AS MUITAS HISTÓRIAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAÍBA DO SUL E DAS SUAS USINAS HIDRELÉTRICAS

Rio Paraíba do Sul

O rio Paraíba do Sul tem aproximadamente 1.100 km de extensão, com nascentes no Estado de São Paulo e foz no litoral Norte do Rio de Janeiro. Ele não é um dos maiores rios brasileiros, mas a sua bacia hidrográfica é uma das mais importantes do país, tanto em abastecimento de água para populações nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, quanto na geração de energia em usinas hidrelétricas instaladas na sua calha e/ou que utilizam as suas águas através de sistemas de transposição entre bacias hidrográficas. São múltiplas histórias, que contaremos em diferentes postagens. 

Vamos começar falando do rio Paraíba do Sul e sua interessante história. 

O rio Paraíba do Sul se forma a partir da junção dos rios Paraibuna e Paraitinga, rios com nascentes nas encostas da Serra da Bocaina, um dos trechos da Serra do Mar no Estado de São Paulo. Assim como aconteceu com os rios Tietê, Iguaçu e Paranapanema, as águas dos rios Paraibuna e Paraitinga passaram a correr no sentido Oeste devido aos processos de soerguimento dos terrenos da Serra do Mar. Inclusive, durante um longo período geológico, esses rios eram afluentes formadores do rio Tietê. 

Há cerca de 65 milhões de anos atrás, como resultado dos movimentos combinados de falhas geológicas paralelas ou quase paralelas, um grande bloco rochoso afundou, formando a atual região do Vale do rio Paraíba, no Leste do Estado de São Paulo. Sem entrar em maiores detalhes, esse tipo de afundamento ocorreu devido à movimentação das Placas Tectônicas, também conhecida como Tectônica Global – se ficou curioso, pesquise sobre isto. 

Em geologia estrutural, isso é o que se chama de Graben ou fossa tectônica, resultando na formação de um vale alongado e com fundo plano. Um outro grande exemplo de fossa tectônica aqui no Brasil é o Vale do Rio São Francisco, na Região Nordeste. Com o afundamento dos solos nessa região, os rios Paraibuna e Paraitinga desviaram seu curso em direção ao Norte, formando inicialmente um grande lago onde encontramos hoje os municípios de São José dos Campos e Taubaté. Ao longo de milhões de anos, essas águas foram encontrando brechas no solo e, pouco a pouco, foi criado o leito do rio Paraíba do Sul até sua foz no Oceano Atlântico.  

O rio Paraíba do Sul foi descoberto logo nos primeiros anos após o descobrimento do Brasil. Entre 1501 e 1502, foi realizada a Primeira Expedição Exploradora das costas brasileiras sob o comando de Gaspar de Lemos e com a participação do navegador Américo Vespúcio. Essa expedição batizou diversos acidentes geográficos e ilhas ao longo da costa, usando especialmente nomes dos santos de cada dia, como era o costume na época. No Norte do atual Estado do Rio de Janeiro, os exploradores encontraram a foz de um grande rio, que era chamado de “paraíba” pelos índios tupi, um nome que significava algo como “rio difícil de invadir”. Como esses exploradores já haviam batizado um outro rio com esse nome no Nordeste, onde encontramos o atual Estado da Paraíba, o novo rio acabou batizado de rio Paraíba do Sul. 

Apesar de nunca ter sido um rio totalmente navegável, o Paraíba do Sul foi um importante caminho para a penetração nos “sertões” do Leste de Minas Gerais e do interior do Rio de Janeiro, onde foram instaladas fazendas, povoados e cidades. O cultivo da cana-de-açúcar foi uma das primeiras atividades econômicas da região, especialmente ao longo dos séculos XVIII e XIX. O rio Paraíba também foi o caminho de entrada da cultura do café, primeiro em regiões do interior do Estado do Rio de Janeiro, passando depois para o Vale do Paraíba, no Leste do Estado de São Paulo. Em períodos históricos mais recentes, a região da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul passou a concentrar atividades agropecuárias e industriais, estas últimas decorrentes da instalação da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, no interior do Estado do Rio de Janeiro, na década de 1940. 

Os diferentes ciclos econômicos que se sucederam ao longo das margens do rio Paraíba do Sul e regiões adjacentes deixaram como legado um grande número de cidades e uma grande população. Ocupando uma área com mais de 56 mil km², a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul abrange um total de 88 municípios em Minas Gerais, 57 no Rio de Janeiro e 39 no Estado de São Paulo. Somente no Estado do Rio de Janeiro, 12 milhões de habitantes dependem das águas do rio para seu abastecimento, especialmente na Região Metropolitana e na Baixada Fluminense, onde as águas do Paraíba do Sul são transpostas através do rio Guandu e respondem por 80% da água consumida pela população. 

O potencial hidrelétrico da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul é um destaque a parte. A Usina Hidrelétrica Ilha dos Pombos foi a primeira a ser construída no rio Paraíba do Sul em Carmo, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Inaugurada em 1924, a usina utilizou um projeto técnico bastante inovador para a época, ampliando a capacidade do sistema gerador da Light em 187 MW. Uma curiosidade desta obra – a execução do projeto foi coordenada pelo engenheiro norte-americano Asa Billings, o mesmo que anos depois chefiou as obras do complexo da Represa Billings (que recebeu o nome em homenagem ao seu construtor) e Usina Hidrelétrica de Cubatão

Uma outra importante hidrelétrica do rio Paraíba do Sul é a Usina do Funil, em Itatiaia no Rio de Janeiro, que foi concebida no início da década de 1930, com o objetivo de permitir a eletrificação de estradas de ferro nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. As obras, porém, acabaram adiadas em cerca de 30 anos e a usina só iniciou suas operações em 1969, com uma capacidade instalada de 219 MW. Apesar de não ser uma das maiores em capacidade instalada, a Usina do Funil tem uma localização estratégica nas proximidades de grandes centros consumidores. Uma outra característica relevante da obra foi sua capacidade de regularizar a vazão do rio Paraíba do Sul, reduzindo a frequência e a intensidade das enchentes, resultado dos intensos e seculares desmatamentos em toda a área da bacia hidrográfica. 

Dentro do Estado de São Paulo, existem 3 hidrelétricas de destaque na bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul – Paraibuna, Santa Branca e Jaguari. Além de importantes fontes de geração de energia elétrica, os reservatórios dessas hidrelétricas formam uma parte considerável do reservatório virtual de abastecimento do Estado do Rio de Janeiro. Em 1952, após a conclusão da Barragem de Santa Cecília, parte das águas do Paraíba do Sul passaram a ser desviadas na direção do Complexo de Lajes, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Esse complexo é formado por diversos reservatórios, usinas elevatórias e hidrelétricas. São as águas que descem deste Complexo que reforçam a vazão do rio Guandu, o principal manancial de abastecimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 

Apesar de toda a sua importância histórica, econômica e social, o rio Paraíba do Sul é hoje o 5° rio mais poluído do país, sofrendo com despejos de esgotos domésticos, industriais, exploração de areia e mineração, além de toda uma coleção de impactos ambientais provocados pela construção de inúmeras usinas hidrelétricas ao longo de sua bacia hidrográfica. 

Na próxima postagem, vamos falar das usinas hidrelétricas do trecho paulista da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. 

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