).
A altitude média das formações rochosas da Chapada Diamantina se situa entre altitudes de 800 e 1.200 metros acima do nível do mar. Em alguns trechos, porém, os maciços rochosos atingem grandes altitudes e formam algumas das maiores elevações da região Nordeste do Brasil. Destacam-se o Pico do Barbado, com 2.033 metros, o Pico do Itobira, com 1.970 metros e o Pico das Almas, com 1.958 metros. As formações rochosas da Chapada Diamantina fazem parte da mesma formação geológica da Serra do Espinhaço, do Estado de Minas Gerais.
A grande biodiversidade vegetal e animal, onde se incluem inúmeras espécies ameaçadas, em conjunto com os fartos recursos hídricos e paisagísticos desta esplêndida região, levaram à criação de uma área de preservação ambiental – o Parque Nacional da Chapada Diamantina. Criado através de Decreto Federal em 1985 e contando com uma área de 152 mil hectares, o Parque abrange áreas dos municípios de Adaraí, Ibicoara, Iramaia, Itaetê, Lençóis, Mucugê e Palmeiras. A administração do Parque cabe ao ICMbio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
A vegetação da Chapada Diamantina inclui plantas típicas da Caatinga nordestina, que ocorrem em altitudes entre 500 e 900 metros, vegetação de Mata Atlântica nas altitudes mais baixas e ao longo dos cursos dos inúmeros rios, além de possuir inúmeros fragmentos da vegetação do Cerrado. Entre as espécies animais em risco de extinção se incluem a onça-parda (Puma concolor), a onça-pintada (Panthera onca), o gato-do-mato (Leopardus tigrinus), o tatu-canastra (Priodontes maximus) e o Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla).
É nececessário um destaque especial ao guigó (Callicebus barbarabrownae), uma espécie de macaco que já foi comum nas florestas ao Sul do rio São Francisco, mas que atualmente está restrita à região da Chapada Diamantina – calcula-se que existam apenas 250 indivíduos dessa espécie vivendo em liberdade.
Dentre as inúmeras espécies de aves da Chapada Diamantina merecem proteção especial o gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus), a borboletinha-baiana (Phylloscartes bekeri), a águia-cinzenta (Urubitinga coronata) e o joão-baiano (Synallaxis whitneyi). Inúmeras espécies vegetais endêmicas, onde se incluem diversas espécies de orquídeas, fazem parte da flora local, o que é um motivo a mais para a preservação ambiental de toda essa importante região.
Além de todo esse patrimônio natural, a Chapada Diamantina possui um rico acervo cultural formado por dezenas de sítios arqueológicos, que testemunham a história da ocupação humana na região e que podem ter entre 8 e 35 mil anos de idade. As cavernas e paredões das formações rochosas apresentam inúmeras pinturas rupestres que contam a vida e os hábitos das diversas nações indígenas que vem ocupando a região há vários milênios, algo que fascina e encanta os milhares de turistas que visitam a região a cada ano.
Com todo o seu patrimônio ambiental e cultural, a Chapada Diamantina se transformou num dos mais importantes destinos turísticos do Estado da Bahia. A cidade de Lençóis, considerada um dos melhores destinos turísticos da região e que foi eleita em primeiro lugar no prêmio “Melhores Destinos 2019”, recebia, em média, cerca de 150 mil turistas nacionais e internacionais por ano – números anteriores à pandemia da Covid-19.
Apesar de expressivo, esses números estão muito distantes de outros destinos turísticos similares no mundo. Citando um exemplo – o Grand Canyon na Região Sudoeste dos Estados Unidos, recebe mais de 5 milhões de visitantes a cada ano. Isso mostra o tanto o turismo pode crescer e, sendo bem gerenciado, o quanto que poderá ajudar na preservação dessa fascinante região da Bahia.
[…] A CHAPADA DIAMANTINA… em A IMPORTÂNCIA DO BIOMA CE… […]
CurtirCurtir
[…] A CHAPADA DIAMANTINA E SEUS RIOS QUE CORREM DIRETO PARA O MAR […]
CurtirCurtir