
Na última postagem falamos das fortes chuvas que castigaram por vários dias a província sul-africana de KwaZulu-Natal, no Leste do país. Em uma postagem anterior havíamos falado de problemas semelhantes vividos por algumas das ilhas do arquipélago das Filipinas, atingido pela tempestade tropical Mogi.
Nesses dois casos, e em muitos outros semelhantes em todo o mundo, observamos as “digitais” das mudanças climáticas globais. O aumento gradual e constante das temperaturas do planeta, fenômeno que vem sendo observado cientificamente desde o final do século XIX, está provocando importantes modificações no regime das chuvas – algumas regiões do planeta estão recebendo chuvas acima da média, enquanto outras regiões vivem uma situação oposta: chuvas abaixo da média ou secas.
Um caso extremo é o que está tomando conta do chamado Chifre da África – a região vive uma das piores secas das últimas décadas. De acordo com informações da OIM – Organização Internacional para Migrações, uma agencia ligada a ONU – Organização das Nações Unidas, mais de 15 milhões de pessoas estão sendo severamente afetadas pela seca na Somália, na Etiópia e no Quênia, onde vive quase metade das vítimas.
A falta de chuvas está agravando os problemas de segurança alimentar na região, que já sofre com inúmeros conflitos militares, com mudanças climáticas, com nuvens de gafanhotos e também com os impactos que foram criados pela pandemia da Covid-19. A OIM teme uma explosão na migração das populações afetadas pela crise nos próximos meses.
As pequenas comunidades rurais estão vendo as pastagens secarem e as reservas de água desaparecerem, o que ameaça os rebanhos e seus meios de subsistência. Somente no Quênia, perto de 1,4 milhão de cabeças de gado morreram nos últimos meses e milhares de hectares de plantações se perderam por causa da falta de chuvas.
Além de milhares de famílias estarem sendo obrigadas a abandonar suas propriedades para sair em busca de água, comida e área para cultivo, estão aumento os conflitos entre diferentes comunidades na disputa pelos escassos recursos disponíveis para o pastoreio e recursos hídricos.
Na Somália, quase 3 milhões de pessoas já foram obrigadas a migrar para outras regiões e perto de 1 milhão deverá abandonar suas propriedades em breve. Segundo o Governo, que decretou emergência hídrica em novembro de 2021, essa é a pior seca dos últimos 40 anos.
Tradicionalmente, os migrantes buscam oportunidades nos centros urbanos, que já estão inchados devido a uma série de crises anteriores. O aumento descontrolado das populações nas áreas urbanas do país tende a sobrecarregar ainda mais os já precários serviços de assistência médica e social.
Um dos fluxos migratórios monitorados pela OIM mostra um aumento do número de somalis que se dirigem para o território etíope em busca de água e pastagens para os animais. Somália e Etiópia travaram 3 guerras entre 1940 e 2009 por causa de disputas fronteiriças – essa “invasão” do país por flagelados pela seca, por mais justificável que seja por questões humanitárias, poderá criar sérios problemas políticos no futuro.
A Etiópia também está sofrendo muito com a seca. As estimativas do Governo afirmam que cerca de 4 milhões de pequenas comunidades agrícolas e pastoris, formadas basicamente por grupos familiares, estão sendo afetadas pela seca. As regiões mais afetadas são o Sul e o Sudeste do país.
No Quênia, a seca está afetando com maior intensidade o Norte do país, região que recebeu apenas um terço das chuvas esperadas para o ano de 2021. Fazendeiros da região relatam a perda de 70% dos seus rebanhos devido à escassez de água e de pastagens. De acordo com as previsões dos meteorologistas, a situação crítica deverá perdurar até meados desse ano, quando as chuvas deverão começar a cair.
Historicamente, o Chifre da África é sistematicamente atormentado por fortes períodos de seca. A geografia da região ajuda a explicar esses fenômenos – a Noroeste, a região faz fronteira com o Deserto do Saara, e ao Norte, o Golfo de Áden separa o Chifre da África do Deserto do Sul da Arábia.
Um estudo do USGS – Serviço Geológico dos Estados Unidos, na sigla em inglês, e da Universidade da Califórnia, entretanto, mostra que as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global estão provocando um aumento na frequência e na intensidade das secas nessa região. Esse estudo foi publicado em 2011.
Segundo o estudo, existem diversos eventos climáticos envolvidos na forte seca do Chifre da África. Porém, os pesquisadores são categóricos em afirmar que o aquecimento das águas do Oceano Índico é um dos principais responsáveis pela catástrofe.
Conforme comentamos em postagem anterior, de todos os oceanos do mundo o Índico é, proporcionalmente, o mais afetado pelas mudanças climáticas que se desenrolam no continente antártico. As grandes perdas de massas da cobertura de gelo na Antártida estão provocando alterações nas correntes marítimas do Oceano Índico, o que, combinado com o aumento da temperatura das águas, está afetando os padrões de chuva em partes do Sul e do Leste da África, e também no Sul e Sudeste da Ásia.
As medições sistemáticas das temperaturas do Oceano Índico vêm sendo realizadas desde 1880. Nos últimos anos, as medições mostram claramente um aumento sistemático dessas temperaturas. Um exemplo claro das consequências desse aumento das temperaturas das águas superficiais do oceano é visto nas Chuvas da Monção.
Essas chuvas são formadas por ventos que se formam sobre o Oceano Índico em decorrência da diferença de temperatura entre a massa continental e as águas do oceano. Esses ventos carregam pesadas nuvens de chuva na direção do Subcontinente Indiano e do Sudeste Asiático, resultando numa intensa e característica temporada de chuvas.
Nos últimos anos tem-se observado uma irregularidade nessa temporada de chuvas, com algumas regiões recebendo chuvas abaixo da média e outras com chuvas bem acima da média. Entre outros problemas, essa irregularidade nas chuvas tem prejudicado muito a agricultura nos países da região, atividade que sempre foi sincronizada com as Chuvas da Monção.
Se somarmos as populações dos países que formam o Subcontinente Indiano e o Sudeste Asiático com as populações do Sul e do Leste da África, chegamos fácil a cifra de 2,5 bilhões de habitantes. Isso nos dá uma leve ideia dos impactos das mudanças climáticas apenas nas áreas circunvizinhas ao Oceano Índico.
A má notícia para todos nós é que os problemas de seca extrema e/ou de chuva extrema em diferentes regiões ao redor do mundo tenderão a aumentar nos próximos anos em função das mudanças climáticas.
[…] A IMPLACÁVEL SECA NO CHIFRE DA ÁFRICA […]
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[…] intensos de secas nas últimas décadas. Um exemplo que citamos em uma postagem recente é o do Chifre da África, que está enfrentando a mais forte seca em 40 […]
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[…] Esse aumento das temperaturas está causando uma série de mudanças nas grandes massas de nuvens de chuva que se formam sobre o Oceano Índico e que são levadas pelos ventos na direção da África, do Sul e do Sudeste Asiático. Na África estão sendo observadas grandes secas como a que está se abatendo sobre o Chifre da África. […]
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