Ao longo de uma sequência de postagens, foi possível demonstrar o grau de devastação ambiental que assolou o município de Cubatão entre as décadas de 1950 e 1980, quando a região recebeu a denominação, nada agradável, de “Vale da Morte”. Esta devastação pode ser definida como uma espécie de pacote completo:
– Poluição do ar, quando o conjunto de empresas do Polo Industrial de Cubatão lançavam na atmosfera aproximadamente 40 toneladas/dia de gases tóxicos e material particulado;
– Poluição do solo devido ao despejo clandestino de centenas de toneladas de rejeitos e resíduos industriais de todo o tipo, incluindo-se na lista o perigoso Pó da China, um desinfetante, fungicida, inseticida, bactericida e moluscocida sintético e altamente tóxico para os seres humanos e para o meio ambiente, banido do mercado na década de 1980.
– Poluição das águas por despejos de efluentes industriais dos mais diversos tipos e origens, combinado com os esgotos domésticos da população, águas pluviais ácidas e águas subterrâneas contaminadas pelos aterros de resíduos químicos – o rio Cubatão, o principal curso d’água do município, era o principal destino de toda essa carga poluidora e, consequentemente, era um retrato da devastação ambiental regional.
O rio Cubatão é formado pela junção das águas de vários rios na vertente da Serra do Mar, com destaque para os rios Pilões, das Pedras, Perequê e Capivari. O rio atravessa todo o município de Cubatão e se abre num extenso delta ao chegar na região do estuário de Santos, onde forma uma grande região de importantes manguezais. Somente para relembrar a importância histórica e econômica desta região, a primeira cidade fundada no Brasil foi São Vicente em 1532 e, na cidade vizinha – Santos, funciona o maior e mais importante porto do Brasil. Esses manguezais, durante séculos, garantiram o fornecimento de pescados e frutos do mar para a população de toda a região, até que a intensa poluição inviabilizasse as atividades pesqueiras e de coleta nestes manguezais. As águas do rio captadas na base da Serra do Mar sempre foram uma importante fonte de abastecimento de água da população da região. A Sabesp – Companhia de Abastecimento de São Paulo abastece 1 milhão de habitantes, em 5 cidades da região com águas captadas na bacia hidrográfica do rio Cubatão, demonstrando a importância regional do rio e a preocupação com os danos provocados pela intensa poluição de suas águas.
Uma das primeiras fontes de poluição observadas no rio Cubatão foram as águas que desciam da represa Billings em direção da Usina Henry Borden, que apresentavam sinais de contaminação por esgotos, transpostos a partir das águas do já poluído rio Tietê a partir de 1950. Na mesma época, após a construção da Refinaria Arthur Bernardes e de todas as indústrias associadas instaladas no Polo Industrial de Cubatão, o rio passou a receber cargas de poluentes em volumes crescentes. Dados da Cetesb – Companhia Ambiental de São Paulo, mostram que até julho de 1984 eram despejadas 64 toneladas/dia de poluentes no rio Cubatão, sem contar os volumes de poluentes carreados para o canal do rio pelas águas pluviais e percolados a partir das águas subterrâneas.
Como já descrito nas postagens anteriores, o município de Cubatão passou por um intenso e dramático programa de despoluição a partir do ano de 1984, capitaneado pelas autoridades do Governo do Estado de São Paulo, pelas indústrias e sociedade civil. Foram criados diversos programas para o controle da poluição do ar, do solo e das águas, além de programas para o reflorestamento e contenção das encostas da Serra do Mar, construção de conjuntos habitacionais para a transferência de moradores das áreas de risco, investimentos em saúde, educação e saneamento básico. Os resultados de todos estes esforços gradativamente passaram a ser vistos na qualidade do ar e das águas, que melhoraram a olhos vistos.
Dados da Cetesb, referentes ao ano de 2010, mostram que as águas do rio Cubatão tiveram uma redução de 93,8% no nível de poluentes, sendo 93% de redução da DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio, 90% de redução na carga de resíduos sólidos, 97% de redução no lançamento de metais pesados, 80% nos fenóis e 96% nos fluoretos. A totalidade das fontes geradoras de poluentes nas indústrias é controlada e monitorada em tempo real, porém ainda existem fontes de poluição difusa, especialmente percolações originadas nos muitos aterros de resíduos (frequentemente, novas áreas de aterros clandestinos são descobertas na região). O combate a este tipo de poluição depende a remoção dos volumes de solo contaminados, que precisam ser transportados para uma usina onde receberão um tratamento térmico – esse processo é lento, caro e vários Estados proíbem a entrada destes resíduos em suas fronteiras (a fumaça gerada no processo de queima pode liberar dioxinas, compostos químicos altamente tóxicos).
Uma das consequências mais marcantes observadas ao longo do processo de despoluição do município de Cubatão pode ser observada no uso racional da água – 96% da água doce utilizada pelas indústrias é recirculada – a água passa por processos de tratamento por decantação, floculação e filtragem antes de ser reutilizada nos processos industriais. Com isso, há uma substancial redução na necessidade de captação de água na bacia hidrográfica e também no descarte de efluentes líquidos – tudo isso contribuiu para a preservação e recuperação ambiental do rio Cubatão.
Os guarás vermelhos, espécie de ave que sempre habitou a região, são uma espécie de indicador da qualidade ambiental do rio Cubatão. A cor vermelha de suas penas tem origem em substâncias químicas encontradas nos moluscos que compõem a sua dieta – ao longo dos anos de poluição intensa, estes moluscos desaparecem dos manguezais e os pobres guarás apresentavam uma plumagem branca e sem graça. Agora, com a melhoria da qualidade das águas, os guarás voltaram a exibir sua vistosa plumagem vermelha, num sinal de tempos cada vez melhores em Cubatão, apesar dos muitos problemas que ainda persistem.
[…] sempre habitou a região e que havia desaparecido, voltou a habitar as margens do rio Cubatão. A cor vermelha de suas penas tem origem em substâncias químicas encontradas nos moluscos que […]
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[…] que não tem fachada oceânica, ficando espremido entre a Serra do Mar e o estuário de Santos. O rio Cubatão é o mais importante da região, ligando o município ao Oceano […]
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[…] – as vistosas penas rosas passaram a apresentar uma cor branca (semelhante ao que ocorreu com os guarás vermelhos do rio Cubatão, em São […]
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[…] A situação crítica da poluição do ar nas grandes cidades da Índia faz lembrar dos antigos problemas de Cubatão, município da Região da Baixada Santista em São Paulo, que na década de 1980 era conhecido como o Vale da Morte. A região abrigava um imenso complexo petroquímico e siderúrgico numa época em que valia tudo pelo desenvolvimento econômico. Depois de inúmeras tragédias, o Governo do Estado de São Paulo resolveu agir, sob forte pressão da opinião pública, e as coisas começaram a mudar – 95% das fontes de poluição foram controladas e a cidade é hoje um exemplo mundial de gestão ambiental. […]
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[…] No caso da Billings há um agravante – o sistema de transposição de águas em operação transferia grandes volumes de esgotos das águas já bastante poluídas do rio Tietê para a represa. Esse bombeamento foi proibido em 1992, ficando restrito apenas a situações de emergência como enchentes e falta de água para as indústrias da região da Baixada Santista (as águas da Represa Billings são conduzidas Serra do Mar abaixo por grandes tubulações para a Usina Hidrelétrica Henry Borden em Cubatão e depois são despejadas em rios da região). […]
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[…] turbinas da Hidrelétrica Henry Borden, as águas vindas da Represa Billings são despejadas no rio Cubatão, que até poucas décadas atrás era um dos rios mais poluídos do Brasil. O município de Cubatão […]
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