Conforme comentamos em postagem anterior, a bacia hidrográfica dos rios Tocantins e Araguaia ocupa a segunda posição em produção de energia elétrica no Brasil. O rio Tocantins possui um total de 7 usinas hidrelétricas em sua calha, onde o grande destaque é a Hidrelétrica de Tucuruí, empreendimento que possui uma potência total instalada de 8.370 MW.
O primeiro grande estudo para o aproveitamento dos recursos hídricos dos rios Araguaia e Tocantins foi iniciado em 1964, com patrocínio da Agency for Internacional Development – United States Department of States, e em parceria com a extinta CIVAT – Comissão Interestadual dos Vales do Araguaia-Tocantins. Aqui vale lembrar que, naqueles tempos, o Governo dos Estados Unidos apoiou a ascensão de diversas Juntas Militares ao poder, inclusive aqui no Brasil, como parte de sua estratégia na Guerra Fria contra a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Como parte do “pacote”, os norte americanos passaram a desenvolver diversos programas de cooperação técnica e científica com os países sob a sua esfera geopolítica.
Técnicos americanos iniciaram os trabalhos sobrevoando os rios Araguaia e Tocantins em aviões de pequeno porte. Naqueles tempos, as regiões lindeiras do rio Tocantins eram escassamente povoadas e os acessos por via terrestre eram praticamente inexistentes. Todos os dados disponíveis sobre hidrologia, meteorologia, solos, propriedades, recursos minerais e florestais, potenciais hidrelétricos e projeções de desenvolvimento econômico e industrial foram consultados. Os estudos iniciais foram focados no potencial de navegação, mas acabaram incorporando a agricultura, geração de energia elétrica, controle das águas e atividades industriais.
Um dos principais destaques do relatório final que foi apresentado ao Governo brasileiro fazia referência ao potencial hidrelétricos dos rios, estimado entre 10 e 15 milhões de kW, onde foram destacadas 12 regiões de maior interesse na calha dos rios. Na região do baixo curso do rio Tocantins, foi destacada uma localidade – as Corredeiras de Itaboca, onde o rio apresentava um forte desnível de 20 metros ao longo de um trecho de 6 km. As estimativas iniciais dos técnicos norte-americanos falavam de um potencial de geração de energia elétrica de 2,4 mil MW em condições naturais. Anos depois, foi construída nesse local a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, uma das maiores em operação no Brasil e sobre a qual falaremos detalhadamente em futuras postagens.
A Usina Hidrelétrica de Tucuruí foi inaugurada em 1984, dentro de um grande pacote de obras de infraestrutura levada a cabo pelo Regime Militar que governou o país entre 1964 e 1985. Depois de uma longa pausa, houve uma repentina retomada da construção de hidrelétricas no rio Tocantins, quando foram construídas as usinas de Serra Mesa (1998), Cana Brava (2002), Luís Eduardo Magalhães (2002), Peixe Angical (2006), São Salvador (2009) e Estreito (2012).
A Usina Hidrelétrica de Serra Mesa, cuja seca persistente na sua represa foi tema da postagem anterior, foi inaugurada em 1998. A Usina possui uma capacidade instalada total de 1,275 mil MW. Além da preocupação óbvia com a geração de energia elétrica, Serra Mesa foi concebida com o objetivo de armazenar grandes volumes de água e, a exemplo da represa da Usina Hidrelétrica de Três Marias no rio São Francisco, regularizar os caudais do rio Tocantins nos períodos da seca, garantindo a geração de energia nas usinas hidrelétricas que seriam construídas a jusante. Conforme comentamos, a Represa vem enfrentando um forte período de seca desde de 2012 e várias medias para a recuperação dos seus níveis de água estão tomadas.
Em 2002, foram inauguradas as Usinas Hidrelétricas de Cana Brava e Luís Eduardo Magalhães. A Usina de Cana Brava está localizada entre os municípios de Minaçu, Cavalcante e Colinas do Sul, no Estado de Goiás. O empreendimento possui três grupos geradores, que fornecem uma potência total de 450 MW. O lago formado pela Hidrelétrica, que inundou uma área total de 139 km², acabou se transformando numa das principais atrações turísticas da região. Como é comum acontecer em regiões interioranas que ficam longe do litoral, os reservatórios de água são transformados em verdadeiras praias de água doce e passam a concentrar hotéis, pousadas, restaurantes e clubes náuticos.
A Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães (vide foto), que era chamada anteriormente de Lajeado, está localizada entre os municípios de Miracema do Tocantins e Lajeado, já no Tocantins, a cerca de 54 km da capital do Estado – Palmas. A Usina conta com 6 grupos geradores, que fornecem uma capacidade total instalada de 902,5 MW. A barragem da Usina, com uma altura de 74 metros, formou um lago de 630 km², que, além dos municípios sede do empreendimento, se estende também para Palmas, Porto Nacional, Brejinho de Nazaré e Ipueiras. As obras da Hidrelétrica foram iniciadas em 1998 e concluídas em 2002.
A Usina Hidrelétrica de Peixe Angical, concluída em 2006, fica localizada entre os municípios de Peixe e São Salvador, no Estado do Tocantins, a cerca de 350 km da capital do Estado – Palmas. A Usina possui 3 grupos geradores e uma potência total instalada de 452 MW. O lago da hidrelétrica inundou uma área de aproximadamente 120 km². Curiosamente, talvez por uma referência ao próprio nome do empreendimento, a Usina Hidrelétrica de Peixe Angelical é a única instalação da calha do rio Tocantins a contar com uma escada para peixes. Esse dispositivo, de extrema importância para a migração das espécies aquáticas durante o período da piracema, é fundamental para atenuar os impactos da obra sobre a fauna do rio.
Na sequência foi a vez da Usina Hidrelétrica São Salvador, inaugurada em 2009, no município de Paranã, em Tocantins. A Hidrelétrica conta com 2 grupos geradores, que fornecem uma potência instalada total de 243,2 MW. A Usina é do tipo a “fio d’água”, empreendimento que opera basicamente a partir da força da correnteza do rio, necessitando de pequenos reservatórios ou, conforme as características do rio, muitas vezes nem dependem da reservação de água. São Salvador possui um reservatório com 104 km² de área.
Finalmente, chegamos ao mais recente empreendimento energético instalado na calha do rio Tocantins – a Usina Hidrelétrica de Estreito, localizada no município homônimo, no Estado do Maranhão, na divisa com Tocantins. A Hidrelétrica possui 8 grupos geradores e uma capacidade total instalada de 1,087 mil MW, suficiente para abastecer uma cidade com 4 milhões de habitantes. As obras do empreendimento foram concluídas em 2012. O lago formado pela Usina inundou uma área de 555 km², se espalhando por um total de 12 municípios de Tocantins e do Maranhão.
Como é fácil de se notar no texto, a imensa maioria das usinas hidrelétricas instaladas ao longo da calha do rio Tocantins não se deu ao trabalho de se preocupar com a instalação de escadas ou qualquer outro dispositivo que permitisse o livre fluxo de espécies aquáticas pelas águas do rio. Isso permite uma leitura bastante objetiva dos impactos ambientais que essa verdadeira sucessão de represamentos provocou no rio, sem falar, é claro em todos os impactos sociais.
Entre as muitas espécies ameaçadas, vamos citar uma icônica – o boto do Araguaia (Inia araguaiensis), espécie descrita pela ciência somente em 2014. Durante séculos, se acreditou que os botos que habitavam as águas dos rios Araguaia e Tocantins eram da mesma espécie que os botos dos rios da Bacia Amazônica, representados pelas espécies boto cinza (Sotalia guianensis), o boto tucuxi (Sotalia fluviatilis) e o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis). Os estudos revelaram que esses animais possuíam diferenças na estrutura óssea e no número de dentes, características que os colocavam dentro de uma nova espécie.
Ironicamente, o boto do Araguaia mal nos foi apresentado pela ciência e já entrou na lista das espécies sob grave risco de extinção.
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[…] Amazônica. Falamos da Usina Hidrelétrica de Tucuruí no rio Tocantins, no Estado do Pará. O rio Tocantins forma, em conjunto com o rio Araguaia, uma importante bacia hidrográfica que drena uma extensa […]
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