
O primeiro mês do verão 2021/2022 foi marcado por chuvas acima da média em muitas regiões brasileiras, a começar pelo que foi visto no Sul da Bahia e no Norte de Minas Gerais. Nessas últimas semanas, as chuvas se concentraram ao longo de uma extensa região desde o Estado do Rio de Janeiro e do Vale do rio Paraíba em São Paulo, até regiões do Brasil Central em Goiás e Tocantins. Minas Gerais foi o Estado mais castigado por essas fortes chuvas.
De acordo com um balanço preliminar divulgado pela Defesa Civil de Minas Gerais no dia 13 de janeiro, o saldo desse período de fortes chuvas no Estado até o momento é de 3.992 desabrigados, 24.610 desalojados e 24 vítimas fatais. São 341 municípios em situação de emergência. A intensidade e a extensão das chuvas diminuíram bastante, mas os estragos e os problemas ainda vão se fazer presentes por muitas semanas, quiçá meses (vide foto).
Em outra postagem falaremos melhor sobre isso, mas, apesar dos volumes de chuva terem caído acima dos valores médios dos últimos anos, o que em parte explica o tamanho da destruição causada, não podemos nos esquecer dos grandes desmatamentos que essas regiões sofreram ao longo dos últimos séculos.
Solos desnudos e/ou cobertos por uma vegetação mais rala – como pastagens e plantações, absorvem quantidades pequenas das águas das chuvas. Essa água então forma uma lâmina que corre pela superfície, atingindo o leito dos rios com grande força e velocidade. Sem conseguir acomodar esse grande volume de água, os rios transbordam e inundam cidades e vilas.
Apesar de todos esses graves problemas, precisamos “dar graças aos céus” por essas abençoadas chuvas. Conforme comentamos em muitas postagens anteriores, a Região Central do país passava pela maior seca dos últimos 90 anos até poucas semanas atrás. Reservatórios de grandes e importantes usinas hidrelétricas estavam com baixos níveis, um problema que ameaçava parte importante do abastecimento de energia elétrica do Brasil.
De acordo com dados do ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico, os reservatórios das usinas hidrelétricas das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, que são responsáveis por cerca de 70% da geração de energia elétrica do país, atingiram seu pior nível em setembro de 2021, quando se registrou apenas 16% da capacidade hídrica total.
Com a chegada do período das chuvas nessas regiões, o volume de água armazenada nos reservatórios já chegou a 35% da capacidade na primeira quinzena de janeiro de 2022. Esse é o melhor índice registrado desde agosto de 2020, quando os volumes armazenados de água correspondiam a 42% da capacidade total.
Um exemplo da abundância de águas nessa temporada pode ser visto na Represa de Três Marias, na Região Central de Minas Gerais. De acordo com dados do ONS do dia 15 de janeiro, o reservatório está com 91% de sua capacidade total. Apesar dos bons números, a situação não é de todo confortável. Os volumes de água que estão chegando na represa são muito altos e a empresa responsável pela operação, a CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais, estuda abrir as comportas para aliviar a represa. Essa ação foi suspensa temporariamente.
Os grandes volumes de água que o rio São Francisco está recebendo em áreas da sua bacia hidrográfica dentro do Estado de Minas Gerais e também em Goiás e no Tocantins, já estão sendo sentidos nas barragens de Sobradinho e de Luís Gonzaga (antiga Itaparica), no Norte da Bahia. Segundo dados do ONS de 15 de janeiro, essas barragens estão com níveis de 63,49% e 55,51%, respectivamente.
Outros bons exemplos de reservatórios de água que vem sendo muito beneficiados com as fortes chuvas na região central do Brasil são os das Usinas Hidrelétricas de Tucuruí, no Pará, e de Serra Mesa, em Tocantins. Ambas as hidrelétricas estão instaladas na calha do rio Tocantins. De acordo com o ONS, o reservatório de Tucuruí está com 95,95% da sua capacidade. É importante destacar que a Usina Hidrelétrica de Tucuruí tem uma potência total instalada de 8,37 mil MW e é uma das mais importantes geradoras do Brasil.
Em Serra Mesa, o reservatório está com 41,27% de sua capacidade máxima. Esse reservatório possui um espelho d’água que pode atingir a marca de 1.784 km², o que o coloca como o maior depósito artificial de água doce da América Latina. Possui uma capacidade nominal para armazenar 54,4 bilhões de m³ de água, porém, ao longo dos últimos anos, o nível do reservatório vem apresentando muito altos e baixos, ficando muito longe de atingir seu nível máximo.
As boas chuvas, infelizmente, ainda não estão mostrando melhores resultados na vazão da bacia hidrográfica do alto rio Paraná. Uma das mais importantes usinas hidrelétricas da região, Ilha Solteira, aparece com o nível do seu reservatório com 0,00% nos dados do ONS. Isso significa que o nível do rio Paraná está numa cota abaixo dos 323 metros em relação ao nível do mar.
A temporada de chuvas na Região Centro-Sul do Brasil deverá se estender até o mês de abril, o que nos dá esperanças de que dias bem melhores ainda virão para muitos dos reservatórios que ainda estão apresentando níveis muito baixos e/ou críticos.
As previsões climáticas divulgadas pelo INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, em novembro de 2021, indicavam chuvas abaixo da média em muitas regiões brasileiras nos meses de dezembro e janeiro. Entre essas regiões se incluíam a Bahia, Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Essas previsões, felizmente, não se confirmaram e grande parte desses Estados estão convivendo com chuvas bem acima da média histórica.
Para o mês de fevereiro, os modelos climáticos do INMET estão prevendo chuvas irregulares em praticamente toda a Região Central e também na Região Sul. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul as chuvas previstas deverão ficar abaixo da média histórica.
Vamos torcer por alguma margem de erro nessas previsões, esperando que as chuvas fiquem ou dentro ou acima da média histórica. Lembro aqui que estamos vivendo sob a influência do fenômeno climático La Niña, palavra que vem do espanhol e significa a menina””.
Essa menina peralta, juntamente com seu irmão El Niño (“o menino”), costumam pregar peças nos meteorologistas, alterando bastante as condições climáticas em grande parte do mundo.
Vamos esperar para ver o que o clima nos reserva para os próximos meses.