GATOS DOMÉSTICOS: UMA DAS MAIORES AMEAÇAS À FAUNA SILVESTRE NO MUNDO 

Ameaças à fauna e à flora estão por todos os lados e são, quase que diariamente, temas de notícias e reportagens especiais nas redes sociais e nos meios de comunicação tradicionais. Os vilões são, invariavelmente, a destruição e a queima de florestas, o avanço da agricultura, mineração e criação de animais; o crescimento desordenado de cidades, a poluição das águas de rios, lagos e mares; a queima de combustíveis fósseis, entre outras ameaças. 

Todo esse conjunto de “vilões clichês” da natureza estão bem cristalizados no imaginário popular. Falar de outros tipos de ameaça ao meio ambiente pode até soar como algum tipo de heresia. Entretanto, existe um tipo de ameaça à fauna silvestre que convive conosco em nossas casas, ruas e outros logradouros públicos, que raramente levamos em conta – os gatos domésticos

Sim, eles mesmos – nossos fofos e amados gatinhos de estimação! 

Uma pequena amostra da periculosidade dos bichanos – de acordo com estimativas ambientais realizadas nos Estados Unidos, gatos domésticos (Felix silvestris catus) matam a cada ano 2,4 bilhões de aves, 12,3 bilhões de mamíferos, 478 milhões de répteis e 173 milhões de anfíbios – exclusivamente dentro do território norte-americano. 

Muitos dirão que os gatos são exímios caçadores de ratos, realizando assim um importante serviço no controle de epidemias. Sim, isso é a mais absoluta verdade. A lista de animais caçados, entretanto, é enorme. Estudos indicam que mais de duas mil espécies são caçadas por gatos domésticos, em sua imensa maioria formada por animais com menos de 5 kg de peso

Diferente de seus primos selvagens, os gatos domésticos costumam ser alimentados por seus donos ou, no caso dos chamados “vira-latas”, vasculham sacos e latas de lixo para conseguir alguma coisa para comer. Mesmo assim, de barriga cheia, esses animais costumam sair em passeios por áreas silvestres próximas de suas casas para exercitar seus instintos de caçador, matando um ou outro animal apenas por “diversão”. 

Ao contrário de muitos dos seus primos selvagens, que vem sofrendo com a perda de seus habitats e áreas de caça, sofrendo assim de risco de extinção em muitas regiões, a população de gatos domésticos não para de crescer. Aqui no Brasil estima-se que mais de 29 milhões de gatos vivem em casas e ruas de nossas cidades. Nos Estados Unidos são estimados em 84 milhões de animais e, em países desenvolvidos, se estima algo como um gato para cada quinze habitantes. 

De acordo com estimativas de arqueólogos e outros cientistas, pequenos gatos selvagens começaram a se aproximar de assentamentos humanos há cerca de 8 ou 9 mil anos, especialmente na África. Esse foi um período marcado pelo início da agricultura e abandono da vida de nômades caçadores/coletores por muitos grupos humanos. 

Esses gatos passaram a rondar os agrupamentos humanos em busca de alimentos fáceis proporcionados por criações domésticas como galinhas, patos e coelhos. Também visavam a caça de um animal “doméstico” indesejado – os ratos. Isso mesmo – ratos são classificados como animais sinantrópicos, ou seja, animais que aprenderam a viver junto com os seres humanos. Nessa lista se incluem também baratas, pulgas, carrapatos, formigas, abelhas, centopeias, lagartixas e morcegos, entre muitos outros. 

Os ratos domésticos ou camundongos (Mus musculus), os ratos pretos (Rattus rattus) e as ratazanas (Rattus norvegicus), conhecidas em algumas regiões como gabirus, são originários das planícies da Ásia Central. Esses animais se aproximaram dos assentamentos humanos em busca de alimentos, especialmente os grãos que passaram a ser estocados em silos e celeiros. Com as migrações humanas, esses animais seguiram as caravanas e se espalharam por todo o mundo. 

Além de causar perdas nos estoques de alimentos, os ratos passaram a transmitir um sem-número de doenças aos grupos humanos. Quando essas pessoas perceberam que os gatos caçavam e comiam esses ratos, rapidamente passaram a adotar os simpáticos gatos como animais de estimação. Estimativas atuais falam de mais de 250 raças diferentes de gatos. 

Apesar da boa e confortável vida doméstica, com abrigo, comida e muito carinho, os gatos nunca perderam seus instintos de caçador furtivo. Também mantiveram muitos dos seus hábitos ancestrais como a hiperatividade noturna e o gosto por longos passeios pelo “seu território”. E são justamente nesses passeios noturnos onde se deixam levar pelos instintos mais primitivos de caçador. 

Muitos que tem um gato de estimação em casa já foram surpreendidos com o recebimento de “presentes” trazidos pelos animais – pássaros, lagartos ou outros animais mortos, caçados durante a última noite. Estima-se que, pelo menos, 33 espécies de animais silvestres foram levadas à extinção por ação direta de gatos domésticos. 

A pior parte dessa história – qual ambientalista consegue convencer os donos de um desses fofos e simpáticos animais de sua periculosidade para a fauna silvestre

A POLÊMICA “DESEXTINÇÃO” DO LOBO-TERRÍVEL 

Ambientalistas, cientistas e fãs do desenvolvimento científico entraram em um verdadeiro êxtase após a divulgação da notícia da “desextinção” do lobo-terrível, uma espécie aparentada com os lobos atuais e que desapareceu da face da terra há mais de 10 mil. 

A responsável pela suposta façanha foi a empresa Colossal Biosciences, uma startup norte-americana. De acordo com o comunicado, a empresa conseguiu trazer de volta a vida três filhotes de lobo-terrível: Romulus e Remus, dois machos que estão com cinco meses (foto), e Khalesi, uma fêmea que nasceu no final de janeiro. 

De acordo com a empresa, o genoma dos animais foi reconstruído a partir de amostras de DNA antigo recuperadas de fósseis de lobo-terrível que datam de 11,5 mil e 72 mil anos. Trechos específicos desse material genético foram inseridos no DNA de lobos cinzentos, a espécie viva mais próxima do lobo-terrível. Esse DNA “editado” foi usado para recriar os filhotes. 

O extinto lobo-terrível (Aenocyon dirus), também conhecido como lobo pré-histórico, tinha como habitat a América do Norte. Cientistas afirmam que a espécie surgiu na América do Sul e que migrou para a porção norte do continente há cerca de 100 mil anos.  

Essa antiga espécie era um pouco maior que os lobos cinzentos atuais, com um peso que podia chegar aos 80 kg. A principal diferença entre as duas espécies está no esqueleto, que no lobo-terrível era mais pesado e massivo. Os primeiros fósseis da espécie foram encontrados na bacia hidrográfica do rio Ohio em 1854, porém, a maior fonte de ossadas desses animais são encontradas no famoso poço de piche de La Brea, que fica no centro da cidade de Los Angeles.

A espécie também tinha a cabeça maior que os lobos cinzentos atuais, com dentes mais fortes e uma mandíbula massiva, uma característica que permitia ao lobo-terrível triturar ossos com extrema facilidade. O animal também tinha patas mais curtas, o que indica que a espécie era mais lenta que o lobo cinzento. 

A análise das características físicas do lobo-terrível indica que a espécie era especializada na caça de animais grandes e lentos da antiga megafauna norte-americana, espécies que vagavam pelas paisagens do pleistoceno. Nessa lista podemos incluir bisontes, antas, preguiças gigantes, mastodontes e mamutes jovens, entre outros. Essas espécies se extinguiram entre 16 mil e 10 mil anos, eventos que contribuíram fortemente para a extinção do lobo-terrível. 

Inúmeros cientistas estão vindo a público para questionar o feito da Colossal. O principal questionamento é como foi feita a reconstrução do DNA do lobo-terrível. Estudos científicos costumam ser publicados em detalhes em publicações especializadas, de forma que cientistas de universidades e empresas possam avaliar a metodologia ou que possam, até mesmo, replicar todo o processo, validando assim a descoberta. 

Outro questionamento frequente diz respeito a “desextinção”. Segundo o comunicado da Colossal, o DNA usado para a reprodução dos animais era de lobos cinzentos com apenas 20 trechos editados com DNA do lobo-terrível. De acordo com os especialistas, esse processo apenas “maqueou” algumas características do lobo cinzento, o que permitiu criar “lobinhos brancos”. 

Essa é uma discussão que vai se estender por muitos e muitos anos… 

Polêmicas à parte, os estudos da Colossal Biosciences abrem todo um leque de possibilidades técnicas para a conservação de espécies animais sob risco iminente de extinção. São casos em que o número de indivíduos é muito pequeno e a simples clonagem de indivíduos não é viável devido à baixa diversidade genética. 

Um caso que podemos citar é o da vaquita (Phocoena sinus), considerada a espécie de cetáceo mais ameaçada do mundo. São pequenos golfinhos com cerca de 1,4 metro de comprimento que vivem somente em um pequeno trecho do Mar de Cortês, na costa Oeste do México, localizado junto ao delta do rio Colorado. De acordo com as últimas estimativas, existe algo entre 10 e 20 vaquitas ainda vivas. 

A criação de uma técnica de reconstrução de DNA antigo como essa que, supostamente foi utilizada para recriar os lobos-terríveis, permitiria a reconstrução do DNA recolhido em ossos antigos de vaquitas, o que permitiria trazer de volta a vida indivíduos com características genéticas diversas. Estes indivíduos poderiam se misturar aos remanescentes da espécie e produzir filhotes mais saudáveis, o que viabilizaria a sobrevivência das vaquitas a longo prazo. 

Nessa conta também podemos incluir espécies animais recém extintas pela humanidade. Vou citar o exemplo do baiji ((Lipotes vexillifer), também chamado de golfinho-lacustre-chinês ou golfinho branco. Essa espécie era encontrada exclusivamente na bacia hidrográfica do rio Yangtzé na China. A intensa poluição e degradação das águas desse rio foi fatal para esses golfinhos – o último baiji vivo foi visto em 2006. 

A lista de espécies criticamente ameaçadas e/ou recentemente extintas é enorme. A possibilidade de reversão dessas situações a partir desse tipo de tecnologia enche de esperança o coração de ambientalistas e amantes da natureza. 

Por enquanto, a única certeza que todos temos é que três lobinhos brancos e muito fofos nasceram nos laboratórios de uma empresa norte-americana. O que virá daqui para a frente é simplesmente uma grande incógnita. 

AS CHUVAS TORRENCIAIS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

O Estado do Rio de Janeiro foi castigado por fortes chuvas nos últimos dias. Além da Região Metropolitana, foram atingidas as regiões da Baixada Fluminense, Serrana e, particularmente, o Litoral Sul. 

As cidades mais afetadas pelas chuvas foram o Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Mesquita, Magé, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Angra dos Reis e Paraty, municípios do Litoral Sul que fazem parte da chamada Costa Verde, foram os mais fortemente atingidos. 

As cidades brasileiras, conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, não estão preparadas para conviver com fortes chuvas. Existem algumas exceções, é claro, mas esse fato é praticamente uma regra geral. Além da falta de infraestrutura, os chamados sistemas de drenagem de águas pluviais, o problema é sempre agravado pela ocupação irregular de encostas de morros e margens de rios e córregos

Na Região Serrana do Rio de Janeiro, em cidades como Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, tragédias de escorregamentos de encostas em episódios de chuva forte são comuns, com centenas de casas destruídas e com inúmeros mortos e feridos. 

No quesito infraestrutura, as cidades costumam pecar muito no dimensionamento da drenagem de grandes volumes de águas pluviais. Os sistemas que realizam este tipo de trabalho começam com as sarjetas e o meio-fio das ruas, seguindo para os bueiros, caixas de passagem e tubulações. Grande parte dos bairros das cidades ou não tem esses dispositivos ou, quando existem, foram feitos com grande índice de improvisos. 

Nesse último episódio de fortes chuvas em terras fluminenses, a cidade de Angra dos Reis foi a mais fortemente castigada. De acordo com informações da Prefeitura, o volume acumulado de chuvas, que começaram a cair na sexta-feira dia 4, foi de impressionantes 324 mm nas primeiras 24 horas e de 357 mm em 48 horas. 

Para quem não conhece esse sistema de medição, falamos aqui da quantidade de águas de chuva que atinge uma área de 1 m² durante um certo período. Imagine uma caixa com arestas de 1 m (altura, largura e profundidade). Quando falamos de uma chuva com 324 mm, falamos que o volume de água acumulado nessa caixa atingiu uma altura de 324 mm, ou seja, 324 litros de água para cada metro quadrado da região. 

Em 2010, época em que trabalhei nas obras do sistema de coleta e tratamento de esgotos da cidade de Porto Velho em Rondônia, acompanhei estarrecido a chuva mais forte que já vi na minha vida. De acordo com a medição de um pluviômetro instalado no nosso canteiro de obras, foram mais de 145 mm de chuva forte e contínua ao longo de 6 horas. Em alguns momentos, a vibração da chuva no telhado do escritório nos dava a impressão de que um desmoronamento seria iminente. 

O volume dessa chuva que atingiu Angra dos Reis entre a última sexta-feira e o sábado foi bem mais que o dobro da chuva que vivi na Amazônia. Esse volume de água caindo sobre uma cidade em um espaço de tempo tão curto já teria um potencial de destruição fabuloso, mesmo que a cidade tivesse um sistema de controle de águas pluviais exemplar. 

Normalmente, episódios de chuva forte em nossas cidades apresentam volumes máximos da ordem de 50 mm. Quando circulamos pelas ruas e avenidas nesses momentos costumamos enxergar grandes enxurradas descendo pelas calhas das sarjetas, encontramos pontos de alagamento aqui e ali, e observamos também canais de drenagem e outros corpos d’água tendo seus volumes e níveis aumentando dramaticamente. 

Na minha cidade – São Paulo, que nem de longe está preparada para uma convivência com chuvas mais fortes, uma chuva dessas tem potencial para provocar um verdadeiro caos. São alagamentos nas áreas mais baixas, destelhamento e até desmoronamento de casas em áreas críticas, muito lixo espalhado por rua e avenidas, além de engarrafamentos monstruosos. 

Angra dos Reis e Paraty, cidades que são famosas pelo seu grande potencial turístico, com belos pontos históricos e fabulosas mansões ao longo da faixa costeira, também são famosas por bairros precários ocupando encostas de morros e com total falta de infraestrutura. Foram justamente esses bairros os mais atingidos pelas fortes chuvas. 

De acordo com informações da Defesa Civil Estadual, mais de 50 mil pessoas da região litorânea foram impactadas pelas fortíssimas chuvas. Desmoronamentos de casas e encostas de morros deixaram 17 mortos até o momento – 10 em Angra dos Reis e 7 em Paraty, deixando um rastro de destruição. Ruas, avenidas e canais de drenagem foram tomadas por lama e entulho, alagando rapidamente. Centenas de pessoas estão desabrigadas.

A rodovia BR 101, mais conhecida como Rio-Santos, teve 6 pontos de interdição por causa de desmoronamentos de encostas em Paraty, Angra dos Reis e Mangaratiba. Essa rodovia é um dos principais acessos às cidades atingidas, problema que complicou as operações de socorro aos afligidos pela chuva. 

Como é praxe em emergências, toda a máquina pública das cidades e do Governo estadual, além de órgãos do Governo Federal, são acionados e os mais diferentes tipos de esforços são colocados em campo para atender as vítimas. Abrigos de emergência são abertos, cestas básicas são distribuídas, programas de renda emergencial são criados, feridos recebem atendimento médico e os mortos são enterrados sob muita comoção. 

E, como sempre acontece, a vida pouco a pouco vai voltando ao normal, com as populações reconstruindo pouco a pouco as suas vidas. Governantes e autoridades, discretamente, também começam a desaparecer das áreas impactadas – todos procuram se poupar para voltar a aparecer em futuras e inevitáveis novas tragédias. 

Mais cedo ou mais tarde será necessário dar um basta nesse lamentável ciclo vicioso de uma tragédia sendo seguida por outra maior ainda. Saneamento básico e políticas habitacionais sérias precisam deixar de ser apenas planos mirabolantes em propostas de governo (que, milagrosamente, costumam se multiplicar nas campanhas eleitorais) para serem transformados em realizações públicas. 

A temporada de chuvas deste ano na região centro-sul do país está terminando, mas a próxima, inevitavelmente, vai chegar no final do ano. E como se repete ano após ano, as mesmas tragédias associadas as fortes chuvas vão voltar a acontecer, muitas vezes nos mesmos lugares. 

Hora de dar um basta em tudo isso!

FALANDO DA MARGEM EQUATORIAL 

No último dia 26 de março, a ONU – Organização das Nações Unidas, publicou uma resolução reconhecendo a ampliação do território da Plataforma Continental Brasileira na região conhecida como Margem Equatorial. 

Essa faixa da plataforma continental se estende desde a foz do Rio Oiapoque, no Amapá, até o litoral do Rio Grande do Norte, correspondendo a uma área total de 360 mil km², um território equivalente ao da Alemanha. Com essa resolução, o Brasil tem reconhecido o seu direito a soberania para explorar todos os recursos naturais da área – especialmente o petróleo.  

Estimativas preliminares indicam a existência de reservas da ordem de 30 bilhões de barris de petróleo e gás na Faixa Equatorial Brasileira, números que justificam os esforços das autoridades em obter o reconhecimento da região. Esse volume vem se somar às reservas já mapeadas do Brasil e que são estimadas em 14,8 bilhões de barris. 

Explicando da forma mais simplista possível, essa plataforma marítima foi formada ao longo dos últimos 160 milhões de anos a partir da deposição de sedimentos de diversas bacias hidrográficas ao longo da costa. Esse processo teve início com a fragmentação do supercontinente de Gondwana, momento em que a América do Sul iniciou a sua deriva continental rumo ao oeste. As diferentes camadas desses sedimentos possibilitaram a formação das reservas de petróleo e gás recém descobertas. 

A Margem Equatorial não fica limitada ao litoral brasileiro, e se estende ao largo da Guiana Francesa, Suriname e Guiana. Essa área marítima do Caribe passou a ocupar manchetes em todo o mundo a partir de 2015, ano em que as enormes descobertas petrolíferas da Guiana passaram a ser divulgadas. Até o momento, o país já confirmou reservas de petróleo calculadas em 11 bilhões de barris, volume equivalente a 75% das reservas conhecidas no Brasil. 

No trecho do Suriname, as descobertas datam de 2020, com um volume de reservas confirmadas da ordem de 4 bilhões de barris. Segundo estimativas de especialistas, as reservas totais do país podem chegar aos 13 bilhões de barris. A Guiana Francesa, provavelmente por questões de ideologia, ainda não iniciou as suas explorações. 

Para que todos tenham uma ideia da riqueza natural da Margem Equatorial, vamos fazer uma breve análise da economia da Guiana: o país teve um crescimento do seu PIB – Produto Interno Bruto, de 43,24% em 2024. Em renda per capita, a Guiana já é o país mais rico da América do Sul, com uma renda de mais de US$ 40 mil por habitante. A Guiana tem pouco mais de 800 mil habitantes. 

As repercussões econômicas no pequeno país são imensas – a Guiana quadruplicou o tamanho da sua economia em apenas 5 anos. Todo esse sucesso, é claro, não veio de graça – a vizinha Venezuela, de olho no “ouro negro” da Margem Equatorial, reacendeu uma centenária disputa pela posse da região do Essequibo, área que engloba o equivalente a 2/3 do território da Guiana. O clima anda muito tenso entre os dois países. 

Aqui no Brasil, desgraçadamente, a exploração das reservas de petróleo e gás da Margem Equatorial divide opiniões. Enquanto a Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A., faz seus planos para estruturar a exploração, autoridades ambientais, especialmente do IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, não querem nem ouvir falar na Margem Equatorial – principalmente na região da Foz do Rio Amazonas. 

O órgão alega um sem-número de riscos ambientais, que vão desde ameaças às tribos indígenas da faixa litorânea do Amapá e do Pará, a riscos aos chamados corais da Amazônia, formações que a maioria dos especialistas em vida marinha diz ser improvável de existir na região. 

Essa posição é derivada de uma postura fortemente idealista, onde a conservação da Floresta Amazônica deve impedir todo e qualquer tipo de exploração econômica do bioma, mesmo que isso se valha de práticas sustentáveis. Esse grupo defende cegamente a total eliminação da queima de combustíveis fósseis e luta pelo uso pleno de energias renováveis, sem que entre na equação um período adequado de transição e reordenamento das economias dos países. 

Combustíveis de origem fóssil, principalmente o carvão mineral e os derivados de petróleo, são altamente prejudiciais ao meio ambiente e estão no topo da lista dos vilões do aquecimento global. Em inúmeras postagens aqui do blog já tratamos disso, mostrando uma enorme série de consequências nocivas ao meio ambiente. 

Entretanto, temos consciência que uma transição brusca da matriz energética mundial não pode ser feita de uma hora para outra. Um exemplo – trocar todos os veículos com motores a combustão interna por veículos elétricos demandaria num crescimento exponencial da oferta e consumo de energia elétrica. Atualmente, mais de 60% da energia elétrica produzida no mundo vem de centrais termelétricas, principalmente de unidades movidas por carvão mineral. Não é necessário muito esforço para entender o tamanho do desastre ambiental de uma mudança brusca nessa área. 

Petróleo, ao contrário do que muitos pensam, não é usado apenas para a produção de gasolina, diesel e querosene, entre outros combustíveis. O mineral também é a fonte de matérias primas para toda uma gama de petroquímicos como plásticos, fibras sintéticas, borrachas, fertilizantes e produtos químicos diversos. Também precisamos incluir na lista o GLP – Gás Liquefeito de Petróleo, essencial nas cozinhas de milhões de brasileiros. 

Atualmente, cerca de 95% do total de petróleo produzido aqui no Brasil vem de campos de exploração off-Shore, ou seja, de plataforma instaladas sobre o leito oceânico, especialmente na região conhecida como Pré-sal. As receitas geradas por essa exploração geram importantes dividendos para vários Estados, com destaque para o Rio de Janeiro. 

A produção diária de petróleo e gás natural no Pré-sal atingiu a marca 3,681 milhões de barris em 2024, um volume equivalente a 81,2% da produção nacional.  De acordo com informações do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a indústria do petróleo e do gás corresponde a 11% do PIB brasileiro. 

Quando comparamos todos os impactos econômicos e sociais decorrentes da indústria do petróleo e do gás com acidentes na produção e no transporte dos produtos, observamos que os riscos reais ao meio ambiente são muito pequenos. Acidentes, é claro, vivem acontecendo, porém, as políticas e ações de prevenção e combate aos problemas costumam ser muito eficazes. 

Enquanto o impasse persiste por aqui, nossos vizinhos do norte – Guiana e Suriname, estão se aproveitando da riqueza gerada pela exploração petrolífera e usando o dinheiro para melhorar a infraestrutura e a vida dos seus cidadãos. 

Sendo irônico – viva a sustentabilidade! 

GROENLÂNDIA: A “TERRA VERDE” 

Quem acompanha os noticiários com alguma atenção deve ter reparado que a Groenlândia, grande ilha localizada a leste da costa do Canadá, vem sendo bastante comentada nos últimos quatro meses. De um lado, ouvem-se falas de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América, afirmando que vai anexar o território; de outro lado, dinamarqueses contra-atacando e reafirmando a sua soberania sobre a ilha. 

A Groenlândia possui um território com cerca de 2,1 milhões de km², sendo considerada a maior ilha do mundo. Para efeito de comparação, isso equivale a soma dos territórios dos estados do Amazonas e da Bahia. De uma forma geral, os mapas apresentam a ilha com um território imenso, maior inclusive que o Brasil. Essa é uma distorção provocada pela técnica usada na confecção desses mapas – a projeção de Mercator. Na realidade, a Groenlândia tem uma área equivalente à da Arábia Saudita.  

A ilha é um território autônomo do Reino da Dinamarca, país do qual depende financeiramente, e tem uma população de 57 mil habitantes. Cerca de 80% do território da Groenlândia é recoberto por um manto de gelo. O nome da ilha é de origem nórdica e foi dado pelos antigos navegadores vikings que lá aportaram por volta do ano 900 da nossa era. Em dinamarquês, o nome da ilha é Grønland, o que significa, literalmente, “terra verde”. 

Para nós que vivemos em um país tropical, é bem fácil imaginar o momento em que o vigia da expedição de Pedro Álvares Cabral, em 1500, avistou o litoral da Bahia coberto por uma densa mata verde. Esse vigia poderia até ter gritado – “terra verde à vista!” 

No caso da Groenlândia, tendemos a achar que um grito desses não teria sido possível à época do seu descobrimento. Todas as imagens que nos veem à cabeça quando pensamos nesse país estão repletas de esquimós, iglus, montanhas cobertas de gelo e mares coalhados de icebergs. 

Por mais incrível que possa parecer, os primeiros nórdicos que avistaram o litoral da Groenlândia viram mesmo uma terra coberta de vegetação verde e, nada mais natural que batizar o lugar como “terra verde”. 

De acordo com o Landnámabók, um livro medieval que narra as sagas dos vikings escandinavos, a Groenlândia teria sido avistada pela primeira vez pelo navegador Gunnbjörn Ulfsson no início do século X. No ano 978 de nossa era, Snæbjörn galti Hólmsteinsson partiu da Islândia com um pequeno grupo de colonizadores e se estabeleceu em Gunnbjarnar Skerries, um pequeno grupo de ilhas localizadas na costa groenlandesa. 

Até o início do século XV, a Groenlândia manteve uma população nórdica pequena, porém estável, com números variando entre 2 mil e 10 mil habitantes, conforme a fonte. Estudos arqueológicos encontraram evidências de cerca de 620 fazendas na região sudoeste da ilha datadas do periodo. É importante citar que os nórdicos também criaram um assentamento em L’Anse aux Meadows, localizado na ilha de Terra Nova, no extremo nordeste do Canadá. Esse assentamento teve início por volta do ano 1021 e durou poucos anos.

Então, de uma hora para outra, todos os escandinavos abandonaram a Groenlândia, que voltou a ser povoada exclusivamente pelos inuit, os indígenas originais da ilha. Existem diversas explicações para essa fuga dos escandinavos da ilha, indo desde guerras com os inuits até a ocorrência de epidemias. A explicação mais plausível, entretanto, foi uma intensa mudança climática na ilha, o que derrubou drasticamente as temperaturas e tornou o lugar inóspito para nórdicos acostumados com a vida sob frio intenso. 

Os climatologistas chamam esse fenômeno de Pequena Era Glacial ou Pequena Idade do Gelo. O evento ocorreu entre os séculos XIII e XVII – muitos autores afirmam que o período teve início no século XVI e se estendeu até o início do século XIX. Existem inúmeros relatos dramáticos das consequências do frio intenso nesse período. 

Islândia e Finlândia, países localizados dentro da mesma faixa de latitudes da Groenlândia, perderam, respectivamente, um terço e metade de suas populações. O rio Tâmisa, cartão postal de Londres, congelou totalmente diversas vezes no periodo. O mesmo fenômeno passou a ocorrer nos rios da cidade de Nova York – alguns cronistas afirmam que era possível ir da ilha de Manhatan até Staten Island caminhando sobre a crosta de gelo. 

O periodo também foi marcado por uma forte redução na oferta de alimentos – solos congelados são difíceis de arar e, quando o plantio das sementes era feito, as baixas temperaturas não permitiam o desenvolvimento adequado das plantas. A falta de pastos também afetava fortemente a criação de animais domésticos. Foi uma fase bastante complicada para as populações de diversas regiões do mundo. 

Em nossos dias, tempos de mudanças climáticas e aumento das temperaturas em diversas regiões de nosso planeta, a Groenlândia está passando por fortes transformações e, literalmente, está voltando aos tempos em que foi batizada de “terra verde” pelos navegadores nórdicos. 

Estudo realizado pelo pesquisador Michael Grimes e colaboradores, publicado na prestigiada revista científica Nature no início de 2024, mostra que as áreas cobertas por vegetação na Groenlândia dobraram e as áreas úmidas, especialmente os pântanos, quadruplicaram nos últimos 30 anos. A imagem que ilustra esta postagem mostra uma ”inusitada” paisagem groenlandesa de verão dos dias atuais. 

Esse “esverdeamento” está ocorrendo em áreas da ilha próximas ao litoral, onde a tradicional camada de gelo desapareceu – foram cerca de 30 mil km² de perdas na calota de gelo, uma área um pouco maior que a do nosso Estado de Alagoas. O estudo também mostrou que o número médio anual de dias com temperaturas acima dos 6º C aumentou muito, o que favorece o crescimento da vegetação. 

Apesar dessas mudanças no clima e na vegetação favorecerem de alguma forma as populações locais, que poderão passar a produzir localmente toda uma variedade de alimentos que hoje precisam ser importados, as notícias não são boas para o restante do planeta. 

Os grandes volumes de água doce resultante do derretimento da capa de gelo corre na direção do oceano e já está provocando problemas visíveis, especialmente no aumento do nível do mar. Segundo um estudo de pesquisadores da Universidade de Washington e que foi publicado em 2018, a AMOC – Circulação Meridional do Atlântico, na sigla em inglês, que é mais conhecida como a Corrente do Golfo do México, está desacelerando, o que é o ponto mais importante.  

Essa corrente de águas quentes se forma no Mar do Caribe e segue na direção das Ilhas Britânicas, seguindo depois nas direções da Islândia, da Escandinávia e do Polo Norte. A largura dessa corrente é de aproximadamente 90 km e sua velocidade é de 2 metros/segundo, o que resulta na movimentação de 20 milhões de m³ de água por segundo.   

Segundo os especialistas, somente para citar um exemplo da importância dessas águas, é essa corrente marítima que torna o clima mais ameno na Irlanda e na Grã-bretanha. Sem as águas quentes da Corrente do Golfo, a vida de irlandeses, ingleses, escoceses e galeses seria muito mais difícil devido ao clima inóspito.  

Sempre costumo lembrar do filme “O dia depois de amanhã”, lançado em 2004, para frisar a importância da AMOC. No enredo, a Corrente do Golfo deixa de fluir para o Norte, o que causa o início catastrófico de uma nova Era do Gelo ou período glacial no Hemisfério Norte. Uma das razões para a paralização da corrente marítima no filme foi justamente o degelo acelerado na Groenlândia. 

Os “campos verdes” da Groenlândia parecem estar enchendo os olhos de norte-americanos e tirando o sono dos dinamarqueses. Para o resto do mundo, entretanto, a coisa está para um alerta “vermelho” de perigo… 

Uma última informação – o mesmo processo de “esverdeamento” está em pleno desenvolvimento em algumas regiões da Antártida. Grandes problemas ambientais a vista!

O CENTENÁRIO DA REPRESA BILLINGS – A USINA HIDRELÉTRICA HENRY BORDEN

A construção da Represa Billings, cujo início das obras acaba de completar 100 anos, foi um feito da engenharia mundial da época. A represa foi concebida e construída com o objetivo de alimentar uma usina hidrelétrica em Cubatão, se valendo do grande desnível entre o alto da Serra do Mar e a Região da Baixada Santista, o que potencializaria a força da água que chegava aos geradores. 

Para entender melhor o somatório de fatores que levou a empresa canadense São Paulo Tramway, Light and Power, concessionária dos serviços de geração e distribuição de energia elétrica na região, a iniciar essa saga, é preciso entender o contexto histórico paulistano no início do século XX. 

Graças ao enorme fluxo de capitais gerados na então Província de São Paulo pela produção e exportação de café a partir de meados do século XIX, a cidade de São Paulo passou a crescer exponencialmente. De uma pequena vila perdida nos confins do Planalto de Piratininga com menos de 30 mil habitantes em 1850, São Paulo foi transformada num importante entreposto comercial, industrial e financeiro, atingindo a marca de 240 mil habitantes em 1900. 

Entre outras demandas, a crescente metrópole passou a ficar cada vez mais sedenta por eletricidade, a nova forma de energia que movia os grandes centros industriais mundiais naqueles dias. Diversos projetos de pequenas centrais hidrelétricas e termelétricas se multiplicavam em toda a região do entorno, sem conseguir saciar a sede energética da cidade. 

Foi nesse contexto que surgiu a ideia para a construção da Usina de Parnahyba, o primeiro projeto da Light para o abastecimento da cidade de São Paulo e Região em 1899. Essa usina seria construída em Santana de Paranaíba, cidade localizada a cerca de 50 km de São Paulo, se aproveitando das águas do rio Tietê. Aliás, essa se tornaria a primeira hidrelétrica com barragem do Brasil. 

Na sua inauguração em 1901, Parnahyba produzia 2 MW de energia elétrica – pouco mais de 10 anos depois, essa potência já tinha sido aumentada para 12,8 MW, atendendo a uma demanda cada vez maior da população e das indústrias por energia elétrica. Gradativamente, a Light passou a construir novas pequenas usinas hidrelétricas, aumentando a sua capacidade de geração de energia.  

A importante e impactante Usina Hidrelétrica de Parnahyba, entretanto, sofria de um problema crônico – a irregularidade dos caudais do rio Tietê, cujas águas abundavam nos meses de chuvas e escasseavam dramaticamente nos meses de inverno. A produção de energia elétrica, consequentemente, era altamente irregular. 

Para regularizar as vazões do rio Tietê e garantir a operação contínua da Usina de Parnahyba nos meses de seca, foi necessária a construção de uma grande represa na região de Santo Amaro. Essa represa, concluída em 1908 e que depois passou a ser chamada de Guarapiranga, foi transformada em uma importante área de lazer dos paulistanos e levaria a uma expansão da mancha urbana da cidade rumo ao Sul, na direção da represa. 

Apesar de todos esses avanços, a demanda por energia elétrica na região não parava de crescer e, na década de 1920, os engenheiros da Light desenvolveram o projeto de uma usina hidrelétrica revolucionária para os padrões da época. O projeto desse sistema considerou o aproveitamento do enorme desnível da Serra do Mar entre a região da Baixada Santista e o Planalto de Piratininga – são mais de 720 metros.  

As águas de uma grande represa localizada no alto da Serra do Mar, a futura Represa Billings, seriam canalizadas através de um sistema de tubulações para a uma usina hidrelétrica em Cubatão, município no litoral de São Paulo, aonde chegariam com uma enorme energia, movendo as turbinas dos grupos geradores.   

A Usina Hidrelétrica de Cubatão, que depois teve seu nome mudado para Usina Hidrelétrica Henry Borden, teve seu primeiro grupo gerador inaugurado em 1926. A capacidade geradora da Usina foi sendo ampliada gradativamente até 1950, quando o 14° grupo gerador entrou em funcionamento, atingindo uma capacidade total instalada de 889 MW. Os grupos geradores da Usina Henry Borden utilizam turbinas Pelton, altamente eficientes no aproveitamento dos fortíssimos jatos de água que desciam do alto da Serra do Mar.  

O fantástico complexo formado pela Represa Billings e pela Usina Henry Borden foi fundamental para o desenvolvimento da Região Metropolitana de São Paulo. Um exemplo – a farta disponibilidade de energia elétrica na região foi um dos critérios usados na escolha da Região do ABC Paulista (sigla para os municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano) como sede das primeiras indústrias automobilísticas do Brasil na década de 1950.  

Infelizmente, o grande crescimento populacional da Região Metropolitana de São Paulo acabou decretando o “fim” da geração no complexo Billings – toda a poluição das águas do rio Tietê acabava sendo transferida para a represa Billings através do sistema de bombeamento do rio Pinheiros. A Constituição Paulista de 1992 proibiu essa transferência de águas, exceto em emergências nos casos de chuva forte. Desde então, a geração na Usina Hidrelétrica Henry Borden foi reduzida em 75% e a produção atual está na casa de 200 MW.  

Apesar de não receber mais águas do poluído rio Tietê, a centenária Represa Billings continua sofrendo com a poluição – perto de 1 milhão de pessoas vivem nas áreas de mananciais ao redor do reservatório e a maior parte dos seus esgotos acabam sendo lançados nas águas da Represa. Ironicamente, mais de 1,5 milhão de pessoas dependem das águas da Represa Billings para o seu abastecimento diário – uma barragem foi construída em um dos braços da Represa, evitando assim o contato com as águas poluídas do resto do reservatório. 

Os problemas ambientais atuais da Represa Billings mancham, literalmente, a festa de aniversário do centenário do início das obras e da saga do complexo energético. Mesmo assim, há muito o que comemorar – a Região Metropolitana de São Paulo talvez nem existisse hoje caso o Complexo Energético não tivesse sido construído. 

O CENTENÁRIO DA REPRESA BILLINGS 

No último dia 27 de março, a Represa Billings, maior reservatório de águas da Região Metropolitana de São Paulo, completou o primeiro centenário do início de suas obras. 

Normalmente lembrada por notícias que tratam da poluição de suas águas e/ou por ocupação desordenada de suas margens por um mar de casas precárias, o Complexo Billings, que engloba a represa e a Usina Hidrelétrica Henry Borden de Cubatão, forneceu a maior parte da energia elétrica que impulsionou a industrialização da Região Metropolitana de São Paulo no século XX. 

Vamos relembrar um pouco dessa história: 

O rápido crescimento da cidade de São Paulo a partir das últimas décadas do século XIX trouxe uma série de mudanças na paisagem urbana, especialmente no que diz respeito às suas fontes de água – riachos e rios passaram a ser canalizados em série para a liberação de espaços para a construção civil; as águas passaram a receber volumes cada vez maiores de esgotos domésticos e industriais e o início da retificação de grandes rios amplificou um antigo problema do Planalto de Piratininga: as cheias dos rios nos períodos das chuvas estavam cada vez maiores. A alta sociedade paulistana, confortavelmente instalada nos terrenos altos da Avenida Paulista e arredores, parecia não se incomodar muito com este problema. 

Uma história que ouvi quando criança ilustra muito bem a questão: nos anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as mulheres da alta sociedade paulistana se reuniam nas tardes frias da cidade para tomar chá com biscoitos finos ingleses, enquanto tricotavam luvas, cachecóis e pulôveres de lã, que seriam enviados “aos pobres soldados franceses entrincheirados nos solos úmidos e frios dos campos de batalha da Europa”.  

A poucos quilômetros da região do Jardim Paulista e dos Campos Elíseos, redutos das elites econômicas da cidade na época, muitos pobres paulistanos sofriam com as consequências das últimas enchentes e tremiam de frio por falta de agasalhos. Apesar desta alienação da classe mais rica da cidade, o problema das enchentes se tornava cada vez mais preocupante e a população pobre pressionava cada vez mais as autoridades pela busca de soluções.  

Uma solução técnica inesperada e bastante elegante para a minimização das enchentes anuais da cidade de São Paulo foi proposta pela empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company como parte do projeto do novo sistema de geração de energia elétrica Billings / Usina Hidrelétrica de Cubatão: as águas excedentes dos períodos de chuva na região Metropolitana de São Paulo passariam a ser bombeadas para a Represa Billings, desde o canal do rio Tietê, através de duas usinas de traição ou de bombeamento por reversão do curso do rio Pinheiros.  

Essas águas problemáticas, causadoras de enchentes e transtornos na cidade de São Paulo, reforçariam os estoques da represa Billings e garantiriam a geração contínua de energia elétrica na Usina de Cubatão. A ideia, por mais absurda que podia parecer à primeira vista, até que funcionava (e funciona até hoje, sendo usado apenas em emergências), apesar de nunca ter conseguido resolver completamente o problema das enchentes. 

Com a assinatura do decreto presidencial que autorizou a construção do Complexo Billings/Cubatão, o conjunto de obras de construção da represa no alto da Serra do Mar, do sistema de tubulações de descida da água, da Usina Hidrelétrica de Cubatão (cujo nome foi alterado depois para Usina Henry Borden) e do sistema de transposição das águas do rio Tietê para a represa Billings foram iniciadas em 1925. 

A represa Billings seria formada a partir do represamento dos rios Grande, Pequeno, Capivari, Pedra Branca, Taquacetuba, Alvarengas, Bororé, Cocaia e outros rios menores, perfazendo cerca de 560 km² de área de drenagem, com uma vazão somada total de 16,5 m³/s. O espelho d’água da Represa ocuparia uma área inundada de aproximadamente 172 km² e teria capacidade para armazenar 1,2 bilhões de metros cúbicos de água. Mesmo atualmente, quando se segue pelas Rodovias Anchieta e Imigrantes ou pelo Trecho Sul do Rodoanel, a visão do grande reservatório ainda é impressionante. 

O rio Pinheiros, que hoje não passa de um canal retilíneo e largo, com águas quase paradas e extremamente poluídas, era até a década de 1920 um rio pequeno e extremamente sinuoso, que recebia as águas sangradas pela represa de Guarapiranga e as conduzia até a sua foz no rio Tietê. Para atender as especificações técnicas do projeto de transposição, o rio Pinheiros passou por um intenso trabalho de escavação e retificação do seu curso. Anos atrás eu visitei uma exposição fotográfica que contava a história do bairro de Santo Amaro e lembro de ter visto diversas fotografias destas obras – homens escavando o novo canal com pás e picaretas e outros carregando os entulhos em carroças puxadas por burros: cenas impressionantes da determinação e força de vontade das antigas gerações da nossa cidade. A represa foi concluída em 1926 e o Complexo Billings em 1937. O sistema de transposição das águas do rio Tietê para a represa Billings só passou a operar integralmente a partir de 1950. 

Além de preparar o rio Pinheiros para a futura função de transposição das águas para a represa Billings, estas obras transformariam antigas várzeas alagáveis em “terras secas”. Um dos exemplos é uma região do bairro de Pinheiros que anos depois foi loteada pela Companhia City, uma subsidiária da empresa canadense São Paulo Tramway, Light and Power especializada no desenvolvimento imobiliário e, por acaso, a mesma empresa responsável pela construção do Complexo Billings. A região foi transformada no elegante e sofisticado bairro do Alto de Pinheiros, ainda hoje uma referência em alto padrão imobiliário na cidade de São Paulo. Além do planejamento impecável, com ruas elegantes, praças e todo equipamento urbano necessário, o bairro receberia as linhas de bonde operadas pela empresa Light, um diferencial em tanto numa cidade que sempre teve, e continua tendo, problemas de transporte. Como dizia a minha mãe: “esses estrangeiros sabiam como ganhar muito dinheiro! ” 

Apesar de esquecida e muito maltratada, a Represa Billings marcou e mudou os rumos de toda a Região Metropolitana de São Paulo, quiçá do Brasil. Parabéns Billings!

Falaremos mais sobre essa história. 

AS POLÊMICAS “ÁRVORES ARTIFICIAIS” DA COP 30 EM BELÉM 

Viajar para a Amazônia é, acima de tudo, uma grande experiência sensorial. Por todos os cantos que se olha, se cheira ou se escuta, se experimenta uma enorme carga de sensações que arrepiam todos os pelos de nosso corpo. 

Costumo citar minha primeira viagem ao bioma no início de 2009 como um exemplo dessa aventura sensorial. 

Lembro bem do exato momento em que a porta do avião foi aberta no aeroporto de Porto Velho, em Rondônia: a aeronave foi imediatamente tomada por um forte cheiro da fumaça das grandes queimadas que ardiam nas matas ao redor da cidade naquele momento. 

Passado esse “susto” inicial, passei a sentir o que era realmente a Amazônia – rios imensos, matas densas com os mais diferentes tons de verde, cheiros e sabores de frutas e alimentos típicos da região. É simplesmente impossível se ficar indiferente ao meio que nos rodeia. 

Visitando a cidade de Belém, chamada por muitos de portal da Amazônia, também vivi sensações bem particulares, que vão do sabor da bacuri beer, uma cerveja local que leva suco da fruta bacuri em sua composição, às cores e sabores do histórico Mercado Ver o Peso. 

De todas as sensações talvez a mais emocionante tenha sido caminhar pelas ruas da cidade sentindo o cheiro de mangas maduras, cujas árvores abundam nas ruas e praças da cidade. Para quem não sabe, Belém é conhecida como a “cidade das mangueiras” ou “mangueirosa”. 

De acordo com informações da UFPA – Universidade Federal do Pará, o plantio de mangueiras nas ruas da cidade começou no início do século XX na gestão do então prefeito Antônio Lemos. Em seu projeto de transformar Belém na “Paris dos Trópicos”, o prefeito incentivou o plantio dessas árvores em ruas e avenidas da cidade como forma de criar sombras e assim amenizar o forte calor local. 

Passado mais de um século, autoridades locais estão buscando um outro tipo de “árvore” para amenizar o forte calor em algumas regiões da cidade onde se desenrolarão eventos e atividades da COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas 2025, que vai acontecer no início de novembro. 

O número de espécies de árvores existentes na Floresta Amazônica é estimado entre 12 mil e 50 mil espécies – faltam estudos para se chegar a um número definitivo. Entretanto, nenhuma dessas espécies foi considerada para essa nobre missão.  

Os organizadores optaram por uma estrutura metálica que lembra toscamente o formato de uma árvore com copa arredondada, onde serão pendurados vasos com plantas do tipo trepadeira. Como justificativa, alegam falta de condições técnicas para o plantio de árvores nos locais e, também, a falta de tempo hábil.

Essa solução mágica traz em seu bojo alguns problemas práticos. Vamos nos concentrar em apenas um – a necessidade de regas constantes. Muitos vão até alegar que chove muito na cidade, porém, como a região é muito quente, será difícil de se manter um nível de umidade adequada nos substratos dos vasos e assim manter as plantas saudáveis, quiçá vivas. 

Um exemplo desse problema pode ser visto em muitos jardins verticais que foram instalados em fachadas de prédios e até em algumas grandes avenidas aqui na cidade de São Paulo. Mesmo com cuidado frequente, é possível ser ver “buracos” na vegetação por falhas nas regas e nos cuidados com as plantas. 

Conhecendo bem o zelo com que a coisa pública costuma ser tratada aqui no Brasil, pode até ser que essas “árvores” recebam tratamento razoavelmente adequado até a COP 30. Porém, é certo que o projeto será abandonado já na semana seguinte ao final do evento e tudo o que restarão serão esqueletos enferrujados dessa “ideia brilhante”. 

Sem querer ser chato, mas existem diversas outras opções que poderiam ter sido usadas, provavelmente a custos bem menores. A mais simples seria o plantio de árvores adultas nesses locais. Essas árvores podem vir de viveiros especializados ou podem até mesmo ser retiradas de matas próximas e transplantadas para os locais. 

Havendo dificuldades com os solos, o plantio poderia ser feito com o uso de grandes vasos – na falta desses, tubos de concreto armado do tipo usado para o controle de águas pluviais poderiam ser usados. Eu lembro que esse tipo de solução foi usada para o plantio de árvores na Avenida Paulista aqui na cidade de São Paulo nos meus tempos de infância. 

Na pior das hipóteses, marquises feitas com bambu, um material de construção abundante e barato, poderiam ser construídas nos locais para criar o sombreamento adequado para os visitantes. 

Por mais simples e melhores que sejam, essas ideias têm um grave problema de partida – elas não geram as “comissões” decorrentes da contratação de uma empresa que constrói e instala esse tipo de estrutura metálica… 

Coisas de Brasil.

O OVO NOSSO DE CADA DIA, OU EM BUSCA DOS “PILANTRAS” 

Água, Vida & Cia é um blog que trata de assuntos ligados aos inúmeros problemas socioambientais que cercam a vida moderna, com destaque bastante especial aos recursos hídricos e ao saneamento básico. 

Assuntos de ordem econômica – falo aqui do grande aumento nos preços dos ovos aqui no Brasil, fogem bastante da nossa área de especialização. Porém, existem uma série de questões de ordem ambiental cercando o tema, o que nos permite dar alguns “pitacos” numa questão tão relevante nas últimas semanas. 

Em termos biológicos, falando de uma forma muito simplificada, ovo é o zigoto dos animais, ou seja, uma célula que se forma após a fusão do núcleo do óvulo, feminino, com o núcleo do espermatozoide masculino. Animais ovíparos como aves, peixes e répteis, entre muitos outros, se valem dos ovos para a sua reprodução. 

Falando em termos nutricionais, o ovo é uma importante e “barata” proteína de origem animal, sendo um alimento saudável, completo e de fácil digestão. O equivalente a 100 gramas de ovo contém cerca de 160 calorias, além de aminoácidos equilibrados, vitaminas e alguns sais minerais. Os ovos de galinhas são os mais consumidos no mundo. 

De acordo com dados de 2024 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a produção diária de ovos no Brasil é da ordem de 150 milhões de unidades. Os Estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais figuram como os maiores produtores do país. 

Os ovos são produzidos pelas chamadas galinhas poedeiras. Como todo animal domesticado, essas galinhas dependem de cuidados especiais dos seus tratadores para viver e produzir. Esses cuidados incluem espaços adequados como galinheiros, fornecimento de água fresca, alimentação balanceada e limpeza. 

Comecemos falando do consumo de água para a produção dos ovos. Para manter uma criação com 10.000 galinhas poedeiras de ovos para consumo, são gastos aproximadamente 5.000 litros de água por dia, ou seja, 0,5 litro de água por ave. 

Esse consumo considera a água de dessedentação, limpeza e higienização das instalações, lavagem dos ovos e higienização dos equipamentos, além dos gastos nas instalações do armazém de processamento de ovos. As aves consomem pequenas quantidades de água, porém com muita frequência, principalmente para regular a temperatura do corpo. Uma falha nesse fornecimento de água pode resultar na morte de muitas dessas galinhas.

Outra importante fonte de consumo de água está ligada à produção das rações – especialmente do milho. Alguns economistas afirmam que 70% do custo de produção de uma galinha e, diretamente dos ovos, está no preço do milho.  

Cada quilograma de milho produzido pode consumir até 900 litros de água. Aqui abro um parêntese especial para os sistemas de irrigação pouco eficientes usados pela maioria dos produtores, onde grandes volumes de água acabam sendo desperdiçados, especialmente pela evaporação do excedente. 

A água, como todos devem saber, é um insumo essencial para a produção agropecuária que nem sempre está disponível nas quantidades adequadas ao longo do tempo. Tanto a falta de água em períodos de seca quanto o excesso em épocas extremamente chuvosas podem afetar a produção do milho e, consequentemente, elevar o preço final do produto. 

Também é importante citar que o milho é uma comoditie com formação de preço determinada pelo mercado mundial. Um problema climático em uma região de grande produtividade poderá reduzir ou quebrar a produção local e levar a um aumento no preço do produto nos mercados. Uma nevasca fora de época no chamado Corn Belt – o cinturão do Milho dos Estados Unidos, poderá elevar os custos de um pequeno produtor de ovos no sertão de Minas Gerais. 

Feitas as devidas contas ao longo de toda a cadeia de produção – desde o milho no campo até a galinha na granja (o que considera o total de ovos que a ave produzirá ao longo da vida) e o ovo na prateleira do supermercado, chegamos ao surpreendente consumo de 200 litros de água para cada ovo produzido

Epidemias e doenças que afetam as galinhas também tem um enorme potencial para aumentar os preços dos ovos. Cito aqui uma grande epidemia de gripe aviária provocada pelo vírus H5N1 que devastou a produção norte-americana de ovos em 2024. Mais de 150 milhões de aves foram afetadas e tiveram de ser sacrificadas pelos avicultores, o que resultou num aumento explosivos dos preços dos ovos no país. 

Além desses fatores ambientais, climáticos e epidemiológicos, também entram na conta aumentos de custos nos combustíveis, na energia elétrica, na mão de obra, entre muitos outros. Como fica bem fácil de se entender, o aumento no preço dos ovos não foi causado por um ou outro “pilantra”, mas sim por todo um somatório de diferentes fatores e causas. 

A conta, é claro, todos nós estamos pagando… 

O “CAMINHO” DA DISCÓRDIA NA COP 30 DE BELÉM 

A COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas 2025, que será realizada na cidade de Belém do Pará em novembro, vem sendo vendida pelos organizadores como uma grande oportunidade para mostrar a Amazônia para o mundo. Aliás, Belém é conhecida como o “portal de entrada da Amazônia”. 

Infelizmente, a escolha da cidade vem criando uma série de desgastes para o país. Com cerca de 1,3 milhão de habitantes, Belém é uma típica grande cidade brasileira cheia de problemas sociais, econômicos e, especialmente, de falta itens de infraestrutura dos mais elementares. 

Para começar, a “sede” da COP 30 carece de redes de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos. De acordo com informações do Instituto Trata Brasil, Belém está na lista das 100 maiores cidades brasileiras, porém, ocupando a 93ª posição no ranking do saneamento básico

Outro ponto que chama atenção é a habitação – cerca de 60% da população da cidade vive em habitações precárias em favelas e cortiços. Belém é considerada a capital brasileira mais favelizada. 

No quesito transporte, a imagem da cidade também sai bastante arranhada. Os sistemas de transporte coletivos são precários e, muito pior, faltam boas avenidas para interligar bairros mais distantes à área central da cidade. 

Foi justamente com o objetivo de “maquiar” esse último problema, que o Governo do Estado resolveu desengavetar um projeto que estava parado desde 2012 – a construção da Avenida Liberdade, uma via com 13 km de extensão que está sendo “vendida” com essencial para a mobilidade na Região Metropolitana de Belém. 

Chama a atenção a velocidade de execução da obra, cujo projeto parou no passado devido a preocupações ambientais. O trajeto corta um grande fragmento de floresta, Amazônica diga-se de passagem, criando o isolamento da fauna e flora local. Outro problema é a necessidade de aterramento de áreas úmidas para que seja feito o nivelamento da base da rodovia. 

Quem tem algum conhecimento de biologia sabe que o isolamento de áreas e fragmentos florestais é uma das principais causas de extinção de espécies animais e vegetais. A construção de ferrovias, estradas e represas cria uma barreira para a livre circulação da fauna, um problema que desencadeará no enfraquecimento genético de muitas espécies de animais. 

Esse isolamento também traz uma série de prejuízos para espécies vegetais que usam esses animais para a dispersão de sementes. Um lagarto, por exemplo, come uma fruta de uma árvore numa determinada área da mata e vai eliminar as sementes junto com suas fezes em uma área distante. Com restrições na circulação dos animais, as espécies vegetais não conseguirão garantir sua sobrevivência no longo prazo. 

Imagens de árvores sendo derrubadas para a construção da avenida e o empilhamento de troncos cortados sobre o solo desnudo (vide a imagem acima) começaram a circular em redes sociais e meios de comunicação de todo o mundo, criando indignação e críticas por todos os lados. Falando grosso modo – a conferência onde serão discutidas as soluções e os caminhos para a preservação do clima e de áreas florestais está provocando a destruição de um trecho da icônica Floresta Amazônica. 

Autoridades do Governo do Pará e organizadores da conferência assumiram uma postura defensiva afirmando que a nova avenida é “sustentável” e essencial para a cidade. Inclusive, foi divulgado que a obra não está incluída no conjunto de mais de 30 iniciativas em desenvolvimento para a realização da COP 30. 

Segundo a narrativa oficial, o trecho já havia sido desflorestado no passado para a criação de uma estrada de serviço que foi usada para a construção de uma linha de transmissão de energia elétrica e a construção da nova avenida não implicará na derubada de mais árvores. Entretanto, está sendo difícil fazer essa narrativa colar diante das imagens de pilhas de troncos que estão circulando pelo mundo afora.

O resumo dessa “ópera bufa” que está se desenrolando na cidade – segundo a organização da conferência , não há nenhum mal em destruir um pequeno trecho da Floresta Amazônica por conta do nobre ato de salvar a Floresta Amazônica! 

Pessoalmente, eu costumo chamar algo assim de hipocrisia. Porém, estou aberto a comentários e explicações. 

Para saber mais: A NOSSA AMAZÔNIA