
As fortes chuvas que vem atingindo grande parte do Estado do Rio de Janeiro desde a noite da última quarta-feira, prosseguiram ao longo do fim de semana. De acordo com o último balanço da Defesa Civil, as chuvas já provocaram 16 mortes e 7 pessoas seguem desaparecidas. A situação mais crítica é a de Angra dos Reis, onde as chuvas são recordes.
De acordo com informações da Defesa Civil do município, os volumes de chuva acumulados na Ilha Grande ao longo de 48 horas atingiu a incrível marca de 900 mm e na área continental do município ficou em 737 mm. Esses índices nunca haviam sido registrados na história de Angra dos Reis.
Um deslizamento de terra no bairro de Monsuaba atingiu 6 casas na madrugada deste sábado – ao menos 8 pessoas morreram, sendo 4 quatro adultos e quatro crianças. Ao menos 3 pessoas seguem desaparecidas. Na madrugada deste domingo houve um novo desmoronamento de encosta, porém sem registro de vítimas.
A Rodovia Rio-Santos foi totalmente interditada no sábado pela PRF – Polícia Rodoviária Federal. Nas proximidades de Monsuaba, Portogalo e Garatucaia houve diversos deslizamentos de terra e formação de pontos de alagamento nas pistas. Em Paraty, um posto da PRF foi destruído por um deslizamento de terra, que também soterrou uma viatura e um outro veículo. Ninguém ficou ferido no incidente.
Na Ilha Grande foram registrados vários desmoronamentos de encostas e quedas de grandes blocos de pedra. As comunidades mais afetadas são as de Araçatiba, Vermelha, Provetá, Abraão e Aventureiro. A praia de Itaguaçu foi praticamente soterrada pelos deslizamentos de encostas. Segundo informações dos moradores, 4 pessoas dessa região estão desaparecidas.
As chuvas diminuíram nas últimas horas, porém, a Defesa Civil ainda mantém o município em estado de alerta máximo. O órgão pede que os moradores não retornem para as suas casas pois os solos ainda estão saturados de água e há riscos de novos deslizamentos. O município mantém 30 abrigos abertos para receber a população deslocada de suas casas.
Uma fonte extra de preocupações em Angra dos Reis são as duas Usinas Nucleares instaladas no município – Angra I e Angra II. A Prefeitura da cidade solicitou à Eletronuclear, empresa federal responsável pelas operações, o desligamento das unidades por questões de segurança. Em nota oficial, a Eletronuclear informa que não há riscos e que as duas plantas seguem operando em capacidade total.
Em Paraty, município vizinho de Angra dos Reis, o desmoronamento de uma encosta matou 7 pessoas de uma mesma família – uma mãe e seus 6 filhos com idades entre 2 e 16 anos. Apenas uma criança da família foi resgatada com vida e encaminhada para um hospital da região – a vítima segue em estado gravíssimo.
Em Mesquita, município da Baixada Fluminense, um homem morreu eletrocutado segundo informações do Corpo de Bombeiros. Ele tentava resgatar uma mulher que ficou presa no carro em numa rua alagada quando sofreu uma forte descarga elétrica. O homem foi socorrido por moradores do local, mas não respondeu aos procedimentos de reanimação.
Os municípios de Belford Roxo e de Nova Iguaçu, também na Baixada Fluminense, além de Mesquita, estão entre os que mais foram castigados pelas chuvas. De acordo com informações da imprensa, o Governo Estadual está em contato com as Prefeitura destes municípios para auxiliar no cadastro das famílias que poderão receber o aluguel social, uma ajuda para as famílias que perderam as suas casas por causa das enchentes.
O CEMADEN – Centro Nacional de Monitoração e Alerta de Desastres Naturais, emitiu um boletim de previsão de riscos de eventos geo-hidrológicos onde destaca a alta possibilidade de inundações, enxurradas e alagamentos na Mesorregião Metropolitana do Rio de Janeiro, onde se incluem a Região Serrana e o Sul Fluminense.
O boletim indica a continuidade das fortes chuvas, o que somado aos solos já saturados por água poderá resultar em novos desmoronamentos de encostas. A situação é agravada pelas características do relevo dessas regiões e pela presença de muitos córregos canalizados. O alerta também inclui o trecho paulista do Vale do Paraíba e também o Litoral Norte de São Paulo.
No sistema de notificação do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, quase todo o território do Estado do Rio de Janeiro e parte do Litoral Norte do Estado de São Paulo estão classificados em “alerta de perigo” até as 11 horas dessa segunda-feira, dia 4, para o volume acumulado de chuvas.
O alerta aponta risco de chuvas entre 30 a 60 mm/hora ou de 50 a 100 mm/dia, além de riscos de alagamentos, deslizamentos de encostas, transbordamentos de rios, especialmente nas conhecidas áreas de risco dos municípios.
Como é usual nessas situações de catástrofes naturais, tanto as Prefeituras das cidades atingidas quanto o Governo do Estado têm emitido notas oficiais e declarado em entrevistas que realizaram inúmeras obras, tanto em sistemas de drenagem de águas pluviais quanto em projetos de contenção de encostas de morros, de forma a prevenir muitas das tragédias que ocorreram nos últimos dias.
Segundo essas declarações, os volumes de chuvas estão muito acima das médias históricas, superando em muito a capacidade das infraestruturas das cidades. Os Governos afirmam que estão dando todo o suporte e assistência para as famílias atingidas…
O que esses Prefeitos e Governadores, falando de um modo geral, nunca explicam é a inércia e passividade dos mesmos com a ocupação desordenada de encostas de morros, da canalização desenfreada de riachos e de córregos ou ainda da destruição de importantes áreas de várzeas em suas cidades. Também não justificam os baixos investimentos e também os grandes desvios de recursos em construção de moradias populares, em sistemas de drenagem de águas pluviais e em outras obras de prevenção a enchentes. A temporada de chuvas se repete ano após ano.
É evidente que, com grandes volumes de chuva acumulados como o que se sucedeu com Angra dos Reis nesses últimos dias, seria inevitável que problemas ocorressem. Porém, seria bastante provável que o número de perdas de vidas humanas, o que é irrecuperável, fosse bem menor.
Um caso interessante de uma cidade que sofreu muito com grandes enchentes e que conseguiu resolver o problema é Los Angeles, nos Estados Unidos. Vamos falar disso na nossa próxima postagem.