
Durante os últimos quatro meses não foram poucas as postagens aqui do blog que trataram dos inúmeros problemas causados pelas chuvas e pelas enchentes em várias regiões do Brasil. Primeiro foram as fortes chuvas que assolaram todo o Sul da Bahia e o Norte de Minas Gerais.
Essas chuvas depois se espalharam por todo o Estado de Minas Gerais e causaram enormes estragos em uma infinidade de cidades. O Estado de São Paulo também acabou sendo afetado por alguns dias de fortes chuvas que, entre outros problemas, causaram os desabamentos de encostas nas cidades de Francisco Morato e Franco da Rocha.
Depois tivemos os desmoronamentos de encostas na cidade de Petrópolis provocados por chuvas muito acima da média. Nos últimos dias tratamos das fortes chuvas no Estado do Rio de Janeiro, onde diversas cidades ainda lutam para se recuperar dos estragos.
Se qualquer um dos leitores fizer uma pesquisa nos arquivos aqui do blog, que já conta com quase 1.500 postagens, vai encontrar um sem número de publicações que tratam exatamente dos mesmos problemas – é só chegar a temporada das chuvas para recomeçarem os problemas com enchentes, desmoronamentos de encostas, gente desabrigada e, infelizmente, muitos mortos.
Para aqueles que acreditam que chuva é um fenômeno natural e que ninguém pode controlar as suas consequências, gostaria de mostra o exemplo da cidade de Los Angeles, na Costa Oeste do Estados Unidos. Assim como acontece hoje em grandes cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte, Los Angeles era constantemente devastada por fortíssimas enchentes.
A cada chuva mais forte, os sistemas de drenagem de águas pluviais da cidade do cinema não conseguiam dar conta da vazão do grande volume de água e as enchentes tomavam conta de grandes áreas da mancha urbana: qualquer semelhança com São Paulo, Rio de Janeiro ou Recife não é mera coincidência. Na década de 1940, a Prefeitura de Los Angeles decidiu pela realização de uma grande obra para resolver, em definitivo, o problema.
O canal do rio Los Angeles, que na maior parte do ano era um leito seco, foi “canalizado”. O sentido aqui diverge da tradicional rede de tubulações subterrâneas, tão comum na canalização de córregos urbanos no Brasil – o leito do rio foi retificado e transformado em um canal largo e profundo, revestido por concreto num trecho de 80 quilômetros.
O canal foi dimensionado para receber um grande volume de águas de chuva, começando com uma largura de 80 metros e chegando a 120 metros no trecho final. A correnteza pode chegar a uma velocidade de 50 km/h, característica que permite a drenagem rápida de grandes volumes de água de chuva. Uma vez concluído o canal principal de drenagem, sistemas locais nos bairros foram construídos e melhorados.
Se você gosta de cinema e costuma assistir as grandes produções de Hollywood, é quase certo que já viu o canal do rio Los Angeles em algum filme. Vou citar alguns: O Exterminador do Futuro, Uma Saída de Mestre, Grease – nos tempos da brilhantina, entre muitos outros. No filme O Núcleo – Missão ao Centro da Terra, um ônibus espacial faz um pouso de emergência na calha do rio Los Angeles.
Em outro filme, bastante exagerado na ficção, o rio Los Angeles foi usado para desviar a lava de um vulcão em formação na cidade – estou falando de Volcano: a fúria. Contando com espaço de sobra para as equipes trabalharem e localizado ao lado dos grandes estúdios de Hollywood, o canal do rio Los Angeles ainda ver ser cenário para muitos e muitos filmes.
Moral da história – depois que o canal do rio Los Angeles foi concluído e todo um conjunto de obras complementares foi implementado, as enchentes violentas na cidade de Los Angeles viraram coisa do passado. Aliás, já fazem uns bons anos que todo o Sul do Estado da Califórnia tem vivido um outro problema – a seca.
É evidente que no Estado mais rico do país mais rico do mundo as coisas são um “pouco” mais fáceis do que num país em desenvolvimento como o Brasil. Entretanto, se houver um bom planejamento, podemos construir infraestruturas de drenagem de águas pluviais tão boas como a de Los Angeles, porém, num prazo bem mais longo.
Os sistemas de drenagem de águas das chuvas começam aí na porta da sua casa – a sarjeta e o meio fio da sua rua formam a parte inicial desses sistemas. E é justamente aqui que começam os problemas – existem inúmeras ruas nas cidades brasileiras que nem isso possuem. Fica difícil falar do combate às enchentes num ambiente assim.
A maioria dos canais de drenagem naturais – riachos, córregos e rios, foram transformados ao longo dos anos em fossas a céu aberto, que além de receberam enormes quantidades de esgotos diariamente, ainda são transformados em depósitos de todo o tipo de resíduos sólidos – de restos de embalagens plásticas a sofás velhos.
Também não podemos deixar de falar na ocupação das encostas de morros e áreas de várzeas para a construção de habitações para pessoas pobres. Faltam programas públicos para a construção de moradias populares – logo, essas áreas acabam sendo ocupadas da forma mais irracional possível.
Assim, entra verão, saí verão, e os problemas ligados a chuvas e enchentes voltam a ocupar os noticiários, transformando a vida de muita gente em um suplício. Por menores que sejam as verbas públicas destinadas as áreas de infraestrutura urbana e construção de moradias populares, elas precisam ser usadas da maneira mais efetiva e funcional. Quem desviar ou utilizar essas verbas de maneira incorreta, no mínimo deveria ir para a cadeia.
Inúmeras cidades mundo afora já sofreram muito com as chuvas e suas consequências. Com muito trabalho e determinação, além de extrema seriedade dos seus governantes, muitas dessas cidades – como é o caso de Los Angeles, conseguiram resolver a maior parte dos problemas. Essa solução não se deu do dia para a noite – foram muitos e muitos anos de trabalho.
Nós aqui no Brasil precisamos cobrar de nossos governantes uma solução para esses problemas – que seja em 10 ou 50 anos, mas que se caminhe para uma solução. Nesses últimos meses milhares de pessoas perderam suas casas e seus negócios por causa dos problemas criados pelas chuvas – centenas de pessoas acabaram morrendo.
Com as mudanças climáticas em andamento no mundo, muitos dos problemas que enfrentamos atualmente poderão até ficar piores. É hora de começarmos a mudar essa situação!