
A CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, divulgou o relatório final da safra 2021/2022. Os agricultores brasileiros deverão colher um total de 271,2 milhões de toneladas de grãos, um crescimento de 5,6% em relação à safra anterior ou 14,5 milhões de toneladas a mais.
Essa é uma excelente notícia em um momento de incertezas da produção agrícola mundial. Grandes produtores do Hemisfério Norte como os Estados Unidos, a China e países da União Europeia estão enfrentando riscos de quebra de produção de muitas culturas por causa do forte calor e da seca.
De acordo com o relatório detalhado da CONAB, a área total plantada foi estimada em 74,3 milhões de hectares, o que corresponde a um crescimento de 6% ou 4,2 milhões de hectares em relação ao período 2020/2021.
As culturas que apresentaram os maiores crescimentos em área plantada foram a soja, com crescimento de 6% ou 4,2 milhões de hectares; o milho, com 8,2% de crescimento ou 1,64 milhão de hectares; o trigo, com crescimento de 10,6% ou 290 mil hectares, e o algodão, que teve um crescimento de 16,8% ou 229,8 mil hectares.
O milho foi o grande destaque da safra 2021/2022 – as estimativas da CONAB projetam uma produção total de 113,3 milhões de toneladas, um crescimento de 30,1% em relação a última safra. Esse resultado é surpreendente uma vez que a primeira safra do milho na Região Sul foi fortemente prejudicada pela seca no final de 2021.
A seca também prejudicou a produção da soja, que sofreu uma redução de 9,9% no volume total de produção e ficou em 125 milhões de toneladas. O fenômeno climático La Niña provocou uma drástica redução do volume de chuvas nos Estados da Região Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul no final de 2021, levando a uma redução da produtividade do grão.
Outra cultura de extrema importância na mesa dos brasileiros que sofreu fortes impactos com a seca foi o arroz, que tem uma das suas principais áreas de produção no Sul do país. A área plantada sofreu uma redução de 3,6% e a produção foi 8,4% menor, atingindo a marca de 781 mil toneladas.
Falar de arroz nos leva, obrigatoriamente a falar do nosso bom e velho feijão. A cultura também sofreu com a seca em algumas regiões, porém, houve um aumento da produtividade em outras. A safra deverá atingir a marca de 2,99 milhões de toneladas, com um crescimento de 3,6% apesar da redução da área plantada de 2,4%.
A produção do trigo, uma das poucas culturas de grãos em que o Brasil não tem autossuficiência, também foi recorde – a CONAB estima uma produção de 9,36 mil toneladas, o que corresponde a um crescimento de 22% em relação à safra anterior.
O consumo de trigo no Brasil corresponde a aproximadamente 13 milhões de toneladas anuais, o que significa que, mesmo com um excepcional aumento da produção, ainda dependemos das importações de trigo.
Lembro aqui que a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, desenvolveu variedades de trigo especialmente adaptadas às condições do Cerrado e, dentro de poucos anos, nosso país deixará de ser importador e passará a ser exportador de trigo.
Merece destaque também a produção do algodão que atingiu a marca de 2,5 milhões de toneladas de fibra têxtil e de 6,2 milhões de toneladas de caroços de algodão, importante fonte de óleo. Apesar da seca em várias regiões do país ter prejudicado a fase inicial da cultura, o tempo seco foi extremamente benéfico para a colheita do algodão, tendo contribuído fortemente para o aumento de 8,3% na produção.
Além desses grãos mais famosos e de presença mais frequente em nosso dia a dia, o Brasil também produz uma infinidade de culturas bem menos famosas. Nessa lista se incluem o gergelim, o girassol, a mamona, o sorgo, a aveia, a canola, o centeio e a cevada, entre outras, que tornam o Brasil um verdadeiro celeiro mundial.
É sempre importante comentar que até bem poucas décadas atrás – falo aqui dos anos de 1970, nosso país dependia da importação de alimentos, inclusive grãos fundamentais para a dieta da população como o arroz e o feijão.
Em menos de 50 anos passamos da condição de importador de alimentos para a quarta posição mundial dos maiores produtores mundiais de grãos. No caso da soja, o Brasil já é o maior produtor mundial, uma posição que foi conquistada a partir do domínio da ciência e da tecnologia agrícola.
Ainda na década de 1970, a EMBRAPA desenvolveu diversas variedades de grãos – destaque para a soja, especialmente adaptados aos solos ácidos e pouco férteis do Cerrado Brasileiro. Combinando técnicas para a correção dos solos do Cerrado – destaque aqui para a calagem, essas novas variedades de grãos permitiram que o país desse um verdadeiro salto na produção agrícola.
O Cerrado ocupa uma área de mais de 2 milhões de km2, o que corresponde a quase ¼ do território brasileiro. Suas terras sempre foram desprezadas e pouco valorizadas por causa da baixa fertilidade. Até meados do século XX, essas terras apresentavam uma densidade populacional baixíssima, uma condição que passou a mudar pouco a pouco ao longo das últimas décadas.
De terra desvalorizada a celeiro agrícola do país, o Cerrado assumiu papel de destaque no Brasil. Essa importância precisa ser seguida cada vez mais de responsabilidade ambiental, combinando desenvolvimento econômico com preservação ambiental. É sempre importante destacar que as principais bacias hidrográficas brasileiras têm suas nascentes no Cerrado Brasileiro.
Esses mesmos cuidados ambientais também devem envolver os biomas Mata Atlântica, Caatinga e Pampas Sulinos, explorados e devastados pela agricultura e pecuário ao longo de nossa história. Muito de sua riqueza natural já foi perdida e todos os esforços para a sua recuperação devem ser priorizados.
Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e Pampas Sulinos ainda possuem um amplo potencial para expansão da nossa agricultura e pecuária, o que nos permite “poupar” a Amazônia e o Pantanal Mato-grossense para as futuras gerações.
Em todos esses biomas existem grandes áreas que já foram desmatadas e que estão sendo subutilizadas e/ou estão abandonadas. Segundo muitos especialistas, nosso país tem potencial para dobrar a sua produção agrícola usando essas terras sem precisar destruir e desmatar novas áreas de florestas. Isso seria excelente para nós brasileiros e para o resto do mundo.