
A China, a segunda maior economia do mundo e também uma das que mais crescem em tamanho e influencia, parece estar vivendo uma espécie de “inferno astral”. Um exemplo: Xangai, uma cidade de 25 milhões de habitantes, enfrentou recentemente um lockdown de dois meses por causa de um surto de Covid-19. Isso acontece num momento em que a doença está sob controle na maior parte do mundo.
Outro tormento na vida dos chineses é a crise energética criada pelos elevados preços do gás natural, do petróleo e do carvão, problema que está afetando países de todo o mundo. Essa crise afeta desde os grandes conglomerados industriais, que estão sendo obrigados a limitar seu consumo de energia, até os cidadãos comuns, que sofrem com constantes blackouts no fornecimento de energia elétrica em suas casas.
Nas últimas semanas, a China vem sendo assolada por problemas climáticos. Sete províncias do Sul do país estão sofrendo com fortes chuvas, o que vem provocando grandes enchentes. Enquanto isso, regiões do Centro e do Norte da China estão sendo assoladas por fortes ondas de calor a exemplo do que está ocorrendo na América do Norte e em partes da Europa.
Esses diferentes eventos climáticos não são novidade no país, entretanto, o aumento da frequência de ondas de calor e de grandes enchentes está criando muita apreensão entre os chineses. Há exato um ano, citando um exemplo, a parte central da China sofreu com “as maiores chuvas em mil anos”, conforme se noticiou há época.
O território da China é imenso e ocupa uma área de mais de 9,5 milhões de km² – isso corresponde a 1 milhão de km² a mais que o Brasil. Com todo esse tamanho, assim como acontece aqui em nossas terras, o país tem diferentes padrões climáticos, de relevo e também biomas diversificados.
No total, a China possui oito tipos de clima diferentes, indo de climas semiáridos e desérticos no Norte, onde encontramos os desertos de Gobi e Takla Makan, até um clima subtropical de monção no Sul similar ao encontrado nos países do Sudeste Asiático. As zonas climáticas são divididas em equatorial, tropical, subtropical, temperada, temperada fria e fria.
O relevo do país também é bastante particular, destacando-se os grandes maciços montanhosos da faixa Oeste – a Cordilheira do Himalaia. No cume dessas montanhas existem enormes glaciares que formam as nascentes de importantes rios do país. Destacam-se o Yangtzé, mais conhecido entre nós como rio Azul, e o Huang He ou Huang Ho, o famoso rio Amarelo.
O Yangtzé é o maior rio da China e também um dos maiores do mundo, só perdendo para os rios Amazonas e Nilo. O rio tem mais de 6.300 km de extensão e forma uma bacia hidrográfica com cerca de 1,1 milhão de km². O rio Huang Ho é um pouco menor, com cerca de 5.500 km de extensão e dono de uma bacia hidrográfica com aproximadamente 550 mil km².
Os trechos médios e inferiores desses rios drenam as terras mais férteis da China, onde desde tempos imemoriais vem se desenvolvendo atividades agrícolas e pecuárias. Agricultura e florestas, conforme já destacamos em postagens aqui no blog, são “forças” incompatíveis na natureza, ou seja, para a formação de campos agrícolas é necessário suprimir áreas florestais.
Desmatamentos em larga escala levam, entre outros problemas, a formação de grandes enchentes nos períodos de chuvas mais fortes, além de provocar o assoreamento e entulhamento da calha dos rios. É essa receita, que vem sendo usada em países de todo o mundo, que está na raiz das grandes e históricas enchentes que, ano após ano, causam enormes transtornos na China.
Enquanto as chuvas e as fortes enchentes costumam abundar nas faixas Central e Sul do país, todo o Norte da China sofre com a falta de água. A maior parte das regiões Noroeste, Norte e Nordeste da China são ocupadas por grandes desertos, como é o caso do Deserto de Gobi. Esse deserto se divide entre a China e a Mongólia, ocupando uma área com 1,3 milhão de km².
Também merecem destaques o Deserto de Takla Makan, com cerca de 270 mil km², o Deserto de Baidan Jaran, com 50 mil km², e o Deserto de Mu Us, com 32 mil km². Além desses, existem alguns desertos menores como Lop, Dsootoyn Elisen, Hami e Tengger.
O Deserto de Gobi, citando apenas um exemplo, está em expansão e avança cerca de 3.600 km² rumo ao Sul a cada ano. As grandes tempestades de areia que ocorrem nessa região de deserto lançam sedimentos a distâncias de até 2.000 km ao Sul, atingindo importantes áreas agrícolas. Os chineses estão reflorestando grandes faixas de terra para combater o avanço desses desertos.
A escassez de água em toda a faixa Norte da China tem reflexos diretos na produção agrícola: cerca de 1/3 de toda a produção está concentrada na faixa Sul do país, que também concentra 80% das reservas de água. Já a faixa Norte do país, que concentra apenas 20% dos recursos hídricos, responde pelo equivalente a 2/3 de toda a produção agrícola.
Qual o segredo? Super exploração das fontes de água.
A região Norte da China produz mais de 40% dos grãos do país através de sistemas de agricultura irrigada, com um consumo de água muito acima da disponibilidade natural, onde a água é retirada de aquíferos e lençóis freáticos. O custo ambiental é altíssimo: sem recarga, os aquíferos estão secando a uma razão de 1,5 metro a cada ano – rios e lagos estão desaparecendo e poços precisam ser escavados a profundidades cada vez maiores. Em Pequim, o nível do lençol freático já está em 59 metros de profundidade e continua baixando.
O país também investe pesado na construção de sistemas de transposição entre bacias hidrográficas, desviando volumes crescentes de água de rios da faixa Central do país. As condições climáticas já naturalmente complicadas dessa extensa região estão se tornando ainda mais críticas em consequências das mudanças climáticas globais. Grandes ondas de calor estão se tornando cada vez mais frequentes, complicando ainda mais a vida de centenas de milhões de chineses.
Além de todo o drama humano, as enchentes no Sul e as ondas de calor no Centro e no Norte do país estão provocando graves problemas econômicos para a já enfraquecida economia chinesa. Calor extremo sempre leva ao aumento do consumo de energia elétrica por causa do uso intensivo de ventiladores e sistemas de ar condicionado pela população. Em momento em que já existe uma crise energética, as grandes empresas ficam com volumes ainda menores de energia para trabalhar.
Já as grandes enchentes no Sul estão afetando importantes áreas industrias em cidades como Foshan, Guangzhou, Dongguan e Shenzen. Além dos enormes prejuízos para as empresas locais, isso gera problemas em todo o mundo – a China é, há várias décadas, a principal “fábrica” do mundo.
Isso é ou não é um verdadeiro “inferno astral” chinês?
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