
O EAIS – East Atarctic Ice Sheet, ou Manto de Gelo da Antártida Oriental é uma imensa massa de gelo que cobre grande parte do Continente Antártico. Segundo estimativas de especialistas, o EAIS concentra cerca de 80% de todo o gelo do planeta. Essa massa de gelo é tão grande que, em alguns pontos, ela tem uma espessura da ordem de 4 km.
Apesar de 2/3 da superfície da Terra ser coberto por água, apenas 2,5% da água existente no planeta é doce ou potável – a maior parte da água existente é a água salgada dos oceanos. Além de rara, a maior parte da água doce do planeta se encontra congelada nas calotas polares, nas geleiras das altas montanhas ou infiltrada no solo a grandes profundidades. OU seja – a maior parte da água doce do planeta está congelada no EAIS.
Uma das grandes abstrações dos teóricos dizia que, caso o EAIS descongelasse de um dia para o outro, o nível dos oceanos sofreria um aumento de 52 metros. Essa hipótese que era considerada remota pelos especialistas está se transformando em uma perigosa possibilidade – é claro que isso não vai acontecer do dia para a noite.
Um estudo recente publicado pela revista científica Nature confirmou que o EAIS está sofrendo perturbações por causa do aquecimento global, confirmando observações feitas em estudos ao longo de 2020. As projeções feitas pelos especialistas estimam que o gradual derretimento desse manto de gelo poderá resultar em um aumento do nível dos oceanos entre 1,5 e 3 metros até o ano 2300. Esse aumento passará dos 5 metros até o ano 2500.
Observem que, felizmente, falamos de um futuro bem distante para todos nós. Porém, sempre que abordamos esse tipo de problema precisamos sempre incluir na “equação” as futuras gerações. Países insulares ou com baixas altitudes como a Holanda, também conhecida como Países Baixos, simplesmente desaparecerão do mapa com um aumento do nível dos oceanos com essa ordem de grandeza.
Relembrando a postagem anterior onde falamos das Ilhas Maldivas – a maior altitude das ilhas fica a exatos 2,3 metros acima do nível do mar – aliás, a altitude média do território é de 1,5 metros. A maior parte da população vive em áreas com altitude de 1 metro acima do nível do mar. A capital do país, Malé, onde vivem 100 mil pessoas fica a desesperadores 0,9 metros em relação ao nível do mar!
Entre os diferentes cenários analisados no estudo, os pesquisadores avaliaram a situação do EAIS em períodos geológicos com temperaturas mais altas que nos dias atuais. Eles descobriram que essa condição climática provocou uma retração do manto de gelo de forma dramática, o que levou a um aumento do nível do mar entre 5 e 10 metros.
Um detalhe importante do estudo é que, diferentemente de muitas conclusões pessimistas, os cientistas alertam que o futuro do grande manto de gelo da Antártida ainda não foi selado e que ainda é possível se evitar a catástrofe futura. Simulações feitas em computadores indica que em cenários com baixa emissão de gases de efeito estufa o EAIS permaneceria intacto.
Só para relembrar, os GEE – Gases de Efeito Estufa, são os principais responsáveis pelo aquecimento global. Exemplos desses gases são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N20). As principais emissões desses gases estão associadas a queima de combustíveis fósseis como os derivados de petróleo e o carvão mineral, a agricultura, as queimadas e os incêndios florestais, entre outras.
Em 2015, 195 países assinaram o Acordo de Paris, onde a meta principal era limitar o aumento da temperatura global abaixo dos 2º C até o final deste século. Entre inúmeros outros compromissos, esses países se comprometeram a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, o que teria reflexos diretos na preservação do manto de gelo da Antártida, do Ártico e também em geleiras de montanhas por todo o mundo.
Nunca é demais relembrar que o aumento das temperaturas no planeta já está provocando a perda de gigantescos volumes de gelo em glaciares em montanhas, no Ártico e, principalmente na Antártida. Os grandes volumes de água doce liberados pelo derretimento desse gelo já está provocando alterações em diversas correntes marítimas, com reflexos em mudanças nos padrões de chuva em diversos países.
Um dos casos mais críticos, já tratado em diversas postagens aqui do blog, é o Oceano Índico. Medições sistemáticas da temperatura das águas do Oceano Índico, que vem sendo feitas há mais de 100 anos, mostram claramente que houve um aumento da temperatura superficial das águas em vários trechos. Esse aumento da temperatura das águas está se refletindo em mudanças nos padrões de chuvas em grandes áreas da África e da Ásia.
O caso mais emblemático são os reflexos nas Chuvas da Monção, uma temporada de fortes chuvas que tradicionalmente atingem todo o Subcontinente Indiano e o Sudeste Asiático. A regularidade e a intensidade dessas chuvas estão variando nos países da região. Algumas regiões tem sofrido com chuvas bem abaixo da média, enquanto outras regiões enfrentam enchentes catastróficas.
Outro continente que está sendo fortemente afetado pelas mudanças nos padrões climáticos do Oceano Índico é a África. Extensas regiões das faixas Austral e Leste vem enfrentando ciclos intensos de secas nas últimas décadas. Um exemplo que citamos em uma postagem recente é o do Chifre da África, que está enfrentando a mais forte seca em 40 anos.
A perspectiva de um futuro derretimento do EAIS poderá aumentar ainda mais a já complicada situação dos padrões climáticos em várias partes do mundo. Tudo o que for possível fazer para evitarmos que isso aconteça, deverá ser feito em prol do futuro de nossos descendentes.