NOS ÚLTIMOS 50 ANOS, DESASTRES CLIMÁTICOS E HÍDRICOS MATARAM 2 MILHÕES DE PESSOAS E CAUSARAM US$ 4,3 TRILHÕES EM PERDAS ECONÔMICAS 

Os números assustadores mostrados no título desta postagem foram apresentados ontem, dia 22 de maio, na abertura do Congresso Meteorológico Mundial. Esse evento ocorre a cada quatro anos e a atual edição começou ontem em Genebra na Suíça. 

Em seu discurso de abertura, o secretário-geral da OMM – Organização Meteorológica Mundial, uma organização ligada a ONU – Organização das Nações Unidas, Petteri Taalas apresentou um completo estudo climático realizado entre os anos de 1970 e 2021, onde esses números impressionantes foram encontrados. 

De acordo com o estudo, ocorreram 11.778 desastres climáticos e hídricos no período, resultando em 2 milhões de mortes e cerca de US$ 4,3 trilhões em perdas econômicas. Para efeito de comparação, esse número de mortes supera a população de uma cidade como Curitiba e essa perda econômica equivale a mais de dois anos do PIB – Produto Interno Bruto, do Brasil. 

Os dados do estudo mostram detalhadamente que 90% das mortes causadas por desastres climáticos e hídricos ocorrem em países em desenvolvimento. Com falta de recursos para a realização de investimentos em infraestrutura e na implantação de sistemas de alerta antecipado, esses países podem fazer muito pouco para evitar que essas tragédias ocorram. 

Aqui na América Latina, 61% das tragédias envolvem as inundações, um problema que mostramos sistematicamente em nossas postagens. Já na África, a imensa maioria dos eventos estão ligados às secas e respondem por 95% das mortes associadas a essas tragédias no continente. 

Um dos países mais impactados economicamente foram os Estados Unidos, onde os prejuízos no período chegaram a US$ 1,7 trilhão, valor que corresponde a 39% das perdas totais. A maior parte dessas perdas foi ressarcida com o pagamento de prêmios de seguro. 

Outra vantagem dos norte-americanos dentro desse trágico ranking é a ótima infraestrutura do país, o que reduziu consideravelmente o número de mortes quando comparado aos demais países. No total, os países da América do Norte, América Central e Caribe somaram 77.454 mortes. 

Na América do Sul, o estudo contabilizou 943 tragédias climáticas e hídricas no mesmo período, com predominância das inundações. No total foram registradas 58.484 mortes e perdas econômicas da ordem de US$ 115,2 bilhões. Na África, onde os grandes problemas estão ligados predominantemente as secas, o total de mortes foi de 733.585 e os prejuízos econômicos de US$ 43 bilhões. 

A Ásia foi o continente que teve o maior número de mortes – foram 984.263, o que corresponde a 47% do total. A maioria das tragédias e das mortes está ligada aos frequente ciclones que se abatem sobre a região. Na Europa, a maioria das mortes foi resultado dos extremos climáticos e somaram 166.492 vítimas. Fechando as estatísticas, a região do Sudoeste do Pacífico teve 66.951 mortes ligadas principalmente a ciclones e furacões. 

Durante a sua apresentação, o secretário-geral da OMM citou o caso do ciclone Mocha (vide foto), que está causando uma devastação generalizada em Mianmar e em Bangladesh, países extremamente pobres do Sul da Ásia. Ele usou esse exemplo para afirmar que são sempre as comunidades mais pobres as que terminam em situação mais vulnerável durante essas tragédias climáticas. 

O ciclone ainda continua ativo sobre as águas do Golfo de Bengala e poderá ganhar energia caso entre na área continental numa faixa de terras entre Cox’s Bazar, em Bangladesh, e Kyaukpyu, em Mianmar. A OMM está monitorando o ciclone em seu centro meteorológico regional em Nova Délhi, na Índia. A organização espera ventos máximos da ordem de 180 a 190 km/h, o que coloca o ciclone na categoria 3 segundo a escala de furacões Saffir-Simpson

Bangladesh, conforme já apresentamos em inúmeras postagens aqui do blog, é um dos países mais pobres do mundo e foi criado em 1971, em decorrência do longo processo de reestruturação do antigo Vice-reino britânico da Índia. Com a independência da Índia em 1947, surgiram inicialmente a Índia, o Paquistão (que incluía Bangladesh) e a Birmânia, de depois passou a ser chamada de Mianmar. 

A situação de Mianmar não é muito melhor, porém, é importante citar que o país passou por um sangrento golpe militar em 2021, e a população está vivendo um enorme processo de repressão política. Os dois países são vizinhos e sofrem sistematicamente com os ciclones que se formam no Golfo de Bengala. 

Apesar de ser bastante esclarecedor, o estudo está criando uma série de preocupações relativas ao crescimento desses eventos nos próximos anos por causa dos efeitos das mudanças climáticas globais. 

Uma das regiões do mundo onde os efeitos das mudanças climáticas são mais evidentes é justamente o Golfo de Bengala. De todo os oceanos do mundo, o Índico é o que, proporcionalmente, mais sofre com as interferências das mudanças climáticas na Antártida. De acordo com medições sistemáticas feitas desde 1880, as águas desse oceano já tiveram um aumento de 0,7º C na sua temperatura.   

Esse aumento das temperaturas está causando uma série de mudanças nas grandes massas de nuvens de chuva que formam sobre o Oceano Índico e que são levadas pelos ventos na direção da África, do Sul e do Sudeste Asiático. Na região do Golfo de Bengala estão sendo observadas variações bruscas no volume e na frequência das Chuvas da Monção

As mudanças também estão provocando um gradual aumento do nível das águas do Golfo de Bengala. Um exemplo foi o desaparecimento da Ilha New Moore em 2018. Essa ilha tinha cerca de 10 km² e vinha sendo disputada pela Índia e por Bangladesh. O aumento do nível das águas varreu completamente a ilha do mapa. 

O aumento do nível das águas do Golfo de Bengala também poderá ser fatal nos próximos anos para as terras baixas de Bangladesh e do Norte da Índia. Os vales dos rios Ganges e Brahmaputra, os principais da região, ficam poucos metros acima do nível do mar e abrigam uma população de mais de 500 milhões de pessoas. 

Problemas semelhantes estão se multiplicando por todo o mundo e sinalizam que as tragédias associadas a enchentes deverão aumentar, e muito, ao longo dos próximos anos. Em outras regiões, como é o caso da África, se espera um aumento nos problemas ligadas às secas. 

Um exemplo é a grande seca que está assolando toda a região do Chifre da África. Essa região compreende uma área de 1,88 milhão de km² no Nordeste do continente africano, onde se incluem territórios da Somália, Etiópia, Eritréia e Djibuti. Essa é uma região de transição entre o clima árido do Deserto do Saara e das savanas, que também inclui uma faixa no Norte do Quênia.    

De acordo com informações da ACNUR – Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados, a região convive atualmente com 3,3 milhões de refugiados e deslocados internos, populações que foram obrigadas a abandonar suas casas e terras ancestrais em busca de condições mínimas para a sobrevivência. 

De acordo com os cientistas, uma das principais causas dessa fortíssima seca no Chifre da África são as mesmas mudanças climáticas que estão se abatendo sobre o Oceano Índico e que também estão afetando fortemente o Golfo de Bengala. 

A interligação de todos esses problemas mostra o quão grave é a situação climática do planeta e sinalizam que catástrofes hídricas e climáticas poderão aumentar muito nos próximos anos. 

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