AS GELEIRAS DAS MONTANHAS PAMIR NA ÁSIA CENTRAL E SEUS RIOS

A Cordilheira Pamir na Ásia Central, também conhecida como as Montanhas Pamir, é formada pela junção das cordilheiras Tian ShanKarakorumKunklun Indocuche. Elas formam o conjunto de montanhas mais altas do mundo, com alguns cumes superando a altitude de 7 mil metros. Essas montanhas surgiram como uma extensão da Cordilheira do Himalaia. 

As Montanhas Pamir se estendem pelo Tadjiquistão, Quirguistão, China, Afeganistão e Paquistão. Essas montanhas abrigam um número considerável de geleiras de altitude, onde se formam as nascentes de importantes rios da Ásia Central. Uma dessas geleiras é a Fortambeck, localizada a Oeste do Pico Korzhenevskaya no Tadjiquistão, o terceiro cume mais alto das Montanhas Pamir com 7.105 metros de altitude. Essa geleira se estende por mais de 230 km. 

A impressionante massa de montanhas das cordilheiras do Himalaia e Pamir começaram a se formar há cerca de 60 milhões de anos atrás quando a grande massa de terras do Subcontinente Indiano se chocou com a Ásia. Conforme já comentamos em postagens anteriores, o Subcontinente Indiano formava parte do supercontinente de Gondwana junto com a África, a América do Sul, a Antártida, Madagascar, Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné, Nova Caledônia e outras ilhas menores. 

A fragmentação de Gondwana se deu a partir da movimentação do conjunto de placas tectônicas e por força de processos de vulcanismo. A Placa Indiana ou Índica se movimentou lentamente para o Norte até se chocar com a grande massa de terras da Placa Eurasiática. A Placa Indiana avançou por baixo do Planalto Tibetano, forçando o soerguimento dos terrenos e fazendo surgir o conjunto de montanhas mais jovens de nosso planeta. 

A palavra Himalaia, que foi usada para definir a cordilheira principal, vem do sânscrito e significa “morada das neves”. Os cumes mais altos são cobertos permanentemente por neve e abrigam os maiores glaciares localizados fora da Antártida. Esses glaciares formam as nascentes de alguns dos rios mais importantes da Ásia como Indo, o Ganges, o Mekong, o Amu Daria e o Syr Dária, além do rio Yangtzé

Os rios formados nos glaciares das Montanhas Pamir não tem essa mesma magnitude, mas são extremamente importantes em uma região cercada por grandes extensões de solos áridos. Entre esses rios podemos destacar os rios Helmande, Cabul, KunarPanjPamir Hari

O rio Helmande tem 1.150 km de extensão e é o maior rio do Afeganistão. Ele nasce nas montanhas da Cordilheira de Baba no Centro-Oeste do país e corre na direção dos pântanos do Sistão, uma grande bacia endorreica que se forma na Depressão de Godzadeh na fronteira entre o Afeganistão e o Irã. Esse rio recebe a água de vários tributários com nascentes nas montanhas como o Argandabe e o Tamaque

Outro rio importante é o Cabul, que nasce nas montanhas de Sanglak no Leste do Afeganistão e que corre por mais de 700 km até desaguar no rio Indo, no Paquistão. Esse rio atravessa importantes cidades como Cabul, a capital do Afeganistão (vide foto), Charharbagh Jalalabad.  O rio Panj tem cerca de 1.125 km de extensão, se formando a partir da junção dos rios Pamir e Uacan. Esse rio delimita grande parte da fronteira entre o Afeganistão e o Tadjiquistão e tem sua foz no rio Amu Daria.

Um outro rio importante, porém, com dimensões modestas é o rio Kunar, que tem cerca de 480 km de extensão, se dividindo entre o território do Afeganistão e do Paquistão. As nascentes desse rio se formam em glaciares nas montanhas Indocuche e ele desagua no rio Cabul nas proximidades da cidade de Jalalabad

Um estudo realizado em 1990 pela ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, demonstrou que 60% da população da província de Kunar, no Leste do Afeganistão, dependia do consumo das águas desse rio, que segundo o mesmo estudo não eram potáveis. 

Outro rio de destaque é o Hari Hud, que nasce na Cordilheira Indocuche, no centro do Afeganistão, e que segue por cerca de 1.100 km atravessando o Irã e o Turcomenistão, até desaparecer no Deserto de Karakum. Ao longo do seu curso, o rio Hari Hud atravessa alguns vales famosos pela sua alta fertilidade e cultivo intenso desde a antiguidade. Quando entra no Turcomenistão o rio passa a ser chamado de Tejen ou Tedzhen

Nas Repúblicas da Ásia Central da Quirguízia, Turcomenistão e Tadjiquistão, que até poucas décadas atrás faziam parte da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, as águas vindas das nascentes das Montanhas Pamir são bem aproveitadas. Nos tempos do planejamento centralizado em Moscou, essas Repúblicas receberam a “missão” de produzir alimentos e algodão a partir de grandes sistemas de agricultura irrigada. Grandes obras hidráulicas e canais de irrigação foram construídos, permitindo o aproveitamento das águas, um uso que se manteve após a queda da URSS. 

No Irã, território para onde correm as águas de alguns dos rios com nascentes nas Montanhas Pamir, o dinheiro gerado pela venda do petróleo pode garantir os recursos necessários para um bom aproveitamento das águas em sistemas de irrigação e de armazenamento. No Paquistão, conforme comentamos em postagem anterior, é o rio Indo que garante cerca de 90% da produção agrícola do país e também o abastecimento das populações das principais cidades. 

Já no seco e pobre Afeganistão, país que vive em estado de guerra há várias décadas, esses rios são as únicas fontes de água permanentes para uso pela população. O Afeganistão tem grande parte do seu território ocupado pelas Montanhas Pamir e, consequentemente, abriga as nascentes de importantes rios. Ironicamente, cerca de 70% dessas águas correm para os países vizinhos, tornando o Afeganistão um país com poucos recursos hídricos.  

O quadro afegão se torna ainda mais dramático quando se observa que, por falta de recursos financeiros básicos, o país não consegue realizar investimentos para a implantação de sistemas de irrigação e assim aumentar a produção de alimentos necessários para atender a sua população de mais de 38 milhões de habitantes. As incertezas sobre o futuro do país aumentaram nesses últimos meses após o anúncio da retirada das tropas militares dos Estados Unidos, presentes no país desde 2001.  

Além da instabilidade política, do caos social e da ruína econômica, o Afeganistão corre o risco de ser também o país que mais poderá ser afetado pelas mudanças climáticas na Ásia Central. Com o aumento das temperaturas do planeta, há risco reais para o desaparecimento de 30% das geleiras existentes nas montanhas da região. Um exemplo do que poderá acontecer foi visto no rio Hari Hud alguns anos atrás. 

No ano 2000, toda a região da bacia hidrográfica do rio Hari Hud enfrentou uma seca prolongada e o rio acabou secando completamente por 10 meses, uma tragédia que afetou milhares de pessoas. Imaginem agora o caos que seria criado pelo desaparecimento de algum rio no Afeganistão… 

Infelizmente, é só uma questão de tempo até isso acontecer. 

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