
No último dia 4 de abril, foram divulgados os dados de um levantamento intitulado JUMA – Juventude, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. Esse trabalho foi realizado pelas redes Em Movimento e Conhecimento Social, em parceria com as organizações Engajamundo, Instituto Ayíka e GT de Juventude do movimento Uma Concertação pela Amazônia.
Foram ouvidas 5.150 pessoas entre 15 e 29 anos em todo o Brasil, pertencentes a todas as classes sociais e com diferentes níveis de escolaridade. O objetivo desse estudo foi avaliar a percepção e o conhecimento dos jovens brasileiros sobre os problemas ambientais e as mudanças climáticas.
Um detalhe curioso do grupo pesquisado foi o nível de escolaridade: 4 em cada 10 pesquisados tinha curso superior completo ou pós-graduação, enquanto 30% ainda estava estudando. Em princípio, os pesquisadores imaginaram que esse nível de escolaridade implicaria em um maior conhecimento de questões ambientais.
Ledo engano.
Um dos dados mais curiosos levantados pela pesquisa foi a falta de conhecimento dos biomas brasileiros pelos jovens – 36% não souberam identificar o bioma em que vivem. Esse desconhecimento foi maior entre jovens que vivem nas Regiões Sul e Sudeste, onde o bioma Mata Atlântica é predominante.
Entre as “confusões” mais comuns encontradas, muitos jovens que vivem nas Regiões Sul e Sudeste acreditam que vivem na Amazônia ou na Caatinga, enquanto muitos jovens que vivem no Semiárido Nordestino acreditam viver nos Pampas.
Ao mesmo tempo em que o desconhecimento sobre os biomas brasileiros ficou evidente, a pesquisa constatou que a temática ambiental é o terceiro assunto que mais desperta interesse entre os jovens. O primeiro assunto é a qualidade na educação, seguida pelos direitos das mulheres.
Dentro do cenário nacional, a temática ambiental ficou em sexto lugar numa ordem de relevância. A escala de prioridades em ordem decrescente inclui a educação, o combate à corrupção, a segurança, a economia, trabalho e renda. As questões ambientais preocupam “totalmente” 50% dos jovens e 40% “mais ou menos”.
Um dado curioso apurado no estudo: jovens que vivem na Amazônia foram os que se mostraram menos preocupados com as questões ambientais quando comparados aos que vivem em outros biomas. Por ordem decrescente, os jovens que vivem nos Pampas são os mais preocupados com questões ambientais – 95%; seguidos pelos que vivem na Mata Atlântica – 93%, no Cerrado – 92%, na Caatinga – 91% e no Pantanal – 89%. Na Amazônia, essa é uma preocupação de 88% dos entrevistados.
A pesquisa também buscou determinar o nível de conhecimento das principais questões ambientais e climáticas da atualidade. Aquecimento global e mudanças climáticas são os temas mais conhecidos, sendo citados por 70% dos entrevistados. Já os temas emissões de carbono, crise climática, racismo ambiental e justiça climática foram citados por menos de 50% dos entrevistados.
A pesquisa também apurou que 80% dos jovens acreditam que a criação de reservas ambientais ajuda a diminuir os efeitos das mudanças climáticas, 61% defendem investimentos em fontes de energia renovável e limpas, 37% defendem um aumento nas áreas de preservação ambiental e 37% acreditam que os investimentos em ciência, pesquisa e tecnologias devem ser prioritários.
Esses resultados “interessantes” merecem algumas considerações iniciais. O trabalho foi desenvolvido por organizações do chamado Terceiro Setor, onde a ideologia muitas vezes supera a ciência. Também seria importante conhecer em detalhes a metodologia usada na pesquisa – afirmar que um grupo acredita “mais ou menos” em alguma coisa é subjetivo demais.
Apesar desses pequenos “detalhes”, são resultados que devem ser avaliados com bastante atenção e que podem estar corretos. Dentro da minha percepção individual, venho notando que os mais jovens leem cada vez menos e, muito pior, parecem entender cada vez menos o que leem.
Com o advento da internet e das redes sociais, as notícias divulgadas são cada vez mais curtas e superficiais. Notícias que antes precisavam de uma ou duas laudas de texto para serem mostradas aos leitores das mídias tradicionais, agora são resumidas em poucas linhas para os usuários dos smartphones, que percorrem rapidamente as telas nos transportes coletivos ou nos intervalos do trabalho. Vídeos com duração de poucos segundos tentar explicar assuntos que tomariam várias horas.
Esse público ouve diversas vezes expressões chaves com mudanças climáticas, aquecimento global ou queimadas na Amazônia, “chavões que fazem parte dos títulos dos vídeos e das notícias divulgadas. Porém, são poucos os que realmente conseguem entender o significado real de cada uma dessas questões ambientais.
A questão também envolve a péssima qualidade do ensino aqui em nosso país. Conhecimentos sobre biomas brasileiros deveriam fazer parte do currículo escolar básico de geografia de qualquer curso do ensino fundamental. Algumas escolas, inclusive, têm criado matérias específicas para tratar de meio ambiente – conhecer os diferentes biomas do país seria, na minha humilde opinião, o básico do básico.
No geral, minha percepção me diz que “muito marmanjo” mundo a fora compartilha da mesma falta de conhecimento dos mais jovens ouvidos por essa pesquisa. A insistência na repetição de questões como as queimadas na Amazonia e a “destruição do pulmão do mundo” mostram que o desconhecimento pode ser muito maior e mais generalizado do que se imagina.
Este blog, que sempre prima pela qualidade da educação ambiental, é normalmente extremamente repetitivo em muitas questões. Sempre que um novo tema é mostrado nas postagens, o texto sempre procura apresentar todas as informações já publicadas anteriormente, buscando dar ao leitor uma visão completa da questão.
E, como sempre estamos dispostos a aprender com qualquer pesquisa publicada, vamos preparar uma série de postagens falando sobre os diferentes biomas brasileiros e, assim, poder ajudar muitos desses jovens na sua jornada pelo conhecimento.