ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS – A MATA ATLÂNTICA E SUAS PECULIARIDADES 

Seguindo o senso comum, a maioria das pessoas costuma imaginar uma floresta como um grande tapete verde, onde o mesmo tipo de vegetação cobre uma grande área. Na vida real, entretanto as coisas são “um pouco diferentes” disso. 

A melhor imagem para definir uma floresta é uma colcha de retalhos, um tipo de trabalho de artesanato que atualmente é mais conhecido pela expressão em inglês patchwork. Pequenas manchas com diferentes tipos de vegetação crescem lado a lado dando a impressão de se tratar de uma única formação vegetal. 

A Mata Atlântica, a exemplo de qualquer outra grande floresta do mundo, segue exatamente essa “receita de bolo”. Vamos tentar resumir: 

Antes de qualquer coisa, é preciso entender o tamanho desse bioma. Se qualquer um dos leitores verificar os antigos domínios da Mata Atlântica, vai observar que ela se entende desde o Norte do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte, cobrindo uma distância de mais de 4 mil km. 

Na direção do interior do continente, a Mata Atlântica atinge áreas do Sul dos Estados do Mato Grosso do Sul e Goiás, do Leste do Paraguai e do Nordeste da Argentina. Dependendo do ponto de referência adotado no litoral das Regiões Sudeste e Sul, essa distância poderá cobrir até 1 mil km. 

Dentro de uma área geográfica deste tamanho é natural que existam climas diferentes. Na Região Sul e no Sul do Estado de São Paulo o clima é subtropical, muito parecido com o clima temperado de altas latitudes. Nas regiões serranas da Região Sudeste o clima predominante é o tropical de altitude. 

Na faixa costeira, entre o litoral do Paraná e o do Rio Grande do Norte o clima é definido como tropical atlântico. A temperatura média é elevada – por volta de 25 °C. As chuvas são regulares e bem distribuídas, sendo mais intensas no Sul e no Sudeste durante o verão e no Nordeste, durante o inverno. 

Por fim, as áreas interioranas da Região Nordeste e a maior parte da Região Centro-Oeste tem o clima tropical como predominante. Todas essas diferenças nos padrões de temperatura e dos ciclos de chuva se refletem em vegetações com características diferentes. 

Também existem diferenças marcantes nos tipos de solos. Na Região Sul, e em partes das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, além de partes da Argentina e do Paraguai, é comum a existência de solos de origem vulcânica – os famosos solos de terra roxa. Esses solos possuem uma fertilidade excepcional. 

Já no litoral da Região Nordeste os solos de massapê predominam. São terras escuras e férteis com elevados volumes de argila e granito em sua composição. Esses solos devem sua fertilidade ao grande volume de matéria orgânica presente em sua composição. Entre suas principais características se destacam a alta capacidade de retenção de água e uma textura fina e homogênea. 

Essas diferenças de clima, tipos de solos e também de altitude possibilitaram uma grande diversificação das espécies vegetais e, consequentemente, da vida animal da Mata Atlântica. Um exemplo é a Mata das Araucárias, um subsistema vegetal encontrado no trecho Sul do bioma. Também é conhecida como Floresta Ombrófila Mista. 

A árvore símbolo dessa mata é a araucária (Araucaria angustifolia), conhecida popularmente como pinheiro-do-Paraná. É uma espécie adaptada para regiões de clima subtropical, com temperaturas mais baixas nos invernos, encontradas comumente nos planaltos da região Sul do Brasil, especialmente nos Estados do Paraná e de Santa Catarina, Norte do Rio Grande do Sul e também nas regiões serranas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. 

Outro subsistema florestal importante da Mata Atlântica é a Floresta Ombrófila Densa, também conhecida como floresta tropical pluvial e mata de tabuleiro. Essa vegetação é caracterizada por apresentar folhas sempre verdes (perenifólia), com dossel de até 50 metros de altura e com árvores emergentes de até 40 metros. Se estende por toda a faixa Leste e Nordeste desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte, além de ser encontrada em fragmentos no interior do Ceará. 

Também é importante citarmos aqui a Floresta Estacional Semidecidual ou Mata Atlântica do Interior. Essa formação se espreme entre as matas chuvosas do litoral e o Cerrado, em regiões mais centrais do país. Essas regiões se caracterizam por possuir uma estação chuvosa seguida por um período de estiagem, características que levaram a vegetação a desenvolver adaptações especiais em sua fisiologia. 

Além dessas formações florestais mais extensas, a Mata Atlântica inclui uma série de subsistemas florestais menores. A lista inclui, entre outros: Floresta Estacional Decidual, Florestas Montana e Altamontana (localizada em áreas com altitudes entre 500 e 1.200 metros), Floresta Ombrófila Aberta, também chamadas de Matas Secas, manguezais, restingas, brejos, campos de altitude ou campos rupestres, entre outros. 

A complexidade florestal da Mata Atlântica não termina aí – existem importantes áreas de transição entre os biomas, onde a vegetação tem características próprias. Citando um único exemplo – o Agreste Nordestino, uma faixa de transição que mistura característica da floresta úmida do litoral com a vegetação típica do Semiárido. 

Uma outra forma de caracterizar a Mata Atlântica é sua divisão por ecorregiões. A organização ambiental WWF – Fundo Mundial para a Natureza, na sigla em inglês, citando um exemplo, divide o bioma em 15 ecorregiões: Floresta do Alto Paraná, Floresta de Araucárias, Restingas, Florestas Costeiras da Bahia, Florestas do Interior da Bahia, Brejos de Altitude, Florestas Costeiras de Pernambuco, Florestas do Interior de Pernambuco e Florestas da Serra do Mar. Essas são as florestas tropicais e subtropicais úmidas. 

No tópico florestas tropicais e subtropicais secas entram as Florestas Secas da Mata Atlântica. Nos manguezais temos os Mangues da Bahia, Mangues da Ilha Grande, Mangues do Rio Piranhas e Mangues do Rio São Francisco. Finalizando, a lista inclui os Campos Rupestres. 

Como fica bem evidente no texto, a Mata Atlântica é na verdade um imenso quebra-cabeças, com cada uma das peças representando um tipo de vegetação com características bem particulares. Preservar e recuperar esse imenso bioma requer ações diferentes e bem regionalizadas, além de muita pesquisa científica e grande vontade política. 

PS: Dependendo da fonte de consulta e/ou do autor, o leitor poderá encontrar classificações diferentes das citadas no texto

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